nenozero Neno Fernandes

Edgar de Antares nasceu na Vila dos Pescadores, uma pequena ilhota que fica ao sul da Cidade de Onno Mollusca e passou boa parte de sua infância por lá... Este é um pequeno teaser do novo capítulo do meu livro Sonhos Distintos, se te interessar, não deixe de acompanhar a história principal.


Histoire courte Déconseillé aux moins de 13 ans.

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Histoire courte
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Edgar

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Edgar de Antares nasceu na Vila dos Pescadores, uma pequena ilhota que fica ao sul da Cidade de Onno Mollusca e passou boa parte de sua infância por lá.

"A vida é preciosa, Edgar. Os Criadores nos deram tudo que precisamos, nunca deixe de agradece-los". Sua mãe vivia lhe dizendo essas palavras. Ele acreditava nelas e confiava em sua mãe, então ele não se esqueceu de agradecer.


Quando ele era pequeno, dava para ver o mar da janela de seu quarto e ele sempre acordava ouvindo o som das ondas. Durante o dia, ele ajudava o seu pai com o barco, ajudava na pesca e velejava pelas outras ilhas locais. Podia participar dos acampamentos dos pescadores e ouvir as histórias fantásticas que os anciãos contavam em volta da fogueira. Era uma vida boa, mas principalmente simples.

As pessoas precisam comer e é o nosso barco que traz os peixes até elas. Somos uma parte importante desse mundo, nada pode nos afetar”. Ele desejava um dia ser tão importante como o seu pai.


Mas conforme o tempo passava, as pessoas da vila a cada dia pescavam menos. Os barcos já não velejavam mais e as histórias dos anciãos agora eram só reclamações sobre as novas companhias de pesca. As coisas estavam ficando cada vez mais difíceis e seus pais precisavam tomar uma decisão. Com o nascimento de Agatha, sua irmã mais nova, os pais de Edgar usaram toda a economia que tinham, venderam todos os bens que possuíam e se mudaram para a cidade grande.

Agora você terá as mesmas oportunidades que as outras crianças têm". Foi o que sua mãe lhe justificou.


A casa onde foram morar era pequena, apertada e cercada pelos muros da cidade. Já não era possível ver o mar da janela do quarto que dividia com os demais, muito menos ouvi-lo. Ele agora acordava com o choro do bebê ou com as palavras pesadas que seu pai usava para se referir à sua mãe:

Sou eu quem traz o sustento para essa casa, então você vai fazer o que eu mando”. Essas eram as menos piores.


O distrito em que vivia era feio, húmido e tinha um cheiro não muito agradável. Ele tentou algumas vezes visitar os locais mais agradáveis naquela cidade, mas os guardas sempre o mandavam de volta para casa. Se essas eram as oportunidades que as outras crianças tinham, ele certamente não as queria.

“Volta pra casa, moleque. Aqui não é lugar para você”. Os guardas diziam rindo dele.


Ele também não podia mais ir trabalhar com o seu pai, nem velejar com ele. Em seu novo emprego, os homens do porto não permitiam e nem gostavam de crianças por ali.

Criança só atrapalha. Vai pra escola, moleque!”. Era o que o estivador sempre reclamava.


Sim, ele teve que ir para a escola. As crianças da cidade não eram como as crianças da vila, elas se aproveitavam de sua ingenuidade e de seu pouco grau de instrução. Muitas vezes, ele deixou de ir simplesmente por não aguentar mais ouvir os insultos delas.

Você não pode vir aqui. Você fede, é feio e é burro”. Eram as palavras que os mais educados costumavam usar.


Várias vezes ele pensou em voltar para a vila, nem que fosse sozinho, pelo menos por lá as coisas faziam sentido. Mas sua mãe sempre lhe convencia do contrário, dizendo-lhe o que ele precisava ouvir.

“Você já está se tornando um homenzinho, precisa ser mais grato pelo que os Criadores te deram. Você tem casa, comida e uma família, nunca deixe de agradece-los". Ele já não entendia direito o porquê, mas era sua mãe falando então ele se lembrou de agradecer.


Na vila, os anciãos diziam que o tempo sempre consertava as coisas e normalmente eles costumavam estar certos sobre tudo. As coisas melhoraram: o distrito, a casa, o cheiro, as roupas… Até seu pai melhorou. Ele já não gritava mais, só que também não passava muito tempo em casa.

“Mais tarde eu volto…”. Na maioria das vezes ele voltou, mas nunca antes de fazer sua mãe chorar.


Mais ou menos nessa mesma época, sua irmã Agatha conheceu Sarah e Cristina, não demorando muito para as três se tornarem melhores amigas. Ele adorava as garotas, mas detestava ter que passar seu tempo cuidando das pequenas e aturando suas brincadeiras bobas de menina.

“Você é o homem da casa agora, precisa sempre zelar pela segurança dela”. Aquilo não parecia tarefa de homem, mas foi a tarefa que sua mãe lhe deu.


Os poucos momentos proveitosos eram quando a irmã mais velha de Sarah, Saphira, estava junto. Ela costumava levá-los para pequenas expedições no Bosque da Aprendiz e lhes contava histórias de suas aventuras. Elas não eram como as histórias dos anciãos, nem chegavam perto, mas eram boas histórias.

“Há muito mais no mundo do que a Vila dos Pescadores, Edgar. Nem tudo na vida é tão simples assim”. Só que ele preferia as coisas simples. Mas Saphira era imponente e autoritária como sua professora, talvez fosse melhor não lhe contrariar para não ficar de castigo mais uma vez.


Contudo, o que realmente lhe trouxe alguma felicidade naquela época, foi assistir as apresentações da Tropa Carcará na praça da cidade. Os movimentos de ordem unida, as armaduras brancas com o símbolo da ave de rapina, o respeito que os cidadãos demonstravam pelos membros da tropa… Ele desejava aquilo para si.

“Você já pensou no que vai ser quando crescer, garoto?”. O sargento lhe entregou um folheto. As gravuras eram incríveis, mas ele tinha um pouco de dificuldade com as letras.


Ele não pensou, nunca teve muito tempo para pensar sobre isso. Ele precisava entregar o máximo de sacos de trigo possível se esperava levar algum dinheiro para casa. Mas ainda assim ele cresceu e agora já tinha dezoito anos. Sua irmã também cresceu, exatamente como as amigas dela e a cada dia que passava, Sarah ficava mais bonita. Ela era a garota mais bonita da escola, ela era a garota mais rica da cidade, ela era da família mais influente do ducado e ele? Bem, ele era o rapaz que carregava sacos pesados.

“As mulheres respeitam e adoram um homem de uniforme. Se você tiver um, ela caíra aos seus pés”. O recrutador disse uma série de outras coisas também, mas ele só prestou atenção nisso.


Durante quatro anos de serviço básico, ele fez tudo o que pôde para ser reconhecido: participou de todos eventos voluntários que podia, fez muita hora extra lavando o chão do pátio, engraxando coturnos, polindo os escudos dos veteranos e limpando esterco dos cavalos. Enquanto esteve distante de casa, lá na baronia, ele recebeu muitas cartas de sua irmã. Nenhuma delas respondia suas perguntas sobre Sarah, mas a última e mais importante delas falava sobre sua mãe e sobre o motivo dela não visitá-lo em seu próximo aniversário.

“Os criadores sabem o que fazem, Edgar. Nós ainda temos uma ao outro, temos nossa casa e nossas vidas, nunca deixe de agradece-los”. Provavelmente Agatha aprendeu isso com a mamãe. Ela iria pegar no seu pé e ele não queria desonrar sua matriarca, então ele se lembrou de agradecer.


Aconteceu durante a festa de formatura de sua irmã, ele havia ido até lá para ser o seu par. Mas o verdadeiro motivo que o fez colocar sua farda de gala, foi saber que Sarah estaria por lá também. Era sua melhor chance de impressioná-la.

“Soldado Carcará? Parece interessante…”. Ela estava tão linda naquele vestido. A garota não especificou o que achava interessante, mas foi a primeira vez que ela o notou de verdade.


Ele adorava passar seu tempo com ela, Sarah tinha um brilho próprio que era diferente de tudo que ela havia visto nas outras pessoas. Todos sempre queriam estar perto dela, todos paravam para ouvir o que ela dizia, as outras garotas queriam ser exatamente como ela e os garotos faziam de tudo para ter sua atenção… Mas ela só tinha olhos para ele e isso o fazia se sentir o melhor homem do mundo.

“Ela é o seu passaporte para uma vida melhor! Pessoas como você e eu não temos chances de conquistar uma garota assim. Você deveria agradecer aos Criadores por isso”. Seu colega de guarita costumava ser dramático demais, mas ele fez um esforço e se lembrou de agradecer.


Apesar de adorar toda a atenção que recebia de sua namorada, ele não se sentia merecedor daquilo. Edgar continuava sendo um ninguém e para estar à altura de desposar uma garota como aquela, ele precisaria chegar mais longe.

“Soldado de Elite? Você é mesmo o melhor, Edgar!”. Sua irmã estava orgulhosa, ela costumava dizer que queria ser como ele.


No entanto, conforme o tempo passava, Sarah deixava de se interessar por ele. Edgar lhe contava sobre o futuro, sobre casamento, sobre crianças e sobre família… Mas ela sempre desconversava e dizia que precisava ir para casa. Ela gostava mesmo de conversar com os estrangeiros e ouvir suas histórias sobre o continente, ela gostava de ir em suas festas e aprender mais sobre os seus costumes, ela gostava de saber mais sobre seus feitiços e sobre a rotina na Universidade de Magia. E, houve uma vez, em que ela acabou beijando um deles e é claro que Edgar não gostou nada daquilo. Eles brigaram muitas e muitas vezes, só que nas brigas mais agressivas, ele usava as mesmas palavras pesadas que seu pai usava com sua mãe.

“Acho melhor a gente parar de se ver…”. Ele já tinha ouvido muitos insultos, mas aquelas palavras machucavam muito mais.


Ele decidiu voltar para a baronia e deixar a casa de sua família para sua irmã, ela já estava adulta e não precisava mais dele. Entretanto, ele ficou muito feliz quando ela foi aprovada para os Carcará, vendeu a casa em Onno Mollusca e passou a morar no forte com ele. E, durante algum tempo, as coisas tinham voltado a ser simples.

“Apesar de tudo nós chegamos muito longe… Apesar de todos os problemas, de todas as frustrações, de todas as dificuldades, nós chegamos muito longe… Não há nada pelo qual a gente não consiga passar. Os criadores nos dão forças, irmão. Devemos ser gratos por isso”. Ele certamente não sentia mais vontade, mas dedicou um pouco do seu tempo para agradecer.


Quatro dias atrás, em uma tarde comum de mais um verão de trabalho, o forte foi atacado. Seu antigo colega de guarita foi morto, assim como muitos que ele conheceu em seus primeiros anos de exercício… E contrariando todas as expectativas, Sarah reapareceu… e mais uma vez, as coisas deixaram de ser simples.

“Nós todos saímos vivos dessa. Esse foi o momento mais sombrio pelo qual nós passamos, mas nós sobrevivemos. E com a graça dos Criadores, nos reerguermos e alçamos vôo mais uma vez”. As palavras do discurso do comandante foram seguidas de uma oração em grupo, mas Edgar preferiu ver como Sarah estava.


Edgar de Antares nasceu na Vila dos Pescadores, uma pequena ilhota que fica ao sul da Cidade de Onno Mollusca. Ele agora tinha 28 anos e só acreditava nele mesmo.

1 Avril 2022 00:00 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Neno Fernandes Olá! Eu sou Neno Fernandes (NenoZero), adoro cinema, séries, games e quadrinhos. Sou escritor amador, filósofo de botiquim, crítico de cinema, podcaster, game designer, mas principalmente, apaixonado por torta de limão.

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A Era Moderna
A Era Moderna

Depois da Era da Criação, houve uma época de escuridão onde a fé era praticamente inexistente. Ainda assim, os Criadores não abandonaram a sua obra e abençoaram cinco criações distintas com sabedoria e poderes divinos. Juntas, elas derrotaram a escuridão trazendo a esperança novamente para o mundo. As cinco criações passaram a ser seguidas pelas demais e compartilharam suas bênçãos criando as cinco Ordens. Dessa forma começou o período que nós chamamos de “A Era das Ordens'', cada uma focada em seu próprio poder: A Ordem do Fogo, A Ordem da Agua, A Ordem do Vento, A Ordem da Terra e A Ordem da Luz. A sabedoria foi compartilhada a partir do ensinamento, mas... O poder… Era compartilhado pelo sangue. Gerações distantes dos abençoados originais, descendentes que com o tempo passaram a ser conhecidos como Guardiões das Ordens, tiveram seus corações corrompidos pela benção. Eles acreditavam estar acima de todos os outros e desejavam cada vez mais poder. A tirania e opressão das Ordens, trouxeram a decadência das criações e depois de todo sofrimento causado pelos descendentes, os desprezados iniciaram uma revolta por seus direitos. Se sagraram vitoriosos, sobrepujaram o controle das Ordens e destruíram a sua influência pelo mundo. Uma nova Era se iniciou... Quase mil e oitocentos anos se passaram, o culto e veneração às Ordens foi proibido e os guardiões remanescentes foram caçados e exterminados. Quase extintos, aqueles que ainda sobrevivem vivem escondidos e reclusos do resto da sociedade. Esses acontecimentos deram início a um novo calendário e através dele surgiu um novo período. A chamada “Era Moderna''. En savoir plus A Era Moderna.

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