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Daniela Gondim Da Rocha


Imagine se cada ser humano tivesse uma joia espiritual, recebida ao nascer ou já encrustada em seu corpo, que revelasse seu verdadeiro caráter, sua fé, suas motivações. Não finja que não existe esse constante conflito entre o certo e o errado, o bem e o mal. O que faria com seu poder, o que faria com suas habilidades se fossem normais tais poderes sobrenaturais? Como seria sua joia ao ver um assaltante? Ao ver um estuprador? Ver um político? Ver um mendigo? Como seria sua joia se você tivesse o poder de enxergar através de obstáculos ou o poder como de bomba atômica? Sua joia pode estar empalidecida, ou negra... ou alva... alva como a neve. Esfumaçada, ou com trevas, ou reluzente. Agora, pense. Se uma joia reluzente também pode significar uma alma bondosa, quantas joias dessas nós teríamos em nosso mundo atual?


Romance Religion ou spiritualité Tout public.

#romance #cotidiano #adolescente #vida
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Nascimento (corrigido)

Eu amo datas comemorativas.

Você gosta de alguma?

Particularmente, estou bem feliz hoje; está sendo o nascimento de minha irmã mais nova.

Ela tem 13 anos.

~~~

Patrícia termina de pentear os longos cabelos lisos e castanho escuros, coloca seus óculos novos no rosto e se encara no espelho de moldura azul bebê. "Será que eu deveria usarum rímel?" — ela pensa.

— Paty! Já estou pronta, vamos logo!

— Já vou, só um momentinho!

Então, ela teve sua resposta. Passou perfume e saiu rapidamente do quarto. Chegando perto de sua irmã mais velha, percebe que ela também estava sem maquiagem.

Pela demora, pensei até que estava toda maquiada!

— Eu ia usar rímel só, mas melhor não. E por que você também não está usando maquiagem?

Fabrícia faz Paty se virar de costas para arrumar o laço de seu vestido branco.

— Decidi não usar hoje. É um evento muito especial, mas não é como uma festa de casamento, né?

— Vero*. Ah, Fabi, pode colocar minha bombinha na sua bolsa?

— Claro, aí não preciso levar a minha. —Fabi guarda a bombinha e confere o horário no celular. —Na verdade, faz tempo que não ataca mais minha asma.

— Que bom, graças a Deus! Vamos, então? — Paty pega sua chave com o chaveiro de coração de feltro e abre a porta. — Não esqueceu nada, né?

— Nada; vamos.

— E nada de voar.

— MAS...!

De repente, passam duas crianças voando, tão rapidamente, que quase atropelam Fabi e Paty. Paty olha para Fabi, como se dissesse "Está vendo?".

Oxe! Você pode ir andando, que eu vou é voando! Se eu posso, mulher, eu vou é me cansar e ficar suada? Vou voar mesmo, sou quase uma Winx!

Paty começa a rir da irmã, mas tenta manter a seriedade:

— Se formos voando, nossas roupas ficarão amassadas enossos cabelos ficarão bagunçados-...

— E seus óculos vão cair de novo. Já entendi, mulher. Mas você tinha um óculos mais folgado, esse não está ótimo?

— Está!... Ain... está bem, vamos voando! — Paty decide, então, acompanhar a irmã. Felizmente, o lugar não era tão distante assim.


[*vero: "verdade". Paty diz quando concorda com algo.]


~~~

Não demorou muito para chegarmos ao local da cerimônia. Se Paty não fosse tão lerda, teríamos ido com nossos pais e Letícia. Enfim, graças a Deus, deu tudo certo, chegamos antes de começar a programação (e os óculos de Paty não caíram!).

~~~


— Filhas! Estamos aqui!

— Oi, mãe! — as jovens vão para perto da mãe e se assentam nas cadeiras livres.

— Que demora foi essa?! — a mulher muda o olhar, de repente, parecendo com raiva. — O pai de vocês já ia buscá-las! Pelo menos chegaram a tempo. Já falaram com Letícia? Ela está perto do lago com os outros que também vão nascer. Vão lá e voltem logo.

Fabi e Paty vão apressadamente para o lago, confusas com as reações da mãe.

Liga não, Paty. Vamos ver Leeh. Fica tranquila; você não fez nada errado. A programação vai ser muito boa, você vai ver.

— Obrigada, Fabi. — Paty sorri para sua irmã mais velha e pensa: "Fabi sempre sabe dizer as coisas nas horas certas. Já me sinto melhor.".


Letícia estava no mesmo lugar que os outros jovens, mas um pouco afastada deles.

Letícia! — Fabi acena para a irmã mais nova.

Oi, gente! Finalmente vocês chegaram. Aqui está bem chato. — Leeh se aproxima das irmãs, arrastando suas longas vestes pela grama.

Você ficou linda, Leeh!

— Obrigada. Me sinto uma princesa medieval.

— Parece mesmo! — Paty ri da comparação feita e observa os outros meninos. — Por que não está com eles, Leeh?

— Ah, sei lá. Só quis ficar no meu canto. Mas já conversei com eles, já... Na verdade, eu acabei de falar com eles, agorinha, antes de vocês virem.

— Ah sim, entendi. Que bom, então; fico feliz! — Paty pensa: "É que sempre te vejo como um lobo solitário, sei lá!".

— Paty, vamos logo voltar antes que mãe brigue com a gente. Tchau, Leeh, até daqui a pouco! — Fabi volta voando para perto da mãe.

Leeh, estou muito feliz pela decisão que você está tomando. Pode contar comigo para tudo, viu? Beijos! — Paty corre, voltando para perto de sua família.


~~~

Na verdade, sou grata pelo apoio de todos, mas só estou fazendo isso porque acredito ser o certo. Não sei se vai mudar em algo na minha vida, mas sei que é importante.

Sei lá, só me sinto confusa com isso tudo...


Tenho uma joia encrustada em minhas costas. Ela pode ser preta, branca ou ficar assim, como está... meio transparente... sei lá, eu acho ela bonita assim. Mas se ela pode virar preta, e preta é ruim, então prefiro branca, né? Sei lá.

Às vezes penso que tanto faz.

Leeh olha para o céu. Está tão lindo. Sem nuvens, do jeito que ela gosta.

Talvez eu tenha que esperar para saber...

~~~


A cerimônia começou.

Todos estavam vestidos de branco, inclusive os que iam nascer.

Tinha um quarteto de mulheres e um belo piano de cauda. Estava tudo lindo.

Chegou o momento então dos votos dos que iam nascer. A cada "sim", os que assistiam à cerimônia se alegravam e diziam "Amém". Alguns tinham joias expostas, outros tinham joias escondidas, mas onde quer que elas estivessem, estavam todas brilhando naquele momento.

Todos, então, formaram uma fila. O representante à frente, os que iam nascer depois dele; após destes, o quarteto e por fim, os demais que ali estavam. Caminharam até o lago, e o representante entrou no lago com os que iam nascer naquele dia.

Um por um era mergulhado nas gélidas águas do lago.

~~~

Chegou, então, minha vez de ser mergulhada. Me senti um pouco ansiosa.

Quando mergulhei, eu vi uma outra eu dentro das águas. Estávamos só nós duas. Eu disse:

— Você sou eu?

E ela respondeu:

— Infelizmente, não sou mais. A não ser que você queira que eu seja.

Ela me parecia muito maliciosa e maquiavélica –o que não me incomoda muito – mas senti uma força e coragem dentro de mim, que me fizeram dizer um firme "não" para aquela outra eu. Então, eu a vi fechar os olhos e afundar no mais profundo do lago. E sumiu.

Parecia ter demorado alguns momentos ali, mas foram só alguns segundos do mundo real.

Fico pensando se todos passaram pela mesma experiência ou foi só comigo isso.

~~~


Letícia recebeu uma tiara de flores brancas ao sair do lago. Recebeu abraços e o carinho da família. Começou a se sentir muito bem.

A cerimônia acabou.

A família voltou para casa e teve uma deliciosa refeição com pizza.

Comendo ao lado das irmãs, Paty perguntou:

E aí, Leeh, você gostou?

— Uhum. Mas o que mais gostei é da pizza.

As jovens riem, mas imaginavam que não era séria essa afirmação.


Após o jantar, já tarde da noite, Letícia se revira pela cama, sem conseguir dormir.

O quarto é grande o suficiente para caber as três camas das irmãs. A cama de Letícia fica para o lado direito de quem entra no quarto, perto da cama de Fabrícia, junto à parede. A cama de Patrícia fica ao lado esquerdo de quem entra no quarto; fica junto à parede da janela.

Começou a chover, e Paty havia esquecido a janela aberta. Letícia levanta da cama e caminha até Paty, que dormia profundamente.

Paty... acorda!... — Leeh sussurra perto da irmã para que Fabrícia não acordasse também. Vendo que não adiantava, tenta alcançar a janela para fechá-la. Como a janela é corrediça, não consegue empurrá-la para a fechar. Ela pensa: "Já sei como acordar ela!". Leeh começa a cutucar a irmã nas costas. "Caramba, ela não acorda! Queria dormir rápido assim." — Letícia pensa, começando a balançar Patrícia pelos ombros.

— Uhm?... Que foi?... — Paty se vira para Letícia, ainda bem sonolenta.

Shiu, fala baixo! Fabi vai acordar. Fecha a janela, está chovendo! — sussurra.

— Ah... sim. — Paty arrasta a janela calmamente e volta a se deitar.

— Você não está molhada?

— Nãse...

Leeh balança a cabeça em desaprovação e insiste em falar com Paty.

— Paty!...

— Que foi, Leeh?... Aconteceu alguma coisa?

— Eu não tô conseguindo dormir.

— Já orou?

— Não. É outra coisa!...

— É o quê, então? — Paty se senta na cama e dá uns tapinhas no colchão, convidando Leeh a se sentar também.

— Eu queria saber uma coisa... Quando você nasceu,... como foi?

— Foi muito bom.

— Aff, não é isso!

— Perai, está falando do quê, exatamente?

— Quando você é mergulhado, sabe?

— Sei... Ah!... Está falando do conflito interno?

— Sei lá. Apareceu outra pessoa para você?

— Não.

— Ah...

— Apareceu eu mesma.

— É isso mesmo que eu queria dizer! — Leeh bate a mão na coxa, meio impaciente.

— Fica tranquila, Leeh, acontece com todo mundo. Se você decidiu ser uma pessoa melhor, ser diferente, você fez bem. Por mais que possamos ainda fazer muita coisa errada, nós temos agora um objetivo, um caminho novo para andar. Temos agora chances para fazer o certo. Temos perdão, essas coisas. — Paty olha para sua irmã. Sem os óculos, ela vê as coisas embaçadas, e logo usa isso para uma ilustração. — Você vivia sem óculos, agora pode ver tudo claramente. Pode entender os porquês... bom, muitos deles serão entendidos de agora em diante. Sem os óculos, tínhamos costumes que não são bons, e agora, com os óculos, podemos saber o que fazer de certo, mas será uma constante luta para deixar os maus hábitos. E essa luta começa a partir do momento que você recebe esses óculos. Por isso você teve que decidir se iria continuar sendo a mesma pessoa ou uma nova. Entendeu?

— Entendi...

— E o que você escolheu?

— ... Ser nova.

— Não precisa se preocupar com isso, temos Alguém que faz isso por nós, em nós. Sempre será preciso passar por mudanças se quisermos ser melhores. — Paty sorri para Leeh, e passa a mão em suas costas. — Você também pode conseguir, viu?

— Uhum. Valeu.

— Quer orar?

Leeh aceita fazer uma oração com a irmã.

Depois da oração, cada uma torna a se deitar, e felizmente, as duas logo começam a dormir.


~~~

Infelizmente acordei cedo.

Pelo menos, Paty acordou cedo também. Estava lendo O Livro dos Livros. Decidi ler também. Ficamos na cama dela, conversando um pouco. Ela me contou sobre Leeh, que não estava conseguindo dormir e tals. Fiquei muito feliz em como acabou.

Letícia acordou também, assim que terminamos de ler O Livro.

~~~


— Bom dia, Leeh. — Paty e Fabi cumprimentam a irmã.

— Bom dia. Que horas são?

— São... — Fabi confere o horário no celular. — 7:28.

— Aff... Vou voltar a dormir. — Leeh se vira para a parede e se cobre até à cabeça com o edredon.

Se você demorar de levantar, mãe não vai gostar. — Paty comenta. — Ah! Leeh! Por que você não dá uma olhada em como está sua joia?

— Uhm... só pra eu levantar, é?...

— Não, né. É que a gente quer ver como está! — Fabi diz, animada. — Bora, mulher!

— Ain... tô com sono... — com muita preguiça, Letícia se levanta e vai em direção ao espelho de moldura azul bebê. — Mas como é que vou ver? É bem nas costas!

— Vixi, vero. E agora?

— Vou tirar uma foto, então! Vem cá! — Fabi mira a câmera do celular para Leeh, que virou as costas para ela.

Dá para ver a joia?

— Oh! Que legal, Leeh! Está linda! — Paty bate palmas, animada. — Está brilhando!

— Sério? Já tirou a foto, Fabi?

— Tirei! Vem ver.

Leeh toma o celular de Fabi e observa como a pedra de suas costas ficou branca e reluzente. Parecia um cristal branco, era algo tão bonito e diferente que não sabia explicar. Ela se sentiu feliz por ter tomado a decisão certa.

— Gostei, está fashion! Vou começar a usar roupas com decote nas costas.

As irmãs riem e brincam, imaginando quais roupas elas deveriam usar para combinar com suas joias.

Para vocês é até legal, mas minha joia é bem na testa! — Paty lamenta, passando os dedos na joia.

Deus sabe o que faz! Vai que Ele quer que você use a franja partida ao meio! — Fabi parte a franja de Paty ao meio, o que fica muito engraçado.

É, né? Fiquem aí! Vou é comer, com licença! — Paty se levanta, fazendo bico.

Volta aqui, estamos brincando! — Fabi agarra Paty pelos shorts.

Fabi!! Meus shorts! Quer me despir, é?! — Paty tenta bater na irmã, para ver se consegue se soltar.

Em meio às risadas, Leeh percebe que ainda estava segurando o celular de Fabi. Ela olha a joia da sua irmã mais velha, Fabi: uma pulseira com a pedra branca. Pensa, então, na joia de Paty, sua segunda irmã mais velha: uma joia encrustada na testa. Por fim, vê a foto de sua joia. Igualmente linda, branca e reluzente. De mesmo formato, só mudam os tamanhos entre si. Leeh agradece por ter uma joia dessa também e decide manter-se firme na decisão que tomou. Feliz nascimento!


7 Octobre 2021 21:25 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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