koushirou Yoshi Koushirou

Em algum lugar, um milagre aconteceu. Silencioso, díspar de tudo aquilo que a Terra já presenciou, um milagre que gerou frutos e, também, desprazeres. Em meio aos cristais e ao nada, a Inexistência vaga e permanece, rodeada de suas flores e desamores. Daisy, guiado pela necessidade pessoal de encontrar respostas para salvar a si e àquele que mais amou, decide perseguir o milagre que seu mestre esteve envolvido, viajando por reinos e vilarejos desconhecidos até, invariavelmente, achar o próprio passado. Seja bem-vindo à Inexistência.


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Prólogo

01. PRÓLOGO

Cento e cinquenta anos antes

O sol se mantinha alto no céu quando o choro do recém-nascido reverberara pelo cômodo, ecoando e retornando ao chocar-se com as paredes de barro do casebre. Com lágrimas nos olhos e o desespero na alma, a mãe segurava a criança maldita firmemente nos braços mesmo enquanto desejava largá-lo. Seu coração transbordava em horror tal qual o grito entalado na garganta parecia lhe sufocar.

O rosto era delicado e as bochechas coradas. O ralo cabelo de um tom acobreado intenso, quase vermelho, e seu corpo totalmente coberto por curta pelagem castanha. As orelhas, no topo da cabeça, eram fofas e peludas assim como as mãos que inexistiam, substituídas por patinhas assim como os pés.

Naquela tarde, quando a vizinhança questionou, a família alegou que a criança nascera morta. Nozesun era um vilarejo ao pé do Reino de Soncedístir, e todos se conheciam extremamente bem, portanto assumir que naquela pequena estirpe nascera um demônio-raposa seria um pedido para que fossem expulsos e segregados dali aonde viviam da pesca e comércio de produtos artesanais. Existir já detinha, por si só, uma infindável dificuldade graças ao rei tirano Orítia não investir de forma alguma em suas províncias, apenas exigindo impostos sobre impostos e, também, frutos das caças dos moradores.

Manter uma criança escondida era difícil. O garoto, que sequer nome tinha - pois aquilo que ninguém quer não precisa ser nomeado -, e que já completava seis verões, era dono de grandes olhos verdes e incansável fôlego. Embora seus pais lhe mantivessem preso dentro de casa o tempo todo, o educando com toda a rigidez possível, ele sempre conseguia escapar no final da tarde para correr pela floresta que cercava a vila. Lentamente o moleque aprendia a disfarçar sua aparência demoníaca e animalesca conforme sua energia espiritual se desenvolvia. Eventualmente ele acordava os pais e a irmã com sua própria força mágica sibilando e crescendo enquanto ele dormia de forma quase angelical. Mesmo que fosse gentil e doce, seu comportamento amável não podia diluir o desprazer que os seus sentiam.

As surras que o pai lhe dava marcavam a pele alva por dias, até semanas, e todos sempre gritavam consigo ordenando que ele deixasse de praticar aquele ocultismo demoníaco, questionando porque ele não pudera nascer normal como sua irmã - e a garota sempre observava o irmão quatro primaveras mais novo apanhar com satisfação no olhar. Ela fazia questão de reclamar à mesa do almoço sobre o quanto ele fedia feito um cachorro molhado ou então perguntava o motivo de seus pais não lhe cortarem aqueles cabelos tão compridos e vermelhos como o fogo do Inferno.

Apesar de todo o sofrimento e martírio, o pequeno demônio-raposa crescera saudável e seu poder podia ser controlado com certo primor. Ele aprendera, aos doze verões de idade, a esconder suas características animalescas e então podia finalmente se esgueirar e infiltrar na sociedade humana. Embora chamasse a atenção graças a sua beleza que, dia a dia, tornava-se maior, ninguém desconfiava de sua real natureza. Até mesmo tinha amigos para brincar nas ruelas empoeiradas e na estrada que ligava Nozesun a Helderheid, o vilarejo vizinho. Ali, numa tarde nublada, a raposa e seus amigos humanos caçavam um jabuti que corria em meio a um campo de margaridas.

— Qual é seu nome mesmo? — um dos garotos questionou, pegando o jovenzinho desprevenido ao parar em seu lado direito. O demônio olhou ao redor e, rapidamente, concluiu.

— Daisy.

— Gostei — seu amigo tinha cabelos escuros e um olhar perdido nas flores que se mantinham quietas demais: tentava encontrar o bicho que lhes fugia —, mas parece nome de menina.

Não importava. Daisy era um nome bonito e era seu, afinal. Combinava consigo, era diferente e característico. Finalmente tinha algo seu e ninguém lhe tiraria aquilo, nem mesmo seu pai em crises de fúria e incompreensão, nem mesmo sua mãe omissa perante as agressões e tampouco sua irmã enquanto instigava e semeava a discórdia dentro de casa. Ele não os odiava, até porque sempre entendeu o que os levava a tanta repudia. Era o único ser mágico ali, causava medo e desespero, sua energia não era completamente controlável e sua aparência até então era medonha e díspar.

Quando tudo parecia ganhar forma e se ajeitar, quando Daisy tinha amigos e um lugar para ficar, seu mundo ruiu. Em meio a uma das brincadeiras no campo de flores sua energia mágica se descontrolara ao ponto de sua transformação humana falhar e suas garras tornarem a aparecer, substituindo as mãos e os pés, assim como as orelhas vermelhas rajadas em preto também se tornavam visíveis no topo da cabeça. Sem querer feriu um de seus companheiros, e todas as crianças passaram a lhe repudiar assim como seus pais faziam.

Mesmo que pedisse desculpas, mesmo que jurasse que se arrependia, mesmo que implorasse perdão, não havia mais lugar para ele em meio aos outros. Lhe atiravam pedras e cuspiam em si, gritando que ele era um monstro. Agora sequer os pés próximos de sua morada poderia colocar, pois seus pais corriam perigo. Caso chegasse perto de Nozesun novamente, ateariam fogo em sua família, portanto correu o quanto pôde, sua forma natural totalmente liberta, transformado em uma pequena raposa vermelha. Os galhos farfalhavam abaixo de suas patas, seu rabo se enchia de pétalas e folhas, suas orelhas arranhadas pelos espinhos.

Quando parou de correr, viu-se próximo ao castelo de Orítia, e ali ficou dias dormindo abaixo de um frondoso carvalho que lhe protegia do relento e das chuvas que apareciam eventualmente. Alimentou-se de plantas, raízes, carne de outros animais e cada vez mais perdia as lembranças sobre como era ter um corpo semelhante ao humano, enraizando-se naquele estar e ser que sempre lhe pertencera como se, por fim, pudesse ser ele mesmo sem que ninguém lhe ofendesse, sem que sentisse o horror alheio perante si. Pensava sinceramente em nunca mais chegar perto da civilização novamente.

Foi quando, num entardecer quente enquanto voltava da caça, sentiu a dor percorrer todo o seu corpo e seu próprio sangue verter e escorrer quente por sua pelagem, reluzindo viscoso. Uma flecha atravessara suas costas, o prendendo num tronco de árvore que havia caído e criava musgo e fungos na madeira úmida. De relance apenas pôde enxergar a silhueta do arqueiro se aproximando, o sol atrás dele se escondendo atrás das colinas, e junto dele, a consciência de Daisy se esvaía.

20 Juin 2021 03:47 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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