Sejam bem-vindos! Espero que vocês gostem.
— Cara, eu não acredito que você fez isso! Meu pequeno herói. — Will disse, abrindo um sorriso enorme.
Ele me abraçou bem forte e depois apertou minhas bochechas até que elas adormeceram de tão doloridas, tão energético que pensei que elas fossem se distender e cair no chão flácidas. Um beijo veio em seguida, doce e suave no meu rosto, outro no meu queixo, descendo devagar com aquelas pequenas bitoquinhas que só serviam para me deixar mais irritado.
— Will, para com isso! E eu não sou pequeno. Como um metro e setenta e nove pode ser pequeno?
Eu só precisava respirar. Geralmente eu não me importava, até gostava quando Will me tocava daquela maneira, um pouco sexual demais, porém nada que ultrapasse o que eu me sentia confortável em fazer. Entretanto, hoje não era um daqueles dias; hoje suas carícias suaves me sufocavam, me fazendo sentir preso dentro de uma caixa que não havia escapatória ou buracos onde o ar pudesse entrar, me asfixiando, me estrangulando, naquele cuidado que Will insistia em oferecer quando eu não havia pedido por isso.
Eu respirei fundo, desviando de seus lábios e o empurrei pelo ombro. Dei uma mochilada nele, seguida de um soco em seu ombro. Sim, Will, meu namorado corpulento e idiota, apenas riu, o rosto quadrado e gentil me irritando um pouco mais a cada segundo.
Se não bastasse ter passado duas horas na delegacia e ser questionado como se fosse eu quem tivesse cometido o crime, tive que ficar uma hora extra no escritório do RH, negando os “bônus” e “benefícios” em troca de “confidencialidade”. Um tempo depois, quando fui liberado do interrogatório, o Sr. Jones, dono daquela franquia, fez de tudo para que eu não prestasse queixa, ainda mais quando viu que as câmeras que ficavam na porta do restaurante haviam gravado tudo, em áudio e vídeo, tendo provas suficientes para acusar o gerente de abuso de poder e assédio sexual.
Sinceramente? Eu sabia que não daria em nada ou que o processo demoraria para ser julgado, e ao mesmo tempo, eu tinha que fazer aquilo; todas aquelas tardes tendo que ouvir as piadinhas que, no fundo, eram sinceras demais precisavam ser denunciadas. Assim, sem perder tempo e me sentindo muito vingado, fiz a única coisa que eu podia. Peguei meu celular e fiz a denúncia. Logo viaturas bloquearam a frente do estabelecimento, os empregados sendo dispensados e, o Sr. Jones e companhia, foram processados por danos morais e abuso de poder. Agora, se eu ganharia o caso era algo a se ver no futuro quando a decisão judicial fosse tomada. Entretanto, nem tudo eram flores.
Sem dinheiro para o almoço e com a passagem do ônibus contada, decidi que continuar com meu dia como se nada tivesse acontecido era a melhor das táticas. Me arrastando pelas ruas ao sair da delegacia, caminhei as poucas quadras, me forçando a visitar Will no centro comunitário, exatamente como eu sempre fazia; iria me encontrar com Will na hora do almoço, o único momento onde ele estava livre para falar comigo e depois iria para casa procurar por outro emprego até que eu tivesse o suficiente para pagar os custos da faculdade.
Virei a esquina e continuei meu caminho, distraído, tão chateado pelas últimas horas que mal percebi o que acontecia. Quando vi, mãos me puxaram pelas costas e me arrastaram para um beco, uma boca se colocando sobre a minha sem permissão.
Só percebi que era Will quando dei um soco em seu estômago e um chute bem-dado em sua virilha.
— William Solace! — Arfei surpreso, irritado, enfurecido. Eu tinha que admitir que estava um pouco traumatizado com toda aquela experiência, além de que aquele não era o momento ou o lugar certo para fazer esse tipo de coisa. Também admitia que não estava no meu melhor momento, eu poderia matar alguém se me dessem a motivação certa.
Will não pareceu ligar para o que eu falava. Gemendo ofegante, ele se aproximou de mim e me segurou pela cintura, falando: — Isso não se faz com um homem, baixinho.
Então, dessa vez, eu o deixei continuar. Ele me levantou um pouco do chão e eu automaticamente enrolei meus braços e pernas ao redor dele. Will… ele… Will não gostava de ser contrariado e eu preferia evitar discussões; não seria a primeira vez que nós brigaríamos pela ausência de sexo; eu não estava pronto, Will estava. Eu não queria me casar, Will já tinha até comprado alianças. E eu definitivamente não queria morar com ele enquanto Will já tinha comprado uma casa com direito a berçário e tudo mais o que, na visão dele, poderíamos precisar. Eu nem sabia se queria esse tipo de responsabilidade, mas, ainda assim, esse era eu, fazendo uma forcinha pelos meus pais e por todos os outros que pensavam que logo o casório aconteceria. E talvez… talvez… não fosse tão ruim assim, ter um namorado bonito e gostoso que estava disposto a ficar com alguém tão chato e… e antiquado quando eu. Apensar de que… eu sabia dos erros de Will, das pessoas que ele ficava por trás das minhas costas, mesmo que ele não desconfiasse disso.
Eu ficava me perguntando… quem é que namorava por três anos e não queria fazer sexo?
Eu não conseguia explicar, mas havia algo… havia algo entre nós que não parecia… certo. Quer dizer, o problema deveria ser eu, não? Will apenas me traia porque eu não conseguia dar aquele último passo, não importava quantas vezes Will tentasse; eu sempre desistia no momento final. Apenas me parecia… errado. Como se eu estivesse prestes a cometer o maior erro da minha vida.
Senti um arrepio estranho e incomodo subir pela minha coluna quando Will me segurou com mais força do que o costume e me puxou firme pelos cabelos, sussurrando no meu ouvido:
— Senti tanto a sua falta, baixinho. Onde você esteve que não atendeu o celular?
Ah, talvez eu não estivesse tão desconfortável assim… quer dizer, Will era sempre gentil demais, sabe? Tão cuidadoso, e esse cuidado todo fazia com que eu me sentisse um fraco, como se eu fosse quebrar em mil pedaços, e eu não gostava disso. Mas quando Will perdia o controle? Me tocando com força e com vontade, sem medo de me machucar, como se na verdade ele quisesse me ferir, mas só um pouquinho, apenas para deixar sua marca em mim, exatamente como ele fazia agora…? Era outra história. Era nessas horas que eu diria sim se ele me pedisse. O fato era que se Will tinha que se forçar a ser bonzinho e me tratar bem… eu não queria viver com alguém no que fundo fingia ser algo que não era. Não importava o motivo.
— Você está me escutando? — Ouvi novamente sua voz suave ao pé do meu ouvido. Eu me arrepiei novamente e desisti de tentar raciocinar.
Mesmo que eu quisesse ter respondido, não conseguiria, eu estava no meio de um interrogatório policial; não que a resposta para isso parecesse ser importante. Will voltou a me beijar com se esse fosse o único objetivo de sua vida e todo o ar ou pensamentos fugiram para fora da minha cabeça.
Aquilo… aquilo era tão errado. Bem no meio da rua onde qualquer que passasse poderia nos ver… eu me remexi, desconfortável por outra razão, talvez eu tenha gemido baixo, eu não saberia dizer, tentado me afastar de Will só para ser puxado de volta contra minha vontade.
— Qual o problema? — Will disse entre suspiros e mordiscadas, sua língua voltando para dentro da minha boca, massageando a minha, se movendo daquela forma que eu mais gostava, me fazendo relaxar mais um pouco, apenas o suficiente para Will abaixar o zíper das minhas calças.
E de novo, eu não tinha o direito de escolha. Will enfim enfiou os dedos dentro da minha cueca e eu arfei e… e ouvi algo, um som estridente que me fez abrir os olhos e perceber o que estávamos fazendo. Desviei minha boca dos lábios de Will, o empurrei pelos ombros e coloquei as pernas no chão, fechando o zíper da minha calça enquanto procurava pelo celular que tocava. Eu definitivamente deveria ter ido para casa em vez de ir até ali, há duas quadras do centro comunitário onde crianças e adolescentes vinham em busca de ajuda.
Bem, costumes eram difíceis de serem quebrados.
Eu me abaixei, abri o zíper da mochila e enfim encontrei o maldito celular.
— Niccolas Di Ângelo? Temos uma vaga para você. — Alguém falou imediatamente, mal o deixando atender a ligação.
Era Caren da agência de empregos, sua voz seca e mal-humorada podia ser reconhecida em qualquer lugar. Mal-educada e rude, soava aguda a meus ouvidos.
— Claro. Sobre o que seria?
— Cuidar de duas crianças durante o dia. Com horas extras e direitos trabalhistas.
Com toda certeza seria melhor do que o último emprego. Nisso, eu podia confiar.
— Pra quando?
— Amanhã às 7h.
— Tudo bem. Devo usar uniforme?
— Não, apenas apareça no horário.
Assim, o telefone foi desligado na minha cara e Will que estava do meu lado encostado na parede, riu, me tocando no rosto e me beijando agora suavemente.
— Parece que nossa diversão acabou.
— Você não viu nada. Sabe o que aconteceu hoje? — Will levantou as sobrancelhas e se inclinou em direção a mim, curioso, o que me deixou muito aliviado. Eu amava Will, mas não estava no clima para beijo nenhum.
***
Desci do ônibus e parei em frente a um grupo de casas luxuosas, já estranhando o lugar. Segurei meu celular com força e verifiquei o endereço que me mandaram. Sim, era ali, Rua dos pinheiros… erh… o que parecia estar certo, pois haviam árvores tão altas que parecia desaparecer entre as nuvens. Dei de ombros e me coloquei a andar, sentindo como se entrasse em um mundo desconhecido. Eu não podia evitar, me via deslumbrado por aquele lugar; eram grandes portões que delimitavam as propriedades, as separando por muros ainda mais altos. Arvores gigantes e outras pequenas, em diferentes formatos e cores que bloqueavam a visão das outras casas ou o que havia dentro daqueles portões. Eu nem havia comentado das longas calçadas de tijolos que pareciam sair de um conto de fadas, se estendendo sem fim conforme as fileiras de residências se perdiam ao horizonte e além.
Parei em frente ao conjunto que tinha o número 17, onde mais um grande portão de ferro negro subia mais alto do que eu podia ver e verifiquei mais uma vez se aquele era o endereço correto. Cocei os cabelos, tentado a abrir mais uma vez o e-mail com os dados do contratante, porque, aquilo só podia ser um engano; o que eu presenciava não podia ser chamado de casa. Agora que eu chegava bem perto podia ver que era um conjunto de pequenas mansões bonitas e bem estruturadas, com cercas brancas, largos jardins, parques, piscinas, academias e tudo mais o que pudesse ser imaginado, além de seguranças protegendo o perímetro ao redor da propriedade e nas áreas comuns a todos os moradores.
Parecia que eu, de fato, tinha entrado em uma realidade paralela, o que era estranho. Sentia que eu não era alguém que aquelas pessoas contratariam, um alguém sem faculdade, qualificações ou indicações profissionais adequadas. Mas já que eu estava ali… dei de ombros outra vez. Andei até a frente do portão e apertei o interfone:
— Com licença, me chamo Nico Di Ângelo. Tenho uma reunião com Annabeth Chase na casa 4.
— Sim, bom dia. A Senhorita Chase deixou um recado. — O porteiro, solicito e educado, me disse. — Ela pede desculpas por não poder recebê-lo pessoalmente. Nós o encaminharemos até o local.
Me restou agradecer e esperar que os portões se abrissem. O que foi ainda mais esquisito. Enquanto parte do portão deslizava para o lado, dois seguranças com o triplo do meu tamanho me olharam de cima a baixo e me deixaram passar depois de me revistarem.
— São regras do condomínio. — Foi tudo o que me falaram antes de um deles me guiar até um carro que me esperava em frente a outro portão menor.
Me aproximei mais e senti vontade de rir; primeiro, esse era algum tipo de prisão luxuosa? E em segundo, porque havia um carrinho de minigolfe aqui? O mais interessante era que o carinho até vinha com um motorista particular.
Ainda achando graça, entrei no carro, coloquei o cinto de segurança e me deparei com um garoto da minha idade, algo entre vinte anos, cabelos castanhos, olhos negros e um bonito sorriso largo.
— Primeira vez?
Eu acenei, tentando não parecer tímido.
— Não se preocupe, todo mundo fica meio assustado na primeira vez. Qual o seu nome?
— Nico. Niccolas.
— É um prazer, Nico. Sou Ethan. Vou te dar uma carona pelo tempo que você ficar por aqui.
— Porque? Você acha que eu não vou ficar muito tempo?
— Ninguém fica. Não é nada pessoal. Você sabe como são essas pessoas.
— Como elas são?
— Acho que você vai descobrir logo, não vai?
Assim, quando eu menos percebi, Ethan parava o carro em frente a casa de número 4. Ele me ajudou a tirar o cinto, deu a volta no carro e estendeu a mão para mim. Me sentindo encabulado, aceitei sua ajuda e desci do carro, encarando uma última vez seus olhos negros que pareciam brilhar, quase maliciosos e seu sorriso que parecia se alargar, contente por algum motivo.
— E não se esqueça, não leve nada para o lado pessoal. Certo? — Ele piscou para mim, todo charmoso e deu a volta do carro, arrancando para longe dali.
***
Certo, eu disse a mim mesmo. Nada pessoal. Claro.
Observei Ethan arrancar dali e me permiti respirar fundo. Não era nada demais, só mais um emprego onde eu ficaria alguns meses, faria um pouco de dinheiro e seguiria para o próximo trabalho até que eu tivesse dinheiro o suficiente. Apenas mais um entre tantos outros. Dei mais alguns passos em direção a porta e subi os poucos degraus, esses feitos de um mármore branco e cinza. Logo em seguida, toquei a campainha antes que meus nervos falassem mais alto, me restando apenas respirar fundo. Arrumei minhas roupas amassadas e segurei na alça da mochila, passando a mão nos cabelos, tentando ajeitá-los no reflexo da tela do celular, o que se provava ser inútil. Não havia milagre naquele mundo que me faria sentir adequado ou bem vestido, assim, me forcei a esperar o mais paciente que alguém como eu poderia.
Não era nada demais, disse a mim mais uma vez. Eu sempre ficava nervoso no primeiro dia, e isso nem tinha a ver com os chefes insuportáveis ou abusivos que já tive o prazer de aturar, não, tudo isso estava comigo não importando para onde eu fosse. Impaciente e vencido pela ansiedade, toquei novamente a campainha, apertando o botão mais forte do que pretendia no exato momento em que a porta se abriu bruscamente, revelando um homem alto de quase dois metros de altura, cabelos negros bagunçados e intensos olhos verdes que o fitavam com desinteresse. O homem parecia ter pulado para fora da cama, vestindo apenas calças de moletom cinza e mostrando… todo o resto.
— Sim? — O homem murmurou rouco, seus olhos mal se abrindo, tão sério que pensei em dar meia volta e escapar dessa situação estranha.
Me sentindo pior ainda, como se alguém revirasse minhas entranhas, mantive meus olhos acima dos ombros do homem seminu e conferi meu celular, verificando novamente o e-mail que a agência tinha lhe enviado. Casa 4. Empregadora – Annabeth Chase.
— Posso falar com a senhora Annabeth Chase?
— Volte no mês que vem. Talvez no próximo ano, sim? Nunca pensei que ela gostasse dos mais novos… — O homem murmurou quietamente, como se eu não devesse ter escutado, principalmente a última parte, distraído, nem parecendo se importar.
— Senhor…?
— Jackson, Percy Jackson. — Ele disse de má vontade, bocejando.
— Sr. Jackson. — Falei. Fiz questão de ignorar o que aquele senhor insinuava. — Me avisaram sobre a vaga de cuidador infantil. A agência me enviou aqui.
— Ah.
Percy Jackson não agiu como eu esperava. Não, o homem apenas levantou as sobrancelhas e me encarou pela primeira vez, parecendo me analisar, me dissecando com seus analíticos e intensos olhos verdes, como se tentasse decidir se eu valia o seu tempo. O que me fez sentir ainda mais estranho, querendo me esconder e socar a cara daquele homem ao mesmo tempo.
— Você tem experiência com crianças? — Percy Jackson me disse, mesmo que não fosse o que o homem pretendia falar. Isso estava nítido para mim.
— Cuido dos meus irmãos desde criança. Serve? — Quando vi que parecia desrespeitoso demais, completei: — O anúncio não exigia especificações.
— Me deixe ver.
Não parecia ter sido um pedido.
— Claro. — Eu dei de ombros, fingindo que não me importava com aquele interrogatório todo.
Entreguei o celular para Jackson, me sentindo vitorioso quando o homem não achou nada de errado. Ele apenas pareceu ler, virou a cabeça para o lado e suspirou fundo, dizendo: — Típico dela.
— Se o senhor quiser, posso ir embora. — Afinal, nenhum dinheiro era suficiente para passar aquele tipo de humilhação. Ou o que ainda estava por vir. Eu nunca tinha certeza do que poderia acontecer.
— Não é culpa sua. Entre.
Sr. Jackson deu espaço para que eu entrasse, e assim, a porta se fechou, dando início a algo que eu em hipótese alguma poderia ter previsto.
É isso, vou tentar meu melhor para não atrasar, assim espero ansiosamente pelo feedback de vocês.
Muito obrigada por ler!
Merci pour la lecture!
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