opoetaurbano Rafael Reis

Um jovem aprendiz trabalha sem cessar até que em um belo dia alcança a sua obra prima! Acompanhe esse pequeno conto que nos instiga a pensar: Isso é a vida ou uma imitação de vida? História escrita em meados de 2009.


Cuento Todo público.

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Cuento corto
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Capítulo Único

— A melodia mais bela é aquela que ainda está sendo composta, meu jovem aluno - disse o artesão terminando os últimos detalhes daquela bela peça de madeira.

— Melodia? Mas, mestre, o que isso quer dizer?

— Que você deve continuar trabalhando.


E ele continuou e continuou. Os anos foram passando como o vento e o pequeno e desajeitado aluno cresceu e se tornou um homem, agora ele era o mestre artesão e tinha sua própria loja, mas não seguiu exatamente os passos de seu velho tutor que adorava móveis grandes e suntuosos, sempre com elegantes formas geométricas, não, não, seu prazer estava em pequenos detalhes, flores delicadas, sapinhos com roupas coloridas e até alguns bonecos com expressões quase reais, quase tudo o que era fantasioso o deixava feliz ou ao menos ele assim pensava, até que descobriu as marionetes.


Pernas e braços que se moviam como mágica, olhos se abrindo e fechando, bocas como prontas para falar, detalhes esses esculpidos exaustivamente até quase a perfeição, isso sim o deixava muito empolgado! Tanta empolgação é claro o fez progredir na qualidade de seu trabalho e muitas encomendas se acumulavam, ele pacientemente as atendia em seu tempo, sem pressa, pois a arte não segue atalhos, ela muitas vezes trilha o caminho mais longo.


Então, em uma simples noite de verão onde todos já dormiam, algo diferente aconteceu. Sem sombra de dúvida ele tinha se superado, os bonecos mesmo estáticos pareciam sentir, querer e até mesmo pensar, eram sem dúvida a obra-prima que ele almejou por anos e anos.

E foi naquela mesma noite, quando o artesão cansado, mas feliz, deixou suas maravilhas de madeira guardadas aparentemente sem vida, que a vida tomou conta de uma delas.


Primeiro, algumas piscadas de olhos, seguidas por um leve inclinar de cabeça, depois, o movimento sutil das mãos em frente ao rosto.

Ele era o príncipe, sabia disso por sua coroa na cabeça e por ter ouvido o seu mestre o nomear assim, abriu o pequeno baú onde estava guardado e colocou a sua cabeça para fora com curiosidade, notou vários e vários bonecos pendurados por suas cordas, mas inertes. Percebeu, então, que era o único a despertar e atribuiu isso áquela luz brilhante que cruzava o céu apressada, o diminutivo boneco agradeceu abaixando a sua cabeça e resolveu se mover apenas quando estivesse sozinho naquela loja, era um boneco sensato, afinal.


Claro que dentro de poucos dias outros já estavam despertos, havia a florista, o mensageiro, o lenhador, a boleira, a governanta e o mordomo. Todos andando para lá e para cá em seu mundo reduzido, aquele minúsculo palco com algumas casinhas e uma torre simulando um castelo, não pensou que o artesão iria deixá-los apenas jogados em caixas, não é?


O tempo passou, dias se tornaram semanas e semanas em meses, mas a cada dia passado se tornava mais evidente que todos ali tinham um par, fato logo percebido por nosso querido príncipe. Então, um pouco triste, ele foi até a torre de seu castelo para se distrair e do alto viu a vida, ao menos a imitação de vida que seus companheiros levavam de maneira tão dedicada.


O lenhador colocava os pés para fora de casa e já retornava dizendo que havia tido um dia cansativo de trabalho, sua mulher, a boleira prestativa, mexia em panelas vazias para lá e para cá dizendo estar fazendo pratos maravilhosos para seu cansado marido.

A governanta sempre fazia questão de tirar fiapos inexistentes da roupa do mordomo (sua roupa era pintada, não havia como fiapos estarem lá) ele por sua vez, passava as horas tentando endireitar quadros invisíveis na parede.

Até mesmo a florista fingia regar suas flores e ficava toda boba quando um certo mensageiro passava assobiando para ela. (Esse que nunca entregava carta para ninguém, apenas passeava para lá e para cá.)


Essa "vida" não entristecia o príncipe, mas o que mais o entristecia era realmente não ter um par, alguém para conversar, uma companheira. Então, pela primeira vez em sua vida sua visão foi mais longe, ele percorreu com seus olhos vendo o final do seu palco, pelo chão até um grande guarda roupa preto e ao lado, uma cômoda marrom com um único objeto em cima.


Seus olhos se maravilharam, se tivesse coração esse estaria palpitando forte, a peça que viu era uma caixinha de música, nela uma bailarina despreocupada amarrava seus sapatos de forma elegante.

Ela era linda e ele precisava conversar com ela, tentou acenar, gritar, até sacudiu a sua torre com raiva, mas a distância entre os dois era grande demais, ele teria que fazer algo a respeito, não poderia desistir tão facilmente!

Encarando o desconhecido, assustado, mas com um objetivo a sua frente ele pulou de seu palco caindo no chão, foi andando bem devagar, mas acabou acordando um cachorrinho que o usou como brinquedo de morder, na brincadeira o pequeno boneco caiu na lareira que por sorte estava se apagando, após toda aquela aventura ele conseguiu chegar a seu destino, escalou confiante a cômoda e se viu junto com seu grande amor.


Estava com a pintura raspada e parte de sua perna queimada por causa da lareira, a bailarina por incrível que pareça mal percebeu a sua aproximação, estava apenas preocupada em amarrar seus sapatos e tentar girar, mas como a sua caixinha de música estava quebrada não conseguia completar a sua volta, tendo que sempre recomeçar.


O príncipe se apresentou e tentou conversar, mas ela estava entretida demais consigo mesma, não conseguia ver nada além, mesmo assim todos os dias ele enfrentava aqueles perigos só para estar junto dela, apenas para a contemplar.

Mas aquilo começou a entristecê-lo, ele não queria apenas ver alguém, queria conversar, abraçar, rir, com o passar do tempo ele foi parando com as visitas até as cessar de vez.


Em uma noite de inverno para a sua surpresa a bailarina apareceu em seu castelo, parecia que havia raspado a mão (o cachorro, claro) e tinha fuligem preta na perna, ela o olhou e perguntou se agora que eles estavam iguais, poderiam ficar juntos.


A surpresa dele foi imensa, mandou fazer uma festa para todos e os dois pombinhos se casaram naquela mesma noite, aqueles foram os dias mais felizes de suas vidas.


Mas não durou muito.


A caixinha de música era um presente para a filha do artesão, estava na oficina para consertá-la depois de um descuido seu, após algumas noites ele a presenteou e o casal ficou separado para sempre.


Uns dizem que ambos se esqueceram um do outro, voltando a viver as imitações de vida que viviam, outros que se apaixonaram por outros bonecos que não apareceram em nossa história e estão muitos felizes, mas eu prefiro acreditar que eles se visitam todas as noites, trocando juras de amor eterno, tudo isso claro, em seus mais lindos sonhos.

15 de Octubre de 2019 a las 19:37 8 Reporte Insertar Seguir historia
3
Fin

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Rafael Reis Já escrevi muito em minha vida, hoje nem tanto, contudo busco voltar e desengavetar essas palavras suntuosas que insistem em me acordar de madrugada...

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Gláucio Imada Tamura Gláucio Imada Tamura
" Voltando a viver as imitações da vida que viviam..." Fascinante!
October 20, 2019, 20:24

  • Rafael Reis Rafael Reis
    Ah obrigado! Preciso ainda mexer nessa história para deixá-la melhor xD October 21, 2019, 19:24
  • Gláucio Imada Tamura Gláucio Imada Tamura
    Essa é a "sina" de todo escritor... Rs October 21, 2019, 20:22
~