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Stela, é uma garota exemplar. Sempre educada e simpática, com um futuro planejado e sua vida inteira organizada. Mas as coisas mudam quando por acaso ela conhece Lua, uma garota completamente diferente que luta muito (do seu próprio jeito) para dar uma vida melhor para a família. Lua ajudará Stela a lidar com situações que até então não faziam parte da bolha em que ela viveu durante toda a vida.


LGBT+ Déconseillé aux moins de 13 ans.

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Colar.

Abril.


Stela se olhou no espelho mais uma vez antes de descer, ela havia demorado mais que o normal hoje, com o olhar atento a garota observou os sapatos, a saia preta, a blusa de manga cumprida branca e o cabelo castanho claro solto com duas trancinhas na frente. Conferiu a maquiagem simples e leve e então sorriu, pegou a mochila amarela e saiu do quarto, descendo as escadas logo em seguida. Mathias, o pai, estava sentado na ponta da mesa com o jornal em uma mão e o café em outra, enquanto Flávia, a mãe, estava do outro lado observando algo que não parecia ser muito interessante no celular.


— Bom dia, pirralha. — Pedro, o irmão, falou fazendo com que a atenção de todos se voltasse para a garota mais nova da casa.


— Bom dia, família. — Ela falou para o pai e a mãe e após sentar no seu lugar de sempre e deixar a mochila de lado, olhou para o irmão com um sorriso falso. — Bom dia, babaca.


— Nós já conversamos sobre isso, crianças. — Flávia disse deixando o celular de lado e observando a roupa que a filha vestia. — Por que não usa o vestido que lhe dei, Stela?


— Deixa a garota, Flávia. — Mathias resmungou bebericando um gole do café, sem tirar os olhos do jornal.


— Eu tô guardando para uma ocasião especial, mãe. — Mentiu, ela não havia gostado tanto do vestido quanto demonstrou ao ganhar no último fim de semana.


Stela cortou um pedaço do bolo de baunilha sobre a mesa e comeu junto com um suco natural de laranja, após terminar a garota olhou para o irmão que digitava rapidamente algo no celular com uma expressão feliz e satisfeita. Estranhou, Pedro costuma ser um garoto estranho que não sorri muito.


— Pedro, leve sua irmã para o colégio hoje. Eu preciso chegar cedo no escritório. — O pai ordenou e sem esperar resposta, fechou o jornal e se levantou para sair. — Vejo vocês no jantar.


O homem mais velho tomou o último gole do café e após se despedir da filha e esposa com um beijo simples na testa, saiu. Não demorou muito para Flávia se despedir dos filhos também e os deixar sozinhos. Pedro olhou para o celular e depois para a irmã, depois para o celular de novo e então, para a irmã, novamente. Suspirou.


— Você pode chamar um carro ou algo assim? Preciso fazer umas coisas. — Ele jogou no ar mas interrompeu Stela antes mesmo que ela pudesse falar algo. — Não te interessa o que eu vou fazer e se quiser dinheiro tem na minha gaveta no quarto. Tchau.


— Eu não preciso do seu dinheiro. — Ela resmungou e então, sem mais delongas, ele saiu.


A garota levantou e passou rapidamente na cozinha para avisar para a governanta da casa que a família já havia comido e que ela já estava de saída, aproveitou rapidamente para mandar mensagem para Lívia que não demorou muito em responder. Alguns minutos depois a garota passou quase voando pela porta quando ouviu a melhor amiga buzinar do lado de fora da casa.


— Bom dia, gostosa. — Lívia falou ao ver a amiga entrando sorrindo no carro. — Tudo certo?


— Sim, obrigada por ter vindo. — Agradeceu mesmo já sabendo que não precisava muito.


Na saída do condomínio grande de casas de luxo onde as duas residem, elas avistaram Rafaelle, vermelha de raiva e muito impaciente esperando por algo. Lívia aproximou o carro da garota e Stela abriu o vidro para falar com a amiga que também é namorada de Pedro.


— Tá putinha é, loirinha? — Lívia falou em um tom brincalhão e levou um rápido tapa da amiga que estava ao seu lado. — É brincadeira, poxa.


— O que foi, Rafa? Você parece nervosa. — Stela falou ao observar a garota de cabelos loiros que por anos havia sido sua crush. — Você não tem aula agora?


— Eu chamei um carro umas três vezes e todos cancelaram, você acredita? E sim, tenho aula mas não vou hoje. — Esclareceu deixando a cunhada confusa.


— Ah, quem sabe não podemos te dar uma carona, para onde você vai? — A garota perguntou e ouviu a amiga no banco do motorista bufar baixinho.


— Eu vou… ah, quer saber? Eu vou para a minha aula, ele que se ferre. — Falou e nem cinco segundos depois ela já se encontrava dentro do carro de Lívia no banco traseiro.


— Ele quem? — Stela perguntou ao mesmo tempo em que o carro voltou a andar pelas ruas movimentadas da capital.


— Seu irmão. — Rafaelle disse mas logo fez questão de acrescentar: — Depois eu te conto.


Lívia revirou os olhos sem se importar muito, ela sabia que o motivo pelo qual a garota não contou o que houve foi pela sua presença ali. As duas não se gostam desde sempre, cada uma com os seus motivos, que para Stela, são motivos bobos. Sete horas em ponto o carro foi estacionado no estacionamento dos estudantes e Rafaelle não pensou duas vezes antes de saltar do carro.


— Tchau, Rafa. — Stela falou com a simpatia de sempre e recebeu um sorriso em troca.


— Tchau, Ste, obrigada pela carona! — Disse por fim e saiu em direção ao colégio, grande e um pouco antigo.


— Essa garota sabe que o carro é meu e que por isso, consequentemente, quem ela deveria agradecer pela carona sou eu, certo? — Lívia falou indignada e Stela riu da implicância das duas.


— Vamos logo pra aula, Livi. — Falou ao sair do carro.


Logo as duas estavam dentro da sala de aula, olhando o professor explicar algo sobre um trabalho que terão que fazer em duplas e sem precisar falar nada elas já estão cientes que serão a dupla uma da outra. A amizade entre as duas garotas começou há mais ou menos quatro anos e desde então elas estavam sempre juntas, o que irritava Rafaelle já que antes de Lívia aparecer, Stela era melhor amiga dela. O que a garota de cabelos loiros não sabe é que o principal motivo pelo qual Ste se aproximou de Lívia e a deixou de lado foi vê-la beijando Pedro, o que magoou profundamente a garota que na época tinha treze anos e costumava ser apaixonada pela melhor amiga.


As aulas finalmente já haviam acabado, no relógio de Stela o horário já passava das três da tarde e as duas amigas agora já se encontram no shopping, mais especificamente dentro de uma loja de jóias.


— Merda, esqueci meu celular no carro. — Lívia falou ao decretar que ele não estava na em seus bolsos ou na bolsa. — Eu já volto, tá bom?


— Ok, vai lá. — Falou e observou a amiga saindo da loja, mas logo sua atenção se voltou para duas garotas que entravam sorrindo e conversando sobre algo enquanto entravam pela porta principal.


Uma delas usava um cropped e uma calça de moletom preta, ela também tinha cabelos pintados de verde e um piercing na sombrancelha. Enquanto a outra estava com uma calça rasgada e uma regata escura, os cabelos dela eram lisos, compridos e pretos. Nos braços ela leva consigo algumas tatuagens e um piercing na boca também. Stela que observava sorriu e notou o olhar da garota de cabelos pretos se encontrar com os seus, os olhos dela são verdes, tão verdes quanto uma esmeralda. Logo a atenção da garota se voltou para a garota que falou algo em seu ouvido.


Alguns minutos depois Stela permanecia sozinha e entediada enquanto xingava a amiga mentalmente pela demora, ela havia perdido as duas garotas que viu entrarem na loja de vista. Mas um som alto e estridente soou chamando atenção de todos para a porta aonde a garota com as tatuagens estava parada com uma expressão confusa enquanto estava sendo bombardeada de acusações pelos seguranças, Stela percebeu a garota de cabelos verdes sair sem chamar atenção de ninguém e então aproveitou para se aproximar da porta da loja.


— Porra! Eu já falei que não sei como esse caralho veio parar na minha bolsa. — A voz meio rouca da garota exclamou demonstrando a raiva que ela estava sentindo no momento.


— Ah, não sabe? Então como isso foi parar na sua bolsa, mocinha? Não tô vendo o colar com pernas. — O segurança falou em um tom irônico que só deixou a outra garota com mais raiva ainda.


— Ah, vai se foder. — Ela falou e Stela revirou os olhos.


Você não vai provar sua inocência xingando eles, a garota que observava atentamente a cena pensou consigo mesma, mas nada disse.


— Anda logo, garota. Da o dinheiro do colar. — Um outro segurança falou já sem paciência com toda aquela situação.


— Eu não tenho o dinheiro. — Ela esclareceu e o segurança riu sarcástico. — E mesmo se tivesse, eu não pagaria. Porque eu não roubei!


— Então eu sou o papai Noel. — O segurança falou e então pegou o radinho que carregava consigo. — Eu vou chamar a polícia.


— Não precisa, eu pago. — Stela falou e então todos olharam diretamente para ela com olhares questionadores. — Se eu pagar, você não chama a polícia, certo?


— Certo. — O segurança falou, ele assim como todos que trabalham na loja, já conhecem ela e a família dela há alguns anos. — É cinquenta reais.


— Ok. — Ela falou e abriu a mochila, logo depois tirou os cinquenta reais de dentro e alcançou para o segurança que a julgou com o olhar. — Mas, por que não só aceitar o colar de volta e deixá-la em paz?


— Porque ele já esta sem a etiqueta. — Ele falou rude como se fosse óbvio e após entregar o colar para ela, saiu de perto como todos que observavam a cena.


Ficaram as duas paradas um pouco em frente a loja em silêncio e Stela aproveitou para olhar o colar em suas mãos. O observou bem e achou bonito apesar de pensar que não o compraria em outras ocasiões. Mas achou que combinava com a garota, que aliás, se aproximou sem jeito e pigarreou para chamar atenção dela.


— Eu só queria agradecer. — Ela falou quando seus olhos verdes encontraram com os da garota em sua frente que sorriu. — Eu teria me ferrado com a polícia se não fosse por você.


— Relaxa, não precisa. — Ela falou desviando o olhar da garota em sua frente. E antes que a garota pudesse insistir em agradecer ela estendeu a mão para que ela pegasse o colar. — Pega pra você.


— Não, nem pensar! — Ela negou e olhou para Stela como se ela fosse louca. — Você não tá achando que eu queria mesmo roubar ele, tá?


— Não. — Mentiu, ela achou sim, mas não era esse o motivo pelo qual ela queria que a garota ficasse com o colar para si. — Eu acho que ele combina com você. Sem contar que eu não vou usá-lo.


— Não, eu não vou ficar com ele. — A de olhos verdes disse ao cruzar os braços e encarar a dos olhos castanhos a olhando impaciente.


— Eu acabei de impedir que o segurança ligasse para a polícia, então por favor fica com ele. — Respondeu sentindo uma culpa pequena por ter jogado na cara da garota o que fez, mas ela de fato não queria o colar.


— Já que a madame faz questão. — Respondeu em um tom irônico e abriu a mão para a outra garota deixar o colar sobre ela.


— Obrigada, melhor assim. — Falou por fim e observou a garota colocar o colar dentro da bolsa.


— Ei? O que tá rolando? — Lívia perguntou ao se aproximar das duas, a garota dos olhos castanhos até havia esquecido da amiga.


— Nada não. Por que você demorou tanto?! — Stela perguntou se dando conta do quando ela havia demorado, mas logo observou a amiga encarar a outra garota. — Ah, sim, essa é a…


— Lua. — Completou ao notar que não havia mencionado seu nome. — Eu já tô indo. E obrigada mais uma vez.


— Relaxa, sem problemas. — Falou e então a observar se afastando e lembrou que não havia perguntado sobre a outra garota do cabelo verde. Mas de qualquer jeito, ela não acha que isso seja da conta dela.


— Ok, você vai ter que me explicar isso. — Lívia falou curiosa e a amiga suspirou antes de começar a falar.


A lua já estava no céu e todas as luzes da cidade provavelmente acesas, Lívia já havia ido para a casa e Stela caminhava em direção a sua, dentro do condomínio. Ela andava devagar olhando para os próprios pés, a brisa leve batia no cabelo enquanto um sentimento de cansaço tomou conta do seu corpo. Ela suspirou, sabia que o cansaço não era por fazer algo e sim por sempre fazer as mesmas coisas, a menina de cabelos castanhos e olhos igualmente castanhos, quer algo novo, algo para mudar a rotina. E pelo o que parece o destino sabe disso, já que em poucos segundos a atenção dela se voltou para Rafaelle que se aproximava rapidamente da cunhada.


— Ste, que bom te encontrar. — Ela falou, parecia nervosa, como de manhã. — Eu queria falar com você.


— Está tudo bem? O que foi? — Stela visivelmente preocupada perguntou quando a garota parou em sua frente.


— Eu acho que o seu irmão está me traindo. — Soltou de uma vez só, deixando a garota em sua frente surpresa, não pela suposta traição mas sim por Rafaelle ter dito algo assim em voz alta.


— Como assim? Da onde você tirou isso? — Questionou.


— Ele some as vezes, fica o dia inteiro sem falar comigo, como hoje. — Falou meio cabisbaixa e um tanto envergonhada. — E eu conversei com o Victor hoje enquanto ele estava meio chapado e ele me falou sobre uma garota.


— Que garota? E por que você fala com o Victor? — Perguntou, Victor é um dos melhores amigos de Pedro, mas também o garoto mais idiota que Stela já teve o desprazer de conhecer.


— Eu não gosto dele, mas ele é o único que me respondeu alguma coisa. — Falou, enquanto brincava com os dedos, demonstrando um pouco de nervosismo. — A garota é uma tal de Alessandra, ele me passou o bairro e a rua dela, disse que talvez ela saiba porque o Pedro tá sumindo tanto, já que eles andam conversando.


— Hm… acho que eu não conheço nenhuma Alessandra. Aonde ela mora? — Perguntou e a garota lhe mostrou a mensagem após pegar o celular no bolso. — Onde é isso?


— Não conheço muito, o Victor não me falou nada direito. — Disse guardando o celular no bolso da calça. — Eu pensei que, talvez, você quisesse ir comigo até esse lugar.


— Agora? São seis e cinquenta e dois, Rafa, eu tô com fome. — Quando ela notou o olhar triste da amiga em sua frente suspirou, afinal, não havia nada demais em ir até lá, certo? — Ah, ok, eu vou.


— Eu pago algo para você comer. — A menina loira disse após sorrir para a amiga. Logo elas começaram a caminhar em direção a entrada do condomínio. — Mas então, você acha que ele está me traindo?


— Você sabe o que eu penso sobre isso, quem trai uma vez…


— Trai sempre… — Completou cabisbaixa. — Eu sei que você não é a favor do nosso relacionamento, mas depois daquilo, ele me disse que não iria mais fazer merda.


— É difícil pra mim entender o porquê de você ter voltado com ele, mas se você aceitou, ok, a vida é sua. Fico feliz por vocês. — Falou por fim.


Enquanto as duas meninas adentravam o carro para o outro lado da cidade, Lua, longe dali, respirava fundo para não surtar mais do que já estava surtada. Ela observou bem os olhos azuis que a encaravam com desdém e o sorriso de canto da garota em sua frente.


— Você não tá levando a sério o que eu tô falando, não é? — Perguntou mesmo sabendo a resposta, perdendo o pouco de paciência que ela nem sabia de onde vinha.


— Eu tô ouvindo, Lulu. — Stefani falou sentando no colo da namorada com um sorriso safado, depositando beijos no pescoço da garota. — Mas tem coisa melhor pra fazer, não acha?


— Não. Eles quase chamaram a polícia e você sabe que essa merda já rolou uma vez comigo, a minha mãe iria me matar. — Falou relembrando os momentos ruins que passou longe da família e o quanto odiava tudo aquilo. A garota em seu colo continuou com os beijos irritando Lua que a afastou tentando levantar do sofá. — Você se importa com alguém além de você mesma, Stefani?


— Porra, Luana, eu já pedi desculpas o que mais você quer? — Se alterou, a garota de cabelos verdes estava prestes a voltar a falar quando a porta da frente abriu, dando espaço para uma mulher já de idade entrar sorrindo para as meninas. — Oi, mãe.


— Oi, meninas, tudo bem? — A senhora perguntou ao notar o clima estranho entre elas. — Lua, você parece nervosa, o que houve?


— Nada não, coisa minha. — Falou ao sorrir carinhosa para a mulher, ela sabia que decepcionaria a mulher se contasse o que aconteceu então resolveu deixar quieto. — Eu já tava indo pra casa.


Levantou do sofá pegando a mochila e após lançar um último sorriso para a mulher passou reto pela namorada que a observava e saiu da casa sentindo a brisa fria, abriu a bolsa e puxou de dentro um casaco, o colocando em seguida. Não demorou muito para o celular vibrar no bolso da garota que levou um leve susto e observou em volta, a rua parecia movimentada então pegou o celular rapidamente, verificando a mensagem da garota de cabelos azuis.


"Sério que você não quer passar a noite aqui?"


Leu e revirou os olhos, parece que Stefani nunca olharia para outra pessoa além de si mesma.


"Não."


Digitou rapidamente e mandou para a garota que não demorou muito para responder, após ler a o que recebeu da namorada, guardou o celular no bolso sem responder.


"Ok, então."


Ela riu sarcástica. Luana e Stefani namoravam há mais ou menos dois anos, o namoro das duas é aberto o que permite com que elas fiquem com outras pessoas sem problemas. No começo foi estranho, principalmente para as famílias delas que achavam muito diferente, mas agora já é normal para a maioria.


Não demorou muito para ela apertar o passo, caminhar na rua sozinha ainda é perigoso e agora Lua estava mais próxima da sua casa e, consequentemente, em uma rua vazia quase sem ninguém. Avistou dois garotos escorados em um muro do colégio que havia ali perto e seguiu o olhar deles até um carro prata do qual duas garotas descerem e suspirou, ela sabia que não ia dar coisa boa. Uma delas, loira, puxou o celular e rapidamente começou a digitar enquanto a outra dispensava o carro. Os dois garotos começaram a caminhar devagarinho até as duas sem serem notados. Uma parte de Lua a dizia para ir embora sem olhar para trás mas a outra parte que a dizia para ajudar as garotas soou mais alto quando ela viu a menina que a ajudou no shopping.


— Hey! — Ela gritou chamando atenção das meninas e, consequentemente, dos garotos que a olharam e logo a reconheceram. — Meninas, o que fazem aqui?


Ela avistou de canto de olho eles saírem caminhando as deixando para trás. As garotas a olharam com um olhar de interrogação, mas Stela logo a reconheceu e sorriu fraco.


— Oi, você é a menina do shopping, não? — Perguntou com um sorriso, mas ainda demonstrando um pouco de confusão. — Você é daqui?


— Sim e sim. — Respondeu. — Por que?


— Porque esse lugar é meio caído, né? E que história é essa se shopping? — A garota loira disse, observando em volta. — Aliás, você devia se mudar daqui.


— Claro, porque a vida é fácil como comer pudim. — Disse em um tom irônico e observou a menina dos pés a cabeça, loira, roupa de marca e o celular provavelmente de última geração na mão. — Mas eu aqui, acabei de livrar vocês de serem assaltadas porque, aparentemente, vocês vivem em uma bolha pra sair na rua mexendo no celular assim.


— Mas são só sete e quarenta. — Falou se referindo ao horário.


— E desde quando tem horário pra ser assaltada? — Perguntou realmente esperando uma resposta.


— Ok, gente. — Stela disse cortando a amiga que estava prestes a dizer algo e recebeu atenção de Lua que a olhou. — Quem queria assaltar a gente? E ajudou a gente por quê? Eles podiam ter assaltado você junto.


Lua apontou com a cabeça para os dois que agora estavam longe e quase virando em uma rua.


— Primeiro, você me ajudou no shopping, te devia uma. — A garota falou direta ignorando a menina que as olhava com o cenho franzido. — Segundo, poucas possibilidades deles me assaltarem, eu estudei com eles.


— Você conhece aqueles garotos?! — A loira quase gritou. — Meu Deus, podemos denunciar eles. Vou ligar pra polícia.


— Você tá maluca? — Lua disse ao puxar o celular da mão da garota que estava prestes a digitar. — Você são da Disney por acaso?


— Desculpa, a gente só nunca passou por isso antes. — Stela justificou calma e com um sorriso fraco, pegou o celular da amiga e o devolveu a fazendo guardar.


— Tanto faz, o que tão fazendo aqui? — Perguntou e notou Stela cruzar os braços tentando os esquentar, claramente com frio.


— Meu irmão, Pedro, passou o dia todo sem dar notícias e, como ele já fez isso outras vezes, a gente resolveu vir atrás. — A garota explicou. — Ah, e Rafaelle é namorada dele.


— Quem é Rafaelle? — Perguntou e logo a menina loira se prontificou a levantar a mão.


— Eu. — Respondeu simples e um tanto rude.


— Um amigo do Pedro passou o nome dessa rua, aparentemente ele se encontra com uma garota daqui, chamada Alessandra. — Stela disse recebendo um olhar de reprovação da amiga e uma expressão surpresa de Lua.


— Alessandra? Eu conheço ela. — Lua informou mas logo suspirou cansada. — Vamos fazer um seguinte, vocês voltam pra casa de vocês e eu trato de falar com a Alessandra sobre o tal de Pedro.


— Não. Eu quero falar ela. — Rafaelle respondeu recebendo um olhar desagradável de Lua.


— Olha só, esse não é lugar para patricinhas como vocês andarem e, caso você não tenha notado, sua amiga está com frio. — Respondeu no mesmo tom para a garota que olhou para a Stela que de fato estava com frio tentando esquentar os braços com as mãos. — Vão logo pra casa, vocês não devem morar perto daqui.


— Realmente é longe daqui. — Maya fez questão de informar. — E bem diferente também.


— Ainda bem, se aqui fosse igual só teria gente do seu tipinho. — A olhou com dos pés a cabeça novamente.


— O que você quer dizer com isso, hein? — A loira disse.


Stela negou com a cabeça, as duas pareciam duas crianças discutindo.


— Ok, chega. — Interrompeu as garotas. — Rafa e eu vamos embora, isso foi só perda de tempo. Obrigada, Lua, eu acho que logo o meu irmão vai aparecer, mas seria legal saber quem é essa Alessandra, pra saber se ele não tá fazendo bobagem.


— Relaxa, eu descubro. — Lua, com os olhos verdes e o cabelo balançando levemente com a brisa do vento disse, passando confiança para Stela que sorriu agradecida.


A garota de cabelos pretos tirou a bolsa do ombro, tirando o casaco junto e entregando para Stela por causa do frio, a menina até negou algumas vezes mas por fim aceitou e o colocou lançando um sorriso gentil para a garota. Logo as duas entraram em outro carro e partiram, Lua seguiu para casa pois já estava ficando tarde e ela não poderia chegar depois do jantar. Em menos de cinco minutos ela adentra o portão e pôde ouvir as crianças dentro da casa gritarem animadas ao ouvir o som do trinque fechando. Ela sorri feliz e entra em casa, dando de cara com duas meninas sapecas e extremamente animadas.


— Titia! — Gritaram em uníssono e correram para abraçar a garota que se abaixou para retribuir o abraço.


— Oi, meu amores. — Sorriu feliz, as vezes Lua tinha a sensação de felicidade somente com as duas meninas. — Como vocês tão?


— Eu tô bem! — Mali, a mais nova, exclamou empolgada. — Mas a Toni brigou com a mamãe e agora ela tá triste.


— Cala a boca, não tô não! — A mais velha disse brava cruzando os braços pela irmã a ter entregado.


— Ei, não vão começar a brigar de novo. — Dona Maria disse chamando atenção delas, a mulher mais velha, mãe de Lua, cortava alguns tomates na cozinha que é junto da sala. — Guardem os brinquedos da sala, logo a janta vai estar pronta.


— Oi, mãe. — Lua disse ao largar a bolsa sobre o sofá e ir até a mãe, deixando um beijo carinhoso na testa dela. — Você precisa de ajuda? Onde está a Alessandra?


— Oi, meu bem. — Respondeu carinhosa. — Preocupa não, não preciso, eu já vou terminar isso aqui. Sua irmã está no quarto fazendo algumas coisas.


— Ok, qualquer coisa fala. — Disse e olhou em direção a sala encontrando as meninas juntando alguns brinquedos enquanto assistiam algum desenho na televisão. Lua se aproximou da mais velha que aparentava um pouquinho desanimada. — Ei, nenê, você quer conversar sobre a briga com a sua mãe?


— Não foi nada, era só minha vez de escolher o desenho e mesmo assim ela deixou a Mali escolher. — Falou chateada e suspirou. — Ela nunca me escuta.


— Sua mãe tem esse defeito, não escuta ninguém. — Admitiu. — Mas eu vou tentar falar com ela e hoje você pode dormir comigo, para ver qualquer desenho, tá bom?


— Tá bom! — Sorriu feliz animada com a idéia.


Lua foi em direção ao quarto da irmã e entrou, Alessandra dobrava algumas roupas enquanto guardava no guarda-roupa das meninas. Lua sempre soube que sua irmã não tinha paciência para crianças, desde pequenas Alessandra sempre foi a que batia em todo mundo e odiava qualquer pessoa que a contrariava.


— Ale? — Chamou a atenção da irmã que a olhou. — Toni me disse que…


— O que ela te falou? — Interrompeu a irmã, já sem paciência. — Ela sempre fala com você porque sabe que você é a advogada dela. Mas não adianta vim falar comigo não, Luana, eu já tô sem paciência.


— Eu só ia dizer que ela me disse que quer ver um desenho, então ela vai dormir comigo hoje. — Falou ao se encostar no batente da porta e cruzar os braços. — Não é como se você fosse escutar qualquer outra coisa que eu fale.


— Não começa. — Disse fechando as portas do guarda-roupa se virando inteiramente para olhar a irmã. — Onde você tava? Eu fiquei o dia inteiro aqui e nada de você.


— Eu sai, fui entregar alguns currículos, porque você me disse que hoje era sua folga e não teria problemas eu sair um pouco. — Falou e caminhou até o guarda-roupa onde ficava suas roupas e pegou o primeiro pijama que viu. — Querendo ou não elas são suas filhas, você precisa ficar com elas por mais de algumas horas na semana.


— Não vem com essas insinuações. — Falou e pegou uma toalha da gaveta a jogando para a irmã. — Eu amo as minhas filhas.


— Não falei que não ama. — Disse e após pegar tudo que precisava para um banho lembrou do tal de Pedro. — Aliás, você conhece um garoto chamado Pedro? Provavelmente um playboyzinho.


— Por quê? — Perguntou sem negar, claro que ela conhece.


— Porque parece que um amigo dele andou falando pra namorada do muleque o seu endereço, ela e a cunhada estavam por aí perguntando de você. — Disse para a surpresa da irmã que revirou os olhos e negou.


— Eu sabia que não devia ter encontrado ele aqui. — Falou baixinho mas o suficiente para os ouvidos de Lua capitar.


— Você tá se encontrando com ele? — Perguntou direta sem rodeios. — Aqui em casa ainda?


— Não, tá maluca? Eu nunca iria trazer esse tipo de cara pra essa casa. — Afirmou baixo, mas ainda indignada. Ela não seria tão burra a ponto de fazer isso. — Olha, vai pro seu banho, depois a gente conversa.


Luana passou pela sala rapidinho e logo foi para o banho tão esperado. O dia havia sido consativo e ela nem conseguiria no mínimo uma entrevista de emprego, o que a deixava cada dia mais desanimada. Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, do outro lado da cidade, Stela se despedia de Rafaelle e entrava em casa encontrando os pais que não demoraram para reclamar da demora da filha na rua. A menina omitiu onde estava e inventou qualquer desculpa sobre o casaco que vestia, correu para o quarto alegando estar sem fome. Procurou seu irmão por alguns cômodos e nada dele, Stela suspirou e negou com a cabeça para então entrar em seu quarto e se jogar na cama.

5 Septembre 2021 18:39 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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