Stela se olhou no espelho mais uma vez antes de descer, ela havia demorado mais que o normal hoje, com o olhar atento a garota observou os sapatos, a saia preta, a blusa de manga cumprida branca e o cabelo castanho claro solto com duas trancinhas na frente. Conferiu a maquiagem simples e leve e então sorriu, pegou a mochila amarela e saiu do quarto, descendo as escadas logo em seguida. Mathias, o pai, estava sentado na ponta da mesa com o jornal em uma mão e o café em outra, enquanto Flávia, a mãe, estava do outro lado observando algo que não parecia ser muito interessante no celular.
— Bom dia, pirralha. — Pedro, o irmão, falou fazendo com que a atenção de todos se voltasse para a garota mais nova da casa.
— Bom dia, família. — Ela falou para o pai e a mãe e após sentar no seu lugar de sempre e deixar a mochila de lado, olhou para o irmão com um sorriso falso. — Bom dia, babaca.
— Nós já conversamos sobre isso, crianças. — Flávia disse deixando o celular de lado e observando a roupa que a filha vestia. — Por que não usa o vestido que lhe dei, Stela?
— Deixa a garota, Flávia. — Mathias resmungou bebericando um gole do café, sem tirar os olhos do jornal.
— Eu tô guardando para uma ocasião especial, mãe. — Mentiu, ela não havia gostado tanto do vestido quanto demonstrou ao ganhar no último fim de semana.
Stela cortou um pedaço do bolo de baunilha sobre a mesa e comeu junto com um suco natural de laranja, após terminar a garota olhou para o irmão que digitava rapidamente algo no celular com uma expressão feliz e satisfeita. Estranhou, Pedro costuma ser um garoto estranho que não sorri muito.
— Pedro, leve sua irmã para o colégio hoje. Eu preciso chegar cedo no escritório. — O pai ordenou e sem esperar resposta, fechou o jornal e se levantou para sair. — Vejo vocês no jantar.
O homem mais velho tomou o último gole do café e após se despedir da filha e esposa com um beijo simples na testa, saiu. Não demorou muito para Flávia se despedir dos filhos também e os deixar sozinhos. Pedro olhou para o celular e depois para a irmã, depois para o celular de novo e então, para a irmã, novamente. Suspirou.
— Você pode chamar um carro ou algo assim? Preciso fazer umas coisas. — Ele jogou no ar mas interrompeu Stela antes mesmo que ela pudesse falar algo. — Não te interessa o que eu vou fazer e se quiser dinheiro tem na minha gaveta no quarto. Tchau.
— Eu não preciso do seu dinheiro. — Ela resmungou e então, sem mais delongas, ele saiu.
A garota levantou e passou rapidamente na cozinha para avisar para a governanta da casa que a família já havia comido e que ela já estava de saída, aproveitou rapidamente para mandar mensagem para Lívia que não demorou muito em responder. Alguns minutos depois a garota passou quase voando pela porta quando ouviu a melhor amiga buzinar do lado de fora da casa.
— Bom dia, gostosa. — Lívia falou ao ver a amiga entrando sorrindo no carro. — Tudo certo?
— Sim, obrigada por ter vindo. — Agradeceu mesmo já sabendo que não precisava muito.
Na saída do condomínio grande de casas de luxo onde as duas residem, elas avistaram Rafaelle, vermelha de raiva e muito impaciente esperando por algo. Lívia aproximou o carro da garota e Stela abriu o vidro para falar com a amiga que também é namorada de Pedro.
— Tá putinha é, loirinha? — Lívia falou em um tom brincalhão e levou um rápido tapa da amiga que estava ao seu lado. — É brincadeira, poxa.
— O que foi, Rafa? Você parece nervosa. — Stela falou ao observar a garota de cabelos loiros que por anos havia sido sua crush. — Você não tem aula agora?
— Eu chamei um carro umas três vezes e todos cancelaram, você acredita? E sim, tenho aula mas não vou hoje. — Esclareceu deixando a cunhada confusa.
— Ah, quem sabe não podemos te dar uma carona, para onde você vai? — A garota perguntou e ouviu a amiga no banco do motorista bufar baixinho.
— Eu vou… ah, quer saber? Eu vou para a minha aula, ele que se ferre. — Falou e nem cinco segundos depois ela já se encontrava dentro do carro de Lívia no banco traseiro.
— Ele quem? — Stela perguntou ao mesmo tempo em que o carro voltou a andar pelas ruas movimentadas da capital.
— Seu irmão. — Rafaelle disse mas logo fez questão de acrescentar: — Depois eu te conto.
Lívia revirou os olhos sem se importar muito, ela sabia que o motivo pelo qual a garota não contou o que houve foi pela sua presença ali. As duas não se gostam desde sempre, cada uma com os seus motivos, que para Stela, são motivos bobos. Sete horas em ponto o carro foi estacionado no estacionamento dos estudantes e Rafaelle não pensou duas vezes antes de saltar do carro.
— Tchau, Rafa. — Stela falou com a simpatia de sempre e recebeu um sorriso em troca.
— Tchau, Ste, obrigada pela carona! — Disse por fim e saiu em direção ao colégio, grande e um pouco antigo.
— Essa garota sabe que o carro é meu e que por isso, consequentemente, quem ela deveria agradecer pela carona sou eu, certo? — Lívia falou indignada e Stela riu da implicância das duas.
— Vamos logo pra aula, Livi. — Falou ao sair do carro.
Logo as duas estavam dentro da sala de aula, olhando o professor explicar algo sobre um trabalho que terão que fazer em duplas e sem precisar falar nada elas já estão cientes que serão a dupla uma da outra. A amizade entre as duas garotas começou há mais ou menos quatro anos e desde então elas estavam sempre juntas, o que irritava Rafaelle já que antes de Lívia aparecer, Stela era melhor amiga dela. O que a garota de cabelos loiros não sabe é que o principal motivo pelo qual Ste se aproximou de Lívia e a deixou de lado foi vê-la beijando Pedro, o que magoou profundamente a garota que na época tinha treze anos e costumava ser apaixonada pela melhor amiga.
As aulas finalmente já haviam acabado, no relógio de Stela o horário já passava das três da tarde e as duas amigas agora já se encontram no shopping, mais especificamente dentro de uma loja de jóias.
— Merda, esqueci meu celular no carro. — Lívia falou ao decretar que ele não estava na em seus bolsos ou na bolsa. — Eu já volto, tá bom?
— Ok, vai lá. — Falou e observou a amiga saindo da loja, mas logo sua atenção se voltou para duas garotas que entravam sorrindo e conversando sobre algo enquanto entravam pela porta principal.
Uma delas usava um cropped e uma calça de moletom preta, ela também tinha cabelos pintados de verde e um piercing na sombrancelha. Enquanto a outra estava com uma calça rasgada e uma regata escura, os cabelos dela eram lisos, compridos e pretos. Nos braços ela leva consigo algumas tatuagens e um piercing na boca também. Stela que observava sorriu e notou o olhar da garota de cabelos pretos se encontrar com os seus, os olhos dela são verdes, tão verdes quanto uma esmeralda. Logo a atenção da garota se voltou para a garota que falou algo em seu ouvido.
Alguns minutos depois Stela permanecia sozinha e entediada enquanto xingava a amiga mentalmente pela demora, ela havia perdido as duas garotas que viu entrarem na loja de vista. Mas um som alto e estridente soou chamando atenção de todos para a porta aonde a garota com as tatuagens estava parada com uma expressão confusa enquanto estava sendo bombardeada de acusações pelos seguranças, Stela percebeu a garota de cabelos verdes sair sem chamar atenção de ninguém e então aproveitou para se aproximar da porta da loja.
— Porra! Eu já falei que não sei como esse caralho veio parar na minha bolsa. — A voz meio rouca da garota exclamou demonstrando a raiva que ela estava sentindo no momento.
— Ah, não sabe? Então como isso foi parar na sua bolsa, mocinha? Não tô vendo o colar com pernas. — O segurança falou em um tom irônico que só deixou a outra garota com mais raiva ainda.
— Ah, vai se foder. — Ela falou e Stela revirou os olhos.
Você não vai provar sua inocência xingando eles, a garota que observava atentamente a cena pensou consigo mesma, mas nada disse.
— Anda logo, garota. Da o dinheiro do colar. — Um outro segurança falou já sem paciência com toda aquela situação.
— Eu não tenho o dinheiro. — Ela esclareceu e o segurança riu sarcástico. — E mesmo se tivesse, eu não pagaria. Porque eu não roubei!
— Então eu sou o papai Noel. — O segurança falou e então pegou o radinho que carregava consigo. — Eu vou chamar a polícia.
— Não precisa, eu pago. — Stela falou e então todos olharam diretamente para ela com olhares questionadores. — Se eu pagar, você não chama a polícia, certo?
— Certo. — O segurança falou, ele assim como todos que trabalham na loja, já conhecem ela e a família dela há alguns anos. — É cinquenta reais.
— Ok. — Ela falou e abriu a mochila, logo depois tirou os cinquenta reais de dentro e alcançou para o segurança que a julgou com o olhar. — Mas, por que não só aceitar o colar de volta e deixá-la em paz?
— Porque ele já esta sem a etiqueta. — Ele falou rude como se fosse óbvio e após entregar o colar para ela, saiu de perto como todos que observavam a cena.
Ficaram as duas paradas um pouco em frente a loja em silêncio e Stela aproveitou para olhar o colar em suas mãos. O observou bem e achou bonito apesar de pensar que não o compraria em outras ocasiões. Mas achou que combinava com a garota, que aliás, se aproximou sem jeito e pigarreou para chamar atenção dela.
— Eu só queria agradecer. — Ela falou quando seus olhos verdes encontraram com os da garota em sua frente que sorriu. — Eu teria me ferrado com a polícia se não fosse por você.
— Relaxa, não precisa. — Ela falou desviando o olhar da garota em sua frente. E antes que a garota pudesse insistir em agradecer ela estendeu a mão para que ela pegasse o colar. — Pega pra você.
— Não, nem pensar! — Ela negou e olhou para Stela como se ela fosse louca. — Você não tá achando que eu queria mesmo roubar ele, tá?
— Não. — Mentiu, ela achou sim, mas não era esse o motivo pelo qual ela queria que a garota ficasse com o colar para si. — Eu acho que ele combina com você. Sem contar que eu não vou usá-lo.
— Não, eu não vou ficar com ele. — A de olhos verdes disse ao cruzar os braços e encarar a dos olhos castanhos a olhando impaciente.
— Eu acabei de impedir que o segurança ligasse para a polícia, então por favor fica com ele. — Respondeu sentindo uma culpa pequena por ter jogado na cara da garota o que fez, mas ela de fato não queria o colar.
— Já que a madame faz questão. — Respondeu em um tom irônico e abriu a mão para a outra garota deixar o colar sobre ela.
— Obrigada, melhor assim. — Falou por fim e observou a garota colocar o colar dentro da bolsa.
— Ei? O que tá rolando? — Lívia perguntou ao se aproximar das duas, a garota dos olhos castanhos até havia esquecido da amiga.
— Nada não. Por que você demorou tanto?! — Stela perguntou se dando conta do quando ela havia demorado, mas logo observou a amiga encarar a outra garota. — Ah, sim, essa é a…
— Lua. — Completou ao notar que não havia mencionado seu nome. — Eu já tô indo. E obrigada mais uma vez.
— Relaxa, sem problemas. — Falou e então a observar se afastando e lembrou que não havia perguntado sobre a outra garota do cabelo verde. Mas de qualquer jeito, ela não acha que isso seja da conta dela.
— Ok, você vai ter que me explicar isso. — Lívia falou curiosa e a amiga suspirou antes de começar a falar.
A lua já estava no céu e todas as luzes da cidade provavelmente acesas, Lívia já havia ido para a casa e Stela caminhava em direção a sua, dentro do condomínio. Ela andava devagar olhando para os próprios pés, a brisa leve batia no cabelo enquanto um sentimento de cansaço tomou conta do seu corpo. Ela suspirou, sabia que o cansaço não era por fazer algo e sim por sempre fazer as mesmas coisas, a menina de cabelos castanhos e olhos igualmente castanhos, quer algo novo, algo para mudar a rotina. E pelo o que parece o destino sabe disso, já que em poucos segundos a atenção dela se voltou para Rafaelle que se aproximava rapidamente da cunhada.
— Ste, que bom te encontrar. — Ela falou, parecia nervosa, como de manhã. — Eu queria falar com você.
— Está tudo bem? O que foi? — Stela visivelmente preocupada perguntou quando a garota parou em sua frente.
— Eu acho que o seu irmão está me traindo. — Soltou de uma vez só, deixando a garota em sua frente surpresa, não pela suposta traição mas sim por Rafaelle ter dito algo assim em voz alta.
— Como assim? Da onde você tirou isso? — Questionou.
— Ele some as vezes, fica o dia inteiro sem falar comigo, como hoje. — Falou meio cabisbaixa e um tanto envergonhada. — E eu conversei com o Victor hoje enquanto ele estava meio chapado e ele me falou sobre uma garota.
— Que garota? E por que você fala com o Victor? — Perguntou, Victor é um dos melhores amigos de Pedro, mas também o garoto mais idiota que Stela já teve o desprazer de conhecer.
— Eu não gosto dele, mas ele é o único que me respondeu alguma coisa. — Falou, enquanto brincava com os dedos, demonstrando um pouco de nervosismo. — A garota é uma tal de Alessandra, ele me passou o bairro e a rua dela, disse que talvez ela saiba porque o Pedro tá sumindo tanto, já que eles andam conversando.
— Hm… acho que eu não conheço nenhuma Alessandra. Aonde ela mora? — Perguntou e a garota lhe mostrou a mensagem após pegar o celular no bolso. — Onde é isso?
— Não conheço muito, o Victor não me falou nada direito. — Disse guardando o celular no bolso da calça. — Eu pensei que, talvez, você quisesse ir comigo até esse lugar.
— Agora? São seis e cinquenta e dois, Rafa, eu tô com fome. — Quando ela notou o olhar triste da amiga em sua frente suspirou, afinal, não havia nada demais em ir até lá, certo? — Ah, ok, eu vou.
— Eu pago algo para você comer. — A menina loira disse após sorrir para a amiga. Logo elas começaram a caminhar em direção a entrada do condomínio. — Mas então, você acha que ele está me traindo?
— Você sabe o que eu penso sobre isso, quem trai uma vez…
— Trai sempre… — Completou cabisbaixa. — Eu sei que você não é a favor do nosso relacionamento, mas depois daquilo, ele me disse que não iria mais fazer merda.
— É difícil pra mim entender o porquê de você ter voltado com ele, mas se você aceitou, ok, a vida é sua. Fico feliz por vocês. — Falou por fim.
Enquanto as duas meninas adentravam o carro para o outro lado da cidade, Lua, longe dali, respirava fundo para não surtar mais do que já estava surtada. Ela observou bem os olhos azuis que a encaravam com desdém e o sorriso de canto da garota em sua frente.
— Você não tá levando a sério o que eu tô falando, não é? — Perguntou mesmo sabendo a resposta, perdendo o pouco de paciência que ela nem sabia de onde vinha.
— Eu tô ouvindo, Lulu. — Stefani falou sentando no colo da namorada com um sorriso safado, depositando beijos no pescoço da garota. — Mas tem coisa melhor pra fazer, não acha?
— Não. Eles quase chamaram a polícia e você sabe que essa merda já rolou uma vez comigo, a minha mãe iria me matar. — Falou relembrando os momentos ruins que passou longe da família e o quanto odiava tudo aquilo. A garota em seu colo continuou com os beijos irritando Lua que a afastou tentando levantar do sofá. — Você se importa com alguém além de você mesma, Stefani?
— Porra, Luana, eu já pedi desculpas o que mais você quer? — Se alterou, a garota de cabelos verdes estava prestes a voltar a falar quando a porta da frente abriu, dando espaço para uma mulher já de idade entrar sorrindo para as meninas. — Oi, mãe.
— Oi, meninas, tudo bem? — A senhora perguntou ao notar o clima estranho entre elas. — Lua, você parece nervosa, o que houve?
— Nada não, coisa minha. — Falou ao sorrir carinhosa para a mulher, ela sabia que decepcionaria a mulher se contasse o que aconteceu então resolveu deixar quieto. — Eu já tava indo pra casa.
Levantou do sofá pegando a mochila e após lançar um último sorriso para a mulher passou reto pela namorada que a observava e saiu da casa sentindo a brisa fria, abriu a bolsa e puxou de dentro um casaco, o colocando em seguida. Não demorou muito para o celular vibrar no bolso da garota que levou um leve susto e observou em volta, a rua parecia movimentada então pegou o celular rapidamente, verificando a mensagem da garota de cabelos azuis.
"Sério que você não quer passar a noite aqui?"
Leu e revirou os olhos, parece que Stefani nunca olharia para outra pessoa além de si mesma.
"Não."
Digitou rapidamente e mandou para a garota que não demorou muito para responder, após ler a o que recebeu da namorada, guardou o celular no bolso sem responder.
"Ok, então."
Ela riu sarcástica. Luana e Stefani namoravam há mais ou menos dois anos, o namoro das duas é aberto o que permite com que elas fiquem com outras pessoas sem problemas. No começo foi estranho, principalmente para as famílias delas que achavam muito diferente, mas agora já é normal para a maioria.
Não demorou muito para ela apertar o passo, caminhar na rua sozinha ainda é perigoso e agora Lua estava mais próxima da sua casa e, consequentemente, em uma rua vazia quase sem ninguém. Avistou dois garotos escorados em um muro do colégio que havia ali perto e seguiu o olhar deles até um carro prata do qual duas garotas descerem e suspirou, ela sabia que não ia dar coisa boa. Uma delas, loira, puxou o celular e rapidamente começou a digitar enquanto a outra dispensava o carro. Os dois garotos começaram a caminhar devagarinho até as duas sem serem notados. Uma parte de Lua a dizia para ir embora sem olhar para trás mas a outra parte que a dizia para ajudar as garotas soou mais alto quando ela viu a menina que a ajudou no shopping.
— Hey! — Ela gritou chamando atenção das meninas e, consequentemente, dos garotos que a olharam e logo a reconheceram. — Meninas, o que fazem aqui?
Ela avistou de canto de olho eles saírem caminhando as deixando para trás. As garotas a olharam com um olhar de interrogação, mas Stela logo a reconheceu e sorriu fraco.
— Oi, você é a menina do shopping, não? — Perguntou com um sorriso, mas ainda demonstrando um pouco de confusão. — Você é daqui?
— Sim e sim. — Respondeu. — Por que?
— Porque esse lugar é meio caído, né? E que história é essa se shopping? — A garota loira disse, observando em volta. — Aliás, você devia se mudar daqui.
— Claro, porque a vida é fácil como comer pudim. — Disse em um tom irônico e observou a menina dos pés a cabeça, loira, roupa de marca e o celular provavelmente de última geração na mão. — Mas eu aqui, acabei de livrar vocês de serem assaltadas porque, aparentemente, vocês vivem em uma bolha pra sair na rua mexendo no celular assim.
— Mas são só sete e quarenta. — Falou se referindo ao horário.
— E desde quando tem horário pra ser assaltada? — Perguntou realmente esperando uma resposta.
— Ok, gente. — Stela disse cortando a amiga que estava prestes a dizer algo e recebeu atenção de Lua que a olhou. — Quem queria assaltar a gente? E ajudou a gente por quê? Eles podiam ter assaltado você junto.
Lua apontou com a cabeça para os dois que agora estavam longe e quase virando em uma rua.
— Primeiro, você me ajudou no shopping, te devia uma. — A garota falou direta ignorando a menina que as olhava com o cenho franzido. — Segundo, poucas possibilidades deles me assaltarem, eu estudei com eles.
— Você conhece aqueles garotos?! — A loira quase gritou. — Meu Deus, podemos denunciar eles. Vou ligar pra polícia.
— Você tá maluca? — Lua disse ao puxar o celular da mão da garota que estava prestes a digitar. — Você são da Disney por acaso?
— Desculpa, a gente só nunca passou por isso antes. — Stela justificou calma e com um sorriso fraco, pegou o celular da amiga e o devolveu a fazendo guardar.
— Tanto faz, o que tão fazendo aqui? — Perguntou e notou Stela cruzar os braços tentando os esquentar, claramente com frio.
— Meu irmão, Pedro, passou o dia todo sem dar notícias e, como ele já fez isso outras vezes, a gente resolveu vir atrás. — A garota explicou. — Ah, e Rafaelle é namorada dele.
— Quem é Rafaelle? — Perguntou e logo a menina loira se prontificou a levantar a mão.
— Eu. — Respondeu simples e um tanto rude.
— Um amigo do Pedro passou o nome dessa rua, aparentemente ele se encontra com uma garota daqui, chamada Alessandra. — Stela disse recebendo um olhar de reprovação da amiga e uma expressão surpresa de Lua.
— Alessandra? Eu conheço ela. — Lua informou mas logo suspirou cansada. — Vamos fazer um seguinte, vocês voltam pra casa de vocês e eu trato de falar com a Alessandra sobre o tal de Pedro.
— Não. Eu quero falar ela. — Rafaelle respondeu recebendo um olhar desagradável de Lua.
— Olha só, esse não é lugar para patricinhas como vocês andarem e, caso você não tenha notado, sua amiga está com frio. — Respondeu no mesmo tom para a garota que olhou para a Stela que de fato estava com frio tentando esquentar os braços com as mãos. — Vão logo pra casa, vocês não devem morar perto daqui.
— Realmente é longe daqui. — Maya fez questão de informar. — E bem diferente também.
— Ainda bem, se aqui fosse igual só teria gente do seu tipinho. — A olhou com dos pés a cabeça novamente.
— O que você quer dizer com isso, hein? — A loira disse.
Stela negou com a cabeça, as duas pareciam duas crianças discutindo.
— Ok, chega. — Interrompeu as garotas. — Rafa e eu vamos embora, isso foi só perda de tempo. Obrigada, Lua, eu acho que logo o meu irmão vai aparecer, mas seria legal saber quem é essa Alessandra, pra saber se ele não tá fazendo bobagem.
— Relaxa, eu descubro. — Lua, com os olhos verdes e o cabelo balançando levemente com a brisa do vento disse, passando confiança para Stela que sorriu agradecida.
A garota de cabelos pretos tirou a bolsa do ombro, tirando o casaco junto e entregando para Stela por causa do frio, a menina até negou algumas vezes mas por fim aceitou e o colocou lançando um sorriso gentil para a garota. Logo as duas entraram em outro carro e partiram, Lua seguiu para casa pois já estava ficando tarde e ela não poderia chegar depois do jantar. Em menos de cinco minutos ela adentra o portão e pôde ouvir as crianças dentro da casa gritarem animadas ao ouvir o som do trinque fechando. Ela sorri feliz e entra em casa, dando de cara com duas meninas sapecas e extremamente animadas.
— Titia! — Gritaram em uníssono e correram para abraçar a garota que se abaixou para retribuir o abraço.
— Oi, meu amores. — Sorriu feliz, as vezes Lua tinha a sensação de felicidade somente com as duas meninas. — Como vocês tão?
— Eu tô bem! — Mali, a mais nova, exclamou empolgada. — Mas a Toni brigou com a mamãe e agora ela tá triste.
— Cala a boca, não tô não! — A mais velha disse brava cruzando os braços pela irmã a ter entregado.
— Ei, não vão começar a brigar de novo. — Dona Maria disse chamando atenção delas, a mulher mais velha, mãe de Lua, cortava alguns tomates na cozinha que é junto da sala. — Guardem os brinquedos da sala, logo a janta vai estar pronta.
— Oi, mãe. — Lua disse ao largar a bolsa sobre o sofá e ir até a mãe, deixando um beijo carinhoso na testa dela. — Você precisa de ajuda? Onde está a Alessandra?
— Oi, meu bem. — Respondeu carinhosa. — Preocupa não, não preciso, eu já vou terminar isso aqui. Sua irmã está no quarto fazendo algumas coisas.
— Ok, qualquer coisa fala. — Disse e olhou em direção a sala encontrando as meninas juntando alguns brinquedos enquanto assistiam algum desenho na televisão. Lua se aproximou da mais velha que aparentava um pouquinho desanimada. — Ei, nenê, você quer conversar sobre a briga com a sua mãe?
— Não foi nada, era só minha vez de escolher o desenho e mesmo assim ela deixou a Mali escolher. — Falou chateada e suspirou. — Ela nunca me escuta.
— Sua mãe tem esse defeito, não escuta ninguém. — Admitiu. — Mas eu vou tentar falar com ela e hoje você pode dormir comigo, para ver qualquer desenho, tá bom?
— Tá bom! — Sorriu feliz animada com a idéia.
Lua foi em direção ao quarto da irmã e entrou, Alessandra dobrava algumas roupas enquanto guardava no guarda-roupa das meninas. Lua sempre soube que sua irmã não tinha paciência para crianças, desde pequenas Alessandra sempre foi a que batia em todo mundo e odiava qualquer pessoa que a contrariava.
— Ale? — Chamou a atenção da irmã que a olhou. — Toni me disse que…
— O que ela te falou? — Interrompeu a irmã, já sem paciência. — Ela sempre fala com você porque sabe que você é a advogada dela. Mas não adianta vim falar comigo não, Luana, eu já tô sem paciência.
— Eu só ia dizer que ela me disse que quer ver um desenho, então ela vai dormir comigo hoje. — Falou ao se encostar no batente da porta e cruzar os braços. — Não é como se você fosse escutar qualquer outra coisa que eu fale.
— Não começa. — Disse fechando as portas do guarda-roupa se virando inteiramente para olhar a irmã. — Onde você tava? Eu fiquei o dia inteiro aqui e nada de você.
— Eu sai, fui entregar alguns currículos, porque você me disse que hoje era sua folga e não teria problemas eu sair um pouco. — Falou e caminhou até o guarda-roupa onde ficava suas roupas e pegou o primeiro pijama que viu. — Querendo ou não elas são suas filhas, você precisa ficar com elas por mais de algumas horas na semana.
— Não vem com essas insinuações. — Falou e pegou uma toalha da gaveta a jogando para a irmã. — Eu amo as minhas filhas.
— Não falei que não ama. — Disse e após pegar tudo que precisava para um banho lembrou do tal de Pedro. — Aliás, você conhece um garoto chamado Pedro? Provavelmente um playboyzinho.
— Por quê? — Perguntou sem negar, claro que ela conhece.
— Porque parece que um amigo dele andou falando pra namorada do muleque o seu endereço, ela e a cunhada estavam por aí perguntando de você. — Disse para a surpresa da irmã que revirou os olhos e negou.
— Eu sabia que não devia ter encontrado ele aqui. — Falou baixinho mas o suficiente para os ouvidos de Lua capitar.
— Você tá se encontrando com ele? — Perguntou direta sem rodeios. — Aqui em casa ainda?
— Não, tá maluca? Eu nunca iria trazer esse tipo de cara pra essa casa. — Afirmou baixo, mas ainda indignada. Ela não seria tão burra a ponto de fazer isso. — Olha, vai pro seu banho, depois a gente conversa.
Luana passou pela sala rapidinho e logo foi para o banho tão esperado. O dia havia sido consativo e ela nem conseguiria no mínimo uma entrevista de emprego, o que a deixava cada dia mais desanimada. Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo, do outro lado da cidade, Stela se despedia de Rafaelle e entrava em casa encontrando os pais que não demoraram para reclamar da demora da filha na rua. A menina omitiu onde estava e inventou qualquer desculpa sobre o casaco que vestia, correu para o quarto alegando estar sem fome. Procurou seu irmão por alguns cômodos e nada dele, Stela suspirou e negou com a cabeça para então entrar em seu quarto e se jogar na cama.
Merci pour la lecture!
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