2minpjct 2Min Pjct

Os aspirantes a heróis, Park Jimin e Min Yoongi, tiveram muitas aventuras juntos em busca de ouro e notoriedade. Entretanto, de todos os desafios que um dia aceitaram, o de encarar seus sentimentos um pelo outro não foi um deles. Quando se veem perdidos em alto-mar, temendo os monstros marinhos e a fúria dos deuses, por suas faltas de devoções, eles acabam em uma ilha, onde seus instintos não só suplicam pela sobrevivência, mas também por seus desejos mais profundos.


Fanfiction Groupes/Chanteurs Interdit aux moins de 18 ans.

#pwp #2minpjct #sujim #minmin #friends-to-lovers #2min #suji #minimini #sugamin #yoonmin #jimin #yoongi #bts #aventura #fantasia #Bangtan-Boys-BTS #boyslove #boyxboy #btsfanfic #btsfic #gay #romance-gay #yaoi
1
4.8mille VUES
Terminé
temps de lecture
AA Partager

A viagem

Escrito por: @LadyofSomething | @RedWidowB

Notas Iniciais: Olá! Bem, espero que gostem desta estória como eu gostei, pois me esforcei muito para fazer meu melhor. Agradeço muito a @SraLovegood pela betagem e busanjimin/@xbusanjimin pelo banner perfeito, assim como minhas amigas e parte da equipe do projeto que me deram apoio para continuá-la.

A quem se dispor a ler, agradeço igualmente, e espero que encontrem muita fantasia nesta aventura :)


~~~~


Em um mundo onde todos sabiam que a morte era certa e que só se vivia uma vez, o que Park Jimin menos entendia era como alguém não valorizava tal informação o máximo possível.

Afinal, se você tem apenas uma vida, por que a desperdiçar?

Também não entendia como pó de fada poderia ser muito mais difícil de se lavar do corpo que muitas gosmas — provindas de lugares que ele não gostaria de lembrar — eram. Então, enquanto esfregava seu corpo com a esponja velha de seu companheiro de viagem, ouvindo-o dizer pela milésima vez que nunca mais trabalhariam com fadas, algo em sua mente soltou alguns estalos de ódio.

— Nem deveríamos trabalhar com isso, Yoongi! — comentou, mergulhando seu tronco na água do rio, percebendo que o pó brilhante não ia embora com a correnteza. — Se é que podemos chamar isso de trabalho!

— Fomos treinados para isso — retrucou o outro, como se fosse o óbvio. Sua voz pareceu tremida, como se estivesse segurando-se para não rir.

— Para morrer? — Jimin indagou de volta, não controlando a revolta em seu tom de voz alto.

Não era a primeira vez que conversavam sobre o assunto, talvez também não fosse a última.

Não importava se tivessem lutado contra trolls ou colhido flores venenosas para ninfas e fadas, no final, Min Yoongi sempre diria que era o trabalho deles, e Jimin sentiria vontade de esfregar sua cara bonita em cocô de orc.

Era verdade que haviam treinado e que, por quase toda a vida, somente estudaram para chegar até aquele ponto. Entretanto, algo que nenhum livro ou professor havia dito era que ser um humano transformava a meta de se tornar um herói muito mais difícil.

Não importava se você tinha uma ótima espada, poções, venenos e todas as quinquilharias que carregavam em suas bolsas enormes de andarilhos. Um humano tinha 10x menos força que um orc, 20x menos velocidade que um elfo e muito menos resistência que qualquer maldito ser vivo com quem eles constantemente se deparavam.

Jimin tinha certeza absoluta que eram dois sortudos de merda.

Para a média humana, os dois eram pequenos e magros, imagine para os terríveis monstros que seu parceiro insistia que poderiam atacar.

Ele chegava a cogitar se Yoongi odiava viver.

Em cinco anos, eles já haviam escapado da morte algumas vezes, mesmo que os dois só percebessem isso um tempo depois de fazerem as loucuras que chamavam de missões. As cicatrizes que enxergavam um no outro, no entanto, eram provas vivas da insanidade que viviam.

E sempre que Jimin refletia sobre ter apenas 20 anos, tinha mais certeza ainda que não era aquilo que ele queria para a vida. Ele não queria correr o risco de não conhecer a velhice, ou sequer ter a chance de provar da calmaria de formar uma família com alguém.

Mas ao mesmo tempo em que refletia sobre viver bem, ter amor e uma família, ele também tinha certeza que nunca teria coragem de abandonar o outro. Não quando Yoongi era tudo o que tinha em sua vida e a recíproca era verdadeira. Eram apenas eles dois juntos contra o mundo desde sempre.

— Jiminie — chamou o Min, tocando as costas vermelhas de alergia dele, e então parou as mãos que esfregavam com força a esponja ali. — Não precisa ficar tão chateado. Vamos, me dê.

Era assim que Yoongi dava ainda mais certeza a ele que não se largariam. Quando o ajudava a limpar sua pele, brincava com os cabelos naturalmente ruivos do Park e dizia a ele que eles dariam um jeito. Pela forma que deixava claro que estava ali por ele.

Jimin tinha medo de morrer, mas tinha muito mais medo de perdê-lo.

Min Yoongi era seu melhor amigo desde que se entendiam por gente, quando eram os únicos que não tinham uma casa para voltar após os treinos. Eram os únicos órfãos da vila onde nasceram, também os únicos com quem as crianças evitavam fazer amizade.

Depois de adultos, sinceramente, não se preocupavam mais com isso. Não se importavam se os pais estavam mortos ou escondidos em algum lugar do mundo, nem com o fato de serem apenas os dois.

Apesar de tão diferentes, eles eram iguais em vários aspectos e, no que diferiam, se completavam.

Então, mesmo que fossem ficar brilhando por semanas e a expressão chateada de Jimin não deixasse seu rosto por alguns dias, não seria após aquele banho de rio ou a experiência de serem atacados por fadas mirins que faria os dois se afastarem.

[...]

Poucas pessoas imaginavam, mas, de todas as espécies mais fáceis de lidar, as górgonas estavam no topo.

Fosse por pouquíssimos outros seres tratarem-nas com respeito, ou por não se relacionarem pacificamente entre si, elas tendiam a retribuir muito bem quando alguém as ajudava no lugar de tentar cortar suas cabeças.

No caso de Jimin e Yoongi, terem conseguido exúvias dos besouros de estimação das fadas havia gerado uma recompensa até muito satisfatória, assim como a gratidão da criatura para quem não deveriam olhar. Não perguntaram para que diabos ela queria aquilo, nem tentaram entender o porquê de as fadas terem odiado tanto o furto das casquinhas, mas humanos realmente não precisavam se aprofundar nos assuntos entre os monstros.

Entretanto, Jimin estava curioso sobre a motivação de Yoongi para entrar em um barco, em direção ao desconhecido, se eles tinham dinheiro suficiente para um mês inteiro de fartura.

— Não entendo! — repetiu mais uma vez, seguindo Yoongi de perto. — O que faremos em alto-mar, Yoon?

Os dois desviaram de um trasgo corpulento e bêbado, acabando por esbarrar nas pessoas que também iam em direção à embarcação.

O porto estava sempre cheio daquela forma, recheado de navegadores fanfarrões e criaturas que sabiam tirar o dinheiro deles, além dos idiotas que resolviam se aventurar nos navios acabados que paravam ali — o que aparentemente seria o caso dos dois, pela visão de Jimin.

— Não há explicação. Nós não temos uma casa para ir, então para onde iríamos de qualquer forma? — respondeu Yoongi, olhando para ele por cima do ombro. — Além do mais, você precisa superar seu medo.

— Meu medo? — O outro andou mais rápido e ultrapassou-o, falando, então, olhando em seus olhos: — Poderíamos ter morrido!

— Eu teria morrido — retrucou simples, segurando os ombros do ruivo para que ele não batesse em um barril no meio do caminho. — E eu não morri.

Jimin virou-se para andar ao seu lado, pensando seriamente em esmagar a ninfa que, há algum tempo, estava sobrevoando sua cabeça e soando os zumbidos de suas asas nos ouvidos do humano.

— E se acontecer de novo? — perguntou, mais irritado, sem realmente saber se era por Yoon ter aquele sorriso idiota no rosto ou pelo ser pequenino parecer muito interessado na conversa deles.

— E se não acontecer? Dessa vez estaremos no mesmo quarto, Jiminie. Sem chance…

A ninfa soluçou sobre a cabeça ruiva, chamando a atenção dos dois, irritando definitivamente o Park.

— Por que está ouvindo nossa conversa? — Jimin indagou em voz alta, assustando a pequena.

Eles a viram soluçar de novo e de novo, passando sobre os cabelos escuros de Yoongi de raspão, até voar para longe. Ela ultrapassou os capitães ao redor dos barcos, espreitando-se entre as embarcações, e mergulhou na água caliginosa do mar.

— Elas sempre gostam do seu cabelo — Yoongi comentou, risonho, fazendo a careta do outro aumentar.

— Não mude de assunto! — exigiu, batendo seu ombro no do amigo. — Não é como se um quarto fosse o suficiente.

— Não é como se você não pudesse me prender na minha cama se algo acontecer.

Eles alcançaram o navio àquela altura e, mesmo que Jimin soubesse que nas palavras do amigo não havia qualquer segunda intenção, não conseguiu evitar que suas bochechas combinassem com a coloração de seus cabelos.

— Eu odeio você — disse baixinho, enquanto subiam a rampa de embarque.

— Não odeia. Eu sei que não — retrucou sorrindo, bagunçando os fios ruivos dele com os dedos.

Nada mais falaram enquanto caminhavam pelo convés, onde o Min cumprimentou um ou outro, fosse monstro ou humano. Ali, sem qualquer palavra necessária, confirmou a Jimin que seria uma viagem longa.

Ao descerem as escadas, realmente encontraram um quarto para os dois, apesar de o ruivo não querer saber por quanto o amigo havia alugado tal privilégio.

Quando o barco finalmente começou a se mover para longe do porto, o Park começou a sentir falta imediata da terra firme e das facilidades encontradas nela.

Em terra firme, não precisavam pedir a qualquer deus que tivesse clemência, ou torcer para que nenhum monstro desconhecido — ou conhecido e perigoso — surgisse pelo caminho.

Nada, nem ninguém, convenceria a ele que estar naquele tipo de veículo, que, não era unicamente movido pela vontade de seus tripulantes, era algo seguro.

Depender do vento parecia idiotice, e depender da calmaria do mar parecia loucura.

Entretanto, Yoongi, ao contrário de toda a preocupação do amigo, gostava da emoção de não estar 100% sobre o controle. Era emocionante, para o moreno, não ter certezas ou uma direção retilínea.

Se não conseguia ser dono ou controlador de seus próprios sentimentos, por que tentaria ser de seu caminho? Que o vento levasse os dois em direção ao fim do mundo ou ao início dele, Yoongi não ligaria.

Ainda assim, no fundo, o mais velho entendia as preocupações do melhor amigo. Entendia, pois se sentiria pior caso estivesse no lugar dele na última viagem que fizeram juntos.

Sinceramente, sentia que não conseguiria reagir caso fosse Jimin à beira da morte.

Porque Jimin era precioso para ele.

Então, tentava não encher demais a paciência do amigo sobre aquilo e, durante aquele dia, tentou de tudo para animar o rapaz.

Apesar de um pouco estressado e muito preocupado, Park Jimin era fácil de lidar, maleável quando usadas as palavras certas e feitos os movimentos que o agradavam. E Yoongi conhecia os passos, sabia como acalmar a ansiedade dele.

Naquela noite, o barulho da chuva fraca tentou embalar os sonhos dos tripulantes, mas não os do ruivo. Não quando ele sabia que a chuva acordava as criaturas marinhas e movimentava ainda mais o mar.

Mesmo que Yoongi tivesse o enchido de carinhos durante o dia, o medo voltou com toda força em sua cabecinha. Duvidava que aquele navio tivesse algum tipo de atrativo ao Kraken, ou que estivesse longe o suficiente da cidade para que um monstro daquela proporção atacasse, mas ainda existiam diversas outras criaturas com as quais ele preferia não lidar.

Rolou em sua cama algumas vezes, distraído com os cenários imaginários terríveis em sua mente ansiosa. Cada novo estalo na estrutura de madeira formava uma nova possibilidade tenebrosa e ele começou a hiperventilar.

No mar, não tinha para onde correr. Não tinha como fugir, não tinha como pedir ajuda. Ali, não precisava de uma pancada muito forte no corpo ou cortes profundos, mas, sim, apenas cair na água, e tudo estaria acabado, pois nenhum humano teria resistência suficiente para atravessar o mar nadando.

Era por isso que não queria viajar. Não queria passar por aquilo novamente.

— Vai mais pra lá — Yoongi disse, de repente, empurrando seu ombro apenas para chamar sua atenção.

Ele se virou em direção ao amigo em pé, dando espaço para que ele se deitasse em frente ao seu rosto. No escuro do quarto iluminado apenas pela vela quase apagada, eles se encararam.

Yoongi tocou seu rosto gelado, acariciando sua bochecha com o polegar. Escorregou os outros dedos pela orelha dele, brincando com os cabelos bagunçados sobre ela.

— Lembra de quando dormíamos assim naquele celeiro?

Jimin segurou sua cintura e puxou-o para perto. Enfiou seu rosto contra o pescoço do moreno, balançando a cabeça em resposta positiva em seguida.

— Sei que já conversamos sobre isso, mas naquela época eu estava tão assustado. Eu não conseguia entender como os adultos diziam que, por você ter dez anos e eu, onze, conseguiríamos nos virar sozinhos.

O ruivo beijou a pele quente do amigo em resposta, pondo sua perna sobre o quadril estreito dele. Apertou-o ainda mais, sabendo que Yoongi só queria distraí-lo, não realmente conversar.

— E mesmo depois de tudo aquilo, nós sobrevivemos, não é? — continuou o monólogo, esfregando as pontas de seus dedos no couro cabeludo dele e beijando sua testa com carinho. — Nunca vou esquecer de quando você pescou aquela piranha.

Jimin acabou rindo baixinho, abraçando o amigo com mais força quando escutou os passos no convés acima deles.

— Eu sei, não era uma piranha — disse o Min, beijando levemente mais vezes a testa coberta de fios vermelhos —, mas éramos novos demais para diferenciar que diabos de peixe estranho era aquele. Quase não tinha carne e tinha aqueles dentes feios.

O ruivo retribuiu os beijinhos contra o pomo-de-adão dele, esfregando seu nariz pequenino contra os relevos de arrepio que encontrou ali.

Não sabia se o que batia tão fortemente contra seu peito era seu coração ou o do mais velho, apesar de ter certeza que gostava demais da sensação.

Yoongi, diferente do que seus conhecidos imaginavam, era alguém carinhoso. Ou ao menos essa era a realidade com Jimin.

Dessa forma, naquela noite, dormiram abraçados, enquanto o mais velho espantava os medos do ruivo com sussurros nostálgicos e carinhos amáveis.

[...]

A tripulação do navio estava diminuindo mais e mais a cada dia. Nem mesmo os goblins — que estavam ali de penetra e todos fingiam não saber — haviam sido poupados do que estava desaparecendo com as criaturas do transporte.

Em dias de viagem suficientes para Jimin perder as contas, muito menos redes eram atadas durante a noite, e a comida parecia que iria sobrar ao final do percurso, uma vez que todas as manhãs algum grito, assustado e desesperado, avisava a todos que pelo menos uma ou mais companhias não estavam mais por ali.

E ainda que tudo parecesse muito mais sério do que o capitão tentava demonstrar, ninguém ali conseguiu encontrar qualquer pista explícita sobre a situação. Não havia sangue em parte alguma da embarcação, ainda que a limpeza não fosse das melhores ali, e não tivessem lá muitas formas de limpar o chão de madeira ao ponto de desaparecer com as evidências; nenhum osso, roupa ou indício eram encontrados.

Jimin, mesmo que não estivesse em suas melhores condições físicas ou mentais, desconfiava muito bem do que poderia ser. Não seria a primeira vez que ele e Yoongi deparavam-se com tal coisa e, muito provavelmente, se não morressem também, não seria a última.

— Bruxa — o Park resumiu ao amigo, vendo-o sorrir nervoso.

— Pensei o mesmo — respondeu Yoongi, sentando ao seu lado na cama.

Sabiam que apenas trancar a porta do quarto não bastaria para deter o que quer que estivesse sumindo com os tripulantes, mas era o que faziam todas as vezes em que retornavam para o lugar, e o que haviam feito naquele momento.

Era uma manhã quente, em que eles não sabiam exatamente qual dia da semana ou data estavam.

— Odeio bruxas — comentou o mais velho, quando percebeu que Jimin não diria muito mais sobre o assunto. — Como a faremos parar?

O Park arqueou uma de suas sobrancelhas, mostrando em sua feição de pura incredulidade.

— Nós faremos? Nós vamos parar alguma coisa? — perguntou, ignorando a afirmação inicial do outro, pois já tinha conhecimento dela. — Eu sinto muito por estarem morrendo aqui, mas as únicas criaturas com quem tenho que me preocupar agora somos nós dois, Yoon.

Yoongi se aproximou mais e segurou sua mão, olhando em seus olhos.

— Somos heróis, Jiminie — afirmou baixinho.

— Somos merda nenhuma… — sussurrou em resposta, observando suas mãos unidas. — Somos dois idiotas, no máximo, e você é minha má influência.

Ainda que suas palavras tivessem soado ríspidas e sua expressão permanecesse irritada, seus dedos enrolaram-se com mais firmeza nos do Min e seus olhos, quando encontraram os do outro, não se desviaram. Sabia, mesmo que seus instintos gritassem pelo contrário, que ele seguiria o mais velho.

— Você anda muito agressivo ultimamente — alegou o outro, rindo de como o ruivo fez uma careta na tentativa de disfarçar o acanho que o atingiu com as palavras alheias. — Podemos continuar nos escondendo aqui, então. Mas, você não acha que combater a bruxa também seria uma forma de nos proteger? E se ela vier atrás de um de nós?

Jimin quis estrangulá-lo e gritar que, caso Yoongi não tivesse os enfiado naquele barco, nada daquilo estaria acontecendo.

— Se ela vier, eu direi que você é quem tem uma alma melhor para entregar ao Senhor do submundo, porque não sou eu quem quer salvar a vida de ninguém.

Yoongi riu mais uma vez, brincando com os dedinhos do amigo, percebendo que, apesar de tudo, ele já estava cedendo.

Assim, como em todos os outros dias, permaneceram no cômodo por todo o tempo necessário, tendo Jimin, contraditoriamente, buscando mais informações sobre bruxas em um dos livros que carregava consigo para todo lado.

E aquela cena, do ruivo mantendo-se distraído com seus estudos, apenas relembravam ao Min do tempo em que ainda estavam na academia de sua cidade, e Jimin era o único aluno realmente esforçado que o mais velho conseguia enxergar.

Por algum motivo — que o Park costumava afirmar ser estúpido —, os humanos naquele lugar tinham o costume de fazer de seus filhos, nascidos com o sexo biológico masculino, entrarem no tipo de escola que os dois frequentaram sem escolha. Talvez fosse questão de ambição, por todos quererem algum dia ser reconhecidos por uma façanha própria ou de seus semelhantes, mas era comum ouvir histórias, aqui ou ali, sobre como os “heróis da cidade” estavam se saindo.

Apesar de gostar da profissão, com toda sinceridade, Yoongi também não entendia qual o objetivo de ensinar a crianças como matar criaturas que viviam, relativamente, em paz com os humanos. Principalmente por pensar que, se fosse questão de sobrevivência, por que ensinar apenas meninos?

Por dez anos foram obrigados a entender de tudo um pouco do mundo do qual pertenciam à margem frágil, aprendendo sobre os pontos fortes e fracos das criaturas que nasciam naturalmente mais fortes e hábeis que eles. Aos quinze anos de idade, foram jogados nesse mesmo mundo, com a missão de trazer notoriedade aos seus professores, que mostravam suas mutilações como medalhas.

Nesse ponto, Yoongi concordava com Jimin sobre a estupidez de seus concidadãos.

Entretanto, assim como qualquer outro ser vivo, o Min possuía nuances e contraditoriedades, pois, da mesma forma que não concordava com a necessidade de buscar fama, também queria contar no futuro que vivera tudo aquilo, que seus conhecimentos não eram em vão, principalmente ao poder afirmar que havia feito tudo ao lado de Jimin.

Assim sendo, admirou em silêncio o amigo, da manhã ao entardecer, guardando para si as reflexões sobre como conseguia ver beleza em tudo que faziam por estar ao lado dele.

Porém, durante a noite, quando já haviam jantado e retornaram ao aposento, a tranquilidade em Yoongi não se refletia no outro, que não conseguia fechar os olhos para dormir, mesmo que o mar parecesse estranhamente calmo.

Se suas suspeitas estivessem corretas, Jimin não tinha tanta certeza sobre os dois conseguirem parar a suposta bruxa. Em seus livros, descobriu que encantos daquela magnitude, usados para chegar ao ponto de desaparecer com as vítimas, eram muito mais fortes que qualquer conjuração besta com as quais já haviam lidado, e não seria um corte de espada que derrotaria uma feiticeira com tamanho poder.

Jimin não sabia se sentia mais medo da situação ou raiva por ter sido metido naquela confusão iminente.

Sem janelas para dar visão da posição da lua ou a coloração do céu, o Park se apoiou em sua pouca noção de tempo para acreditar que algumas horas haviam se passado. Seu dedo indicador desenhava círculos invisíveis sobre o lençol da cama, criando um padrão de movimentos para acalmá-lo, quando ouviu a movimentação do mais velho do outro lado do quarto. Virou-se em direção ao amigo, preocupado, vendo o vulto do corpo esguio se movimentar na escuridão.

— Yoon? — chamou-o, não recebendo resposta.

Deixou-se perceber os sons dos passos sobre a madeira desgastada do chão, acompanhando os rangeres que se afastavam a caminho da porta trancada.

— Yoon? O que houve? — tentou novamente chamar atenção dele, mas nenhuma palavra foi dita de volta. — Yoongi? Min Yoongi!

Levantou-se de uma só vez da cama, pondo os pés descalços na madeira gelada assim que o som da maçaneta da porta sendo forçada repercutiu. Deu passos corridos em direção ao mais velho e balançou seu ombro assim que o alcançou, afastando-o da porta.

— YOON! — gritou, segurando os dois ombros dele, tentando fitar o rosto do moreno no escuro.

A falta de resposta não o assustou tanto quanto o fato de Yoongi continuar tentando ir até a porta, mesmo em seus braços. O mais velho fez força para se livrar de suas mãos, empurrando-o para o lado sem qualquer delicadeza característica de como o tratava normalmente. Jimin cambaleou, mas voltou a segurá-lo pelos ombros, daquela vez por suas costas.

— Você não vai sair! — afirmou, puxando-o para afastá-lo da porta.

Para sua infelicidade, Yoongi era um pouco mais forte que ele, em geral, e sob a espécie de transe que estava, o moreno pareceu duplicar essa diferença. Seu corpo não vacilou e continuou a buscar a saída, passando por ela ao destrancar a porta, arrastando o Park, que continuava a tentar puxá-lo pelos ombros e membros superiores.

Jimin poderia afirmar que estava tendo um déjà vu, caso não tivesse realmente vivido exatamente o mesmo em sua última viagem.

— Eu sabia que essa merda era uma péssima ideia! — disse, perdendo o autocontrole e socando o peito esquerdo do amigo, assim que conseguiu ficar em frente a ele.

Estavam quase alcançando a escada para o convés e os empurrões e agressões não pareciam efetivos como haviam sido na última vez, então Jimin teve certeza que estavam lidando com uma criatura diferente naquela noite.

No entanto, aquilo não fazia sentido.

Yoongi e ele não haviam se separado em momento algum, então não tinha como o mais velho ter entrado em contato com a bruxa, fosse ela quem fosse. E, se não era mais uma quimera, como havia acontecido em sua última viagem, Jimin começaria a ficar sem ideias sobre o que poderia estar atraindo o outro.

A luz da lua começava a iluminar o caminho quando o ruivo finalmente enxergou o rosto de Yoongi claramente. De olhos fechados e lábios entreabertos, o rapaz de cabelos castanhos escuríssimos andava com uma firmeza nos pés que nem toda a força de Jimin conseguiu parar. Quando alcançou o primeiro degrau, fez o Park pensar seriamente em buscar cordas.

O Min, apesar de incisivo em seus passos, não caminhava com rapidez, então Jimin decidiu que deveria interferir no que enfeitiçava, não no enfeitiçado. Correu de volta ao quarto, pegando a espada de Yoongi que estava sob a cama do dono. Quando retornou às escadas, o moreno chegava aos últimos degraus e alcançava o convés.

Apressou-se a ultrapassá-lo, pronto para atacar quem quer que fosse.

Porém, ninguém estava ali, além dos dois. Nem mesmo os anões, que normalmente dormiam na gávea.

Correu até as bordas da embarcação, procurando qualquer sinal incomum, e então teve a ideia de observar o padrão de movimento do amigo.

Atrás de si, Yoongi andava em caminho retilíneo, em direção à proa com proteção de madeira arrebentada.

Não se deu tempo para respirar fundo ou se acalmar, empunhando com firmeza para novamente correr, em direção à ponta do barco. Ofegante, parou o mais perto da extremidade que pôde, pronto para encarar a ameaça.

E, logo abaixo de seus pés, onde as águas escuras do mar se movimentavam, enxergou algo que, por algum motivo, não pensou de imediato: uma sereia.

Ela tinha cabelos longos, ruivos como os seus, e escondia seu corpo antropozoomórfico com a escuridão da noite refletida no mar. Em seus lábios havia um sorriso aberto, de dentes afiados e monstruosos, enquanto parecia cantar algo que Jimin não conseguia ouvir.

Por que não a ouvia?, perguntou-se o rapaz.

Deixou a questão para depois e focou em pensar no que poderia fazer. Tentou recordar-se sobre as aulas, sobre o que já havia lido sobre sereias, e quase sentiu vontade de se jogar na água quando finalmente lembrou de uma forma de parar Yoongi.

Sirenes, também conhecidas como sereias, atraíam através de desejos sexuais. Seu canto estimulava os instintos impuros dentro dos corpos humanos. Logo, se estes fossem saciados…

O Park, assumindo que a última coisa que poderia sentir naquele momento era vergonha, rumou novamente ao melhor amigo, soltando a espada antes de, sem delongas, abraçá-lo pela cintura. Os braços de Yoongi não corresponderam ao carinho, como normalmente faziam, e seus passos não cessaram.

Jimin continuou segurando-o pela cintura com um dos braços, e subiu o toque da outra mão em direção aos cabelos médios escuros, acariciando a nuca que, com a repetição dos carinhos, se arrepiou.

Os pés do Min ainda se mexiam, porém, mais lentamente, dando tempo e espaço ao mais novo para colar seus corpos. Jimin sentiu seu rosto inteiro esquentar, pois Yoongi estava óbvia e claramente excitado, mesmo que não fosse por ele, e sim pelo encanto da sereia.

Ainda afagando os fios e a pele arrepiada, aproximou seus rostos, beijando primeiramente o queixo do homem, mantendo em mente que apenas em necessidade extrema tocaria seus lábios. Mordiscou a pele anteriormente beijada do mais velho, selando a mandíbula com carinho, e não conteve o sorriso ao senti-lo começar a reagir.

Puxou levemente os cabelos entre seus dedos, recebendo o arfar do Min, quase consciente, muito próximo a seus lábios.

Não queria se sentir afetado, não quando a situação não era de querer mútuo, então manteve seus olhos bem abertos e a mente carregada de pensamentos sobre como aquilo era apenas para salvar o melhor amigo e nada mais.

Enquanto seus lábios desciam delicadamente, em selinhos tímidos pelo pescoço alheio, viu um terceiro homem surgir pela mesma escada que subira anteriormente. O desconhecido tinha trejeitos e expressão facial iguais às do Min, o que começou a fazer sentido na mente de Jimin.

O barco era um banquete móvel para as sereias.

Não faltava muitos passos para que Yoongi e ele chegassem à ponta da proa, e logo começou a desesperar-se. E se o moreno não sentisse atração por homens? Poderia ser o caso, então, nada do que estava fazendo faria diferença.

E se salvasse o amigo, teria tempo para tentar salvar o outro homem?

Entrar em conflito com a sereia não era uma opção, uma vez que ela não subiria no barco, e pular na água seria o mesmo que suicidar.

Decidido a continuar o que estava fazendo e depois pensar no resto, subiu a segunda mão aos cabelos do amigo e puxou-os para trás, ouvindo-o arfar mais alto quando lambeu do pomo-de-adão até próximo ao lábio inferior mais fino que o seu.

Seu coração palpitava com força quando as pernas do Min tremeram e desestabilizaram-se. As mãos de Yoongi finalmente se mexeram, segurando com força a cintura de Jimin, e seus olhos abriram e arregalaram-se quando ambos perderam o equilíbrio e caíram no chão.

Atrás deles, o som das águas pingando em abundância chamou suas atenções, quando a sirene emergiu em um salto e se pôs a menos de um metro de distância, arrastando-se pela madeira. Seu tronco nu e feminino tinha aparência juvenil, mas seus quadris eram compostos pela cauda gigantesca coberta de escamas verde-escuras e gosma translúcida.

Yoongi desvencilhou-se de Jimin, buscando com os olhos algo que pudesse ajudá-lo a atacar a criatura, e encontrou sua espada jogada no chão não muito longe. Arrastou-se até ela e empunhou-a ficando de pé, mas, por segundos, travou no lugar.

A sereia sorria para Jimin, seus olhos triplicando de tamanho e tornando-se brilhantes.

Pelo movimento de sua garganta, ambos perceberam que ela ainda cantava, mesmo que se arrastasse em direção ao Park.

— TAMPE OS OUVIDOS! — Yoongi gritou para o amigo, ainda desnorteado.

Se não estivesse prestes a ser atacado, Jimin teria mandado Yoongi para o inferno.

~~~~


Notas Finais: Mais uma vez, muito obrigada por ler <3 até o próximo e último capítulo!

9 Novembre 2021 03:31 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
1
Lire le chapitre suivant A última aventura?

Commentez quelque chose

Publier!
Il n’y a aucun commentaire pour le moment. Soyez le premier à donner votre avis!
~

Comment se passe votre lecture?

Il reste encore 2 chapitres restants de cette histoire.
Pour continuer votre lecture, veuillez vous connecter ou créer un compte. Gratuit!