A Vida (Não) é Uma Comédia Romântica Suivre l’histoire

Eu me encontrava furioso. No ponto de cometer um crime de ódio.

Assim como uma parte da população mundial, eu tenho um melhor amigo que tem uma personalidade bem diferente da minha, oposta seria a palavra mais correta. Claro, o problema não vem desse fato, e sim porque ele não possui um pingo de romantismo naquele coração, que tá pior que o da Anna no final de Frozen, e vive discordando de mim quando digo que a vida pode ser uma comédia romântica e não essa coisa amarga; Isso é insuportável.

Ninguém aguenta tanta negatividade.

Esse problema acabou fazendo com que brigássemos o tempo inteiro. Um tentando mudar a visão do outro, e, bem, nunca dá em nada. Somos orgulhosos demais para dar o braço a torcer; essa, no entanto, tá sendo bem diferente. Damian ainda não explodiu e nem tentou jogar algo em mim, apenas continua sorrindo com deboche enquanto rebate todos meus argumentos.

Isso. É. Irritante.

— Vai continuar com essa cara de bunda? — Damian está claramente tirando sarro.

A raiva subiu. Se não fosse as crianças ao lado, já teria o xingado a tempos.

— Não ficaria se sumisse. Minha vida era melhor sem você.

— Oliver, sua vida sem mim era um tédio. Sou eu que trago a luz e diversão para seus dias — esse infeliz tá certo. Antes de eu correr atrás de sua amizade, minha vida se resumia em ler fanfic e assistir comédia romântica – eu ainda leio fanfic e assisto comédia romântica, o que muda é que agora tenho sua companhia. — E eu que pago sorvete todos os dias pra você. Agora me responda, tem certeza que não fui a melhor coisa que aconteceu na sua vida?

Outra verdade.

O milkshake da sorveteria dos Ricci é o melhor do mundo, porém é muito caro para meu bolso de camponesa.

Ele trabalha, então esse é mínimo que deve fazer por quem traz paz para sua vida e sempre o mantém dentro das fofocas que, diga-se de passagem, não são poucas. Sou praticamente a Lady Whistledown do século 21... e gay.

— Vai se fuder!

— Eu já só se for por você, bebê.

Eu me calei e cruzei os braços como a criança birrenta que sou. Não gosto quando as coisas vão contra o que acredito ou planejo, por isso evito me envolver com pessoas tão dominadoras quanto eu. Isso vai dar em briga até um dos lados ceder.

E, aparentemente, dessa vez será o meu. Aquele sorriso tá me desarmando de uma forma.

Soltei um longo e dramático suspiro chamando a atenção do outro. Pelo seu olhar pude perceber que estava emputecido.

— Oliver Chu, o que foi dessa vez?

Agora me pergunto se é uma boa ideia voltar a enchê-lo sabendo que as chances de um canudinho ser enfiado no meu nariz são grandes.

...

Claro que é.

— Eu realmente não entendo — Resmunguei — como você não consegue ver que podemos sim ter um romance igual ao da Sandra Bullock em Enquanto Você Dormia. Você mesmo viu uma trama digna de filme adolescente da Netflix acontecer na sua frente, mas mesmo assim continua sem acreditar.

— Vamos voltar nesse assunto? — Agora quem suspirou foi ele. Ou talvez tenha bufado. — O que aconteceu com Marcos e Leonardo poucas pessoas têm vivência e você não vai ser uma delas, então acorda logo antes que um otário se aproveite da sua ingenuidade.

Ok, aquilo doeu.

Eu sei que sou meio inocente por acreditar nessas coisas, mas quando se tem pais que se conheceram de forma mágica e vivem te incentivando a viver o mesmo é meio impossível desacreditar daquelas histórias que passam nas telonas. Claro que já me relacionei com outras pessoas e todas não deram certo, mas sempre teve essa magia, por isso quero que o Damian também acredite para que possa sentir.

— Oli, não faça essa cara de choro! — esse falso pediu vendo que me magoou, contudo sinto dizer que não vou conceder. Não sou o gênio da lâmpada para isso. — Se você parar de chorar, eu aceito fazer uma aposta com você.

Opa, retiro o que falei..

— Que aposta?

— Seu fingido! — Declarou me estapeando.

Agora tô me sentindo ofendido. Ele me faz chorar e quem apanha sou eu? No meu país isso se chama injustiça.

Depois de muitos tapas vindo dele e muita imploração da minha, Damian propôs com um sorriso diabólico, o mesmo que usava quando estava planejando algo que me ferraria.

— Você tem até sexta para tentar me fazer acreditar em suas idiotices.

Eu. Não. Acredito.

Ele tá mesmo falando aquilo ou na noite passada algum E.T. deu uma passada na casa dele e modificou alguns traços, com isso veio uma gentileza e piedade.

— O que eu vou ter que fazer se perder? — perguntei.

Se Damian propor algo que o envolve diretamente, suspeite na hora do preço. Nunca será barato.

— Nada demais. Só vai ser meu empregado particular pelo mês inteiro.

— O que? Isso não é justo!

— É justo sim! Tem recompensa maior que me fazer acreditar no que você fala?

O filho da puta tá certo. Faria qualquer coisa pra aquilo acontecer; Quando digo isso é ao pé da letra.

Cheguei fazer um ritual que vi em um página do Facebook sobre essas coisas, mas, depois que vi que não tinha dado resultado, fui perguntar para Leonardo, um amigo que pratica bruxaria, e ele jogou na minha cara o quão idiota fui por acreditar naquilo.

Gastei dinheiro á toa com aquelas ervas.

— Não.

Parei e refleti um pouco. O que tinha a perder com essa brincadeira além da minha liberdade e vontade de viver? Exato. Muita coisa, por isso vou aceitar.

— Eu aceito.

— Ótimo. Tô precisando de alguém para lavar meus tênis e cuecas. Sabe como é, mamãe não faz mais isso pra mim. — Aquilo era claramente uma provocação.

— Não deve ter tanta confiança assim, Dam. Na matéria do romance quem dá aula sou eu.

Dessa vez quem sorri com sarcasmo era eu.

— Agora me dê licença. Tenho uma aposta pra’ ganhar.

E sai da sorveteria ouvindo Damian gritar para eu voltar e pagar minha conta, mas ignorei. Precisava ficar sozinho e surtar pela loucura que tinha feito.

Como vou fazer ele acreditar que a vida é uma comédia romântica em apenas cinco dias?