Dei passos tímidos em direção aonde ele estava, me ajoelhei ao lado da maca e afaguei seus cabelos loiros claros, observando- o com tristeza. Não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, a mais ou menos quatro horas atrás, ele tascou -lhe um beijo na minha bochecha e disse que iria sair com os amigos, agora ele estava ali, deitado sobre uma maca fria, com os olhos fechados e com o rosto sem cor, sem brilho, sem vida....Esperava que seus olhos azuis se abrissem e me dissesse que tudo não passava de uma brincadeira horrorosa, mas sabia que não se tratava de encenação nenhuma, aquilo realmente estava acontecendo.
Seu menino feliz, brincalhão e alegre já estava quase sem vida em um quarto da UTI na ala dos feridos. Toquei em seu curativo, sangue fresco saia pelas bordas, abaixo das faixas emendadas estava o rasgo de um tiro. As mais doces lembranças passaram pela minha cabeça, como em uma reprise dos melhores momentos de minha vida, que foram todas ao lado dele: Me vi de volta ao pequeno orfanato no sul do Brasil, assinando os papeis de adoção e sentindo toda a felicidade invadir minha alma novamente enchendo-a de amor, me vi acordando de madrugada para aquecer o leite da mamadeira e trocar fraudas sujas, me vi embalando-o no colo e esperando que a cólica passasse, me vi correndo atrás de um menininho, que parecia um anjo, seus cabelos claros esvoaçando-se com o bater fresco e úmido do vento, me vi ajudando-o a pescar o primeiro peixe, me vi confortando-o ao peito e indo pra debaixo da água gelada para espantar a febre alta e afirmando a ele que estava tudo bem ''papai está aqui com você'', me vi tentando aprender a jogar vídeo game, sem êxito, me vi ensinando-o a fazer a barba pela primeira vez, como ele estava feliz e como eu estava feliz pela felicidade dele, me vi roendo as unhas de nervoso enquanto esperava sentado em uma cadeira de balanço velha de frente para a janela aguardando que voltasse das ''festinhas'' típicas de adolescentes e me vi em uma conversa bem seria sobre sexo e prevenção.
A sua vida é como vários fios te prendendo ao Mundo, quando você tem um filho, tudo muda. Não são mais vários motivos que te fazem acordar toda manhã para a vida, é apenas ele. A felicidade dele é a sua felicidade, o sorriso dele é o seu sorriso, o aborrecimento dele é o seu aborrecimento e tudo que faz bem para ele, faz bem para você também. O ciclo da vida ensina que o pai ajuda a dar vida, cria com amor e um dia falece, nada te prepara para perder o fio que te liga a vida, a gravidade que te prende ao Mundo, o sol que ilumina seus dias...Caí no choro, dando um último beijo em sua testa e segurando sua mão até o fim, como sempre segurei durante a vida inteira.
- Meu Stefan ... - Sussurrei em meio as lágrimas que escorriam de meus olhos. - Para sempre meu Stefan.
Ele sentiu uma última ponta de esperança, esperança que a lembrança do sorriso do seu filho desse um pouco de luz para seus incontáveis dias de dor.
Lá fora chovia enquanto Caetano chorava sobre o corpo já sem vida do filho, chovia como se o Mundo também estivesse em lágrimas pelo seu filho perdido.
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