Notas:
História escrita para o desafio "Mitologia Grega" do Inkspired e a divindade de minha escolha é Erís, a deusa da discórdia, do caos e do conflito. Responsável pela guerra de Tróia, está em cdz está presente num filme e em Saintia Sho!
Me inspirei parcialmente na música Diaba da rainha Urias, trechos em itálico pertencem a está música que deixarei para escutarem aqui.
Espero que se divirtam, boa leitura!
***
O suor escorreu frio pela espinha, não era medo, muito menos calor, afinal aquela noite de domingo estava fria, mas aquele suor em si refletiu os passos largos de Cícero pelo centro de São Paulo. Há pouco saiu do culto.
Cícero era um homem de grande fé, cristão convicto, sem demais mudanças em suas crenças. Um "homus medius" como o judiciário tratava, mesmo que pré-conceitos exacerbados tomasse conta de sua monótona e pacata vida, ainda sim, heterossexual e cisgênero. Preto que jura não existir racismo, nunca o sofreu, não existe.
Um cara de família e respeitador, até porque se a mulher vestia uma roupa curta ela pedia, não existe assédio. Ótimos valores para seu filho mais velho, não haja como "veado", esse mesmo cuspia tais palavras com ódio à torto e direita.
Amar ao próximo desde que este não fosse um vagabundo morador de rua, prostituta, travesti, maconheiro, comunista e a maioria das mulheres não valia tal amor divino, afinal eram costelas e propensas ao pecado.
Fraquejada... bateu palmas!
Como dito anteriormente "homus medius" ou simplesmente um homem de bem!
Enquanto esse homem "maravilhoso" caminhava o mais rápido que podia, para chegar logo em casa, tomar um demorado banho e cair na cama para aguentar uma semana de árduo trabalho, nem sequer observava a paisagem se formar, nada acontecia aquela hora na República, o silêncio era sempre tão perturbador se comparasse como seria em poucas horas.
E foi dobrar uma das esquinas iguais e vazias que as batidas de seu coração falharam, uma silhueta feminina seminua desfilava por aquele lugar, enquanto meia dúzia de bêbados, seguiam-a, entre gritos de comemoração, assobios e bater de palmas.
Cícero perdeu o ar quando a mulher de vestido dourado batendo na altura de suas coxas grossas virou-se para ele. A pele escura brilhava como ouro, o cabelo castanho encaracolado descia pelo ombro, volumoso. Cícero notou as feições um tanto quanto máscula, mas por algum motivo tal informação passou despercebida, afinal os seios voluptuosos estavam à mostra enquanto o brilho dourado o adormentou.
Estava hipnotizado, como a maioria dos homens que juntavam a horda de bebuns, quando deu-se por si, seu corpo não lhe obedecia, os pés corriam na direção da algazarra, seus lábios assobiavam como os demais. Nunca sentiu-se daquela maneira, como se usasse alguma substância alucinógena, os lábios não se controlava, se é que em algum momento se controlou antes.
A mulher guiava a cada instante um maior número de homens, esses seguiam ela como Cícero, sem livre arbítrio.
Preso percebeu as vestes requintadas dos demais homens guiados pela misteriosa mulher de dourado e também outra coincidência: as bíblias debaixo dos braços. A mente por um curto período em que ele tentou tomar seus movimentos para si, ficou aflito quando não conseguiu, mas logo o estado insensível voltou.
O frio se esvaiu, toda a sensação de paz trazida pela igreja também se foi, assim como o cansaço, já não sabia mais se suava, se seu corpo doía, começou a crer que nem o lugar onde estava era o mesmo de outrora. Não conseguia mover seu corpo, nem fechar os olhos, sua mente também parou de funcionar...
Tudo se apagou, Cícero não soube por quanto tempo permaneceu daquela forma…
"Sua lei me tornou ilegal
Me chamaram de suja, louca e sem moral…"
E como um passe de mágica a mulher sumiu, bem diante de seus olhos, assim com ela, os seus movimentos voltaram. Cícero já dava dois passos para trás quando um objeto lhe chamou a atenção, sem pensar duas vezes este caminhou até ele.
Uma maçã dourada estava onde antes a mulher de vestes da mesma cor estivera, tão brilhante como o fruto ali estendido caminhava despreocupada, junto a maçã um recado: "para o homem com maior fé!"
Este levou a mão para tomar a maçã para si, afinal, Cícero possuía a maior fé, porém outra mão tentou o mesmo e outra e outra e outra… O caos havia sido instaurado…
"Não sou nova aqui, não te peço licença
Sua permissão, nunca fez diferença
Como toda educação, foda-se sua crença
Foda-se sua crença…"
Tudo começou com um empurrão e outro e outro. Depois um soco e outro e outro. O mesmo sentimento de outrora se apossou de Cícero, ele estava anestesiado e a mesma sensação de incertezas ao mesmo tempo tão certa tomou seu corpo junto a fúria por tentarem tirar de si o que era seu por direito, sua grandiosa fé.
Este riu como todos os demais ali quando o primeiro corpo caiu desfalecido no chão. O mar de sangue foi o resultado...
Numa ruela igual como as demais ruelas do centro de São Paulo, ninguém soube explicar a cena barbárie, do cheiro ferroso e nauseante, pela poça de sangue entre os cadáveres, ou nos corpos jogados de qualquer jeito, todos como se tivessem sido atacados por um animal nunca antes visto. As gravações das fitas de segurança não mostraram absolutamente nada, por isso o caso terminou como muitos; sem qualquer explicação.
Não houve sobreviventes… e nem ao menos testemunha entre os humanos. No caos habita ordem, não que a ordem seja necessária, mas ainda assim no caos habita a ordem!
Merci pour la lecture!
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