— Você não deveria estar aqui.
Estas foram as primeiras palavras do homem direcionadas a Izuna quando sua presença foi notada por ele. Se foi um aviso ou uma ameaça, não soube dizer, ainda mais pela falta de expressão alheia. "Frio como o gelo", muitos diziam, mas, naquele mundo, pareciam haver apenas dois seres capazes de conhecer a verdadeira essência do deus da guerra, e estes eram o deus da colheita, Hashirama Senju, irmão do deus, e o próprio Uchiha, deus da noite.
A única semelhança notada de Tobirama com o clima gélido da montanha era sua pele branca como a neve que se espalhava no ar e se misturava aos cabelos brancos do deus. Ele tinha um arco e flecha em mãos e os olhos atentos para baixo, qualquer ser humano não conseguiria ver nada ao olhar abaixo do penhasco, mas Izuna sabia que os olhos astutos de Senju observavam seu povo preparando-se para uma luta próxima.
E foi esse acontecimento que fez a sua presença ser necessária ali — ainda que parecesse mais uma desculpa para vê-lo do que tudo.
— Em breve irá anoitecer, sendo meu domínio — iniciou, tendo enfim a atenção de Tobirama em si. — Então, acho que deveríamos trabalhar juntos. Eu sei o quanto esse povo importa para você, com a minha ajuda podemos ter o menor número de baixas possíveis.
O deus da guerra não disse nada por alguns minutos, que pareceram eternos para o outro deus, causando aquelas emoções mais humanas que ficavam no fundo da sua alma florescerem ao máximo quando o Senju se pôs a quebrar a distância entre seus corpos, o rosto ameaçador muito mais perto do que seu coração parecia aguentar.
— E o porquê dessa proposta? — Tobirama indagou rude, o Uchiha já esperava por isso. — Se você, Izuna, até a alguns séculos atrás não se importava que os humanos morressem por seus objetivos tolos.
Era verdade, não tinha como ignorá-la. Infelizmente, Izuna já foi um deus com muita repulsa aos seres que foi criado para zelar. Seu clã era amargurado e vingativo com os humanos, tanto que os deuses de sua família eram temidos por todos na terra, e ele entendia perfeitamente o porquê, o passado não podia ser apagado ou mudado, o deus do destino sempre usava essa afirmativa antes de alguma decisão.
— Esse era o meu eu do passado, eu mudei e você sabe. — Uma de suas mãos se atreveu a erguer-se para tocar o rosto do deus, mas ele a segurou no ar antes que chegasse a sua pele. — E também tem o conhecimento de que somente mudei com a sua ajuda, Tobirama. Você me fez alguém melhor e eu sempre serei grato por isso.
"E também sempre amarei a ti, sempre, mesmo que talvez não me ame mais e que as diferenças que nos separou continue a fazê-lo eternamente." Essas palavras ficaram apenas em sua mente, e naquele final de dia que parecia tão melancólico e com os sentimentos borbulhando por suas veias, Izuna não conseguiu evitar seus olhos de se encherem de lágrimas, mas não deixou que elas caíssem. Aquele maldito orgulho bobo que serpenteava por seu clã era uma das coisas que gostaria de poder extinguir com seus poderes.
— Não vou discutir sobre isso, afinal, toda ajuda é bem-vinda quando se trata de salvar vidas. — O Senju soltou sua mão. — Se o aceito ao meu lado mais uma vez, é por amor ao meu povo e não a você, Uchiha.
— Eu sei.
As duas palavras foram a única coisa que Izuna consegui proferir, ele havia sido lembrando de uma das piores formas de como as palavras ditas de determinada forma poderiam doer tanto quanto ser apunhalado em batalha.
— Se prepare, iremos partir daqui a meia hora.
Nada mais foi dito, Tobirama encaminhou-se até a caverna onde ficava seu templo deixando o deus da noite sozinho em meio ao forte vento.
Esperaria ali, do lado de fora, não somente como não foi convidado a entrar, mas também não sei sentia à vontade para estar na casa do deus onde tantas vezes estiveram e dividiram muitos momentos bons e ruins.
As lembranças eram traiçoeiras, fazendo Izuna se lembrar de suas lágrimas contidas no instante em que elas desceram por seu rosto. Ele pôde sentir crescer dentro de si, subir em sua garganta e se alojar lá, precisando apenas que se esforçasse para tossir e assim retirar um belo galho de flores de Cravo manchadas de sangue.
Não gostava de olhar para as flores que seu amor por Tobirama cultivava dentro de seu corpo, era como um mal presságio que vinha evitando há muitos anos. Com seu poder, fez com que se dissolvessem em cinzas em suas mãos, ninguém precisava ter conhecimento delas, porque nada mudaria.
Era a primeira vez que aquela maldição dava tantos frutos e tinha a consciência de que era por estar tão perto de Tobirama e ser tão claramente rejeitado. Porém, mesmo sendo um deus todo poderoso capaz de destruir aquele mundo, nada podia fazer sobre seu amor e as flores, agora, era como qualquer humano que adquire a maldição do amor não correspondido que o mataria aos poucos.
Em breve, Izuna sabia que faria parte dos poucos números de deuses a perder sua existência para a doença de hanahaki byou, mas isso não o assustava tanto quanto a verdade de que a única pessoa que amava e que o amou já não correspondia mais aos seus sentimentos.
E em tortura, ele lembrava-se do porquê de toda essa situação atual. Compreender isso parecia bem mais doloroso do que ser leigo sobre a verdade.
[Fanfic revisada por caprihorn do blog AD]
Merci pour la lecture!
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