❝Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.❞
As mãos dele estão em meu pescoço, esmagando-o aos poucos como se esmaga um pedaço de papel; como se não me tirasse todo a vida, pouco a pouco. Minha boca se abre diversas vezes em busca de ar, meus pulmões ardem como se uma combustão interna ocorre-se neles.
Em uma tentativa ridícula de competir com sua força, eu levei minhas mãos as suas envolta do meu pescoço, arranhei seu rosto lhe tirando sangue. Meus olhos ardem, são as lágrimas que começam a surgir — de ódio, de desespero. Tentei o chutar, ou ao menos me mover, mas seu corpo sobre o meu não deixava. Apenas acabava machucando a mim mesma, quando a todo momento tentava me livrar dele. Porém, enquanto o corpo dele agisse sobre o meu, anulando todas as minhas forças, o máximo que eu poderia fazer é acreditar que antes que meu coração parasse de bombear, ele voltasse a consciência sã — tal que o abandonou a segundos atrás.
Quase me senti aliviada quando, com brusquidão, seus dedos afrouxaram o aperto da morte e deixaram minha cabeça tombar no chão frio. Quase, pois ele não saiu de cima do meu corpo, seus olhos raivosos não mudaram e uma de suas mãos repousava em meu ombro. Não ouvi sua voz, somente a respiração pesada junto da minha ofegante. Todo meu corpo doía, resultado não só de meu desespero por escapar das mãos dele, mas como também por causa da doença que me acometia aos poucos; sem muitas saídas, mas com alguns anos pela frente. Eu a aceitei, ele não. Eu me resignei a contar os dias para o suspiro final, mas ele não. Disse que me amava demais e que, me perder para uma doença era inaceitável, eu me calei diante disso. A dor é sempre maior para os que ficam e eu já havia experimentado tal dor muitas mais vezes do que gostaria na vida, ele por sua vez, somente uma, essa que o mudou para sempre.
Então, baseando-se em seu amor tão forte, me derrubou daquele chão frio, me sacudiu pelos ombros e chorou sobre meu peito, me acariciou o rosto e me beijou os lábios. Depois agarrou meu pescoço, apenas. E mesmo eu sabendo que minha morte era mais eminente do que a de muitos outros, eu tentei lutar contra ela naquele momento.
Não seria o amor dele que iria me matar.
Ele agora me olhava em silêncio, estático, tão diferente do homem surtado de momentos antes. Eu podia sentir minha pele arder, as pernas ficarem dormentes. Com as mãos que já não lutavam mais, toquei a dele sobre meu ombro. Ainda a raiva dentro de mim, o ser feroz que me consome quer dar a ele uma bela surra. Mas o momento atual exige cautela, ele tinha o controle, como sempre tivera; e mesmo que eu apenas entrasse em seus jogos movido por algo maior, nunca me daria ao luxo de não tentar sair deles.
— Que você morra sozinha...
Com sua frase nada acalentadora se levantou e sem um último olhar saiu pela porta do apartamento. Quando o click da tranca automaticamente soou pela ambiente vazio, meus ombros relaxaram. Com um pouco mais de esforço, me joguei no sofá, sentindo o corpo frágil agora reclamar da aterrissagem nada legal.
Nada se passava pela minha mente, a não ser o quanto respirar de novo era bom. Quase como um novo sopro de vida. E quando me acalmei, o coração voltando ao seu ritmo normal, a pergunta do porque daquela agressão de meu ex companheiro me preencheu a mente. Fora totalmente exagerada, como que também horrível, desde quando você, que se diz amar alguém, faria tal coisa? Era certo que nunca o entendi completamente, e naquele momento eu realmente não quis. Como ele sugeria, eu irei morrer sozinha, não por não ter realmente ninguém além dele, mas por opção. E até lá, quando a doença que me corrói o corpo de dentro para fora me apodrecer toda, estarei longe demais do alcance de qualquer um; inclusive de suas mãos agressoras que quase me mataram sem permissão.
O amor dele não irá me matar, nem ao menos me alcançar alguma vez mais! Esse momento estranho de revelação e agressão era o adeus que ele proporcionou a nós. Nunca estarei disposta a continuar com alguém assim, descontrolado ao ponto de decidir que, minha vida pertence a si.
Merci pour la lecture!
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