— Uma tempestade forte vem vindo, marujos! — esbravejava Maverick, o capitão, fitando atentamente as nuvens escuras que se aproximavam com o vento e segurando a aba de seu Três Pontas. — Içar velas, Guinar para estibordo! Não podemos passar por mais uma tempestade... não nessas condições... — murmurou as últimas palavras.
Os fios de cabelo que não permeneciam dentro do Três Pontas balançavam com o vento incansável e seus olhos se estreitavam mais a cada onda de ventania. O olhar preparado analisava as condições do mar. O sorriso de canto, já a muito conhecido pelos marinheiros, que se esticava com facilidade, agora morria aos poucos. A emoção de uma tempestade era sem igual, mas era provável que Carmona não aguentaria mais um temporal bruto como aquele.
Os homens obedeceram de imediato. Confirmando em uníssono:
— Guinar para estibordo!
Pierre começara a cantarolar uma música em francês que ele mesmo criava, assim como sempre fazia quando as coisas ficavam "interessantes", ou seja, quando as coisas pareciam desandar.
— Les vagues de la mer ont I'intention de nous emporter... — cantava alegre, enquanto içava as velas.
— Oh, cale essa maldita boca, Pierre! — Jonas o interrompeu. — Sempre que parece que vamos morrer, você começa a cantar. — contestou içando o outro lado das velas.
O Francês riu. Balançando a cabeça, fazendo com que os brincos balançassem junto com seus cabelos loiros amarrados para baixo e fechando os olhos.
— Mas é claro, mon ami! A vida foi feita para sorrir e beber. Não importa se vamos morrer, devemos cantar e rir. — retrucou, com seu sotaque mais aguçado devido a situação emocionante.
A discussão estava a todo vapor, ainda mais quando Pierre disse a Jonas que ele mesmo faria o favor de jogá-lo no mar para uma baleia o comer. Jonas odiava que o comparassem com um personagem bíblico, pois dizia não acreditar nisso.
Mas ambos pararam quando ouviram a voz alta de Maverick soar de cima do convés:
— Parem com essa discussão e façam esse navio virar... a não ser que queiram se tornar comida dos brancos.
Os marujos estremeceram apenas de lembrar dos temidos monstros: enormes tubarões preto e branco, que atingiam de nove à onze metros. Sem falar das histórias incontáveis de piratas, tendo seus navios naufragados, que foram vítimas desses demônios. Mas os brancos tinham algo que os tubarões comuns não tinham: sua forma de "brincar" com os homens. Nenhum marinheiro havia sobrevivido para contar o quão aterrorizante é ver a barbatana de um Branco inclinada saindo da água.
Enquanto os marujos faziam o possível para que o navio desviasse da tempestade, Maverick baixou o olhar para Ragnar, que estava desenrolando uma corda que ficava dentro de um dos barris. Fez um movimento de cabeça que significava: "Na minha cabine, agora". Ragnar assentiu, guardando a corda e passando a marchar em direção a cabine.
Fechou a porta da cabine atrás de si, abafando as vozes berrantes dos marinheiros. Maverick estava de pé, com as duas mãos apoiadas sobre a superfície de madeira, observando o mapa, que ia de uma ponta a outra da mesa retangular. Estava sem o Três Pontas, ficando com os cabelos livres. A luz amarelada sobre a cabeça de Maverick balançava devido as ondas agitadas que batiam violentamente contra o casco do navio. Os olhos amarelos de Maverick estavam atentos no papel envelhecido, como se quisessem memorizar cada detalhe. Ragnar se aproximou da mesa e juntou as mãos atrás das costas, olhando em frente, como um soldado taciturno e arrogante.
— Posso saber para quê me chamou aqui? — questinou.
O capitão levantou os olhos para o marujo à sua frente, com sua carranca que geralmente signficava que tinha algo dando errado. Ragnar ficou alerta. O moreno já esperava más notícias, no entanto, quando o rosto de Maverick suavizou e um risinho apareceu em seu rosto, ele relaxou, soltando o ar que prendia e amenizando a tensão de seu rosto.
— Se lembra da vez em que meu pai nos fez fazer o teste para "virar homem"? — indagou sorrindo.
Ragnar sorriu fraco, não poderia esquecer nunca as loucuras e aventuras que estivera e fizera junto com Sirius e Maverick, mas então voltou a ficar sério. Não conseguia entender onde ele queria chegar falando sobre os velhos tempos, ou sobre seu pai.
— Claro que lembro... mas acho que não é momento para lembranças, Maverick.
Ragnar era o único marujo que chamava a Maverick pelo nome (só quando não estavam na presença dos homens, é claro), não por falta de educação, mas sim porque cresceram juntos e tinham intimidade o suficiente para tal costume.
— Eu sei disso — baixou os olhos para o mapa, parando de sorrir. —A questão é que precisamos voltar para aquela ilha...
Ragnar arregalou os olhos.
— O quê? — franziu as sobrancelhas. Sabia bem qual ilha o capitão se referia. — Não podemos — olhava para Maverick, o fitando com seriedade.
— Temos que voltar para lá. — dizia sem tirar os olhos da mesa.
— Pense bem, Maverick, Drako foi morto por... — tentava evitar dizer aquilo, pois sabia que seu amigo não gostava da acusação. — por nativos naquele lugar!
O ódio na voz de Ragnar, falando dos indígenas,era claro.
— Drako não foi morto por nativos! —bateu a mão contra a mesa — Não diga o que não sabe! Não acuse um povo inocente!
Ragnar apertou a mandíbula e desviou os olhos para a parede ao lado, onde estava pendurado um quadro com o desenho do navio pirata de Sirius, pai de Maverick. Ragnar achava Maverick um homem imparcial demasiado, nunca julgava algo antes de conhecer. Mas agora, vendo o desenho, lembrou-se de Drako pulando a prancha e nadando livremente na água, como se não tivesse medo de nada. Como podia ser tão corajoso a ponto de voltar para o lugar em que Drako faleceu?
— Drako morreu de uma doença chamada Malária — tornou a falar, tirando Ragnar de seu devaneio.
— Mesmo assim, — voltou os olhos para Maverick — não podemos voltar.
— Ele deixou algo lá antes de morrer... preciso buscar. — disse entre dentes — Ele mesmo me pediu — sussurrou.
Ragnar entreabriu a boca para contrariar o capitão novamente, quando a porta se abriu bruscamente. Eles dois miraram a porta. Como sempre: era Pierre, com um sorriso no rosto e os cabelos molhados, que estava no vão da porta olhando para Ragnar e Maverick. Anunciando estrondosamente:
— Conseguimos, Capitaine!
Olhou para ambos e, vendo suas expressões, se retraiu, pois percebeu que havia atrapalhado algo crítico. Alejandro apareceu de repente e o puxou pelo ombro, murmurando algo como:"Pare de incomodar o capitão!", fazendo o francês se desequilibrar e quase cair para trás, enquanto tentava alcançar a maçaneta para fechar a porta e deixá-los em paz, mas então Maverick saiu de trás da mesa, sorrindo e dizendo:
— Deixe o pobre Pierre! — pediu saindo da cabine, atravessando a porta, abrindo os braços e olhando para o marujos. — Peguem os vinhos, as cervejas e tudo o que tivermos. Vamos festejar!
Os piratas deram gritos de alegria. Pierre se desvenciliou bruscamente do aperto de Alejandro em seu braço esquerdo e passou a cantar outra canção, algo como:
— Vins et bières pour les marins fatigués!
Ragnar sabia que não conseguiria o fazer mudar de ideia. Maverick era alguém que, com uma ideia na cabeça, seria mais fácil que cortassem seu pescoço. E a tripulação o seguiria, pois eram leais a ele e dariam sua vida por ele...
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