— Misericórdia, pelo amor de deus! — Sakura resmungou ao sentiu o ar dos pulmões se esvaírem com o apertar do espartilho e, considerando que aquelas seriam suas últimas palavras, reclamou para a funcionária da loja que a ajudava a fechar o traje de casamento.
— Oh, você está tão linda! — Hinata comentou enquanto a observava sentada com os cotovelos apoiados sobre os joelhos.
Com as mãos no queixo aguardava ansiosamente a cada troca de vestido da amiga, que rodopiando a sua frente, ainda tentava encontrar defeitos na peça que vestia.
— Pode até ser que talvez desmaie a caminho do altar, mas, este ficou perfeito em você! — A garota concluiu sorrindo.
Sakura retribuiu o sorriso enquanto observava a morena de cabelos enegrecidos caminhar animada em sua direção, no afã de ajuda-la a descer as escadas do provador. O sorriso e entusiasmo da Hyuga era o que lhe dava forças e, sobretudo, paciência para continuar naquela maratona eterna de prova de roupas.
— Obrigada, Hina! Na verdade, não sei bem mensurar o que estou sentindo agora. — A rosada olhou-se no espelho mais uma vez, passando as mãos sobre os bordados delicados do véu. — Tudo passou tão rápido que até me preocupa agora! — Comentou mais séria do que outrora.
Hinata meneou a cabeça, entendia que o que era a pressão do matrimônio. Na posição de profunda conhecedora das leis, uma advogada e escritora civilista renomada, entendia o porquê de o casamento ser o mais solene dos contratos.
No entanto, para além de uma lógica legalista, a jovem Hyuga compreendia também o quão delicado era unir duas vidas, duas rotinas completamente diferentes com complexidades diversas e que deveriam, em tese, se harmonizarem em uma só realidade.
— É complicado eu emitir alguma opinião sobre isso, minha cerejinha, mas compreendo seu temor. — A morena ponderou segurando as mãos da amiga — Contudo, ainda acredito que se você consegue operar um cérebro por mais de seis horas ininterruptas, consegue, facilmente, lidar com essas mudanças! — Hinata terminou o raciocínio e sorriu para a rosada que a puxou para um longo e apertado abraço.
— É por isso que eu te amo!
— Ama nada, você só quer usar esse corpinho lindo e inteligente! — A Hyuga brincou arrancando uma gargalhada de Sakura.
— Tem toda razão Dra. Adevogada! Agora, peço encarecidamente que requeira a expedição do meu alvará de soltura desta loja, afinal, é este o vestido! — Exclamou Sakura comemorando finalmente o fim da exaustiva procura.
— Embora essa seja a área do meu excelentíssimo colega de escritório, acredito que eu possa fazer esse favorzinho a uma noivinha tão desesperada, hihi. — Hinata a replicou brincando.
Sakura a encarou por um momento ainda sorrindo e lembrando-se de toda a trajetória que aquela amizade percorrera até ali, agora, já fora da loja de vestidos, a nostalgia tomava conta de seu coração enquanto observava a morena de cabelos preto-azulados a arrastar por entre arranjos floridos e taças refinadas.
Ainda extasiada com aquela sensação, a rosada sentiu o telefone vibrar dentro da bolsa, sua expressão mudara taxativamente quando atentou-se que tratava-se de uma ligação do hospital onde trabalhava, sabia que era mais uma emergência grave.
De longe Hinata observou a amiga empalidecer enquanto falava ao celular, apanhou a chave do carro no bolso e imediatamente a levantou mostrando-a a Sakura, já estava acostumada com os chamados que a médica recebia. Mas, agora sentia que havia algo de muito errado, como se a rosada a escondesse algo.
— Saki, o que foi? Aconteceu algo com Naruto? — Perguntou enquanto caminhava às pressas em direção ao estacionamento da galeria onde se encontravam.
— Precisamos correr, Hina, o caso é extremamente grave! — Sakura a replicou um tanto hesitante, evitando encara-la nos olhos.
Ainda que estranhasse o comportamento de Sakura, Hinata não a questionou, limitou-se a encaixar o cinto, saindo do estacionamento da galeria cantando pneus, mais que acelerada, rumo ao hospital referência no qual Sakura era neurocirurgiã.
Um silencio constrangedor instalou-se entre ambas, findando-se apenas quando a Hyuga freiou o carro na entrada da emergência.
Naquele momento, a morena pôde sentir as mãos geladas de Sakura repousadas por cima da mão que apoiava-se no câmbio do veículo. Hinata engoliu seco e a fitou.
— Precisa me acompanhar desta vez. — A rosada quebrou o silencio, observando a garota a sua frente franzir o cenho.
— O que? Por quê!? — Questionou Hinata ainda confusa.
— Apenas acompanhe-me, depois conversamos com mais calma. Eu prometo! — Sakura a respondeu saindo do carro as pressas e adentrando a ala que dava acesso às salas de cirurgia.
Hinata caminhava a passos largos seguindo a amiga, enquanto sentia algo ruim apossar-se de seu coração, a ansiedade a consumia lenta e gradualmente enquanto observava as salas de espera lotadas.
Cessou os passos apenas quando o segurança lhe barrou, alertando-a que apenas os médicos poderiam ter acesso às salas de cirurgia. Naquele instante finalmente soube o porquê estava ali.
A garota sentiu o chão ruir sob seus pés ao ver que na maca que Sakura arrastava com tanta pressa junto a outros médicos e enfermeiros, que carregavam o que aparentava ser um balão de oxigênio, estava Sasuke Uchiha. Seu namorado.
Hinata sentiu as pernas falharem, toda sua energia havia desaparecido abruptamente e tudo que pôde ver enquanto ainda manteve os olhos abertos, foi a face do enfermeiro que evitou que se estatelasse no chão.
🌸 🌸 🌸
— Meu deus, o que aconteceu com ela!? — Naruto Uzumaki, noivo da jovem Haruno de cabelos rosados, e diretor do hospital onde a médica trabalhava, questionou o enfermeiro que carregava Hinata desmaiada nos braços. — Coloque-a na maca, por favor!
— A moça desmaiou ao ver o novo paciente da emergência, estava acompanhando a Dra. Haruno até as salas de cirurgia. — Respondeu Kiba depositando a garota com cuidado no local apontado por Naruto, que levantou-se em um pulo apanhando o estetoscópio pendurado no pescoço, abaixando-se para conferir o pulso de Hinata em seguida.
— A pulsação está regular... — o médico levou as mãos até a alavanca da maca, puxando-a e colocando as pernas de Hinata mais altas que o corpo e a cabeça. — Eu a conheço, ela é uma amiga muito próxima a mim e Sakura, só não compreendo o porquê assustou-se dessa maneira. Havia muito sangue estancando do paciente que ela viu passar na maca? — Naruto inquiriu enquanto terminava de examina-la.
— Na verdade, a situação do Uchiha é bem séria, foi um acidente feio e-
— Espera, o paciente do acidente é um Uchiha!? — Naruto interrompeu Kiba o encarando incrédulo do que acabara de ouvir. — Sabe o primeiro nome dele?
— Sasuke... — Hinata pronunciou baixinho enquanto abria os olhos vagarosamente, sua visão ainda estava turva, mas conseguia discernir a quem pertencia o tom de louro dos cabelos, bem como, o médico sentado a sua frente. — É você Naruto?
— Sim, consegue se lembrar onde estamos? — O Uzumaki voltou sua atenção à moça novamente.
Hinata desviou o olhar enquanto lágrimas espessas começavam a rolar pelas maçãs do rosto, ainda sentindo-se fraca levou as mãos até os olhos enxugando-as.
— Lembro-me, Doutor, perfeitamente... — Replicou com a voz tremula.
Naruto engoliu seco ao vê-la naquele estado, correu seu olhar até Kiba e em seguida o pediu para que os deixassem a sós. O enfermeiro deu um breve aceno de cabeça deixando o consultório em passos silenciosos.
— Não se preocupe Hina, tudo ficará bem... — Naruto delicadamente enxugou as lágrimas de Hinata, envolvendo-a em um abraço em seguida. — Sakura é uma excelente médica, tenho certeza que fará o seu melhor! — Exclamou afastando-se e, ainda com as mãos envolvendo o rosto delicado da jovem Hyuga, a encarou nos olhos.
— Tem razão, eu me assustei. — Ela o respondeu entre soluços, enquanto se aconchegava no calor das mãos do médico que a fitava agora.
Naruto continuou ali por mais alguns minutos até ter a certeza de que Hinata estaria mais calma, levantou-se com delicadeza e dirigiu-se até o telefone, pedindo para que trouxessem um soro glicosado, percebendo que garota ainda continuava empalidecida e um tanto fraca.
O enfermeiro que havia a socorrido outrora retornou, desta vez carregando uma pequena maleta e, se deslocando até Naruto, direcionou seu olhar ao médico cumprimentando-o cordialmente e após, para a garota disposta na maca.
— Sente-se melhor, Senhorita Hyuga? — O enfermeiro questionou enquanto calçava as luvas.
— Me sinto melhor sim, muito obrigada Senhor... — Ela direcionou seu olhar até a plaquinha de identificação colada junto ao uniforme do rapaz brevemente, respondendo-o. — Inuzuka!
O enfermeiro sorriu.
Quando terminou de ajeitar o soro sentou-se em uma cadeira próximo a Naruto e aguardou até que Hinata adormecesse. Não demorou muito até que a jovem finalmente se acalmasse, o cenho franzido desfez-se instantaneamente quando o calmante começara a fazer efeito.
Naruto a examinou novamente e saiu do consultório em companhia de Kiba, por dentro, apesar dos vários anos de experiência, estava tão tenso quanto Hinata. Conhecia Sasuke desde pequeno, seria uma dor muito grande se o perdesse tão repentinamente.
— Infelizmente, não trago boas noticias, Doutor Uzumaki. — Kiba quebrou o silencio.
— Como está o quadro? — Perguntou o médico aflito.
— Continua grave, ele teve lesões sérias na cabeça, motivo pelo qual Sakura foi chamada, o rapaz ainda teve uma parada cardíaca no começo da cirurgia.
Naruto passou as mãos pelo rosto, mais nervoso do que conseguia mensurar.
— Eu confio em Sakura, ficarei na sala de descanso dos médicos junto a Srta. Hyuga e quando o procedimento findar, me chame, por favor! — Pediu o médico após ponderar por alguns segundos.
Kiba assentiu e retirou-se novamente, Naruto respirou fundo e levantou o pulso para verificar as horas enquanto caminhava a passos largos rumo à copa do hospital.
Ao chegar ao local, abriu a porta de um armário e apanhou uma caneca a enchendo de chá de camomila, das garrafas térmicas dispostas em cima do balcão, apanhando também alguns biscoitinhos.
Logo após levar as guloseimas açucaradas aos lábios, o médico dirigiu-se até a sala onde outros colegas repousavam após os plantões e deixavam seus pertences durante o dia de trabalho, sentou-se em uma cadeira e após respirar fundo, apanhou o celular, abrindo um aplicativo de troca de mensagens.
A aba da conversa que mantivera com Sasuke até minutos antes do acidente, que quase lhe custara a vida, era a primeira de sua lista. Sem que pudesse evitar, uma fina lágrima escorreu de seus olhos enquanto lia, pela milésima vez nas últimas três horas, a última frase que o amigo o enviara.
"Precisamos conversar, meu amigo. Você não pode se casar!"
Gracias por leer!
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