A Cor Dos Seus Olhos | Markhyuck Suivre l’histoire

Haechan ofegou enquanto se apoiava na janela, esticando a cabeça para fora em busca de uma excelente visão da rua movimentada.

As pessoas apertavam os passos, apressados para concluir seus destinos. E Haechan queria estar entre eles, se não fosse pelo seu marido, atrasando-o como sempre.

Era o maior evento do ano e ele queria estar na primeira fileira, ter a melhor vista e ser escolhido. No entanto, Minhyung parecia ir contra todos os seus desejos, quando deixou para se banhar nos últimos minutos antes da partida.

Choramingou, quase pulando a janela. Mas ao que parece, a deusa Taeyeon ouviu suas preces e lhe deu esperanças, quando a porta do banheiro abriu. Passos lentos se seguiram pelo corredor, até o corpo bonito parecer na sala, espalhando o cheiro do shampoo pelo cômodo.

— Minhyung! — A voz doce soou como melodia para os ouvidos alheios, que se aqueceram, no que um tom rubro pintou as pontinhas.

Haechan correu para os braços do amante, como se estivesse em um campeonato de corrida — afinal, eles tinham muitos adversários —, e foi embrulhado no calor dos braços magros, com o aperto ao redor do corpo do mais novo se tornando forte e carente.

— Você está ansioso — Minhyung acusou, mas não o soltou. Por outro lado, o outro Lee se afundou mais no abraço. — Achei que tivesse desistido dessa loucura.

O ruivo resmungou, levantando a cabeça para encarar os olhos esverdeados e preocupados do namorado.

Minhyung não estava errado, o que estavam fazendo era loucura. Tão absurdamente louco, e talvez difícil, mas estava disposto a tentar.

Eram alma gêmeas e estavam destinados a ficarem juntos para sempre. O casal Lee estava feliz, desde que descobriram que o fio vermelho enrolado em seus dedos se conectavam, ligando suas vidas em um amor incondicional de parceiros.

O tempo foi fugaz, fazendo-os crescerem tão rápidos e grudados como chiclete. Minhyung foi se formando um homem muito protetor com o namorado, amando-o de todas as formas possíveis. Já estava acostumado a ter os olhos pequenos sorrindo para si, quase se fechando por completo e escondendo o sol que carregava nos olhos. As mãos estavam sempre unidas, os risinhos apaixonados tiravam fôlego da família, que se enchia de orgulho.

Por outro lado, Haechan gostava de implicar com o namorado para tirá-lo do sério, fazer com o que o mais velho corresse atrás dele para puni-lo com beijos. E embora ele fosse um provocador nato, o Lee amava as reações do seu parceiro.

Foi aprendendo com a longa jornada ao lado dele que, se o fio vermelho não estivesse enrolado em seus dedos, seria um grande problema para ambos. E pensar nessa possibilidade tirava o fôlego do mais novo, pois seu coração doía na mesma intensidade do amor que sentia pelo outro.

E quando adultos, ambos já moravam juntos. Minhyung comprou uma casa para os dois, quando Haechan completara vinte e um anos, e ele seus vinte e dois. Em outras palavras, quatro anos se passaram, e o amor só se fortaleceu. O casal passou a imaginar-se velhinhos, Minhyung tocando violão enquanto o pôr do sol banhava suas peles, agraciando-os com o cenário bonito e o som da voz aveludada do ruivo.

— Você acha que isso vai dar certo, hyung? — Os olhos amarelos de Haechan encontraram com os esverdeados de Minhyung, expondo a incerteza do que aconteceria no evento.

— Para falar a verdade, também estou com medo — confessou, acariciando a bochecha cheinha, colando suas testas. Talvez ele tivesse com mais medo do que Haechan. — Não sabemos o que vai acontecer quando chegarmos lá, mas eu vou te encontrar e vamos concluir a missão juntos.

— Você vai? — A voz baixa e esperançosa alcançou os ouvidos de Minhyung, que assentiu.

— Vou — garantiu, pois faria de tudo para encontrá-lo. Enlaçou uma das mãos no quadril do Lee, mantendo-o firme e rente a si, sentindo o calor do corpo dele. — Eu sempre vou te encontrar.

Haechan sorriu, e Minhyung não teve forças para se deter em seu desejo de beijá-lo. Envolveram-se em um ósculo duradouro, entregando os sentimentos naquele beijo que já beirava a saudade.

O ruivo apertou seu corpo contra o do amante, enquanto sua mão tocou a nuca dele, puxando levemente os fios.

— Pombinhos, cof, cof. — Estavam tão perdidos no beijo, que sequer ouviram os passos de Jongin pela varanda, consequentemente, também não notaram sua presença a alguns segundos na janela.

As bochechas do casal ficaram vermelhas, e Minhyung coçou a nuca, totalmente envergonhado. Suas mãos ainda apertavam a cintura do parceiro, querendo-o manter perto de si o máximo de tempo possível.

— Desculpe, a gente se atrasou um pouco — Haechan pediu baixinho, e o namorado correu para calçar os sapatos e arrumar os cabelos.

— Deu para perceber — o Kim comentou, e o rosto do garoto pareceu que iria explodir.

— Já estou pronto, hyung. — Minhyung apareceu novamente na sala, e pegou a mão do parceiro, entrelaçando os dedos. — Vamos conseguir o melhor lugar dessa vez.

— Espero que sim!

Os três seguiram para o carro de Jongin, o chefe de trabalho de Minhyung. No carro, as mãos do casal ainda permaneciam unidas, e o dedão do Lee mais velho fazia um carinho relaxante no outro.

Aquele era um evento importante.

Anfield, o reino das almas gêmeas, era um lugar tão bonito e puro. Os residentes daquela terra estavam conectados com o fio vermelho enrolado em seus dedos, todos conseguiam ver o seu par predestinado.

O lugarejo tinha as melhores festas, casamentos e missões românticas. Todo o ano, no exato primeiro dia de fevereiro, Anfield organizava o evento dos predestinados para juntar casais em outra dimensão.

A querida curiosidade era que, em muitos outros lugares, as pessoas sequer tinham ideia de que estava com o fio vermelho envolta do dedo, afinal, eles não tinham o dom de vê-lo. A Terra era um dos lugares magníficos que a Deusa Taeyeon visitou, juntamente com a Deusa Seulgi, líder de Boofield.

Então, todos os anos, elas enviavam casais para a Terra, com o propósito de juntar os parceiros predestinados. As pessoas interessadas enviavam suas inscrições, e somente no dia do evento é que seriam escolhidas pelos líderes.

A missão deveria ser concluída, pois caso contrário, os residentes de Anfield e Boofield ficarão presos na Terra, até a reencarnação dos parceiros predestinados. E novamente, a missão seria juntá-los. Era como se estivessem presos em um loop infinito.

Esse era um dos medos de Minhyung, além do calafrio que sentia, toda vez que se imaginava não encontrando Haechan na Terra.

O carro estacionou a uma distância considerável do evento, devido a lotação de automóveis. Haechan foi o primeiro a sair do carro, estava tão ansioso que não conseguia parar quieto.

— Acho que chegamos tarde para ouvir o discurso das Deusas Taeyeon e Seulgi. O que nos resta agora é ver as listas de quem passou — disse Jongin, enquanto limpava uma sujeira no vidro do carro.

— Acha que esse ano vamos ser selecionados, hyung? — Minhyung voltou a entrelaçar a mão na do parceiro, quando se puseram a andar em direção a multidão.

— Bom, sim. E se forem, Minhyung vai ter muito trabalho com essa personalidade dele — respondeu com sinceridade, o que arrancou uma risada alta e gostosa do mais novo entre eles.

Os olhos esverdeados reviraram e até daria uma resposta, mas preferiu ficar calado ouvindo a risada que tanto gostava.

A dificuldade em passar no meio daquele alvoroço de gente deixou-os suados e ofegantes. Jongin tentou guiar os mais novos para um lugar mais calmo, mas Haechan acabou sumindo da vista deles, e assim começou a busca intensa pelo Lee.

A verdade é que ele tinha sido empurrado pelas pessoas, mesmo que estivesse preso a Minhyung, ainda assim conseguiram empurrá-lo para longe. Aproveitou que estava sozinho, e forçou passagem para a lista de aprovados para a missão na Terra. Eram dez listas, e ele procurou com todas as forças seu nome, e o do Lee mais velho.

O sorriso começou a murchar quando já estava na nona lista, e nada do seu nome rabiscado naquele papel rasgado. Ainda assim, não desanimou, tentou manter as esperanças até chegar no topo da lista dez.

Uma lágrima rolou pela sua bochecha, e os ombros caíram em derrota. As esperanças foram embora, e ele só queria chorar e pedir desculpas a Minhyung, por tê-lo feito correr como um louco e a Jongin, que se esforçou para trazê-lo ali.

Braços o prenderam como uma fortaleza, e ele reconheceu o cheiro único do parceiro. Oh, céus, iria parecer um idiota chorando como uma criança depois de não conseguir o que queria.

— Não fomos selecionados — murmurou, em um lamento tão doloroso que a garganta alheia ardeu.

Lee Minhyung não gostava de ver seu garoto chorando.

— Você verificou tudo certinho? — indagou o de olhos esverdeados, abraçando-o com mais força.

— Sim. — Haechan se virou, e abraçou o amante, agarrando sua camisa amassada.

Minhyung suspirou, e encarou o papel preso na parede, enquanto afagava as costas do ruivo. Foi então que seus olhos focaram nos nomes quase no fim do papel.

Casal: Lee Haechan e Lee Minhyung.

Status: Aprovados.

Ele arregalou os olhos, sentindo o corpo paralisar.

— Amor, veja! Olhe, nós passamos! — O ruivo limpou as lágrimas e encarou o papel com cenho franzido.

— Onde está? — Haechan custou muito a achar o nome deles.

— Aqui. — Ele apontou e, caramba, era realmente os nomes deles ali! Haviam passado, e agora a missão deles era ser enviados para a Terra. — Passamos!

Haechan pulou de alegria, abraçando o marido, e em seguida abraçou Jongin. A felicidade estampava sua face.

— A gente passou! Fomos selecionados, hyung!

— Parabéns! Acho que vou ficar sem meu funcionário por um ano inteiro — o Kim os parabenizou, e tirando sarro das bochechas rubras de Minhyung quando Haechan beijou a bochecha dele.

— Casais selecionados, venham receber as informações dos parceiros predestinados. Em uma hora, o portal de Anfield será aberto e vocês irão partir em suas missões. — Taeyeon, que estava sentada no palco feito para o evento, tinha vários papéis em suas mãos. — Se tem alguém de confiança para tomar conta de suas residências, assine o termo e preencha todas as informações. Estejam prontos!

[...]

Os ouvidos de Haechan queimavam como fogo, um sorriso gigante dançava em seus lábios, enquanto preenchia toda a papelada.

Um dos seus sonhos era se casar com Minhyung, e outro era ser selecionado para missão dos predestinados. O primeiro foi concluído com sucesso, e o segundo, bom, estava prestes a acontecer, e isso parecia irreal.

Se imaginou tantas vezes atravessando o portal, sua alma sendo recebida em um corpo humano da Terra, e logo depois ele reencontraria Minhyung. Ainda assim, sentia o medo traçar suas veias pensando na possibilidade de algo dar errado, e eles não conseguirem concluir a missão. Céus, eles ficariam presos na Terra e só iriam se encontrar após a reencarnação do casal predestinado.

Foram anos tortuosos, onde ansiava e desejava estar entre os selecionados, ao lado do seu amante. E agora, ele estava lá, carregando os papéis nas mãos trêmulas e, em seguida, entregando a Taeyeon.

— Vocês vão se sair bem — ela o encorajou.

— Lembre-se, ao tomar o corpo humano e você tiver o controle, seus olhos ficarão da verdadeira cor que tem em Anfield. Tome cuidado para não fazer contato direto com o destinado, ele pode se assustar profundamente — Seulgi alertou-o, recordando quando fora sua vez. Estava no carro quando aconteceu, de repente, um olho estava azul, e o outro preto. O azul oceano era de Seulgi, e o preto, de Yunna. Foi estranho.

Ah, sim. Haechan sabia que somente sua alma atravessaria o portal, e em seguida, ela iria se unir ao amante escolhido por Taeyeon. Quando seus olhos amarelos estivessem presentes no humano, era Haechan que estava no controle daquele corpo. Sendo assim, deveria tomar cuidado para que não deixasse transparecer a dualidade das almas.

— Tomarei cuidado. — Se curvou em reverência, e as líderes sorriram para o jovem. — Quando podemos ir?

— Agora — respondeu Kang, segurando-o pela mão. — Seu parceiro está aqui?

Haechan assentiu, e procurou por Minhyung, que estava se despedindo de Jongin. O Kim fingiu que não estava triste com a partida dos amigos, limpando as lágrimas insistentes. Haechan queria se despedir de seus pais, mas ambos estavam em uma casa na fazenda com a família de Minhyung. Por outro lado, Jongin os avisaria sobre a partida deles.

Lee se aproximou do seu pequeno sol, estava tão nervoso que as mãos suavam. Os olhinhos dourados encaram-no, e ele se afogou na imensidão do amarelo ouro, confiando no laço que ambos tinham, iriam se encontrar quando chegasse na Terra.

Eles eram almas gêmeas.

— Eu te amo, Haechan — sussurrou, quando as mulheres se afastaram para ajustar o portal. — Não importa o que aconteça, eu vou te encontrar.

O ruivo se agarrou ao maior, esmagando-o em seus braços. Minhyung beijou a testa alheia, arrastando os selos até os lábios dele.

— Também te amo, Min.

Os dois ficaram juntinhos, aproveitando o máximo de tempo que tinham juntos como Minhyung e Haechan. Dos corpos deles. Depois que atravessassem o portal, eles teriam que enfrentar as dificuldades juntos naquela missão.

— Agora é a vez de vocês — disse, Taeyeon.

De mãos dadas, eles caminharam até a grande bolha brilhante. Suas mãos estavam unidas quando se olharam, sorriram como bobos apaixonados, e assim entraram.

Eles confiaram um no outro para se encontrarem, para se amarem tão loucamente na Terra. Que além de juntar os parceiros predestinados, eles pudessem descobrir coisas juntos, e fortalecer os sentimentos.

Foram engolidos pela bolha do portal, Haechan sentiu um vazio e frio na sua mão, a qual estava entrelaçada a de Minhyung. Não percebeu quando aconteceu, mas ele não estava mais lá, assim como uma forte pressão em seu peito o incomodou.

Não sabia quanto tempo passou até sentir a dor aumentando de forma avassaladora, porém, o que o deixou mais apavorado, foi não conseguir abrir os olhos. A dor subia pelas suas veias, em uma dança lenta e vigarista, até que algo o puxou com tanta força que achou que morreria.

De repente, tudo parou e ele pôde abrir os olhos. Ao longe, conseguiu ver Minhyung. Ele o encarava um pouco assustado, sabendo que era a última camada, e depois desse encontro, o próximo só acontecerá quando ambos estiverem recepcionados nos corpos dos predestinados.

— Eu vou te encontrar — prometeu com a voz trêmula, e Haechan assentiu.

— Estarei esperando por você. — O peito do ruivo vibrou com a movimentação dos lábios do Lee mais velho, apesar da distância, soube muito bem o que foi sussurrado.

— Eu te amo.

Haechan lutou para respondê-lo, mas o breu voltou aos seus olhos, e dessa vez, foi puxado para baixo e sentiu muitas dores. Forçou para abrir os olhos, e quando o fez, os olhos amarelos brilharam no reflexo da janela do carro.

Ele estava no corpo do predestinado.

[...]

Minhyung queria ter abraçado Haechan, queria ter-lhe sussurrado juras de amor como fazia todos os dias quando acordava. Mas não podia, principalmente quando seu corpo foi puxado para baixo em uma velocidade assustadora.

Custou muito para conseguir abrir os olhos sonolentos, os lumes verdes brilhando no vidro janela do avião. Se assustou um pouco, e teria pulado no banco, mas lembrou-se que aquele corpo não era seu e sim do predestinado da missão.

Céus, isso realmente estava acontecendo. Ele estava em um corpo humano da Terra.

Não demorou muito para lembrar do seu parceiro. Haechan deveria estar assustado também, por isso, precisava encontrá-lo.

Precisava ver os olhos cor de ouro novamente. Assim como necessitava do reencontro de almas, ansiava também pela cor dos seus olhos.

A missão deu-se início.