— Você venceu, o que planeja fazer agora?
Ryo não sabia ao certo quanto tempo fazia que tudo havia acabado: o mundo, a humanidade, a vida de Akira. Também não sabia dizer a quanto tempo estava sentado abraçado ao corpo frio do menino demônio, esperando o momento que ficaria quente novamente. Não sabia quanto tempo passou gritando, mas sabia que foi o suficiente para que seu pai resolvesse aparecer.
— Os coelhos estão mortos — Ele murmurava sozinho, o rosto deitado sobre o corpo morto, sem se importar com a entidade arrogante as suas costas esperando atenção. — Eu matei todos os seus preciosos coelhinhos. Eu exterminei os humanos que você amava. Eu destruí seu lar, olhe ao redor Akira, não lhe restou nada.
Ele segurou o rosto de Akira Fudo nas mãos, aproximando-o do seu, na esperança de que abrisse os olhos.
— Então acorde para me matar, você não prometeu que me mataria, Akira? Não me diga que desistiu. — Ryo não sabia o que fazer quando aquela sensação esmagadora encontrou seu peito, uma dor impossível para ser tolerada, que lhe tirava o ar e fazia seu corpo todo agonizar. Dava vontade de gritar, de... chorar. — DROGA AKIRA, ME RESPONDA! DIGA QUE DESISTIU! DIGA QUE ME ODEIA! DIGA ALGUMA COISA!
Deus, o ser admirado e amado por todos os homens, louvado por todo tipo de gente, benevolente, o pai de toda a humanidade, não se importava com muita coisa e entre elas as pessoas que o ama. Não se importava com os filhos e com aqueles que criou, pouco ligava se tudo tivesse um fim, por isso que não impediu que Ryo matasse todos, ele permitiu que o ser mais desprezível exterminasse cada uma dessas pessoas, como se elas não fossem nada.
Agora, ele esperava pacientemente que Ryo respondesse sua pergunta, que olhasse para ele. E seu filho não o fez, em nenhum momento tirou os olhos do corpo de Akira, mas lhe dirigiu a palavra, não com a resposta que procurava, mas com outra pergunta.
— Você os amava? — Ele o encarou por um segundo, mas não hesitou em responder.
— Amava. — Ryo quase riu de tão absurda que era aquela afirmação, tão convincente, tão cheia de certeza. Ainda assim, tão falsa.
— Se os amava porque deixou que eu os exterminasse? Por que deixou que eu envenenasse seus corações até que destruíssem uns aos outros?
— Matar Akira Fudo fez com que o amasse menos, Samael? — Ryo trincou os dentes.
— Não é a mesma coisa.
— Como não? Se não o amava porque partiu seu corpo ao meio?
— Ele não era os humanos... ele... eu não... — Ryo odiava aquela sensação, de quando seu pai crescia na sombra do seu medo e usava isso contra ele, o diminuindo até se sentir menor que uma formiga, enquanto ele permanecia imaculado no topo do mundo.
— Não é como eu? — Deus inclinou a cabeça para trás, quase como se estivesse incrédulo diante da afirmação que parecia brilhar no rosto de seu filho. — Não percebe, Samael? Você fala como eu, chora como eu, ama como eu.
— O que você sente por eles não é amor! Você me abandonou e quando eles mais precisaram do seu amparo, você fugiu! Feito um covarde.
— Não era o que você queria? A vitória? Destruir o mundo? Entregar tudo os demônios? Está me crucificando por escolher você a eles? Ou está com raiva porque não o escolheu?
— Cale a boca! Cale a boca! Cale a boca! — Ryo gritava, as mãos tentando esconder o rosto, se esconder de tudo, dos próprios pesadelos, das verdades amargas que seu pai não parava de desferir. Não queria mais sangrar, não queria mais se sentir assim.
— No fim, você conseguiu tudo o que queria.
— Eu tirei tudo de você... Essa foi minha recompensa.
— E ficou sem nada, que gosto tem a vitória, Ryo? — Amargo, ele queria dizer, enquanto tremia silenciosamente. — Você me odeia porque somos parecidos, mesmo na miséria. Odeia que depois de tudo, estejamos igualados, os dois sem amor e seus pobres corações imortais despedaçados.
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