mikhailov Gael Mikhailov

Eles são reféns das próprias inseguranças. Já eu, minto toda vez. Para mim, os outros, os amigos, meu irmão... Minto tanto que até pareço meu pai. No geral, até que não somos tão iguais, tirando o fato de que tanto eu quanto ele agimos igualmente como itens de brinquedo. Atuando sob uma casa de bonecas e escondendo as mentiras mais dolorosas detrás das cortinas. O casamento dele com minha mãe não vai demorar muito para acabar, e eu sou a única pessoa que ainda tenta preservar tudo isso... mesmo mentindo.


Fanfiction Anime/Manga Déconseillé aux moins de 13 ans. © mikhailov

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Histoire courte
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Capítulo Único



MEU PAI MENTE.

Ele mente que se empenhará daqui pra frente, mas sei que é só conversa fiada para acalmar os nervos da mamãe. Sendo sincero, os ânimos dela já vêm bem lá em cima há meses. Os dois brigam demais, dia e noite sem parar, alto o bastante para que os vizinhos ouçam e falem do lado de fora.

O que mais vejo durante a aula são meus colegas de turma cochichando sobre o porquê de minha família ser tão estranha. Eles esquecem também que vivem no mesmo conjunto de casas geminadas que eu, e que o casamento de seus pais também estão em pedaços.

Apesar disso, eu não os julgo. Nossos pais são parecidos. Todos são.

O meu fala que vai passar a tratar minha mãe bem, com gentileza e cuidado, como um verdadeiro marido deve ser, mas então faz tudo diferente porque nós sabemos que é só da boca para fora. No dia seguinte (ou horas mais tarde) eles já estarão engalfinhados, cobrando justificativas e promessas um do outro como se só meia-palavras bastassem e não gestos.

Atitudes, é o que minha mão espera dele.

Não me lembro da última vez em que deram um beijo de verdade na minha frente, por mais que eu achasse nojento e virasse a cara. Não me lembro de demonstrações de carinho, passeios de mãos dadas ou sorrisos verdadeiros. Minha mãe não fica mais ao nosso lado como era antes.

Nós morávamos no estado vizinho, numa cobertura de portas envidraçadas e vista bonita para o céu — meu irmão e eu tínhamos oito anos, e nossos pais ainda nos amavam. Ou, pelo menos, o lado paterno, a gente esperava. Hoje em dia ela prefere segurar Yuji, meu irmão gêmeo, pelos ombros do que pegá-lo na mão, porque esse privilégio pertence apenas às bolsas de grife. Atrás deles, eu e meu pai nos movimentamos como robôs, cada passo calculado, agindo como desconhecidos.

Não há mais conversas, brincadeiras, diálogos de uma família normal.

Sou pequeno demais para entender, mas me sinto como um boneco de plástico em uma casa de brinquedo. O meu Eu Boneco sempre fica com as mãos e cabeça abaixadas, e só as levanta quando a situação pedir — paparazzis, uma foto para uma revista, o almoço surpresa com nossos avós. Nos damos as mãos e agimos como uma família perfeita diante das câmeras e olhares desconhecidos, perfeitamente ensaiado para demonstrar carinho e cuidado uns com os outros.

Não é genuíno, mas forçado. Não é porque meus pais querem, e sim porque prezam pela imagem na capa dos tabloides e colunas sociais. É assustador, mas o que posso fazer?

Não fique quieto demais; abrace seu irmão.

Querido, me dê um beijo na bochecha.

Peça sorvete ao seu pai. Diga que o ama.

Elogie o meu vestido. Sorria para eles.

Minha mãe é a única que aparenta se preocupar verdadeiramente comigo, mesmo que ela não faça às vezes. Ela tem que ser gentil. Se um dia um exemplar de revista da People ou Ok! Weekly chegar lá em casa com o título “Império Iori-Gojo” e a frase “problemas no paraíso”, ela surtaria. Literalmente.

Minha mãe calcula tudo porque seu principal medo é “imagem”.

Caso uma briga venha a público, as gravações das câmeras de casa vazarem, ou que demonstremos exagero ou escassez nas próprias ações, essa farsa pode vir à tona. E o que vem arrastado disso tudo, não é boa coisa.

É todo o passado que minha mãe e meu pai guardam a sete chaves e uma doação generosa para os melhores redatores do país. Sei disso porque ouvi uma ligação deles (de muitas) e as dezenas de discussões durante a noite. Não entendo de muita coisa, mas consigo perceber quando algo não vai bem. Principalmente a gente, que vive sob o molde exemplar de “família perfeita”.

Me sinto realmente como um brinquedo. Ao mesmo tempo que respiro aliviado quando os olhos vigilantes das câmeras abaixam, também lamento. Isso significa que o teatro acabou e a mesma muralha de mil metros se ergue novamente entre nós. Menos com Yuji. Tenho sorte. Dividimos a mesma barriga por nove meses e me sinto feliz por termos pelo menos isso um do outro: apoio.

Me sinto como um brinquedo quando todos eles me deixa de canto quando a diversão acaba e a encenação também. Os nossos familiares, amigos, até os pais do meu pai pensam que tenho validade. Que assim que parar os flashs, interrompeu os laços. É conveniente. E eu me apego a essas migalhas.

Sou um boneco porque fico responsável pela proteção da casa, como um vigia. Jamais deixo que os outros olhem por detrás das cortinas ou pelos buraquinhos de gesso da parede. Protejo a infância de Yuji da decepção que é a nossa família mesmo que isso signifique sacrificar a minha. Sustento o casamento dos meus pais enquanto o fio afiado dessa relação decepa meus dedos.

É esforço demais para uma criança. Adultos sabem o que fazem, eu não devo me meter. Há certos assuntos que só correspondem a eles. Estou me ferindo enquanto tento assumir uma responsabilidade que não é minha.

Mas... por quê?

Estou tentando proteger um patrimônio falido.

Encubro as mentiras do meu pai ao mesmo tempo que as julgo. Observo de longe o choro da minha mãe enquanto também a acuso de ter sido conivente com isso. Escuto a fechadura da entrada abrir pela última vez às duas da manhã assim que termino mais uma partida de um joguinho, e sei que pelos passos firmes, é meu pai.

O homem da casa.

Reconheço-o pela covardia disfarçada de casualidade enquanto sobe os degraus para o segundo andar da nossa nova cobertura. Ele caminha devagar para não acordar ninguém porque sabe que está impregnado com um tipo de perfume cítrico que embrulha e que não é da nossa mãe, por isso ninguém pode vê-lo.

Escuto-o falar ao telefone, se despedir de alguém e caminhar para o banheiro. A porta do quarto do corredor ao lado abre — é minha mãe.

Sei o que vai acontecer no momento em que ela cruzar o caminho do papai. Sei como aumentará o tom de voz para acordar a casa toda. Sei que os vizinhos ouvirão a sexta discussão da semana.

Sei como Yuji acordará assustado novamente.

Nós só temos dez anos... é preciso tudo isso? É preciso todo esse cuidado? A preocupação como se estivéssemos sempre correndo para desarmar uma bomba? É saudável manter sempre em alerta por um perfeccionismo que não é meu? Imagem é assim tão importante? Por quê?

Eles são reféns das próprias inseguranças. Ficam presos em seus pesadelos sem um colo para acolher quando acordar. Não me lembro de uma única vez — nem mesmo antes de nos mudar — em que um dos meus pais me botou para dormir. Não na época de bebê, mas aquele carinho que um filho desperta na família. Meus colegas da escola são assim com as deles, por que tive a má sorte de não receber?

Não tivemos babás, a mamãe odeia. Ela abriu mão do emprego durante os primeiros anos e só voltou quando fizemos sete anos. Então como? Como me sinto cada vez mais distante daquela pessoa que me jurou amor infinito e devia agir tão genuinamente quanto?

Me sinto sozinho. Alguém com literalmente duas faces como meu próprio nome diz — a que se esconde e a que sorri. Pareço um item infantil abandonado na estante, sem cor nem valor, vazio por dentro — como plástico — e feliz por fora. Meu rosto congelado na mesma expressão de sempre. O ideal para famílias como a minha.

Observo de esguelha meu pai ajeitar a gravata branquíssima que ganhou de presente. Ela combina com a camisa e o terno azul-marinho, a mesma cor do vestido que minha mãe comprou essa semana para o jantar beneficente anual que eles apoiam desde que me entendo por gente. Acho que doarão o dinheiro para a África.

A mídia está toda do lado de fora, espreitando pelas janelas descobertas qual será a notícia dessa vez. Fico surpreso que eles ainda não descobriram as traições do papai ou a cumplicidade que minha mãe teve em tirá-lo da casa que dividia com o ex-noivo.

Daria uma boa manchete. O que restará dos escombros?

Eu pisco quando o flash de uma câmera atravessa à esquerda das vidraças, me assustando. Papai parou de ajeitar a gravata, está concentrado na tela do celular. Mamãe já pôs os brincos de diamante e o salto alto de meio metro, e está caminhando na direção dele, furiosa.

— Ryomen, feche as cortinas — ela ordena para mim.

Yuji resfolega com desespero. Apenas movo os lábios:

Não olhe.

Caminho para as vidraças e olho com pena para os fotógrafos.

Não é nada pessoal, por favor, só não olhem por detrás das cortinas. É podre.

Se forem espertos, dá para ver que as paredes nem são tão limpas assim e o chão é encardido. Que as joias da mamãe estão quase pela metade porque ela vende para quitar as dívidas. Que o meu pai vive perdendo oportunidade de patrocínio por causa das condições em que ele está por dormir sempre no sofá.

É tudo simulado. De mentira. Como bonecos na vitrine.

— Ryomen.

Cubro as janelas com um puxão só.

Minha mãe dá um tapa estalado no meu pai, ecoando pela sala de visitas.

Seguro o lábio com os dentes, controlando os tremores do corpo para não denunciar meu terror nem correr até meu irmão assustado.

— Por uma vez sequer, Satoru — ela rosna para ele —, mantenha a cabeça aqui. Temos um jantar importante e a nossa família precisa estar lá. As suas prostitutas podem esperar.

Ele abre um sorriso debochado.

— É só uma, não se preocupe.

Outro. Tapa.

— M-mãe. — Meu irmão soluça.

Ela se empertiga, jogando o cabelo para trás junto à saia do vestido rodado. Se não fosse um pesadelo, era poderia ser uma princesa da Disney. A mais bonita.

Suas mãos delicadas enxugam as lágrimas de meu irmãozinho, seu rosto tão parecido com o meu, mas com esperança demais para sermos iguais. Ele é puro para essa família suja.

— Desculpe, querido — sussurra mamãe para ele, beijando-o na testa. — Já estamos prontos, tudo bem?

Olho para meu pai. Ele está consertando o estrago que a esposa fez, espalhando base pelas bochechas ardendo em vermelho. Contenho um suspiro.

— Ryomen — ele murmura, acenando para mim. — Vem cá.

Dou três curtos passos. Suas mãos grandes se apoiam em meus ombros, rígidas.

— Sim?

— Você me dá orgulho. Continue assim.

Meu pai mente.

Ele só quer alguém que encubra as fissuras da casa.

Meu pai mente.

Porque ele não nos ama.

Meu pai mente.

Todos nós mentimos.

Todo santo dia.

Nós mentimos tanto que já temos os passos ensaiados.

Eu fico ao lado do papai, que está ao lado da mamãe, e meu irmão perto dela.

E, mais uma vez, minha família e eu nos colocamos frente às câmeras com nossos melhores sorrisos de modelos, os braços bem posicionados, encenando uma verdadeira casa de bonecas diante das cortinas, agora abertas.

20 Novembre 2022 21:22 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Gael Mikhailov Olá! Sou Gael Caim, escritor de 19 anos em aperfeiçoamento e atuo em vários sites. Extrovertido e tagarela, mas de vez em quando escondido como uma tartaruga dentro do casco. Atualmente trabalho com obras baseadas em animes e filmes, geralmente postadas como fanfics, mas adoro romance new adult, livros com temática de fantasia, ação, drama e slice of life. Também gosto de histórias com cenário familiar que aquecem o coração!

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