Estação Chronos Suivre l’histoire

Cidade de São Paulo, final do mês de Fevereiro.

― Cara! Tu fechou o ano passado só com nota máxima! E olha que mal tem vindo às aulas… Me conta seu segredo Caio!

― Eu estudo ué… Se você fizesse mais isso e menos farra, estaria com notas tão altas quanto as minhas…

― Não tenho culpa se as garotas não conseguem ficar longe dessa beleza toda…

Caio e seu amigo Reinaldo caminhavam pelo campus da USP, numa bela manhã de quinta-feira, comparando suas notas, ou, pelo menos, Caio as conferia, uma vez que o outro apenas tinha olhos para as garotas que passavam por eles, acenando e sorrindo.

Foi no momento em que Caio acabara de notar os shorts curtos que umas garotas usavam ali perto que aconteceu.

― Que foi cara? Tu tá bem?

- Tô sim… ― a frase foi dita entre-dentes, conforme o jovem massageava o peito por debaixo da camiseta. ― Preciso sair… Acabei de lembrar de um compromisso… Me passa por zap depois o que os professores derem nas últimas aulas.

Sem nem esperar uma resposta, Caio se afastou rapidamente, deixando sozinho um agora distraído Jorge trocando olhares com uma mulata que lhe dirigiu um sorriso encantador.

Correndo por entre as pessoas, evitando trombar com alguém e pedindo desculpas quando isso acontecia, logo Caio chegava à Estação Butantã, entrando em um vagão que estava relativamente vazio, conseguindo um lugar para sentar.

O trem ia avançando pelas estações e conforme o jovem se embalou no movimento, foi fechando os olhos lentamente, num estado de concentração total, tentando voltar sua mente para dentro de si.

De repente silêncio absoluto.

Com um sorriso sendo desenhado nos lábios, já prevendo que ela estaria ali, Caio foi abrindo pouco a pouco os seus olhos.

― Olá Guardião Bisturi… Seja Bem-vindo… ― o vagão estava vazio, com a exceção do rapaz e de uma adolescente de pele quase negra como a noite, cabelos platinados, olhos de um azul profundo como um oceano, lábios carnudos e trajando um uniforme que transitava entre um terno formal e algo saído de uma convenção de cosplayers. - À Estação Chronos!

Como se em resposta à sua frase o trem diminuiu de velocidade até parar numa estação de paredes brancas com detalhes pretos, nenhuma outra cor era visível no local.

Caio sempre tinha a impressão de mergulhar num filme antigo quando saía do Trem Cronal.

― E para onde vamos hoje, Condutora? ― ele usava o nome pelo qual ela pedida para ser chamada, quando se conheceram a cerca de um ano atrás, nenhum outro nome lhe foi dado, ela era a Condutora e somente isso. - Anos 80? Woodstock? As praias de Omaha na operação Overlord? De repente a chegada do Cabral no Brasil?

Um rosto inexpressivo foi a única resposta que a garota lhe deu, conforme o trem que os trouxera até ali ia se afastando, dando lugar para outro que, assim que freara totalmente abriu duas portas laterais.

- Caio-Kun! - o rapaz quase foi ao chão, quando duas gêmeas de origem japonesa, Mika e Amy, usando os típicos trajes de estudante desse país, saltaram juntas, enlaçando o pescoço dele e enquanto uma parecia ocupada tentando descobrir qual o cheiro do perfume que ele usava, a outra aproximou os lábios até quase tocar sua orelha direita. - Chegamos antes da Natalie senpai? Que tal esperar com a gente ali no banheiro como vocês fazem no fim de cada uma das nossas baladas?

Caio nunca chamaria o que eles tinham ido fazer ali de balada, mas nos últimos meses havia aprendido a apreciar o humor e as brincadeiras de cunho sexual das gêmeas, sabendo que não cairia em tentação, mesmo com o jeito lascivo com o qual elas iam se esfregando nele.

― Ah, Caio-Kun… Só um pouquinho vaaaaiiii…

Enquanto o rapaz tentava manter quatro mãos sob controle, com o canto do olho viu uma menina pequena, talvez com, no máximo, dez anos, ficar emparelhada com a mulher que o guiara até ali.

As duas mantinham uma postura séria, quase militar, além dos rostos inexpressivos, apenas aguardando.

Foi quando o som de um novo trem chegando à estação que o assédio das gêmeas, em meio a muitos muxoxos de desânimo delas, finalmente parou, afinal, mesmo sendo meio doidinhas, se tem algo que ninguém queria, era problemas com “La Dame D’acier”, a Dama de Aço.

― Natalie-Chan! - de forma cômica as “Gêmeas Sakura” largaram Caio, que voltava a respirar e correram na direção da recém-chegada, suas mãos pequenas visando os seios da mulher de cabelos alaranjados. ― Que saudadeeee!

As duas tiveram seu avanço contido pelas mãos espalmadas de Natalie, uma para cada cabeça das gêmeas, que deram alguns passos para trás, caindo sentadas quase ao mesmo tempo, esfregando as áreas atingidas.

A terceira Condutora, cujo olhos esverdeados pareciam brilhar, se alinhou às demais e, como elas, cruzou os braços atrás do corpo por alguns instantes, enquanto a equipe à sua frente terminava os rituais costumeiros de quando se encontravam.

― As gêmeas Sakura… Continuam sendo exageradamente barulhentas… Fazendo jus ao codinome que receberam… Guardiãs Noizu... ― com extrema altivez, enquanto as garotas mostravam a língua e se erguiam, fingindo estarem com as bundas doendo, Natalie se voltava para Caio. - Monsieur Bisturi…

― Mademoiselle D’acier… ― de forma exagerada Caio curvou o corpo e beijou as costas da mão da bela jovem. - Sua beleza só poderia ser pobremente comparada à dos primeiros raios de sol sobre um campo de flores, espalhando perfume e frescor por todo o ar…

― Por isso ela vai sempre com ele pro banheiro… ― Mika sussurrou para sua irmã, mas logo disfarçou com um assobio, quando Natalie lhe estendeu o “olhar de pedra” como as irmãs apelidaram o semblante sério da colega.

― Se já terminaram… ― a mais velha das Condutoras chamou a atenção dos presentes. ― Guardião Bisturi, Guardiã D’acier e Guardiãs Noizu… Por favor, me acompanhem…

As três condutoras se direcionaram para escadas rolantes próximas, seguidas de perto pelas gêmeas japonesas que iam enchendo-as de perguntas banais, enquanto Natalie e Caio andavam lado a lado, suas mãos roçando levemente sempre que possível.

As escadas subiram por alguns minutos e quando eles finalmente alcançaram o topo, um brilho ofuscante forçou os guardiões a cobrirem os olhos.

No instante seguinte, quando eles voltaram a enxergar, se viram cercados por uma abundante vegetação, estavam diante de uma floresta densa, com árvores, folhas e flores exageradamente grandes.

― Não pode ser… ― Caio sorria um sorriso infantil enquanto murmurava para si mesmo. ― Finalmente…

― Bem-vindos… ― as Condutoras se colocaram diante do grupo, logo atrás deles estava a entrada da Estação Chronos, o momento se aproximava. ― Ao período Cretáceo!

Como se fosse combinado, para aumentar o impacto das palavras que as três mulheres disseram em uníssono, cerca de três pteranodontes passaram em um voo rasante.

― Estamos no Jurassic Park! ― as gêmeas seguraram suas mãos, dedos cruzados e davam pulinhos animados.

― Yes! ― Caio erguia o punho no ar, dando um soquinho de comemoração, ele sempre adorou dinossauros. ― Finalmente!

Natalie permaneceu impassível, o olhar perdido pelo céu, até que finalmente o que ela esperava aconteceu.

― O Cronômetro!

As Condutoras ergueram os dedos indicadores até um ponto no céu, onde surgia uma imagem holográfica de um tipo de relógio estilizado, cujo tempo começava a correr.

A Incursão finalmente começara.

Os quatro Guardiões se afastaram da estação, postando-se em círculo, de costas um para o outro, esperando o primeiro movimento de seus inimigos e, após alguns momentos de silêncio, eles perceberam um leve tremor no chão.

No instante seguinte as árvores de uma parte da floresta vieram ao chão, enquanto uma manada de Triceratopes vinha correndo na direção do grupo, assim como vários Pteranodontes.

Conforme avançavam, seus imensos corpos passavam por uma metamorfose, criando algo semelhante a formações rochosas enegrecidas, pontuadas com filetes brilhantes esverdeados.

― Seculares se aproximando meninas… Vamos botar pra quebrar.

Continua.