Um sentimento que era um misto de horror e remorso;
mas não passou de um sentimento superficial e equívoco,
pois minha alma permaneceu impassível.
Edgar Allan Poe
ELE CORRIA PELA FLORESTA ESCURA, PISANDO EM FOLHAS SECAS ENQUANTO UMA NÉVOA LEITOSA COBRIA SUA VISÃO. Apenas a voz o guiava, os gritos distantes e desesperados:
—Nii-San! Me ajude!
Ouviu a exclamação dolorosa e aumentou o passo, caindo, erguendo-se com as mãos esfoladas. Seu irmão precisava de ajuda, tinha que conseguir alcançá-lo.
—Não!
O grito estava mais perto, podia ouvi-lo, mas nada via.
— Sasuke! — gritou com todo o fôlego que possuía.
A resposta foi um grito mais desesperado.
— Nii- San! Nii-San!
Mais um grito de dor.
Correu mais desesperado. Os gritos foram diminuindo, ficando mais baixos. Alcançou uma clareira e parou de forma abrupta ao sentir a água em seus pés.
Era um rio.
— Sasuke!
Ouviu o choro baixo do irmão. Vinha do outro lado, tinha certeza.
— Por favor, faça parar. Pare. PARE! ITACHI!
Entrou no rio em desespero e começou a nadar para a outra margem, em direção onde sabia que Sasuke estaria. Tinha que alcançar seu irmão.
— Sasuke! Aguente!
Ele ia acabar com quem estava machucando-o.
Tudo aconteceu muito rápido.
Estava perto da margem quando foi abruptamente puxado para o fundo. Lutou para subir, sufocando com a água escura ao seu redor. Sentiu a mão fria em sua perna, o arrastando. Mesmo com toda a água, ouvia ainda os gritos de Sasuke em sua cabeça.
— Nii- San, por favor... Me ajude-
Lutou contra as mãos em sua perna. Sentiu-as o largar e se preparou para subir quando encontrou os olhos negros dentro da água, bem perto de sua face.
— Me ajude- — a água começou a ficar vermelha de sangue e sentiu a mão gelada que estivera em sua perna tocar sua bochecha.
Foi quando finalmente reconheceu o corpo na água: Era Sasuke.
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Itachi acordou de supetão suado e arfando. Sentiu como se a escuridão do quarto estivesse prestes a engoli-lo e demorou instantes para lembrar onde estava e quem era, ainda dentro da atmosfera sufocante de seu pesadelo. Passou a mão nos cabelos longos e úmidos, tentando controlar a respiração e a dor em seu peito. Olhou para o celular, que buscou apalpando as cobertas. Estava ao lado da sua arma.
A luz da tela o cegou de forma momentânea e piscou as lágrimas, causadas pela luminosidade ou pelo pesadelo.
Eram 3:30 da manhã.
Tentava entender isso: sempre o mesmo pesadelo e sempre despertando no mesmo horário. Há cinco anos essa era a sua rotina. Itachi acordava sempre nesse mesmo tempo, todas as madrugadas. Mesmo quando não tinha o pesadelo, erguia-se de supetão e sufocando sem ar.
Segundo o legista aquele fora o horário aproximado da morte de Sasuke.
Ergueu-se da cama do hotel e foi até a bolsa que largara no canto, procurando o remédio. O tomava desde que começaram as arritmias cárdicas. E aqueles pesadelos só pioravam a sua situação de saúde.
Buscou a água e tomou o comprimido, recostando a cabeça e os braços na parede fria, tentando respirar e acalmar o coração. Os pesadelos haviam parado há um ano, mas agora retornavam com todo o vigor, cheios de detalhes gerados por sua mente criativa. Até mesmo a voz de seu irmão, era igual como sempre lembrava.
Esmurrou a parede, querendo chorar.
— Droga, Sasuke!
Foi interrompido pelo toque de seu celular. Voltou a cama e atendeu. Sabia quem era antes mesmo de ver o nome da chama. Era a única pessoa que sabia que ele estaria acordado naquele horário.
— Fala, Kurenai.
A voz que o respondeu era sonolenta.
— Tomou o remédio?
— Sim. — respondeu baixo, ainda respirando com dificuldade.
Ouviu um suspiro.
— Você sabe o que eu penso sobre tudo isso Itachi. Os pesadelos voltaram não foi? Eu sabia que você voltar para Konoha não seria uma boa ideia.
Ele riu sem humor, sentando-se na cama e olhando pela janela para as luzes da cidade que começavam a apagar.
A sua cidade natal, que não via há cinco anos.
— Eu sou psiquiatra, Kurenai. O que diria a meus pacientes se não pudesse enfrentar meus medos? — zombou e ouviu a respiração exasperada do outro lado.
— Nem todos reagem da mesma forma aos traumas, você sabe bem disso. Já sabe onde vai ficar?
— Na casa dos meus pais, a antiga. Se nenhum parente indesejado houver tomado posse. — falou com desgosto.
— Boa sorte nisso. Mas chegou bem mesmo, não é?
— Claro, mãe. – Zombou.
Kurenai era a única pessoa que fazia-o ser livre para fazer uma piada diante daquela situação. Era uma das únicas pessoas que lhe restavam no mundo e que podia entender o que sentia. Ela conhecia todos os seus monstros.
Talvez porque os monstros de ambos fossem tão parecidos.
— Certo Vou dormir então. Me liga qualquer coisa, Sinatra.
Bufou com o velho apelido, mas só ouviu a risada sonolenta e a linha muda antes que pudesse xingá-la.
Ficou olhando para a luz do celular de forma silenciosa, seu coração já no ritmo normal.
Kurenai sabia bem manipulá-lo quando ele tinha os pesadelos, mas no fundo, tudo o que o atormentava continuava ali, dentro de si. Como uma semente que germinava na escuridão e apenas crescia, ameaçando engoli-lo.
Afinal, seu irmãozinho, que ele havia cuidado quando os pais morreram, sua família, havia sido cruelmente assassinado. E a culpa era sua.
A culpa e o arrependimento faziam parte daquela semente que germinava.
Se houvesse sido mais forte, mais rápido. Menos cego. Se houvesse o ouvido, quando ele mais precisou-
Fechou os olhos, caindo na cama.
— Eu sinto muito... — murmurou. — Me perdoe, me perdoe- — repetiu o mantra como sempre fazia.
Por não ter estado lá quando ele gritou por ajuda, por não o ter protegido como havia prometido a vida inteira.
Por não ter pegado o desgraçado que fizera aquela atrocidade.
E como sempre, quando voltava a adormecer, quase podia senti-lo ali, perto novamente. Quase podia acreditar que tudo fora realmente um pesadelo e que seu irmão ainda estava ao seu lado.
E não que sobrevivia dia após dia apenas de arrependimentos, amarguras e dor.
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1. Nii-san: irmão mais velho.
2. Sinatra: refere-se ao músico Frank Sinatra.
Edit (24-04-2020): Então, eis a versão editada de névoa. O que podem esperar dela? Primeiro estou revisando a fluidez do texto e erros gramaticais, mas também as atitudes e personalidade de alguns dos personagens. O final da história não será alterada, mas acho essas mudanças necessárias e algumas delas são bem evidentes, principalmente em relação a Itachi e o relacionamento dele com o Naruto, que acho que precisa melhorar e muito. Outra coisa é que haverá partes extras e outras, que acho desnecessárias, serão removidas. Bruma será incorporada aqui também, não sendo mais uma história em separado. O passado de alguns personagens será mais explorado.
Por enquanto ela será repostada apenas no wattpad e postada no inkspired, mas quando terminar tudo retiro ela do privado, já com as modificações, nas outras plataformas.
Por enquanto é isso, se lembrar mais volto aqui. Boa leitura!
Merci pour la lecture!
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