ancapucho A. N. Capucho

Oito amigos criaram o hábito, durante o período de faculdade, de se encontrarem durante as sextas-feiras para relaxarem e se divertirem. Entretanto, as coisas começam a ficar estranhas quando Harry Blackburn desaparece sem deixar rastros e apenas um de seus amigos parece se lembrar de sua existência.


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#vampiro #sobrenatural #homossexual #lgbtquia+
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Christopher Henry

Uma semana. Faz exatamente uma semana que Harry Blackburn, o rapaz por quem tenho um penhasco e que compartilha as mesmas amizades que eu, sumiu do mapa. Estranhamente, ninguém parece se importar com isso, ou se lembrar da existência do rapaz de cabelos castanhos e sorriso irônico. É como se ele nunca tivesse existido.

Me senti angustiado com a situação. Harry nunca foi muito de contato físico, não como eu, ou Felix Benvan, e sempre teve um humor diferenciado, beirando ao ácido. Mas, em minha cabeça, ao menos Scott Winter se lembraria, afinal, eles viviam brigando por motivos idiotas, como se fossem cão e gato. Soltei uma risadinha nasal, completamente amargurado, completamente alheio ao assunto da conversa do nosso grupinho, no nosso lugar favorito. Desde que entramos na faculdade, tínhamos a chamada Sagrada Sexta-feira, onde nos reuníamos no terraço do apartamento de Peter Bartlett e bebíamos, colocávamos o papo em dia, coisas assim, pelo menos duas sextas-feiras do mês. Claro que meu humor questionável chamou atenção de todos os presentes, uma vez que costumo ser calmo e ter o riso frouxo, estando sempre atento a eles.

— Parece que alguém está irritado. — Samuel Bradshawn comenta, passando as mãos por seu cabelo negro na altura dos ombros, e revirei os olhos para o óbvio. Estou irritado pelo simples fato de que eu sou o único que parece se importar. Felix se sentou ao meu lado e me abraçou, numa tentativa de melhorar o meu humor e simplesmente o ignorei, o afastando minimamente.

Não que eu não quisesse abraços, mas não quero o abraço dele. Quero passar a madrugada com a cabeça repousada nas coxas grossas dele, recebendo o seu cafuné enquanto conversamos sobre coisas aleatórias. Quero ouvir a risada dele, ver seu sorriso gengival.

E Felix não é Harry. Por mais que seja praticamente um irmãozinho mais novo para mim, não é quem eu quero agora. Olhei para Peter, após respirar fundo e tentar me acalmar. O Bartlett sempre fora bem grudado no Blackburn, dividiam roupas, doces, cobertores e eram como carne e unha, típicas almas gêmeas.

— Você… eu não entendo como você o esqueceu — digo, e o garoto de cabelo azul, Peter, me olha confuso. Desisto de tentar entender como havíamos chegado a esse ponto. Sinto minha visão embaçar quando me levanto, pegando a garrafa de bebida em cima da mesinha improvisada e saio andando, ouvindo a falação entre eles, que tentavam entender o que havia acontecido comigo e ao que eu estava me referindo.

Debruço no beiral do murinho, deixando as lágrimas escorrerem e o vento frio me atingir. Queria que ele estivesse aqui. Talvez… se eu pudesse voltar no tempo… teria coragem de dizer o que sinto? Teria impedido seu desaparecimento? Por que só eu me lembro?

Fecho os olhos por alguns instantes, fungando baixinho, e era como se pudesse sentir a presença dele ali. Em minha imaginação, posso vê-lo ao meu lado, de costas para a paisagem da cidade, com os cotovelos apoiados na mureta e a garrafa de cerveja abandonada ali. Ele sorriria falso, como se não estivesse preocupado com as minhas lágrimas e esperaria o meu tempo, até que estivesse pronto para falar sobre o que me incomoda. Quero dizer que seu sorriso é bonito, mesmo quando não é verdadeiro, que não precisa sentir vergonha de suas cicatrizes na barriga, ou se sentir cheinho por ter as coxas grossinhas. Que não precisa regrar tanto a alimentação, porque é simplesmente perfeito para mim, de qualquer forma.

Não sei dizer ao certo quando me apaixonei, só sei que passei a ter inveja de como Felix e Peter podiam facilmente o abraçarem sem ele resmungar por horas, ou como ele não resistia a vontade de estapear a bunda dos dois, ou morder as bochechas de Kian Alexander, o mais novo do grupo. Sinto inveja de como ele e Scott brigavam, porque sempre havia um tom de divertimento vindo dos dois em cada frase implicante. Sinto inveja da maneira como ele cuidava de Samuel, sempre disfarçando, mas vez ou outra o chamando de namorado, mesmo que não fossem. Ou como provocava Rhys Watt, o chamando de anão e pintor de rodapé, devido ao garoto ser o mais baixo do grupo, mesmo não sendo o mais novo de nós, para depois se deitar no sofá com ele e maratonarem sua série de comédia favorita. Inicialmente, pensei que fosse ciúmes, mas notei que não era como se não gostasse de vê-lo interagindo com os outros e, sim, inveja, porque queria que ele fizesse tudo isso comigo também, mesmo que tivéssemos nossos momentos nas madrugadas.

E me irrita a maneira como ele nunca se permitia mostrar suas fraquezas, nem mesmo para mim. Estava sempre sorrindo, segurando as pontas, como se nada o abalasse, mesmo que estivesse com o coração em pedaços, ou fisicamente machucado, mentalmente exausto. Ele nunca gostou de nos preocupar e não faz a menor ideia de como isso apenas me deixava muito mais preocupado com ele do que com os outros. Quero poder dizer a ele que não há problema em se permitir chorar, em se permitir demonstrar que não está bem.

Abro os olhos, mesmo não querendo encarar a realidade. Uma realidade fria e cruel onde ele não está aqui, sorrindo para mim. Viro a garrafa, ingerindo todo o conteúdo dela, sentindo os olhares dos meninos em mim. Seco as lágrimas e respiro fundo, deixando o objeto de vidro ali no canto, ignorando os chamados dos meninos e as súplicas de Felix para que eu não fizesse nenhuma besteira. Desço de volta para o apartamento, preciso achá-lo, nem que vá até o inferno para isso. Vou achá-lo.

Pego minhas chaves e minha carteira na mesinha de centro do Bartlett, xingando mentalmente Peter por ter sumido com cada uma das fotos do Harry que tinham espalhadas pelo apartamento.

E se ele estiver tentando esquecer? Bom, se esse for o caso, ele entenderia minha revolta e o que quis dizer. Peço um táxi e desço no endereço do Harry. Há quanto tempo não piso na casa dele? Três semanas, talvez mais. E a residência parece ter congelado no tempo, como se ele nunca tivesse desaparecido. Sybille, sua gata rajada cinza, está na janela e mia ao me ver. Uso minha chave reserva e agradeci mentalmente por ter reflexos razoavelmente rápidos, para poder segurar uma gatinha querendo dar uma voltinha. Seguro Yveline, a gata rajada, laranja e branca, e a aconchego em meus braços, entrando na casa e fechando a porta atrás de mim.

Há uma xícara branca com desenhos de patinhas de gato na bancada da cozinha, objeto que fora um presente meu, e o café dentro dela aparenta estar gelado. Contudo, tem comida nas tigelas dos gatos e a fonte de água está ligada. É como se ele estivesse ali e, ao mesmo tempo, não estivesse. Meu coração acelera e as lágrimas voltam a escorrer. Sintje, a gata mais velha, também de pelagem rajada laranja e branca, está deitada ao lado do celular do dono, que estava aos pedaços, próximo a uma trilha de sangue.

— Harry? — chamo baixo, com a voz embargada. Talvez esteja bêbado e tendo alucinações. Talvez Peter esteja fingindo que não se lembra e venha para cá para cuidar dos gatos. Não, ele teria levado os gatos para o apartamento se fosse o caso. Mesmo trêmulo, solto Yveline no chão e pego meu próprio aparelho, ligando para o Bartlett. Preciso tirar essa dúvida.

Peter me atendeu no terceiro toque, com um suspiro aliviado. Pude ouvir Rhys ao fundo pedindo para que ele perguntasse se cheguei em casa bem.

— Por favor, me diz que você está na sua casa...

— Me diz que você se lembra dele. Me diz que tem vindo na casa dele e que é você quem está cuidando das gatas. Que sabe onde ele está e que estão brincando comigo. Por favor, Peter. Me fala que esse rastro de sangue que eu estou vendo não é dele e que eu estou tendo alucinações por não estar dormindo direito há quatro dias e estou bêbado. — O interrompo, soltando todo o meu medo, encostando minhas costas na parede e escorregando até estar sentado no chão com as três gatas se esfregando em mim, como se sentissem minha dor. — Fala para mim que ele só saiu para viajar e esqueceu de me avisar e que, por isso, vocês não parecem se importar com o fato de não termos notícias dele há exatos oito dias.

O garoto ficou em silêncio por um tempo, e então percebo que estava no viva-voz, porque Felix se manifestou.

— Onde você está, Chris? — a voz grave do Benvan soou baixa, suave e preocupada. Foi covardia. Harry me chama assim quando estamos sozinhos e ele se permite demonstrar mais carinho.

— Harry Blackburn, vinte e três anos. Pai de três gatas, mas você e Scott nunca se lembram que são três. Cursa medicina veterinária, é a alma gêmea do Peter, chama Kian de filhotinho e faz carinho em vocês como se estivesse fazendo carinho em gatos. Tem um humor ácido e vive a base do deboche, mas é um amigo incrível e está sempre cuidando da gente — respondo, querendo uma resposta para as minhas próprias perguntas.

— Eu não faço ideia de quem você está falando. — A voz do Bartlett soou e estava embargada. — Mas dói… meu peito dói como se eu devesse saber.

— Porque você deveria. — Murmuro, desligando a chamada logo em seguida.

Me levanto, ainda sentindo minhas pernas tremerem e abandonei meu celular ali, junto ao dele. Crio coragem e sigo a trilha que leva até o banheiro do quarto dele. Tenho medo do que eu encontraria ali, sentindo que irei quebrar com o que vou ver. A cama estava bagunçada, com os cobertores amontoados aos pés. Há alguns brinquedos dos gatos por ali e o moletom que ele estava usando no dia que o vi pela última vez estava jogado na cadeira.

— Harry? — Chamo de novo, colocando a mão na maçaneta e, prendendo a respiração como se isso fosse ajudar em algo, abro a porta lentamente, sentindo meus batimentos aumentarem a cada movimento.

O sangue segue até a banheira, onde o corpo do garoto está. O peito não se move, indicando que ele não está respirando, os olhos fechados como se estivesse dormindo; o cabelo ainda está molhado e a água da banheira é tingida de vermelho carmim. Me aproximo, mordendo o lábio inferior para tentar conter o choro, sentindo minhas pernas cederem ao lado do corpo.

— Não devia ter vindo. — Dou um leve um pulinho ao ouvir a voz do mais novo, um tanto rouca, como se não dissesse nada há dias. — Devia ter me esquecido, como os outros. Apagar memórias é um saco e eu achei que só Peter estava persistindo em se lembrar das coisas.

Sinto o medo percorrer meu corpo. Harry não respira, não abre os olhos, não tem cor, mas está falando comigo. Sua boca bonita está avermelhada pelo sangue que escorre em direção ao seu queixo e pinga na banheira. Movido pela preocupação, toco seu braço, sentindo o pânico percorrer meu corpo ao notar a temperatura dele: uma temperatura cadavérica. Engulo um grito ao vê-lo abrir os olhos.

Seus lindos olhos castanhos agora possuíam um tom vermelho carmim e meu corpo paralisou. O Blackburn passou a língua pelos lábios e sorriu falso, havia culpa em seus olhos. Ele se vira para mim, levando a mão molhada para o meu rosto e dedilha minha mandíbula, descendo os dedos pelo meu pescoço, traçando a linha da jugular.

Não dissemos nada, nem ao menos conseguia, mas entendi o que significava. Ele está com sede e serei esquecido, me tornaria mais um dos corpos que, provavelmente, haviam sido enterrados em seu jardim. Ele não quer, mas fará.

— Eu te amo. — É tudo o que consigo dizer antes de ser puxado para dentro da banheira e sentir os lábios gelados em meu pescoço. A dor veio, tão intensa quanto imaginei que viria e um gemido de dor escapa por meus lábios, enquanto sinto tudo se tornar escuro, sentindo seu corpo gélido abraçando o meu.

18 Février 2023 19:57 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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