myazurck Mya Zurck

Morando em uma república com outras três estudantes, Lavínia é uma universitária que gosta de ler romances e de sonhar com um belo futuro. Sua vida tranquila, no entanto, será estremecida repentinamente ao conhecer um homem que trará à tona segredos enterrados no passado. Em meio a encontros e desencontros, vidas serão entrelaçadas, mudanças inevitáveis irão ocorrer. Enquanto o lado maldoso de uns atiçará conflitos, a superação pessoal de outros sobrevirá. E os sonhos inocentes darão lugar a um universo de mágoas e desejos proibidos.


Romance Romance jeune adulte Interdit aux moins de 18 ans.

#romance #drama #drogas #amizade #heterossexualidade #homoafetividade #ácool #história-original #conflitos-familiares #vingança
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Olha pela janela e nota que o céu começa a escurecer. Pega na bolsa, abre-a e tira o celular. São sete horas e trinta minutos. “É hora de ir”, ela pensa. Afinal, estipulou que duas horas de leitura na biblioteca, após o fim das aulas do curso de artes, seriam suficientes para saciar a sua sede por narrativas, contos e poemas, preferencialmente românticos.

Lavínia tenta ser organizada, gosta de ditar horários para tudo em sua vida. Isto lhe traz sensação de tranquilidade, estabilidade e segurança, embora quase sempre não consiga, pois sua cabecinha sonhadora voa longe traindo-a por vezes.

“Nossa, Vivi, deixa de querer ser tão certinha o tempo todo!”, lembra-se das palavras de repreensão que sua melhor amiga Louise, ou Lou, como gosta de chamar, sempre lhe diz quando quer criticar o que considera como manias negativas para uma vida socialmente saudável.

O telefone, ainda em suas mãos, começa a vibrar, tirando-a da divagação.

— Pai, espera só um pouquinho. — sussurra para não perturbar o silêncio exigido no local. Levanta-se, direciona-se à porta de saída da biblioteca e a atravessa. — Agora pronto... sim, podemos falar à vontade. Pai, que bom que ligou! — solta, alegre. Para Lavínia, falar com o pai quase todos os dias, mesmo que só por telefone na maior parte das vezes, é muito bom, pois o adora.

Não me venha com isso, pois sabe que estou chateado com você. — Do outro lado, o senhor Gregory faz muxoxo para reforçar voz de indignação. — Você não veio mesmo, não é? Eu senti a sua falta... e a sua mãe também.

— Sei... — Ela torce a boca achando irônico ouvir que sua mãe havia sentido sua falta.

No sábado anterior, Darlene havia organizado uma festa para comemorar o próprio aniversário. Disse que seria um evento simples, contendo apenas uns poucos amigos, mas Lavínia, por conhecer a mãe bem até demais, não teve dificuldade em prever que a festa seria na verdade um acontecimento no qual estariam presentes os mais ricos da sociedade, incluindo jornalistas e colunistas prontos a capturar closes e informes da nata da sociedade. Afinal, sua família é rica, está adaptada ao luxo, aos gastos excessivos e a encontros com pessoas ilustres.

Um mês atrás, quando seu pai lhe contou sobre a festa para que se sentisse previamente convocada, Lavínia inventou mil desculpas, que estava cheia de assuntos da faculdade para colocar em dia, não andava se sentindo muito disposta, precisava de sossego. Não queria participar da festa de jeito algum, pois nunca conseguiu enquadrar-se nesse universo predominantemente fútil, desprovido de amizades sinceras.

É lógico que o pai não desistiu de empreender várias formas de tentar convencê-la, até fez Darlene ligar para ela, recomendando que implorasse caso precisasse. No fim, nada adiantou.

— Perdão, paizinho. Eu di-disse que... talvez não desse pra ir e não deu. Mas no próximo sábado eu vou aí e ficarei com você... quero dizer, com vocês, o dia inteirinho. Eu juro.

Fazer o que, né? — fala em tom mais ameno.

— Sabe que eu te amo, né? Muito, muito. — reforça.

Quando se despedem, Lavínia fica ali um tempo ainda. Sorri consigo mesma lembrando como seu pai é continuamente bom, paciente e generoso com ela, pois, embora passe mais tempo na firma de consultoria empresarial do que em casa, sempre dá um jeito de dedicar-lhe atenção, um momento que é só deles. Ao contrário de sua mãe.

Lavínia detém o pensamento na mulher que, na verdade, lhe trata com evidente indiferença desde que se lembra. “Por quê?”, há anos pergunta-se sem obter resposta satisfatória. Lembra-se de quando era criança e das vezes em que sofreu com agressões físicas e verbais. Não importava o quão bobo fosse o motivo, tinha a impressão de que para a mãe tudo se convertia em oportunidade de atormentá-la, espezinha-la. Quando se tornou adolescente, cessaram as agressões físicas - beliscões, puxões, empurrões - e se intensificaram as verbais, que ganharam um ingrediente que classificou como sádico. Ela simplesmente adorava fazê-la sentir-se a menina mais magricela e sem graça do mundo. “Sinceramente, Lavínia, você não sabe nem escolher uma roupa que preste. Vê se aprende. Que menina mais idiota!” Eram as palavras que costumava ouvir da mãe quando decidia aceitar o convite para participar de alguma festinha.


[...]


Em algum ponto da biblioteca, a umas mesas e cadeiras de distância de onde Lavínia estava sentava há pouco, um homem – que observara todos os seus movimentos – cerra o livro que fingia ler, dá uma olhada ao seu redor, exibe um sorriso discreto ao perceber que existem poucas pessoas no recinto e estas estão voltadas a seus próprios mundos, absortas na leitura que fazem.

“A oportunidade é perfeita!”, pensa ao ver a bolsa de Lavínia esquecida sobre a mesa.

Levanta-se e se aproxima.

Com a maior naturalidade possível, enfia a mão, procura e acha a carteira. Manuseia-a e sorri outra vez, pois tem agora em mãos o RG dela, que trata de colocar no bolso da calça.

Devolve a carteira à bolsa.

Volta, senta e espera.


[...]


Lavínia retorna e junta seus pertences a fim de ir-se embora. Fecha o livro que havia deixado aberto, atentando-se em colocar o marca-texto na página em que parara a leitura.

Quando já vai distante uns metros da biblioteca, ouve uma voz masculina atrás de si:

— Ei, ei! Lavínia Albuquerque... Acho que deixou cair isso.

Ela percebe um braço estendido e na mão um objeto que, só olhando mais atentamente, identifica como sendo o seu RG.

— Mas... mas como? — indaga tocando instintivamente na bolsa, confusa. Porém, devido ao seu histórico de desatenção constante, crê que havia mesmo em algum momento deixado seu RG cair no chão da biblioteca.

— Oh, puxa, que constrangedor. Obrigada por deixar a sua leitura de lado pra me devolver isso. — agradece, pega e joga o documento dentro da bolsa.

— Agora eu sei o seu nome completo, a sua data de nascimento, o seu número de matrícula... — Ele enumera, mas, ao ver a cara de estranheza que ela faz, se interrompe. — Desculpe, é que eu achei essa circunstância um tanto inusitada... E, bem... eu fiquei pensando que só resta nos apresentarmos formalmente. Sou Diego Vasques. — arremata em um tom entre formal e amistoso.

Lavínia não evita fazer-lhe uma análise dos pés à cabeça.

Tem um belo porte físico. "Deve malhar.", considera. Mede algo em torno de um metro e oitenta, calça sapatênis marrom com detalhes brancos nas extremidades, uma calça jeans azul prelavada e uma camisa também azul, de tonalidade clara, de manga longa com xadrez discreto. Sobe o olhar e se depara com um queixo robusto, um sorriso atraente. A pele é clara, o nariz, reto e mediano, com abas um tanto salientes, como se estivesse farejando algo o tempo todo. Os olhos escuros não podem ser vistos mais precisamente porque se escondem atrás dos óculos de grau. Os cabelos, igualmente escuros, são lisos e um pouco compridos, caem sobre o rosto quase o cobrindo.

— Prazer... em conhecê-lo... se-senhor Vasques. — saúda-o e lamenta que a voz tenha saído vacilante.

— O prazer é meu, Lavínia. E pode me chamar de Diego — aperta a mão delicada ao mesmo tempo em que a olha sem desviar.

Ela sente um arrepio e se envergonha ao pensar no que Lou diria se a visse “comer com os olhos” um estranho que acabara de conhecer.

— Bem, é melhor eu ir indo... — puxa a mão, mais bruscamente do que gostaria.

— Se estiver a fim de uma carona, dependendo de onde você morar, é claro...

— Obrigada, mas não precisa.

— Por quê? Afinal, não é bom uma moça bonita andar por aí a essas horas sozinha. — mostra-se solícito.

— É que eu moro numa re-república de estudantes... a poucas quadras daqui. Portanto, como eu disse, não precisa. Bem... tchau e, mais uma vez, obrigada. — põe-se a caminhar.

— Mora aqui perto? — Com uns passos, alcança-a. — Ah, que bom. Tão perto da biblioteca, não é? Que conveniente para uma amante da leitura. — O comentário soa tão elogioso que Lavínia não reprime um sorriso.

— Pelo visto, eu não sou a única amante da leitura.

— Ah, não é mesmo...

Sempre escoltando-a, Diego relata sobre os livros que gosta de ler e ela se surpreende notando que também gosta de alguns mencionados.

Apesar de estar um pouco apreensiva, a simpatia que experimenta pelo homem vence, por isso, Lavínia permite que ele a acompanhe.

A conversa continua fluindo, ela pergunta se ele é estudante daquela faculdade, diz não se lembrar de tê-lo visto antes. Diego afirma cursar matemática, confessa que já a viu algumas vezes, mas nunca houve motivo para iniciar uma conversa.

Lavínia questiona-se quando em sua vida tinha se dado bem tão rápido com alguém. Parece-lhe realmente estranha a situação, mas também interessante.

Eles param em uma casa simples, com muro pintado de bege e um portão de ferro cinza.

— Eu moro aqui. — anuncia e procura as chaves dentro da bolsa, ficando um tanto quanto envergonhada ao supor que não as encontraria no meio da bagunça que é lá dentro. “Tomara que eu não passe a impressão de ser uma pessoa desastrada que deixa cair seus pertences a todo momento e que não consegue encontrar nem as próprias chaves dentro da sua bolsa”. — Achei. — anuncia, vitoriosa.

— Que bom. — festeja Diego, no mesmo tom de animação dela.

— Bem, então... Obrigada... pela con-conversa agradável, assim como a companhia...

— Eu também gostei da conversa e mais ainda da companhia. Então já que ambos gostamos por que não marcamos de sair qualquer dia desses para nos conhecermos melhor? — propõe por meio de um sorriso convidativo.

— Cla-claro. — Ela gagueja ao experimentar um leve arrepio na espinha.

— Que tal sábado?

— Desculpa, mas sa-sábado já tenho um compromisso... com o meu pai.

— Domingo? — negocia.

— Po-pode ser. — “Maldita gagueira nervosa!” queixa-se internamente.

O sorriso dele se amplia, de nítida satisfação.


⊱⊱✥⊰⊰


25 Février 2022 12:06 2 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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Ah, mas como é maravilhoso reviver esta história! Confesso que ainda me recordava bastante bem deste primeiro capítulo e fico imensamente satisfeita por grande parte dos diálogos encontrarem-se quase intocáveis. Apesar de eu notar algumas diferenças nas descrições relativamente ao capítulo original (com frases mais curtas, claras, proporcionando uma leitura mais cômoda), isso não desvirtuou, de modo algum, o realismo nas cenas narradas. Sentia falta dos seus personagens, fundamentalmente da Lavínia, que sei que está um pouco diferente, para melhor, da primeira versão. Eu concordo quando alguns autores dizem passar uma parte de si (uma característica de sua personalidade) aos seus personagens principais e creio perceber em Lavínia algumas características suas. :) Uma delas é a rotina e a ansiedade que poderá advir caso essa organização diária saia do seu controle. Por alguma razão, não senti raiva da mãe de Lavínia, talvez porque já me vi em muitas discussões familiares, e creio que isso não diminui em nada o amor entre os membros. Penso que não existe família que possa negar discussões desse tipo. No entanto, é perfeitamente percetível a pouca homogenia de personalidades entre mãe e filha, sobretudo no que cerne à ostentação. Nesta cena foi possível identificar muito das características de Lavínia, em detrimento de Diego. Penso que a apresentação de Diego foi extremamente suspeita e eu não digo isso fundamentado pela forma como ele invadiu a privacidade de Lavínia ao mexer em sua bolsa, mas sim, pelo modo insistente com que ele a abordou. Eu desconfiaria muito dele e a ingenuidade da Lavínia ficou muito subentendida nesta cena. Ele não apenas sabe todos os dados dela através do documento, como também ela não teve qualquer problema em mostrar onde mora e em aceitar sair com um total desconhecido após meia dúzia de minutos de conversa forçada por ele. Deixo aqui os meus sinceros elogios à forma como descreveu Diego. Apesar dos óculos de lentes espessas, ele me parece ser um homem que deve causar inveja a muitos outros. Foi pertinente e sábio a forma como você terminou este capítulo. Deixa latente uma instigação para não parar de ler. Parabéns pelo capítulo e pela história! Com certeza jamais pararei de a ler.
February 28, 2022, 23:24

  • Mya  Zurck Mya Zurck
    Ops... mas... mas a verdade é que nós estamos a reviver nossas histórias desde anos! (*risos! 😜 ) Pois sim, eu realmente não modifiquei tanto o capítulo 1, porém, sempre tenho a impressão, quando releio, de que há algum detalhe a ser melhorado. Será que todas as pessoas que escrevem narrativas se sentem assim? Ufa, fico tão aliviada que perceba desta forma positiva, deixa-me realmente contente. ⊱✿。◕‿◕。✿⊰ Uma das minhas metas a cumprir nesta nova versão é que Lavínia seja apresentada como uma garota menos bobinha, entende? Muito embora eu também queira preservar as características que marcam a sua personalidade meiga, romântica, crédula, ansiosa, preocupada em manter sua rotina estável. Ah, ok, acho que tem muito sentido você não sentir raiva da mãe da Lavínia neste momento, tanto pelas razões que indicou como, talvez, por já ter uma visão mais adiantada sobre os eventos e, assim, saber que Darlene, afinal, tem lá seus motivos, por mais contraditórios que sejam. Além disso, com certeza, o amor que uma família edifica não se desfaz com meros conflitos internos. Ahã, nem fale... (*risos) Lavínia e Darlene têm concepções de entretenimento definitivamente díspares. Enquanto uma se diverte fazendo mil e uma compras num shopping, por exemplo, Lavínia encontra grande alegria lendo um bom livro de romance. E como foi suspeita esta apresentação! Diego, de cara, deixou evidente suas intenções duvidosas. Como lhe disse antes, Lavínia pode até ter estranhado a atitude dele, mas acabou deixando-se levar pelo sentimento de agrado ao se ver sob ação sedutora de um homem bonito. Olha que grande vacilo! Own! ♥ Muito obrigada por todo o apoio, minha amiga. Sua opinião sempre é muitíssimo importante para mim. Um abraço apertado e beijinhos! ♥ OBS.: Se cometi falhas ortográficas na resposta, please, desconsidere, pois estive aqui muito empolgada :P March 03, 2022, 23:32
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