dissecando Edison Oliveira

Em uma viagem comemorativa, um casal se depara com um fato estranho.


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SABE DE TUDO

Antes mesmo do sol do meio-dia arder em sua potência máxima, eles já haviam visitado praticamente tudo. Iniciaram o passeio pela chamada Avenida Principal, que nada mais era do que uma estradinha de mão única, com paralelepípedo do início ao fim, circundada por pequenos comércios, barracas de lona exibindo quinquilharias e penduricalhos. Bianca havia gostado de muita coisa (excepcionalmente das estranhas bonecas de pano, com olhos de botão) e até chegou a mencionar para Altair que iria comprar uma delas, e assim que viu o desapontamento em seu rosto começou a rir e voltou atrás.

Ambos seguiram pela rua estreita bem devagar, olhando para tudo, apontando, fazendo comparações com viagens anteriores, fotografando o que achavam mais interessante, rindo, divertindo-se com aquele lugar que quase não era notado no mapa, pois, se encontrava no extremo Sul em alguma costa do Pacífico. Eles andaram por quase uma hora inteira, as mãos dadas, as alianças reluzindo no sol forte, quando se depararam com o velho senhor. Este possuía uma espécie de nanismo, tinha a pele escura, vestia u calças surradas e não usava camisa. Os encarava simpaticamente, um quase sorriso no rosto suado.

— Turistas, né? — falou, estendendo uma mão pequena para cumprimentá-los.

Altair apertou aquela mão e sentiu apenas ossos.

— Isso mesmo. Estamos apreciando o lugar. Bastante simpático.

— Compraram alguma coisa nas lojinhas?

— Na verdade, — intrometeu-se Bianca, e Altair sorriu. — Eu estava muito animada com as bonecas de pano. Só que o rapaz aqui torceu o nariz para a ideia.

— Oh! Fez muitíssimo bem, rapaz. Aquelas coisinhas são medonhas. Seres amaldiçoados!

O casal sorriu, olhando em volta, e assim que olharam novamente para aquele idoso pequenino, não viram sorrisos no rosto dele.

— Falou sério? — questionou Altair, o sorriso morrendo aos poucos.

— Claro! Todos aqueles demônios de pano foram retirados das tumbas.

— Tumbas? — interveio Bianca, a mão sobre o peito.

— Isso. É uma tradição daqui. Uma criança morre, e sete dias depois seus parentes retiram a boneca do túmulo. Põe a venda nessas lojinhas.

— Que horror! — resmungou Bianca, olhando na direção das barracas e sentindo um arrepio ao enxergar uma das bonecas sendo sacudida pelo vento.

Altair ignorou e mudou o assunto.

— O senhor vende alguma coisa? Quer dizer, não vejo barraca alguma por aqui.

O idoso exibiu um sorriso de dentes amarelados e sacudiu a cabeça.

— Não, não. Apenas guio turistas. Livro-os dos caminhos traiçoeiros. Existem muitos por aqui. Estão vendo aquele comércio, logo acima? — o idoso apontava com um dedo fino e enrugado, de unha pontiaguda como uma garra.

O casal olhou na direção do dedo e viu um casebre de tijolos, humilde, com uma porta de madeira pintada de preto. Em seguida confirmaram que estavam vendo.

— Bem, — começou o idoso. — Evitem entrar ali. É uma casa de feitiços. Vendem ervas que fazem seu pau cair, ou o leite das mães empedrar. Horrível!

Bianca fez uma careta, puxou o marido pelo antebraço, este entendeu o movimento e avisou para o velho que iriam seguir seu caminho. Estavam fazendo exatamente isso quando ouviram o velho chamar. Altair virou-se e Bianca seguiu como estava, olhando para frente, evitando o casebre com a porta escura, apontando os olhos para cima, para o céu mais azul e límpido que já vira em sua vida.

— Já foram no Sabe de Tudo? — perguntou o ancião.

— Chegamos não faz muito, e…

— Ora, eu os levo até ele! — e já estava atravessando pela frente do casal, caminhando firmemente, falando sobre adivinhações, o calor escaldante e sobre como viver ali era magnífico.

Bianca cutucou o braço do marido, e este simplesmente deu de ombros, como se dissesse: ele é um guia e está fazendo seu trabalho.

Seguiram pela estrada por algum tempo, recebendo muito sol diretamente nos olhos, sentindo suas cabeças ferverem, o suor lhes escorrer pelo pescoço. Era nauseante, incômodo e desagradável. Quase como seu guia baixinho.


Os três andaram por vinte minutos, liderados pelo idoso, que ia à frente, marchando, falando sobre as histórias daquele lugar, deixando Bianca cada vez mais enjoada e Altair com vontade de não estar ali, de ter comprado passagens para o Havaí ou até mesmo Bahamas.

Atravessaram um longo corredor circundado por árvores mortas, coisas enormes, com galhos compridos e secos. Altair achou tudo muito parecido com aqueles cenários de filmes de terror, e aquilo até que lhe descontraiu, o fez relaxar um pouco, acariciar a mão da esposa. A ele, o lugar lembrava um teatro, talvez uma peça bem elaborada, onde o idoso a frente do casal provavelmente seria um ator, alguém pago para levar os turistas até a grande revelação.

Não falou absolutamente nada durante todo o trajeto, apenas escutou, mas não guardou nada para si, absorveu a tensão da esposa através de seus dedos e sem precisar olhar para ela conseguia entender que sim, que Bianca também estava entediada, angustiada com tudo, talvez até com ele, que foi o criador daquele passeio após uma semana de discussões sobre onde deveriam passar seu aniversário de casamento. Estes pensamentos lhe fizeram companhia até uma entrada em forma de arco, quando cruzaram por um portão feito de galhos e se encontraram diante de outras pessoas, possivelmente turistas, todos bem vestidos, admirando a paisagem, fotografando esculturas feitas de gesso que estavam expostas sobre mesas de madeira. Sentiu-se ainda mais aliviado quando olhou para o lado e viu a esposa sorrindo, tranquila, admirada com aquele lado da região, um Oásis ali perdido, escondido, algo que apenas um bom guia deveria conhecer. Altair acariciou o braço da esposa, que o olhou satisfeita.

— Não é que é lindo? — admitiu ela.

— Estou chocado. Jamais imaginei que…

— Ei! — era o baixinho, gritando logo adiante. Ele chamava com uma das mãos. — Vem! É por aqui.

— Aposto que a Branca de Neve vai estar lá, — cochichou Altair, e recebeu um beliscão da esposa. — Já estamos indo.

E se foram, cruzando pelas outras pessoas, cumprimentando algumas delas, respirando o ar mais puro que havia por ali, curtindo a temperatura alguns graus mais baixa.


Já novamente ao lado do baixinho, o casal se viu diante de uma tenda. Era grande, parecia confortável, uma lona gasta pelo tempo, mas ainda intacta. Bianca já vira outras como aquela em Marrocos. Altair também já vira, porém na Turquia, em outra viagem com um grupo de amigos, muito antes de conhecer sua esposa.

— Precisam entrar ali dentro, — revelou o baixinho. — O Sabe de Tudo está lá.

— Você não vem? — quis saber Altair.

— Não. Já me consultei com ele diversas vezes. Já sei das coisas. Não tenho mais nada para saber de mim e de meu destino.

O casal entreolhou-se e em seguida despediram-se de seu guia. O baixinho assentiu, sorrindo, e deu as costas.

— Bem, somos só nós, — disse Altair, começando a andar.

— Finalmente. Quem será que está aí dentro?

— Se for um cachorro empalhado, juro que dou uns tapas naquele nanico.

Ambos sorriram e assim que chegaram diante da entrada, se detiveram por um instante.

— O que vai perguntar para ele? — perguntou Bianca, curiosa.

— Sei lá. Não me preparei para nada assim.

— O que vem na sua mente, de imediato?

Por alguns segundos, Altair refletiu. Depois, dando de ombros, disse:

— Se meu pau pode mesmo cair com aquelas ervas da loja.

Cobrindo a boca com uma mão e lhe dando um tapa com a outra, Bianca começou a sorrir.

— Xiuu! Vamos entrar, logo, — anunciou ele, já afastando a lona que servia como porta.


No lado de dentro, viu-se apenas um ambiente vazio, pouco iluminado, com algo ao fundo. Tinha cheiro de ervas fortes, e o chão era de terra. Demorou alguns segundos para Altair perceber que aquilo ao fundo era uma espécie de mesa, com algo grande sobre ela.

— Acho que não tem nada aqui, — falou Bianca, desapontada.

— Acho que tem, sim. Vê aquilo?

Bianca forçou os olhos no escuro, e assim que se adaptaram, ela pôde ver o que o marido estava apontando. Era uma mesa. Com uma toalha pendendo. Com alguma coisa sobre ela.

— Não pode ser. Olhe, vamos embora — pediu ela, já puxando o braço de Altair na direção da saída.

— Espere! Eu quero ver.

— Ver o quê? Para quê? Aquilo é um…

— Eu sei o que é, Bianca!

Desvencilhou-se da mão firme da esposa e andou na direção do corpo sobre a mesa. Mais próximo, viu seu aspecto e ficou extremamente surpreso. Era um corpo magro, de um homem de meia-idade, cabelos curtos, cavanhaque, incrivelmente intacto, como se dormisse ali em cima, prestes a acordar e lhe desejar uma boa tarde. Estava absurdamente preservado, nu, a pele escura, as costelas amostra, os dedos dos pés com as unhas amareladas. Altair quis tocar no cadáver, levou a mão até próximo de seu peito, então se deteve, imaginou-se em uma grande piada, com aquele sujeito esquelético lhe agarrando o pulso e gritando em seguida, assustando-o, sorrindo depois, fazendo Bianca berrar e correr para fora da tenda.

Intrigado, observou o peito do suposto cadáver. Fitou por quase três minutos e nada, não o viu se mover. Aquele sujeito sobre a mesa só podia estar morto, enrijecido, gelado. Enchendo-se de coragem, Altair tornou a levar sua mão na direção do corpo. Desta vez, tocou-o; o fez com extrema rapidez, sentiu a pele fria e recuou a mão prontamente.

— Que merda pensa que está fazendo? — falou Bianca, nas suas costas.

— Quis ter certeza.

— De quê?

— Só me deixe, sim?

E ela deixou, indignada, sacudindo a cabeça, virando-se e saindo do interior da tenda. Lá dentro, Altair seguia confuso, admirado e tenso. Nunca havia estado diante de um corpo, nem mesmo em suas mais loucas expedições quando mais jovem. Com a tensão superada em parte, tratava agora de entender como aquilo funcionava. O baixinho fora muito claro em relação aquela visita; o Sabe de Tudo, ele dissera. Ele já revelou todo o meu destino, ele também dissera.

Mas como? O sujeito estava morto, imóvel, estacado, incrivelmente inodoro, mas claramente… Morto! Não havia como ele prever coisa alguma, revelar futuro nenhum. A não ser…

Altair obteve uma luz. Parecia uma idiotice, e talvez até se sentisse assim depois que tentasse, mas precisava fazer, arriscar, se aventurar, permitir-se embarcar naquela ideia maluca que tivera exatamente naquele momento, ali, diante de um defunto em uma ilhota do outro lado do mundo, e então, sem pestanejar, inclinou-se sobre o cadáver e encostou a orelha sobre os lábios do morto. Ansioso, Altair postou-se a escutar… E escutou, maravilhado e depois assombrado, mas sim, escutou cada palavrinha proferida por aquele cadáver.


Quando se deu no lado de fora, encontrou a esposa sentada em uma pedra, olhando a paisagem, as pessoas que por ali circulavam. Passou por ela e fez um único sinal, e Bianca imediatamente levantou-se.

— Por Deus, pensei que não sairia mais de lá, — falou ela, engatando o braço ao braço do marido.

— Vamos para casa.

— Está tudo bem?

— Está, — respondeu Altair, andando devagar, o olhar perdido.

A esposa beliscou-lhe o braço.

— Mesmo?

— Sim, Bi. Está, sim.

Seguiram em silêncio por todo caminho de volta, com Bianca fotografando o que lhe era pertinente, espiando para o marido sempre que possível, observando seu olhar distante, algo praticamente incomum, puxando assunto quando achava necessário e recebendo apenas suaves acenos positivos ou negativos com a cabeça.

Adentraram no quarto do hotel duas horas depois, exaustos, suados, Bianca com bolhas nos pés e Altair com o pescoço avermelhado, cansado, mas não comentando nada a respeito. Ele sentou-se na beirada da cama, a cabeça baixa, encarando os próprios pés. A esposa surgiu de repente, vinda da cozinha com uma garrafa de água gelada nas mãos.

— O que há, querido?

— Só estou cansado, — falou ele, após suspirar. Em seguida, levantou-se e foi até a sua mala. A abriu, guardou algumas coisas, organizou outras, secou o suor com o pulso.

— O que aconteceu naquela tenda? — quis saber Bianca, e viu o marido tremer.

— Nada.

— Imagino que sim, já que aquele velho maluco nos deixou diante de um defunto. Mas, fora isso, o que aconteceu por lá, depois que eu saí?

— Porra nenhuma, — insistiu Altair, fechando a mala, agarrando-a com uma das mãos e começando a caminhar. — Vamos. Precisamos ir.

Revirando os olhos, Bianca acompanhou o marido, foram até o guichê do hotel, acertaram a conta por três dias de uma boa hospedagem, saíram à rua, tomaram um táxi e rumaram na direção do aeroporto. Durante o trajeto, Altair questionou o motorista não uma, mas três vezes, sobre haver outra maneira de deixar aquela região que não fosse de avião. O motorista, jovem e com um boné virado para trás, respondeu pacientemente todas às vezes.

— Não, senhor. Só se sai e entra aqui pelos ares.

Assim sendo, quinze minutos depois o casal se encontrava no aeroporto, andando pelo saguão, comprando as passagens no guichê, olhando os horários no painel, conferindo com o horário do relógio no pulso, Bianca andando descontraidamente e Altair suando na testa, nervoso demais, tentando beber a água de uma garrafa que já estava vazia.

Ele olhava tudo ao redor com estranha impaciência, lembrando-se do idoso baixinho, do cadáver sobre a mesa, das palavras dele, sussurradas em seu ouvido, algo completamente irracional, improvável, uma maluquice que ocorrera daquele lado do mundo.

Estava sentado ao lado da esposa, os pensamentos em algum lugar, a garganta seca, ardida, o pomo-de-adão subindo e descendo. Passou uma das mãos nos olhos e ouviu a voz da esposa.

— Querido, fale comigo.

— Vão anunciar o nosso voo, — falou ele, e uma voz no alto-falante fez exatamente isso.

Levantaram-se, caminharam por todo saguão, atravessaram pelo detector de metais, seguiram mais alguns generosos passos até que finalmente sentaram-se lado a lado em suas poltronas. Aguardaram todas as instruções de voo, prenderam os cintos, sentiram um frio na barriga quando o avião decolou e só com quase uma hora nos céus é que Altair decidiu se direcionar à esposa.

— Pensei que o gato havia comido a sua língua, — brincou ela, e teve a mão segurada pela mão do marido.

— Você é feliz comigo, Bi?

— Está brincando? Viajamos o mundo todo, e não há outra pessoa com quem eu gostaria de fazer isso.

— Hoje na tenda, — começou Altair, devagar, a mão começando a suar. — Eu percebi algumas coisas. Ouvi algumas coisas.

— Ouviu?

— Pensei ter ouvido, não sei. Apenas me escute. Nosso casamento tem sido perfeito, assim como sonhei que fosse. Decidimos viajar até este fim de mundo só para comemorá-lo, e saiba, meu amor, que está sendo maravilhoso. Agora, pode por favor confirmar uma coisa?

Bianca remexeu-se na poltrona. Estava ansiosa, havia programado falar sobre o assunto ainda durante a viagem ou após o término dela, com os dois deitados na cama do hotel ou até mesmo na ilhota antes do idoso baixinho surgir com sua fala estranha e profecias malucas. Até então, havia escondido muito bem a surpresa. Não fazia ideia de como o marido poderia ter desconfiado. Sentindo-se deslocada, Bianca falou a respeito.

— Pensei que seria uma boa surpresa. Mas, sou péssima em guardar segredos. Querido, eu fiz alguns exames, e ao que tudo indica eu estou realmente…

— Grávida! — anunciou ele, em meio às lágrimas, apertando a mão da esposa, dizendo que a amava, olhando para ela e depois para sua barriga, choramingando, lembrando-se das palavras do cadáver, de como ele as proferiu suavemente, quase como um sopro de brisa outonal, um murmúrio arrepiante saído da boca de lábios azuis e rachados de um falecido.

Tocou a barriga da esposa, a acariciou, chamou-a de Sofia, pois sabia que seria uma menina, assim foi dito pelo defunto, e Bianca espantou-se e depois se pôs a chorar, admirada e feliz, pois aquele era justamente o nome que ela pensara em dar para o bebê caso fosse confirmado uma menina.

— Como soube? — choramingou ela, deitada no ombro do marido.

— O quê?

— De tudo. A gravidez, o nome da bebê. Por Deus, nunca comentei isso com você!

Então Altair preferiu contornar, falou sobre sentimentos, coisas que sentimos e acreditamos, sempre escondendo que ouvira tudo da boca de um morto, pois aquilo não era importante, Bianca jamais entenderia, riria dele e o chamaria de panaca, mesmo com todas aquelas provas, a gravidez, o sexo do bebê, o nome dela e do resto. Havia muito mais, Altair sabia. Ouvira cada palavra, suou, apavorou-se, sentiu os ossos gelarem.

O morto sussurrara demais. Falara pelos cotovelos, estava acertando exatamente tudo, o que deixava Altair cada vez mais nervoso, suando mesmo com o ar condicionado ligado. Ele sabia que iria acontecer. Não sabia o momento específico, mas seria bem depressa. Haveria gritaria, pânico e alguns passageiros tentariam se levantar, contrariando todas as regras de voo. Mas tudo acabaria bem. Os três sobreviveriam. Outros noventa e oito, infelizmente não. O cadáver assim dissera, e ele jamais errava. Minutos depois, um solavanco arrematou e estremeceu o avião por inteiro. Houve resmungos e cabeças foram erguidas, espiando para todos os lados. Em seguida, um estrondo. Gritos espalharam-se pelo corredor. Bianca permaneceu calada, mas agarrou firme o braço do marido.

— Fique calma, — disse Altair, estranhamente calmo. — Tudo vai acabar bem.


30 Septembre 2020 04:43 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

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