Histórias da Velha Escola (Primeira História) Suivre l’histoire

Está é a escola mais famosa de nossa cidade, um lugar que durante gerações foi o grande palco do ensino e da cultura, estudar alí trazia status social e as mais ricas famílias faziam questão de matricular seus filhos em tão renomada instituição.

A história do prédio se confunde com a da própria cidade, sua construção começou apenas cinco anos após a fundação do município e concluído em apenas dois, um marco importantíssimo para a época.

Muitos imigrantes trabalharam na sua construção e muitos deram a vida por aquele prédio, literalmente. Contam histórias que ao menos sete operários tiveram suas vidas ceifadas de maneira misteriosa em tão pouco tempo.

A inauguração feita com todas as pompas da época, contou com a presença do ilustre governador distrital, de alguns senadores e de toda a elite regional e ficou marcada pelo desabamento do palanque das autoridades, onde além dos inúmeros feridos um proeminente senador perdeu a vida empalado por uma estaca de sustentação.

A nossa primeira história começa alguns anos após a inauguração, as datas e nomes são incertos, e como em todas as lendas eles pouco importam. Mas para melhor assimilação adotaremos o nome de Albert para nosso protagonista.

Albert seria considerado um garoto comum para os padrões de hoje, no entanto para a época dos acontecimentos ele era considerado um CDF (nerd) e isso aliado a sua condição financeira não tão abastada como dos demais alunos fazia com que ele fosse alvo de brincadeiras e insultos, nada que não pudesse ser resolvido com alguns chutes e socos, atitudes normais para a época.

Um ano foi suficiente para aquele lugar muda-lo drasticamente, tornou-se rebelde, grosseiro e mal educado e como todo novo valentão queria mostrar força e logo recomeçou o ciclo de brincadeiras e insultos contra os CDF's que surgiam em seu caminho.

Por uma garota ele nutria especial aversão e fazia de sua vida um verdadeiro inferno, talvez por uma fala dela que chegou a ele fosse a motivação de toda sua fúria, diziam que ela era terrivelmente apaixonada por ele, assim toda ofensa que pudesse ser feita contra ela, era feita com gosto.

Meses se passaram nesse conflito até que uma discussão mais acalorada ultrapassou a última barreira e a agressão surgiu, um tapa foi a gota d'água para a garota amaldiçoar Albert e jurar vingança.

Deste dia em diante ele começou a definhar, sua saúde tornou-se frágil e do valentão que outrora aterroziva os corredores nada sobrou.

Doente e fraco seus pais recorreram aos melhores médicos que clinicavam na cidade, entretanto nenhum remédio lhe trazia alívio.

Sem perspectiva de melhora e lembrando das palavras da menina, engolindo seu orgulho foi a ela pedir ajuda. Ela muito solícita disse que havia sido apenas uma brincadeira e nada havia feito, conversa essa testemunhada por vários colegas.

Aqui a história desvia de rumo e uma aparente amizade surge entre os rivais de outrora, ele ainda com a saúde comprometida parecia apreciar a companhia dela, eram sempre vistos juntos e até de mãos dadas foram vistos, sugerindo até um romance.

As férias de verão chegaram no ápice dessa amizade e uma viagem dele iria afastá-los por alguns dias e já na véspera da viagem a noite, ele sem dizer onde iria sai de casa e desaparece no ar, sem deixar vestígio algum.

A viagem da família é adiada e uma busca frenética se inicia, amigos e familiares se juntam em grupos de busca e varrem a cidade toda sem sucesso. Dias e noites e a angústia cresce em cada morador, apenas uma pessoa não parece se preocupar, como se soubesse de algo, a garota mantém-se terrivelmente calma, perguntas começam a surgir e a polícia é colocada a par dos acontecimentos.

Um interrogatório com ela é feito, sua frieza impressiona as autoridades e buscas em sua casa são realizadas, não resultando em nada e ela deixada em paz.

Sem sinal de crime o caso é finalizado como "fuga voluntária" e a rotina na cidade aos poucos é retomada ficando a dor da incerteza apenas com a família.

Um mês de férias passam rapidamente e as aulas são retomadas, há uma sensação de luto no ar, ninguém menciona o ocorrido e aos poucos o caso vai sendo esquecido.

Alguns anos e o prédio antes novo, começa a pedir reformas estruturais, o assoalho do salão nobre todo em madeira mostrava acentuados sinais de desgaste, principalmente próximo ao palco onde uma grande mancha escura se mostrava presente.

Uma equipe especializada fora contratada para esse serviço e após a retirada de todas as cadeiras teve início a remoção das grandes tábuas de madeira, um odor não identificado, entre adocicado e de mofo, foi se intensificando ao se aproximarem da mancha.

A polícia foi imediatamente chamanda após a retirada da última tábua, um corpo mumificado pelo ambiente seco e quente era a causa do odor e da mancha que ali ficou durante anos.

Em uma primeira análise a possibilidade de ser o corpo de Albert foi rapidamente levantada, e após uma rápida revista no corpo sua carteira foi encontrada, confirmando a suspeita.

Porém a descoberta do seu corpo trouxe mais perguntas que respostas, o assoalho era todo encaixado e para chegar ali, aos pés do palco, teriam que remover todas as tábuas partido da porta de entrada, uma distância de quase cem metros até ali, vigas de sustentação impediam que ele ali houvesse chegado rastejando por baixo das tábuas, e a principal por que?

O caso foi reaberto e uma nova investigação foi realizada, a garota tornara-se uma jovem senhora e já com filhos adultos respondeu às mesmas perguntas com a mesma frieza de anos antes. Nada de novo foi encontrado e o caso até os dias de hoje mantém-se como um dos mistérios envolvendo o velho prédio de paredes grossas e de mil fantasmas que ali fazem morada.