2minpjct 2Min Pjct

Jimin é um notável escaldo. Suas poesias encantam a todos que as escutam — as histórias de amor conquistam os corações até mesmo dos mais bravos guerreiros. E o Park, por sua vez, tem o próprio coração conquistado por um deles: Min Yoongi, um dos maiores guerreiros de sua vila. O amor de ambos é intenso, mas tudo se complica quando Yoongi é chamado para uma batalha contra trolls em terras distantes. Sem poder recusar a luta, o Min parte, deixando Jimin apenas com rascunhos de poesias tristes e uma esperança que morre um pouco mais a cada dia.


Fanfiction Groupes/Chanteurs Interdit aux moins de 18 ans.

#medieval #poesia #bts #yoongi #jimin #yoonmin #batalha #minimini #2min #minmin #mitologia-nordica #2minpjct #Bangtan-Boys-BTS #boyslove #boyxboy #bts-fanfic #bts-fic #gay #mitologia-nórdica #romance-gay #sugamin #suji #sujim #yaoi
0
1.5mille VUES
Terminé
temps de lecture
AA Partager

Decisões difíceis

Escrito por: bbmoonie / @bbmoonie


Notas iniciais: Oi! Tudo bem? :) Essa fanfic foi muito interessante e divertida de escrever. Aprendi muito sobre a mitologia nórdica no processo e curti demais. Então, se você gostar da mitologia que aparece no decorrer da história, super recomendo dar uma pesquisada sobre, porque é muito, muito interessante.

Por favor se atentem às tags de aviso/gênero da fanfic e não se preocupem!! TuT

Muito obrigada @scarisvancci / @scarisvancci por betar a fanfic e @ChIsHiKiZi / @ChIsHiKiZi pelas capas e banners! <333

Deixarei nas notas finais de todos os capítulos um pequeno glossário com os termos que forem aparecendo que podem gerar dúvidas (como “escaldo”, ou nomes de deuses e de outros elementos da mitologia). Então, em caso de dúvidas, podem consultar as notas finais ou perguntar nos comentários caso seja algo que não esteja lá ^^

Boa leitura!


~~~~


Lutar era tão natural quanto respirar. Era a razão pela qual existiam.

As duas espadas chocaram-se, e o impacto percorreu os braços de Yoongi.

Seokjin rosnou, puxando a espada de volta, e mirou o próximo ataque nas pernas do adversário, que se defendeu com o escudo. Yoongi direcionou a espada para seu ombro, mas foi rebatido para longe.

Os dois se afastaram por um segundo para se recuperarem.

— Muito devagar.

— É normal perder rapidez quando estamos cansados, sabia, Yoongi? — Seokjin colocou o escudo no chão para massagear o ombro dolorido. — Estamos lutando há muito tempo, vamos acabar logo com isso.

Em resposta, Yoongi avançou em sua direção com a espada em punho.

— Ei, isso é trapaça! Deixe-me pegar o escudo primeiro.

— Não se baixa a guarda em batalha, você sabe disso — provocou, mesmo que tivesse parado para esperar. — Erro de principiante.

— Estávamos descansando!

Yoongi não se deu ao trabalho de responder e apenas fez uma investida.

Os amigos continuaram lutando por minutos a fio, até que Yoongi se aproximou de supetão, mirando na mão de Seokjin e o desarmando. A espada caiu a alguns passos de distância e, com a abertura, o Min rapidamente pressionou sua lâmina contra o pescoço do adversário, impossibilitando qualquer forma de contra-ataque.

— Acabamos por aqui. Hoje você arruma as coisas.

— Ah, Yoongi... — reclamou, deitando-se na grama com a respiração ofegante. — Estou acabado. Me ajuda?

— Nós fizemos um acordo. — Riu. — Boa sorte, e não se esqueça de recolher os escudos dos mais novos. Preciso ir.

— Não! Espera aí. Ah, merda, a Seungwan vai me matar...

Yoongi deixou o amigo resmungando no gramado e correu. O sol já se punha. Em pouco tempo, a noite cairia sobre toda a vila. Ele tinha poucos minutos para chegar até a taberna.

Quando chegou à porta da grande construção, mal conseguia respirar. Abriu-a com um empurrão, cambaleando para dentro. Yoongi olhou em volta e suspirou aliviado ao perceber que todos ainda conversavam. Ele havia chegado a tempo.

Da ponta de uma das longas mesas, Taehyung acenou em sua direção, convidando-o para se aproximar, mas, antes que pudesse seguir até o amigo, uma voz estridente chamou sua atenção.

— Pelos deuses, Min Yoongi! Eu devia te colocar para fora. Você fede como peixes podres!

— Estava treinando.

— Ah, é mesmo? — perguntou, desviando o olhar e limpando as mãos no avental, tentando parecer despreocupada. — E Seokjin? Ficou por lá?

— Ficou arrumando as coisas. Acho que vai demorar um pouco mais.

Seungwan bufou, irritada.

— Vocês dois são sempre “treino, treino, treino” e nunca “trabalhar, servir, limpar o chão”. — Ela revirou os olhos, apontando um dedo julgador em sua direção. — Bem que minha mãe me avisou que casar com um guerreiro seria assim.

Sua família era dona da taberna da vila, e todos eles trabalhavam juntos ali. Quando não estava treinando, Seokjin também trabalhava no local com a esposa — o que acabava raramente acontecendo, por conta da rotina pesada de treinos.

— Enfim, vai querer beber algo?

— Vou esperar o Jimin para pedir.

— Tudo bem, então. Você devia ir se sentando, senão não vai conseguir um lugar bom.

Yoongi assentiu e seguiu para a mesa onde os amigos estavam sentados. Taehyung e Jungkook acenaram para ele enquanto se aproximava.

— Chegou rápido hoje — comentou Taehyung. — Jimin vai ficar contente.

— Acabamos o treino mais cedo.

— Deixou Seokjin guardando tudo sozinho?

— Nós apostamos. Jungkook sabe como é.

O guerreiro mais novo franziu o nariz e confirmou. Ele já havia perdido apostas como aquela o suficiente para saber como era ter que arrumar a bagunça toda por conta própria.

O barulho na taberna era alto. As mesas estavam cheias de pessoas da vila. Alguns, já bêbados, gritavam alto; outros brigavam por motivos minúsculos. Enquanto isso, Seungwan e sua mãe andavam por entre as mesas entregando pratos com carne quente e canecas de hidromel e garantindo que ninguém se espancasse até a morte.

— A noite já caiu. Jimin vai entrar em poucos minutos — avisou Seungwan quando passou por eles.

Yoongi se endireitou na cadeira, subitamente nervoso, tentando se preparar para ver Jimin no auge de sua beleza. Irritou-se por não ter terminado o treino ainda mais cedo — ele poderia pelo menos ter tomado um banho. Mas, ao mesmo tempo, esperava que a forma como estava representasse todo o seu esforço para ser o melhor guerreiro da vila. Esperava que aquilo orgulhasse mais do que incomodasse.

A porta da taberna se abriu e, por ela, entrou a pessoa mais esperada da noite.

Jimin vestia suas melhores roupas: um belo conjunto guardado apenas para ocasiões especiais como aquela. Colares, anéis e uma tiara feita de ramos de flores o adornavam, tornando-o ainda mais esplêndido.

Ao perceberem sua presença, todos começaram a se sentar em silêncio, aguardando pela poesia da noite.

Park Jimin era um dos escaldos mais aclamados de seu povo. Suas poesias eram adoradas por todos da vila — e até mesmo por nobres de vilas vizinhas, que viajavam para ouvi-las. Elas contavam histórias de amor, de bravura, de amores impossíveis e paixões inesperadas, emocionando aqueles que as ouviam e arrancando lágrimas até mesmo dos mais bravos guerreiros.

Ele era um poeta nato, um homem belo e uma pessoa incrível. Toda a delicadeza e emoção das poesias que compunha eram intrínsecas de seu ser. Yoongi havia se encantado assim que o conhecera e a cada dia sentia que se apaixonava um pouco mais por seu amado.

— Em uma noite escura de Midgard, uma humana e um elfo da luz se encontraram.

As primeiras palavras saíram da boca de Jimin, imediatamente criando uma atmosfera diferente na taberna. Todos pareciam encantados, sem conseguirem desviar o olhar da pequena figura que ali recitava mais uma história de amor.

— Assustado, o elfo se perguntava o que eram aquelas pequenas luzes que no céu noturno repousavam.

Jimin pronunciava cada palavra com cuidado. Ele traduzia seus mais profundos sentimentos a partir do primeiro segundo de sua apresentação.

Com todo o cuidado e maestria, o escaldo continuava a declamar sua poesia, calmamente contando a história do casal.

Em nenhum momento alguém o interrompeu, nem mesmo o som de talheres e copos podiam ser ouvidos. Todos se concentravam unicamente naquele momento tão esperado.

O Park demorava semanas para terminar mais uma de suas obras. Logo, quando finalmente se sentia satisfeito com sua criação, preparava-se para apresentá-la para sua vila, que aguardava com curiosidade para ouvir.

Após minutos de apresentação, Jimin se aproximava do final. Yoongi encarava o amado, sem conseguir parar de sorrir. Ele vira todo o esforço dele para produzir aquela apresentação, do primeiro rascunho até a entonação da versão final. Seu peito enchia-se de orgulho ao vê-lo ali, finalmente apresentando sua criação de forma tão encantadora.

— “Nem mesmo todo o sol de Álfheim poderia me iluminar mais do que você o faz”, disse o elfo para a humana — contou Jimin, em um tom doce e apaixonante. — “Partir de Midgard, deixando-te para trás... abandonar meu coração dessa forma, eu jamais seria capaz”.

Com o fim da poesia, grande comoção tomou a taberna. As pessoas aplaudiam e gritavam, despertadas do estupor. Jimin, sorrindo largo, agradeceu a todos e correu em direção aos amigos e ao amado, que o esperavam de braços abertos para parabenizá-lo.

— Jimin! — exclamou Jungkook, com os olhos ainda marejados. — Foi tão lindo!

— Você se supera a cada apresentação mesmo. — Taehyung passou um braço pelos ombros de Jungkook, puxando o namorado para um abraço. — Sempre deixa o Koo chorando.

— Eu nunca vejo essa taberna tão quieta quanto nas suas apresentações. Nem mesmo quando ela está vazia. Você precisa vir mais vezes — brincou Seungwan. — Como sempre, incrível.

— Obrigado! — O coração do escaldo se aquecia com as reações. As palavras de seus amigos tornavam aquele momento ainda mais gratificante.

Mãos gentis apertaram seu quadril, e logo se viu sentado no colo de Yoongi. O guerreiro deslizou os dedos da mão por seu rosto, admirando-o como se fosse a coisa mais preciosa do mundo — e para ele, Jimin era exatamente aquilo.

— Parabéns, meu amor — sussurrou contra seu ouvido, aproveitando para deixar um beijinho singelo ali. — Você é o melhor escaldo de todos os tempos. Meu maior orgulho.

— Meu guerreiro... — murmurou Jimin, descansando a cabeça em seu ombro. — Você é tão amável.

Yoongi apenas sorriu, passando a acariciar os fios sedosos do escaldo. Momentos como aquele eram alguns de seus preferidos.

Os amigos conversavam alegremente na mesa, comentando sobre os mais diversos assuntos. Tudo estava bem, até que um dos guerreiros sentado na mesa ao lado bradou:

— Nós vamos até a guerra antes que ela venha até nós!

Seus companheiros de mesa gritaram em concordância, erguendo as canecas para um brinde.

— Eu sou capaz de destruir um troll com minhas próprias mãos! — berrou outro, iniciando mais uma salva de gritos daqueles que o apoiavam.

O assunto rapidamente gerou uma onda de comentários similares, fazendo Jimin e Taehyung estremecerem.

Os dois, assim como todas as outras pessoas daquele povo, apreciavam os esforços e o heroísmo dos guerreiros em batalha. Eles saudavam sua força, sua bravura e selvageria. Uma oportunidade de lutar em uma batalha era uma oportunidade de honrar os deuses, de ir para Valhalla ou Fólkvangr. Porém, quando os guerreiros em questão eram seus amados, o sentimento que predominava era o medo — medo de que eles fossem mortos em batalha, medo de que fossem derrotados.

Taehyung apertava a mão de Jungkook com força em cima da mesa, olhando fixamente para os guerreiros da mesa ao lado. Jimin tentava parecer calmo, não querendo preocupar Yoongi, mas este o conhecia muito bem e sentiu que ele se encolhia em seu colo, apertando a barra de sua blusa com os dedos.

O Min não tardou em apertá-lo em seus braços. O guerreiro tentava oferecer um conforto imediato, sabendo que não tinha muito o que fazer para melhorar a situação.

Sua animação pela batalha não chegava nem aos pés de sua preocupação com Jimin. Como ele ficaria se realmente precisasse ir lutar? O que faria se ele morresse em batalha? Concentrado em confortar o amado da forma que podia, ignorava o redemoinho de pensamentos ruins.

Por sorte, poucos minutos depois a porta da taberna foi aberta por um Seokjin arfante.

— Olha só quem decidiu aparecer — provocou Seungwan, cruzando os braços sobre o peito.

Sua pose ameaçadora fazia o homem se encolher de uma forma que nem mesmo seus piores adversários conseguiam.

— Boa noite, querida — disse, aproximando-se dela, hesitante.

— Já é quase madrugada, sabia? — brigou, estapeando-o de brincadeira no braço antes de o puxar para um beijo. — Demorou demais.

— Culpa do Yoongi. Pelo menos a demora valeu a pena. Tomei um banho!

— Não sei se valeu tanto assim... Jimin já se apresentou.

— O quê?! — Seus olhos se arregalaram em desespero enquanto procurava o escaldo. — Ah, não!

Um pouco distraído com o recém-chegado, Jimin apenas riu, para o alívio do Min. Seokjin e Seungwan se aproximaram da mesa, com o guerreiro soltando muxoxos.

— Você não pode repetir, Jimin?

— Sinto muito... Quem sabe semana que vem?

Seokjin grunhiu, frustrado, e deu-se por vencido. Após cumprimentar os amigos, sentou-se com eles para beber um pouco.

— Tenho certeza de que se o Yoongi tivesse se atrasado, Jimin repetiria. — Olhou com os olhos semicerrados para o casal, balançando a cabeça em negação.

O Min apenas deu de ombros, no fundo, achando graça e agradecendo a pequena cena que ele fazia. Por sua causa, Jimin começava a se acalmar, deixando de se encolher em seu colo.

Com o clima mais leve, a conversa voltou a correr e as horas se passaram sem que percebessem. Foi só quando Jimin aninhou-se no peito de Yoongi, com os olhos pesados, que ele percebeu o quão tarde devia ser.

— Acho melhor irmos.

— Já? — resmungou Jungkook, embora estivesse de bruços na mesa, também quase dormindo.

— Na verdade, acho melhor irmos também. — Taehyung o ajudou a se levantar, apoiando o corpo do namorado para que permanecesse de pé. — Está bêbado ou cansado, querido?

O guerreiro resmungou alguma coisa a qual não conseguiram entender e se deixou ser levado.

— Seokjin, nem pense em sair. Pode vir me ajudar aqui.

— Claro, meu amor. — Levantou-se rapidamente e abraçou a esposa. Sua rotina corrida mal permitia que pudessem aproveitar muito tempo juntos. Fosse em casa, descansando, ou na taberna, trabalhando, qualquer segundo contava. — Boa noite para vocês.

Jimin e Yoongi seguiram o caminho em silêncio, ouvindo os burburinhos da taberna se aquietando com a distância.

A casa em que moravam estava silenciosa. Os adultos que não estavam na taberna já dormiam, assim como as crianças e os animais. Cuidadosamente, foram até a cama que dividiam, e Yoongi ajudou Jimin a se deitar, cobrindo-o com os cobertores quentes.

— Não vai se deitar comigo?

— Preciso me limpar primeiro.

Yoongi sorriu diante da expressão frustrada do mais novo, tentando não ceder. Abaixou-se ao lado da cama para beijar a testa do Park. Jimin esgueirou um braço para fora dos cobertores e segurou sua mão.

— Você precisa descansar.

— Vou ser rápido, prometo.

— Eu não sei se aguento esperar acordado — murmurou, manhoso.

— Vou ficar com você até que caia no sono, então. Assim, não vai precisar esperar.

Jimin deu-se por vencido. Longos minutos se passaram com os dois em silêncio. O Park olhava para Yoongi, perdido em pensamentos, enquanto este acariciava os dedos que o seguravam.

— No que está pensando tanto?

O mais novo hesitou, a boca abrindo-se sem que as palavras saíssem.

— Pode me contar qualquer coisa, você sabe.

— Eu sei. Mas você não pode fazer nada sobre isso. Ninguém pode.

Yoongi franziu o cenho, subitamente inquieto. Ele não gostava da ideia de não poder ajudar seu amado.

— O que é?

— Estou com medo, Yoongi.

— Medo do que, meu amor? — sussurrou, soltando sua mão para debruçar-se sobre a cama, encarando-o de perto.

— Dessa batalha. Se ela acontecer mesmo...

Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele piscou algumas vezes para evitar que elas caíssem.

Yoongi engoliu em seco, sem saber o que falar. Ele não podia confortar Jimin. Não podia negar que essa batalha provavelmente iria afetá-los. Não podia dizer que não lutaria se fosse necessário. Ele era um guerreiro, afinal. Vivia pela luta, pela honraria de poder estar em batalhas.

Se fosse chamado para lutar, lutaria. E arcaria com as consequências disso — voltaria para casa como um vitorioso, ou morreria lutando.

Ainda assim, não podia dizer que estava em paz com a possibilidade. A luta não o assustava, mas abandonar Jimin, sim.

— Eu sei — foi tudo o que conseguiu dizer. — Eu sei.

O Min beijou sua testa, seu nariz, suas bochechas e, finalmente, beijou seus lábios em uma tentativa de conforto. O escaldo fechou os olhos e respirou fundo, tentando se acalmar. Ele puxou uma das mãos de Yoongi e a deixou na própria bochecha, buscando seu toque, sua presença.

— Fica comigo até eu dormir, por favor.

— É claro. — Novamente beijou sua testa e acariciou a pele macia gentilmente. — Estou aqui. Descanse, amor.

O silêncio tomou conta da casa mais uma vez e Jimin permitiu-se dormir com as carícias de Yoongi, tentando se esquecer de que o dia em que nunca mais as sentiria talvez estivesse chegando.

{...}

Algumas semanas depois, Jimin se apresentava novamente na taberna. Como de costume, o silêncio reinava, todos concentrados em sua nova poesia.

Foi quando a porta foi aberta de supetão, interrompendo a apresentação e quebrando o transe silencioso.

Dois homens entraram esbaforidos e começaram a gritar:

— Ajuda! Nós precisamos de ajuda!

— Não ataquem! Por favor, pelos deuses, não ataquem. Nós somos da vila vizinha.

Ambos mal conseguiam manter-se em pé. Respiravam com dificuldade, cansados. Seus olhos estavam arregalados e as mãos tremiam. Eles estavam aterrorizados.

— Por que estão aqui? — perguntou um dos guerreiros, pondo-se de pé. — Vieram sozinhos?

— Fomos atacados. Os trolls...

De repente, o ar da taberna mudou. Uma agitação coletiva tomou conta do lugar.

— Nossa vila foi atacada. Viemos apenas em quatro. Não temos guerreiros o suficiente. Nós... — Ele respirou fundo, apoiando-se na porta para manter o equilíbrio. — Água, por favor.

— Vocês e os outros dois, entrem.

Seungwan se apressou em colocar todos para dentro e sentá-los em uma das mesas mais vazias.

A algumas mesas de distância, Jimin sentava-se entre os amigos, trêmulo de medo pelo que sabia que estava prestes a acontecer. Por baixo da mesa, procurou a mão de Yoongi e apertou-a com força, recebendo um carinho singelo em resposta. Um silencioso “eu sei” quando nada mais podia ser dito.

— Expliquem logo o que aconteceu! — bradou um dos guerreiros, esboçando a impaciência que todos sentiam.

Um deles pigarrou, hesitante.

— Não sei se as notícias já vieram parar aqui, mas um grupo de trolls está tentando tomar terras ao norte. Todas as terras próximas às montanhas estão sendo invadidas.

— Eles atacam durante a noite. Matam, destroem. Querem tomar toda a extensão perto das montanhas. — Engoliu em seco, fechando os olhos pesarosamente, como se apenas dizer aquilo o machucasse. — E não querem que sobre nenhum humano para atrapalhar.

— Duas vilas já foram completamente destruídas. Eles chegaram na nossa há duas noites. Todos estão pegando em armas, até mesmo as crianças mais novas. Mas não é o bastante.

— E por que vieram para cá?

— Os nobres de nossas vilas têm uma aliança. Então, imaginamos que...

— Precisamos de ajuda — interrompeu um deles, direto. — E vocês são os únicos que talvez possam nos ajudar. Ninguém mais mandaria guerreiros para lutar contra trolls. Não sem algum tipo de dívida.

A apreensão era coletiva. Todos pareciam temer e, ao mesmo tempo, ponderar aquela possibilidade.

— Por que deveríamos ajudar?

— Sua vila está devendo um carregamento de armas e peles para a nossa. Se mandarem seus guerreiros, esqueceremos a dívida de todos.

— É loucura — interveio um dos moradores. — Vão todos morrer!

— Desde quando temos medo de morrer em batalha? — brigou outro.

Um burburinho surgiu. Os guerreiros conversavam entre si, parecendo concordar em uma resposta. Um dos mais velhos olhou para Yoongi, que apenas assentiu.

Aquela possibilidade já havia sido discutida e acertada. Nenhum deles negaria a chance de tamanha batalha, por mais improvável que a vitória parecesse.

— Nós ajudaremos. — A decisão foi tomada. — Partiremos pela manhã com estes homens. Comam, descansem e se despeçam. Nos encontraremos no porto assim que o sol nascer.

Em meio à animação dos guerreiros, uma melancolia silenciosa surgia. Na mesa dos amigos, Taehyung segurava o braço de um Jungkook animado, com os olhos marejados. Seokjin levantou-se e correu em direção à Seungwan, que já chorava.

Jimin, por sua vez, tentava não transparecer todo o medo e a tristeza que sentia, mas não conseguiu esconder de Yoongi, que o conhecia melhor do que ninguém.

— Vamos para casa? — perguntou baixinho. Ele teria tempo demais para estar entre os outros guerreiros pelos próximos dias e queria privacidade para passar aquelas últimas horas com Jimin.

O escaldo assentiu, sem conseguir dizer nada. Antes de sair da taberna, abraçou Taehyung e Jungkook apertado e acenou em direção a Seokjin, que segurava a esposa chorando em seus braços.

Aquele lugar estava o sufocando. Ele não conseguiria ficar ali ouvindo o festejar dos guerreiros e vendo o sofrimento de seus amigos. Não conseguiria fingir que estava tudo bem quando só queria abraçar Yoongi e chorar.

— Sinto muito por você não ter conseguido apresentar hoje — foi a primeira coisa que o guerreiro disse quando chegaram à casa deles.

— Eu não estou ligando para isso, Yoongi — falou, irritado. — Eu não me importo em não ter me apresentado! Eu só queria... Eu só...

Finalmente, desabou. As lágrimas caíam sem que pudesse controlá-las. Os soluços sofridos faziam seu corpo todo tremer.

Yoongi sentou-se na cama, puxando-o para seu colo. Jimin encolheu-se sobre seu peito e escondeu o rosto em seu pescoço, chorando todo o medo que guardava dentro de si.

A cada soluço, o Min apertava mais os braços em seu entorno. Ele queria poder cessar a dor de seu amado, queria poder abraçá-lo para sempre, como se tudo fosse se resolver.

Uma de suas mãos acariciava suas costas, enquanto a outra repousava em sua nuca, mantendo-o perto.

Os minutos se passavam e o choro de Jimin não acabava. A cada segundo, Yoongi se desesperava mais. Então, naquele momento, permitiu-se fazer algo que raramente fazia. Mentiu.

— Vai ficar tudo bem.

— Fique quieto. — Jimin afastou-se o suficiente para socar o seu ombro. — Se for para mentir para mim, nem fale nada. Não vai ficar tudo bem, você sabe disso.

— Eu sinto muito. Eu sinto muito, meu amor. — Essas palavras eram carregadas de verdade. Eram a única coisa que podia dizer naquele momento.

— Não estou pronto para dizer adeus — sussurrou, por entre as lágrimas.

— Eu também não estou pronto para me despedir de você.

— Então não se despeça. Fique aqui.

— Você sabe que eu não posso.

— Eu sei — murmurou, voltando a chorar. — Apenas... apenas me segure, por favor.

E Yoongi o fez. Segurou-o, esperando que seu choro cessasse e sua respiração voltasse ao normal. Segurou-o sabendo que aqueles seriam os últimos momentos que o teria em seus braços e desejou que o tempo pudesse parar para sempre.

— Eu tenho muito orgulho de quem você é, Yoongi. Tenho orgulho de sua força, de sua bravura... Mas dessa vez, só dessa vez, eu queria que você não fosse tão corajoso. Queria que você tivesse medo.

— Mas eu tenho.

— Tem? — perguntou, confuso. O Min não temia nenhum adversário, nenhuma guerra. Era a pessoa mais corajosa que conhecia.

— Tenho. Não de trolls, ou de batalhas... Tenho medo do que vai acontecer depois com você, com a vila. Eu tenho medo de te deixar, Jimin. Tenho medo de não estar aqui para te proteger.

— Yoongi... — sussurrou, surpreso.

Jimin o abraçou, e Yoongi permitiu-se ser reconfortado. Descansou a cabeça no ombro do Park e perdeu-se nas carícias que ele fazia em seus cabelos.

— Não acho que exista qualquer coisa que possa ser dita para tornar esse momento menos assustador — sussurrou o Park.

— Não existe.

Os dois permitiram que o silêncio se instalasse. Quando não tinham palavras para dizer um para o outro, contentavam-se com os carinhos.

— Você precisa estar descansado para amanhã — falou Jimin, tentando se levantar.

— Não, por favor. Não quero te soltar.

— Então não me solte.

Deitaram-se na cama, abraçados. Suas pernas se entrelaçavam e os narizes se encostavam. Estavam próximos, mas, ao mesmo tempo, mais distantes do que nunca. Os pensamentos perdidos em preocupações.

— Queria que essa noite durasse para sempre — disse Yoongi, com os lábios roçando nos de Jimin.

— Eu também. Mais do que tudo, eu também.

Assim, os dois dormiram juntos, abraçados, sabendo que aquela provavelmente seria a última vez que poderiam fazer aquilo.

~~~~


Notas finais: Foi isso! Espero que tenham gostado! ^^

Qualquer comentário ou dúvida sobre os elementos que apareceram (ou vão aparecer), podem consultar o glossário aqui nas notas finais ou perguntar nos comentários.

Muito obrigada por ler <3


Glossário:

Escaldo – é como um poeta escandinavo

Valhalla – mundo dos mortos de Odin, para onde vão alguns dos guerreiros que morrem em batalha e são recolhidos pelas valquírias

Fólkvangr – mundo dos mortos de Freya, para onde vão alguns dos guerreiros que morrem em batalha e são recolhidos pelas valquírias

Helheim – mundos dos mortos que morreram sem glória (velhice, doença, acidente, etc.)

Midgard – mundo humano

Álfheim – mundo dos elfos

Ragnarok – fim do mundo nórdico

Freya – deusa nórdica associada ao amor, fertilidade, beleza, magia e guerra

Tyr – deus nórdico associado à guerra e à justiça

Valquírias – deidades femininas que recolhem os mortos nos campos de batalha para irem para o Valhalla e para Fólkvangr; são lideradas pela deusa Freya

Troll – criatura da mitologia nórdica; alguns são descritos como pequenos, outros como grandes e horrendos; podem virar pedra se expostos a luz do sol

Elfo – criatura mitológica; elfos da luz habitam o Álfheim

6 Avril 2022 01:06 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
0
Lire le chapitre suivant Espera Interminável

Commentez quelque chose

Publier!
Il n’y a aucun commentaire pour le moment. Soyez le premier à donner votre avis!
~

Comment se passe votre lecture?

Il reste encore 2 chapitres restants de cette histoire.
Pour continuer votre lecture, veuillez vous connecter ou créer un compte. Gratuit!