ikimiaro mel f.

Quando sente-se em um abismo, onde seus problemas estão grande parte do tempo rodeando sua mente, Marie Johnes, a jovem estudante que por tanto tempo pensara esperar nada de muito bom da vida, se vê em uma troca de aviões de papel que carregam mensagens anônimas com alguma pessoa que parecia entender o que Marie sentia. Ela só não esperava que fosse ele... Aviso: A obra retrata problemas que podem ser assuntos muito sensíveis para alguns, como depressão, transtorno alimentar, problemas familiares, abuso psicológico e agressão física. Caso seja muito sensível a este tipo de conteúdo, não é recomendado ler a obra.


Romance Tout public.

#romance #drama #em-andamento #Marie-Johnes #Aviões-de-papel
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Capítulo 1

Sua cabeça doía, olhos ardentes, maxilar travado e vozes estranhas ecoando. Nem mesmo razão tinha, ou pensava que não havia uma razão coerente para os acontecimentos do momento. Talvez fosse o acúmulo de pequenas frustrações e que agora se explodiam por não haver mais espaço para guardar as mágoas. Pessoas conversando ao seu redor e a única coisa que queria fazer era gritar para todos se calarem e ouvir uma música emocional que pudesse se encaixar com aquele sentimento estranho que pulsava dolorosamente em seu peito.

Em uma sala de aula, onde um professor falava sobre fórmulas químicas, a cabeça se mantendo longe e se atormentando mentalmente por não prestar atenção na aula, sentindo o peso de ter que correr para buscar as matérias que passavam em sua frente mas que sua mente não conseguia focar pois eram tantos pensamentos, que a mente voara para longe dali.

-- Marie?—fora tirada de seus artomentos por uma voz ao seu lado a chamando.

-- Sim?

-- Houve algo? Seu rosto está um pouco vermelho.

Talvez essa tenha sido a segunda ou terceira vez, até mesmo quarta, em que fora para a aula de educação física sem ter se alimentado antes. Seu corpo sempre se mostrou forte quanto a isso, mas neste dia o físico sofreu mais. Soava enquanto respirava com certa dificuldade. Subira as escadas cambaleando antes, e sentia uma leve tontura, contudo torcia para que não pudesse ser percebido o mal estar de outrora. Não queria que a escola telefonasse seus pais, muito menos queria que alguém soubesse sobre o que vinha lhe ocorrendo.

Então finalmente respondeu com um balançar negativo, dizendo estar tudo bem apenas estava cansada pela aula.

O tempo passara rápido, com sua mente longeva da aula que se passava no momento, apenas ouviu o som estridente do sino tocar, então com rapidez guardou o pouco do material que retirou de sua mochila. Pensou em descer mas decidiu que esperaria os amigos. Se sentia terrivelmente ruim internamente mas não queria ser alvo de perguntas e muito menos queria responder aos questionamentos, então decidiu não transparecer o sentimento ruim e não queria ser vista como uma amiga egoísta, então esperou por aqueles que em seguida deixaram a sala conversando sobre algo que parecia legal, esquecendo-se de esperar por Marie.

Suspirou pesado e conformada, descendo então as escadas que aos pouco se enchiam com mais pessoas.

Sentou-se com os amigos em algumas cadeiras no grande refeitório e apenas esperou os outros que iam formando uma fila pelo buffet do almoço, enquanto lia um livro. Não muito tempo depois, a mesa retangular fora preenchida com seus amigos de classe. Eles eram barulhentos, riam alto e falavam sobre diversos assuntos. Naquele momento eram pessoas extrovertidas, e Marie pensava se eles também iam para a casa e então choravam pelos seus problemas, e no dia seguinte se escondiam através de um sorriso e gargalhadas animadoras. Talvez sim.

Sentiu algo cutucar ao seu lado, discretamente para que apenas a garota pudesse ouvir.

-- Não vai comer nada? Tem batatas fritas, sei que você gosta. Se quiser posso pegar um pouco para você.

Sentiu-se feliz por alguém se importar, mas não comeria. Faltava pouco para completar 24 horas sem comer nada e se comesse se sentiria infeliz e com peso na consciência, então optou por não comer.

-- Não precisa, estou sem fome Lex, obrigada. – sorriu amigavelmente.

A loira assentiu e voltou a comer. Estavam reunidos 9 pessoas no total. Conversavam e comiam seu almoço de maneira natural, e Marie continuava calada, observando, ouvindo o assunto e algumas vezes viajando para seu mundo.

Em certo momento, acabou se interessando pela conversa mas com tanto barulho não fora capaz de ouvir direito o que foi dito por um dos garotos presentes.

-- Pode repetir, por favor?
Seu tom era calmo e mantinha um leve e esboçado sorriso no rosto pois fora capaz de esquecer dos problemas por um instante. Mas o sorriso tornou-se dolorido após isso.

-- Esquece, você não vai entender.—o garoto a respondeu rindo e voltando a atenção para os outros.

Desejou por um momento sumir, ser atingida por uma bala ou qualquer coisa assim. Sabia que não deveria se importar, mas ela desejava pelo menos, saber do que se tratava o assunto quando se interessou, pois era difícil se sentir atraída pelos assuntos. Conversar para ela era um pouco enjoativo, então dificilmente se interessava por conversas, seja qual for o foco.

Desmanchou o mínimo sorriso pouco a pouco, até levar o semblante neutro novamente. Decidiu que iria embora. Não lhe restava nada mais para fazer ali, e não se sentia mais confortável para olhar pessoas falando e comendo, cuspindo saliva enquanto riam de qualquer coisa.

Entrou no banheiro e apoiou a mochila aos próprios pés enquanto mantinha os braços paralelos na pedra da pia. Olhava atenta e profundamente em seu rosto, observando logo o resto de seu corpo, cobertos por tecidos largos e escuros.

-- Posso ficar assim por mais uns dias.

Então se foi para casa. Caminhava a longa estrada. Demoraria por volta de 20 minutos até chegar em casa, todavia isso não lhe importava. Sua mente se concentrava na quantidade de calorias que estaria perdendo até chegar no destino.

Esquecera de avisar a mãe que estaria voltando sozinha, então sabia que provavelmente levaria algum sermão, mesmo que leve.

Agoniada com a vista ruim do conhecido caminho, e irritada pelos barulhos estrondosos e extravagantes dos veículos apressou-se em ajeitar os fones em suas orelhas de maneira confortável. Sentia-se anestesiada ao ouvir as primeiras notas de Stay da cantora Gracie Abrams.

Caminhou por mais uns instante mas não queria voltar para casa. Não queria voltar para copiar matérias e levar broncas. Mandou uma curta mensagem para a mãe e voltou ao seu caminho, tendo destino uma biblioteca.

O estabelecimento estava silencioso e com poucas pessoas. Seguiu para algum corredor afim de encontrar algo interessante para ler. Não tinha nada em mente, já que não olhara muitos livros depois dos que terminou. A faixa já havia mudado mais umas 7 vezes até chegar no local e agora seus ouvido eram amaciados pela melodia de Hard Sometimes do Ruel. As notas melancólicas acompanhada da voz dolorida de Ruel tocava o coração de Marie. E então sorriu docemente enquanto passava os dedos pelos livros, parando no clássico romance Orgulho e Preconceito. Já vira o filme junto com sua avó mas nunca lera o livro, e já com consciência que, em muitos casos os livros eram bem melhores do que os filmes, decidiu por levar o livro.

Carregava o livro em mãos, enquanto caminhava olhando o céu e seu redor. A primavera estava chegando, podia-se notar os dias tornando-se calorentos aos poucos e as árvores que em decorrência se coloriam em diferentes cores.

Sentou em um banco de uma praça, observando crianças correndo e gritando. Sentiu algo apertar o peito, não sabia decifrar exatamente no momento porém logo descobriu que o acalento no peito era saudade; saudade de ser uma criança genuína. Desejou por um momento que fosse criança para sempre, para sair desse poço em que se colocava diariamente.

Sem perceber, passou-se 3 horas desde que havia saído da escola. O sentimento de estar andando pela cidade sem rumo exato era bom. Fazia sentir-se livre, como se nada importasse; como se os problemas fossem inexistentes.

Checou o celular e viu as diversas chamadas da mãe. Não iria retornar nenhuma delas nem mandaria uma mensagem pois sabia que levaria um sermão de jeito ou de outro. Queria entrar em casa de maneirar discreta mas o portão era barulhento demais e a porta emperrada o suficiente para ser necessário dar empurrões nada discretos para abri-la.

Entrou na casa, os passos tentando soar o mais baixo possível.

Chegou em seu quarto, sem questionamentos no meio do caminho, provavelmente sua mãe estava em alguma chamada com algum cliente e notava-se que seu pai não estava em casa pela ausência do carro. Mas tinha quase certeza que sua mãe ouviu os barulhos da chegada de Marie.

Tentando abafar o pensamento, apenas largou os sapatos em um canto e a mochila em outro. Guardou os fones ou tinha certeza que sua mãe os tiraria de si e botaria culpa neles por não ter atendido nenhuma chamada. Colocou o telefone para carregar ao lado de sua mesa, em seguida arrumou alguns livros de sua mesa na estante. Olhou para o quarto completamente bagunçado, com roupas em todos os cantos, calçados largados, os cobertores amarrotados no colchão, garrafas de água espalhadas, umas vazias outra pela metade; tinha de começar a organizar tudo, precisava manter-se ocupada para não levar nenhum tipo de repreensão que envolve-se o falatório de que ela se sentia inútil por não fazer nada. E é verdade, ela se sentia inútil e também não fazia nada em relação a isso. Passava alguns dias sem banho por não conseguir tomá-lo, ou alguns dias sem comer por não querer comer mesmo que houvesse seus momentos de ataque, onde comia tudo de ruim que poderia ter.

Ia de lado a outro tirando e colocando coisas em diversos lugares. Em algum tempo, conseguiu um quarto que pelo menos estava sem roupas no chão. Dobrara todas e guardou em seus devidos lugares. Ainda sentia o nervosismo percorrer o corpo. Não queria ficar ouvindo o mesmo discurso de sempre. Com as mesmas palavras, dizendo que precisava mudar de atitude, ser mais responsável com a vida, deixar de lado as fantasias dos livros pois não iria viver uma como aquelas, e que precisava aceitar a realidade da maneira como é pois este era o único jeito de melhorar. Ela queria por um lado servir de orgulho para os pais, mas não sabia como. Eles queriam o quê exatamente? Que ela acordasse cedo e seguisse algo monótono, trabalhando para algo que ela nem mesmo sente prazer de fazer, mas o faz pois quer ajudar os pais e receber dinheiro para fazer outras coisas?

Se sentia cansada. Ela por um instante quis muito conversar com alguém sobre tudo o que passava por sua mente e como sua vida ia indo. Mas não tinha com quem falar isso. Já pensara diversas vezes em pedir aos pais para levá-la a um psicólogo, mas não queria contar para eles o por quê e nem queria que gastassem dinheiro com isso. Então a opção mais fácil para si era apenas guardar tudo o que lhe passava no interior. Aborrecia a si mesma e tinha certeza que aos pais também.

A porta abriu-se e a figura alta e de fios morenos olhava para Marie, com certa desaprovação.

-- Onde estava?

--Fui para a biblioteca que fica perto daqui. Demorei um pouco pois fique lendo, desculpa.

Olhava nos olhos castanhos e um pouco frios da mãe. Mentiu pois sabia que não seria aceitável uma resposta como “fiquei olhando crianças brincando enquanto estava triste novamente”.

-- E por que não me atendeu? Deveria pelo menos ter me atendido. – seu tom era rígido com um breve sentimento de preocupação -- Você tem mais o que fazer do que ficar apenas lendo livros e passeando por aí. Faça o que tem que fazer.

E então passou uma lista de tarefas domésticas para a garota que estava sentada na cama.

Esperou que a mãe saísse do quarto e se esticou na cama, procrastinando por ter mais tarefas para fazer. Sua real vontade era ficar em sua cama, fazendo nada ou só lendo e viajando em seu mundo. Mas não queria ser incomodada por mais ninguém, então só anotou o que tinha que fazer e foi fazer. Tais tarefas, como lavar a louça, cuidar de seu cachorro e arrumar algumas outras coisas foram feitas de maneira rápida pois não desejava, como já dito, que ninguém ficasse incomodando-a para fazer algo.

Sentia-se um pouco cansada, a barriga doendo pela fome, e então tomou água para saciar a fome. O dia seguinte seria sexta-feira e isso lhe animava um pouco. Queria passar um final de semana livre então decidida, arrumou sua mesa para poder estudar e fazer tarefas atrasadas.

O relógio batia 22:00 e Marie continuava presa no misto de estudar e desconcentrar-se. Acabou que não estudou nada e o máximo que copiara foi algumas definições de palavras da aula de filosofia. Fechou os materiais, um pouco frustrada por não conseguir ter feito nada produtivo. Irritou-se consigo mesma por não conseguir ter feito nada. Isso doía e ela queria conseguir um jeito de parar de ser assim, tão problemática com pouco, tão confusa com o mínimo. A cabeça novamente martelava palavras sujas contra si própria e a visão ficando turva pelas lágrimas magoadas e frustradas. Direcionou-se ao banheiro novamente, parando em frente ao espelho, observando os traços do físico que carregava. Levantou a blusa larga, vendo a parte superior do abdômen mais magra pela falta de alimento ao longo do dia. Sentiu-se feliz, mas ainda não totalmente pois ainda havia um tanto de gordura para expelir de seu corpo, indicando que passaria mais tempo sem alimento. Ela tinha noção do que fazia e sabia os riscos, todavia continuava a fazer. Abaixou o tecido alargado, escovou os dentes e lavou o rosto avermelhado pelo pequeno choro recente. Apenas deitou-se, sem boa noite aos pais, demorando a pregar os olhos e embarcar em um cochilo.

23 Juillet 2021 02:27 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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À suivre… Nouveau chapitre Tous les vendredis.

A propos de l’auteur

mel f. playing now: sorry by The Rose lost in my own thoughts 💭

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tami tami
Amei demais! Que tudo, sério 🥺❤❤❤
July 24, 2021, 03:32
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