invisibilecoccinella Mary

O outono aproxima-se do fim. O dia que devastou minhas certezas completou o primeiro aniversário. E eu ainda me sinto presa dentro dele. Todos os dias.


Poésie Romance Tout public.

#pensamentos #saudade #sentimentos #coração-partido #prosa-poética #para-um-amor-que-se-foi
Histoire courte
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Vislumbres do entardecer

Vislumbres do entardecer. O outono aproxima-se do derradeiro fim, as folhas caídas das árvores já foram varridas das calçadas, os troncos sobrevivem com resignação à chegada de mais um inverno. As vidraças embaçadas gravam as iniciais de amores não confessados, de dedos tímidos que exprimem afeto nas singelezas jamais notadas por olhares desatentos.

A melancolia não está na vista dos prédios cinzentos que traduzem a síntese de uma selva de pedra, salientando a angústia de um coração que desconhece o paradeiro de quem serve de inspiração para todas essas reflexões. Ela se revela na ausência. No ininteligível que vem depois dela.

Os pés não sentiram o chão no sentido mais profundo da expressão, olheiras ilustram as noites longas e sem consolo, a apatia é meu abrigo nestes tempos de total invisibilidade. Versos de canções de longas datas conhecidas verbalizam com mais habilidade o que a garganta fechada não consegue trazer até a superfície.

Ainda dói. Porque não depende e nunca dependeu de mim. Superar me parece tão fora da realidade, tão ingrato. Recomeçar de novo, conhecer outras pessoas, apesar de saber que daqui a um ano eu encontre este texto e me veja vivendo uma realidade diferente, não faz sentido.

Da glória ao pó, o percurso traçado pela Fênix não difere disso, embora os desafios sejam proporcionais à evolução. O casulo se torna pequeno demais quando o anseio de buscar as respostas na natureza é grande, muito maior do que as limitações, as fronteiras e os medos.

Posso viver só e me entender com minha esquisitice e não me ressinto por passar mais um dia dos namorados sem ter um amor para chamar de meu, um amor que não precise ser codificado para manter-se em segredo e ao mesmo tempo mostrar ao mundo que existe alguém com quem eu gostaria de estar.

Um ano se passou desde o dia que seria preferível esquecer... porque embora eu me refaça com a indulgência do tempo e da própria vida, nunca mais serei a mesma. Insisto que começar de novo ainda é uma tarefa um tanto quanto assustadora. Penso que esse alguém que ainda amo foi a melhor pessoa que eu já conheci, que nunca haverá ninguém à altura, que mereça meus sentimentos, meus versos, o espaço que ocupou (e ainda ocupa) no meu coração.

Uma parte de mim, uma parte importante, diga-se de passagem, gostaria que aquele dia que já fez aniversário não passasse de uma mentira, um sonho ruim, para nesse despertar eu ter aquele punhado de esperança que me mantinha de pé quando o mundo tentava roubar a minha fé porque agora, caída nesse desânimo quase sepulcral, já não há mais nada que possa ser roubado de mim.


N/A: Obrigada pela gentil leitura. Havia meses que eu não postava nada por aqui, mas percebi que mesmo ausente, teve gente lendo o que publiquei ao longo desses anos e agradeço demais a confiança e o carinho, pois dedicar o tempo a ler é uma forma de carinho e espero que o conteúdo tenha sido proveitoso. Beijos de luz e até a próxima. ♥

6 Juin 2021 03:14 4 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

Mary uma joaninha itinerante que atende por Maria, Mary, Marisol, que ama previsão do tempo e também contar histórias. na maior parte do tempo, invisível.

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Gustavo Machado Gustavo Machado
Impactante! Adorei a escolha das palavras.
June 14, 2021, 17:09

  • Mary Mary
    Obrigada pela leitura e pelo gentil comentário. Tenha uma excelente semana. ♥ June 14, 2021, 19:17
Ana Clara Ana Clara
Lindo demais a poesia
June 14, 2021, 00:50

  • Mary Mary
    Obrigada. ♥ June 14, 2021, 00:54
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