Havia quatro cavaleiros, irmãos juramentados por sangue e honra. Eles viviam uma vida simples, sem pertencer a lugar nenhum e sem devoção a ninguém além deles próprios; eles eram conhecidos por grande parte dos povos do mundo, onde cada qual os chamava de uma maneira. Mas seus verdadeiros nomes, ainda era um mistério, e sua presença temida por qualquer um que prezasse por sua vida.
O mais novo deles montava um cavalo vermelho, seus pelos e crina reluziam ao toque da luz, assim como sua armadura e a lâmina de sua espada. Com um corpo robusto e o tronco levantado, ele caminhava sempre a frente de seus irmãos, protegendo e guiando o caminho aos outros cavaleiros. Andava sempre com uma expressão séria, sua mão esquerda apoiada no cabo da espada, pronto para empunhá-la e matar qualquer um que se colocasse em seu caminho ou de seus irmãos.
Atrás dele vinha o segundo cavaleiro, montado em um cavalo negro. Diferente de seu irmão este era magro e tinha cabelos brancos, se assemelhava a seu cavalo cujos pelos e crinas já se degastavam; este não carregava uma espada, mas sim uma balança.
Após seu irmão mais novo guerrear, e matar todos que tentavam a sorte contra eles; O segundo cavaleiro caminhava pelo campo, recolhendo qualquer alimento que encontrasse pelo caminho. Ele era o mais magro dos irmãos, sempre com uma fome insaciável. Quando recolhia os alimentos ele os separava, usando sua balança para ficar sempre com os mais pesados, deixando os mais leves para seus irmãos; e os outros cavaleiros não questionavam, afinal sabiam das circunstancias de seu irmão.
Ao lado dele caminhava o terceiro cavaleiro, que levava com sigo frutos e carcaças podres, tanto em suas vestes quanto em seu cavalo. Era impossível ver as cores reais de seu cabelo tanto quanto era de ver os pelos de seu cavalo, ambos com uma coloração esverdeada já quase empesteado por fungos e moscas.
Carregava a podridão para afastar predadores, que ao sentir o odor da peste já desviava seu caminho; mas os corvos e abutres o acompanhavam, eram seus olhos e ouvidos, sempre observando e ouvindo o que estava ao redor. Carregava com ele um arco, do qual empesteava suas flechas com fungos e veneno, para terminar de matar aqueles que sobreviviam ao primeiro cavaleiro; que eram poucos, se não morressem pela ponta da espada, morreriam pela peste.
O último vinha ao fundo, de cabeça baixa apenas guiando seu cavalo branco; era o mais velho deles, portando o mais sábio e mais perspicaz. Já não se envolvia em guerras, ou na busca por alimento, e principalmente em terminar de matar aqueles que por sorte sobreviviam.
Ele tinha outras funções, os três primeiros por um enorme respeito deixavam que ele recolhesse o maior tesouro de cada uma das vítimas, algo que fazia com um sorriso no rosto usando uma longa foice presa a um cabo feito com a madeira de carvalho escura. Era o último dos irmãos a caminhar pelo campo, apenas recolhendo o maior tesouro que cada ser vivo possui.
E assim os quatro cavaleiros viviam, sem ninguém ousando se intrometer em seu caminho. Pelo menos por enquanto, afinal seres tão misteriosos como esses merecem um trabalho a altura de sua imponência.
Vagando pelo universo, sua força era tão grande quanto a de um buraco negro; consumia tudo o que encontrava em seu caminho, se alimentando de medo e angustia, transformando a vida em um vazio sem fim apenas com um simples toque. Sua existência é necessária desde os primórdios da criação, afinal, para haver luz deve haver a escuridão.
Veio para Terra em busca de algo novo, já estava cansada de ter que fazer todo o trabalho ela sozinha. Tinha um dom de criação, podendo não apenas tirar a vida, mas também dá-la. E seu poder de criação era tão grande quanto o de destruição.
Ao chegar, caminhou por caminhos desconhecidos, secou rios e lançou maldições sob qualquer um que entrasse em seu caminho. Libertou feras para andar pela terra, e também pelos mares; alimentando o medo e o desespero dos “primitivos humanos” (como ela os chamou).
Até que certo dia encontrou o que procurava, soube da existência dos cavaleiros (que até então eram apenas humanos) e também de seus feitos. Sabia que precisava deles ao seu lado, mas para isso eles precisavam consentir e fazer um juramento em frente a escuridão; somente assim ela poderia dar a eles o que precisava. Poder ilimitado, vida eterna e conhecimento amplo.
Mas o mais velho dos cavaleiros era perspicaz, sentiu que algo estava se aproximando deles; e sabia que se os pegassem juntos poderia mata-los de uma única vez, graças a isso sugeriu que se separassem. Houve relutância por parte dos outros três, mas foi em vão, enquanto falavam e discutiam o mais velho apenas puxou as rédeas de seu cavalo e cavalgou para dentro da mata até desaparecer das vistas de seus irmãos.
O cavaleiro da peste tentou segui-lo, mas acabou se perdendo no caminho. A fúria tomou conta do mais novo, correu de um lado para o outro descontando sua raiva em troncos de arvores, estava perdendo seus irmãos e não entendia o que estava a acontecer; mas no processo derrubou uma árvore que o terminou de separar do último cavaleiro restante no local. E assim os quatro se separaram, com cada um seguindo seu caminho.
Ao fundo a escuridão observava, havia criado ilusões e sensações ao redor deles, fazendo com que se separassem; ela queria recrutar um a um aquilo que desejasse.
O primeiro foi o mais novo, movido pela raiva ele cavalgou sem parar até encontrar um pacato vilarejo, onde descontou tudo o que estava sentindo em seus moradores; não poupando ninguém, nem mesmo mulheres e crianças. Quando acabou o sangue cobria sua armadura e o pelo de seu cavalo, tornando-os um vermelho sangue que já não mais reluziria a luz do sol.
Parado em meio aos corpos, viu se aproximando um vulto negro com uma voz suave ecoando pelo ar; E por um momento tentou atacar, mas seu corpo estava parado e seu cavalo não podia se mexer. O ar escureceu, e da névoa ele ouviu a voz dizendo:
“Já pode largar a espada cavaleiro..., acha que guerra é apenas aquela que se trava com lanças e espadas? Guerra é muito mais do que você pensa, batalhas estão em todos os lugares, principalmente em sua mente e em seu coração” – A voz atravessou sua mente de uma forma que foi forçado a soltar a espada, que caiu com a ponta enfincada no solo.
Escuridão ofereceu-lhe um novo proposito, um caminho do qual ele trilharia com maestria; vida eterna e amplo conhecimento. Seus olhos fixos viam grandes batalhas a sua frente, ilusões criadas em meio a névoa, conflitos tão intensos que achava impossível uma guerra chegar a tais proporções.
E a voz continuou:
“Você pode fazer isto, e muito mais do que pode imaginar e ver!” – E assim a escuridão levou o primeiro cavaleiro, um mensageiro da guerra levando destruição e batalha por qualquer lugar por onde passasse. Vida eterna é o que teria, assim como conhecimento suficiente para gerar conflitos com apenas uma única palavra; E como bom grado a escuridão lhe deu um presente, um colar da mais pura pedra de rubi que encontrara. Assim seguiu seu caminho, apenas aguardando o momento em que se reuniria novamente com seus irmãos.
O segundo cavaleiro vagava por caminhos sombrios, estava fraco, sem seus irmãos não podia buscar alimentos. Ele parou em baixo de uma árvore de carvalho, seus troncos e folhas já indicavam que havia passado dos quinhentos anos; lá ele desceu de seu cavalo e se sentou apoiado em um dos troncos, para ele era só esperar o momento de sua morte.
A densa névoa se aproximou, foi como se ela o abraçasse e o esquentasse, tirando toda a dor e toda a fome que sentira.
“Por que sofrer em um mundo como este? Por que uma fome insaciável com tanto para se alimentar a sua volta?” – A voz era reconfortante, neste momento um pequeno esquilo se aproximou dele e ele o apanhou com uma força que nem sabia que possuía. – “Olhe para ele, um pobre animal, imagine a fome que ele está..., será que é maior do que a sua?” – Neste momento parte da névoa se enrolou em sua mão, o cavaleiro abriu a boca e sorriu ao mesmo tempo em que o pobre esquilo secou e pereceu em seus dedos.
A fome dele fora saciada por um tempo, se alimentou da energia vital de um ser vivo; que aumentava conforme a fome daquele que estava vivo. Uma fome que não seria apenas de alimentos, mas sim de quaisquer coisas que o ser necessitasse para viver. Algo que alimentasse tanto o corpo, quanto a alma.
E assim a escuridão levou o segundo cavaleiro, cujo cavalo agora possuía partes da costela bem a vista e o pelo de um negro fosco; agora usando sua balança para aumentar a fome e o desejo daqueles vivessem por onde passasse. Se alimentando de almas famintas, e a cada vez que este cavaleiro se alimenta, mais força ele adquire.
E para este também foi entregue um presente, uma coroa de turmalina. Assim ele também seguiu seu caminho, esperando o momento de se reunir com seus irmãos uma vez mais.
O terceiro cavaleiro estava em um belo já jardim, que já começava a apodrecer e ficar enfestado de insetos e fungos. Ele aguardava seus corvos e urubus trazerem alguma noticia de seus irmãos; era conhecido por ser um bruxo, recolhia plantas e ervas em jardins como este, fazendo receitas que podiam tanto curar quanto adoecer; mas é claro que só usava as seivas de cura quando algum de seus irmãos necessitava. Ansiava por ver a vida adoecendo, afinal quanto mais podridão houvesse, mais seus corvos e urubus teriam o que comer.
Para este, a escuridão não criou nenhuma névoa ou ilusão, ela apareceu como uma linda mulher de cabelos longos e escuros, trajada com um belo vestido que se esbarrava pelo chão.
“Não é magnifico, a podridão que corrói este mundo de dentro para fora?” – Tinha uma voz calma, o cavaleiro sem entender apanhou uma de suas flechas banhadas em veneno; mas a flecha ricocheteou e acertou seu próprio coração. – “Mas não é mais magnifico, do que a podridão que carregam dentro de si mesmos.”
O cavaleiro começou a se rastejar, buscando a bolsa alocada em seu cavalo. Quando alcançou logo já apanhou um frasco de elixir, do qual virou por completo em seu peito logo após retirar a flecha.
“Tanto talento, e o desperdiça vivendo uma vida que o leva de lugar nenhum, até lugar nenhum.” – Ela estendeu sua mão para o cavaleiro. – “Venha, e lhe mostrarei que pode fazer bem mais do que jamais imaginou.”
O cavaleiro, sedento por ter cada vez mais poder sobre a vida, aceitou de bom grado e foi com a escuridão para encontrar a vida eterna junto de um amplo conhecimento; agora ele era o cavaleiro da peste, espalhando doenças e podridão por todo lugar que passava. As plantas secavam, os frutos se recheavam de fungos e as pessoas sem ter a cura acabavam morrendo em menos de cinco luas.
A escuridão lhe deu um amuleto de quartzo verde, do qual carrega preso em sua fivela em meio às carcaças que seguram suas vestes. Seguiu seu caminho sem ter um rumo, espalhando a podridão pelo mundo; e assim como os outros dois, espera o momento de se reunir com seus irmãos uma última vez.
O último dos cavaleiros, com toda sua sabedoria e imponência, aguardava a escuridão sentado em tronco logo abaixo de uma arvore de casca branca. E assim como ela se apresentou a peste, ela se aproximou dele lentamente com seu vestido formando um rastro em meio a terra.
“Eu esperava por você..., e confesso que demorou bem mais do que eu imaginei.” – Virou seus olhos na direção de seu cavalo, que se alimentava de pequenas gramas ao redor. A sua esquerda estava posta a sua foice, com a lâmina presa ao tronco da árvore, uma posição fácil caso precisasse usá-la rapidamente.
“Eu estava em uma jornada, ajudando seus irmãos a encontrarem o caminho necessário” – Chegou a três metros dele, fora o momento em que ele se levantou já com a postura de um lorde ou um grande sábio. – “Mas você me surpreendeu..., sentiu minha presença desde o começo, e diferente dos outros você já sabe exatamente o que deseja” – Completou olhando-o dos pés à cabeça.
“Sou mais velho do que pode parecer, a medicina de meu irmão é tão avançada que pode até mesmo retardar o envelhecimento..., mas só até certo ponto. E em todo esse tempo em que vivo aprendi algumas coisas, incluindo como ampliar os sentidos; conseguindo assim sentir as presenças que cercam os meus arredores. Quando percebi que estava se aproximando naquela estrada, sabia que era forte, e que tinha uma magia verdadeira em sua posse” – Ele puxou a foice da árvore, e se pôs a menos de um metro da escuridão, agora estavam olho no olho. – “E sabia que você poderia dar o que sempre busquei, mas para isso precisávamos estar a sós ..., meus irmãos ainda tinham algo a adquirir antes de estarem prontos para o caminho no qual os colocou”
A escuridão era tão perspicaz quanto ele, sorriu ao ver a forma como falava. Em nenhum momento se mostrava assustado, nervoso ou preocupado, estava calmo e seu coração batia como se dormisse tranquilamente em um lindo campo verde, com os leves ventos batendo em seu rosto. E isso fora algo que a surpreendeu, de todos os quatro estes era o que ela mais desejava; com um cavaleiro desse ao lado dela, poderia enfim descansar e apenas aguardar o momento em que seu trabalho estivesse completo.
“E o que o nobre cavaleiro deseja?” – Perguntou com curiosidade, estava ansiosa pela resposta.
“Passei grande parte da minha vida recolhendo ouro, joias e coroas. Dizendo que recolhia o maior tesouro deles..., uma grande mentira. O maior tesouro esta sempre longe de meu alcance, além de tudo o que posso tocar” – Um leve sorriso surgia na escuridão, sabia exatamente o que iria pedir. – “Afinal, o maior tesouro de um ser vivo não é nada mais e nada menos do que sua própria vida; e o maior tesouro dos que estão mortos é sua alma, o último resquício de energia e vida que lhes restam”
Assim a escuridão estendeu sua mão para ele, e selaram um eterno acordo; agora o mais velho dos cavaleiros se tornará a própria encarnação da morte, caminhando pelos lugares onde seus irmãos passavam, recolhendo para si os maiores tesouros. É o grande ceifeiro, ninguém do seu último suspiro antes de ele vir recolher o seu prêmio; um cavaleiro velho e eterno.
Para ele a este a escuridão entregou um anel de quartzo branco; do qual nas trevas disputava espaços de luz junto à lua. Cavalgando, ceifando, e esperando o momento do qual você já conhece; quando a aurora bater, e as trombetas soarem, então estará na hora dos cavaleiros se reunirem uma vez mais e marcharem pela terra.
Primeiro vem guerra, montado em seu cavalo vermelho; a guerra trará fome, com sua balança e o cavalo negro. Logo após, quase que ao mesmo tempo surgira peste; impregnando e apodrecendo o solo, rios, plantas e até mesmo nossos corpos. E por fim ele virá; montado em seu cavalo branco, recolhendo seus tesouros.
Alguns acreditam que a morte é um sinônimo de trevas, mas não..., ela é algo mais, é a luz que antecede a escuridão e nos guia a uma nova vida além desta existência.
Uma parte da história que se perdeu no tempo e no passado, mas que se completara em um futuro distante; revelações, o destino final..., apocalipse.
Merci pour la lecture!
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