Por vezes, o universo colapsava.
As estrelas apagavam-se e na escuridão não se encontrava nada – nem sequer o silêncio. Era um paradoxo, pois no nada também não existe som, mas o que se cala também existe e, portanto…
Deixou-se de metafísica e contemplou.
Por dentro era realmente apenas o vazio e todas as estrelas que tinha perdido para o esquecimento.
Sorriu para si mesmo, um daqueles sorrisos que ninguém vê, conhece ou sabe sequer que existe. Ele não era dado a sorrisos fáceis, a expressões de sentimentos ou confissões arrojadas. Ele era o que se costumava designar de antissocial.
Era essa a plataforma para começar. Arrasar a base e depois construir pacientemente o seu mundo. Tudo dentro de si mesmo, tudo longe dos outros, quando não lhe chegava o infinito e tudo o que antes tinha existido ou irá existir. Presente, apenas. O momento. A dor que se mede. A ansiedade que não se controla. A dormência que é paliativo e maldição.
O processo tornava-se cada vez mais difícil e penoso, mas ele não podia desistir. Se sucumbisse, iria perder as magníficas tonalidades do Sol a nascer naquela faixa de terra que se iluminava com um fulgor que seria semelhante ao início da criação.
Começar. Recomeçar. Insistir.
E continuava a agitar-se no meio do vazio, onde todas as estrelas se tinham perdido para o esquecimento.
Experimentava e rasgava, furioso, o que tinha definido.
Era um trabalho impossível e contínuo, sem uma conclusão à vista.
Onde estava ele, no meio daquele caos sufocante?
Estava naquela noite em que recebeu a oferta inesperada dos deuses. A seus pés jazia o seu destino que tinha vindo do alto, atirada sem propósito. E bastou esse gesto casual e sem qualquer tentativa de ser eloquente para lhe definir um rumo e mostrar-lhe que havia qualquer coisa depois da porta fechada que era a única passagem que atravessaria tão alta e imponente muralha.
E naquela noite ele viu-se sozinho. Nas epifanias nunca estamos acompanhados. É preciso coragem, é preciso resistência, é preciso loucura. E sozinho, naquele nada que era o contrário de tudo, onde ele erguia-se confuso e assustado, estava uma resposta.
Fechou a mão e capturou o brilho do que podia construir.
Era bonito, mas também era horrível. Era satisfatório, mas também castigador. Era emocionante, mas igualmente dilacerante.
A felicidade fazia-se dessa mistura de teimosia e de acaso. Ele sabia-o. Sorriu, furioso por ter descoberto o segredo e depois encolheu-se com o peso dessa responsabilidade. Chorou, amargurado por se ver privado do calor da alegria conquistada tão brevemente.
Podia continuar a mentir – e iria fazê-lo, pois que significava a sua continuação. E ele queria continuar. Sempre. Até que deixasse de ver o Sol a nascer. Até que deixasse de se importar.
Porque no vazio interior, nesse vazio despojado e frio, as estrelas perdiam-se para o esquecimento.
Lentamente. Deslizando lentamente.
E ele ia com as estrelas. E ele ia com o vazio.
Não era esse o ciclo interminável de todas as coisas?
Ia ficar tudo bem.
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