Tábata era uma garota muito bonita, seus longos cabelos
negros contrastavam com sua pele de uma brancura quase cadavérica e seus
profundos olhos castanhos podiam decifrar a mais obscura alma. Quieta e de
poucos amigos mantinha sua vida pessoal no mais absoluto segredo, sabia-se que
morava em uma antiga casa distante vários quarteirões da escola e diziam que
habitava ali com uma velha tia que muitos tratavam por bruxa.
Apesar de sua discrição, sua beleza chamava a atenção dos
garotos e causava inveja nas meninas sendo que não era bem vinda em nenhum
círculo social, ficando isolada durante os intervalos, era sempre vista sozinha
na grande biblioteca nesses momentos.
Quando Cintia chegou a escola transferida de outra cidade a
atração entre as duas foi instantânea, Cintia era o oposto de Tábata, ruiva de
pele morena e olhos verdes, não seria considerada bonita, no entanto sua
postura extrovertida chamava a atenção e sua conversa fácil atraia olhares de
cobiça.
Apesar das diferenças gritantes e do jeito tímido de Tábata
as duas viviam juntas, a amizade crescia a cada dia e as más línguas cogitavam
até um romance, um escândalo tendo em vista que no ano de 1968 algo do gênero
era tratado com uma certa repulsa até.
Conta-se que Cintia teria se apaixonado por Beto, jovem do
último ano e que em poucos meses alçaria novos voos em direção a capital do
estado para cursar o tão sonhado curso superior, nesse ínterim a amizade entre
as duas enfraquece e Tábata volta a sua conhecida solidão.
Dias e dias se passaram com esse novo cenário se
desenrolando às vistas de toda a turma e Tábata cada vez mais era vista sozinha
debruçada sobre algum livro na sombria biblioteca. Tão frequentes eram suas
visitas que a velha bibliotecária já não fazia as vezes e deixava-a livre
revirando os milhares de exemplares empoeirados. Sozinha, envolta em todo tipo
de literatura, pensamentos nada cristãos começaram a aflorar na mente da jovem.
Sentindo a solidão de forma diferente, agora triste, ansiava
pelo retorno da amiga que vivia seus dias de gloriosa alegria.
Assim, em um momento de coragem resolve procurá-la fora da
escola, talvez seria mais fácil se a conversa acontecesse em um sábado à noite,
não a encontrando em casa, partiu em sua procura pelos lugares prováveis em que
ela poderia estar, encontrou-a na praça central cercada pelos jovens da cidade,
Tábata ali foi tentar a conversa que tanto procrastinara.
Cintia se fazia acompanhada de seu namorado não dando
atenção a jovem que chegara trêmula e aparentemente assustada, ela nunca havia
pisado naquela praça nas noites de encontro da juventude, assim, tentando não
perder o controle, chama Cintia para um local mais afastado para ali confessar
seus soturnos sentimentos.
Cintia se irrita com a intromissão da garota e aos berros
exige que Tábata se afaste e deixe-a aproveitar a noite, toda a praça se volta
em direção aos gritos e em segundos o silêncio sepulcral torna-se quase
palpável, sendo quebrado após longos minutos por gargalhadas e um coro a
chamando de estranha.
Em profundo desespero, Tábata em frenética carreira foge
dali, lágrimas escorrem pelo seu pálido rosto queimando sua pele.
O caminho para sua casa fatalmente passava pela escola e em
suas escadarias ela se senta procurando alguma alívio para sua vergonha, fora
enxotada, humilhada e apenas desejava sumir, desaparecer daquela cidade, nada
mais a prendia ali. De um ímpeto ela se pôs de pé indo em direção à grande
porta de metal e vidro, sua mente não mais raciocinava e com as mãos quebra o
rígido cristal tendo acesso a tranca interna, sua passagem estava liberado,
tinha a escola toda para ela.
Por horas ela vagueia pelas salas vazias, o ódio em seu
coração apenas cresce, nunca fora feliz ali, menosprezada por sua timidez era
sempre chamada de anormal. Estava na hora de por um fim aquilo.
De posse de um grande pedaço de vidro ela refugia-se no
único lugar em que encontrava paz, a velha biblioteca.
Seu corpo seria encontrado pela manhã, a pobre bibliotecária
que descobriu seu cadáver, sofre um ataque do coração acompanhando-a em sua
última viagem, muitos dos alunos que presenciaram a cena afirmaram por vários
anos que ela teria sido assassinada, tamanha a violência dos ferimentos. No
entanto fora a dor da rejeição que a assassinara.
Mais de cinquenta anos se passaram e até hoje ela é vista perambulando a noite pelos vazios corredores e muitos dizem tê-la visto debruçada sobre algum livro esquecido sobre as mesas por algum desleixado aluno.
Merci pour la lecture!
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