julia-victory JuVick

Como eu gostaria de voltar para aquele dia, onde éramos apenas eu e você, cobertos por estrelas. Nesse mesmo dia, eu tive a certeza que te amava.


Cuento Todo público.

#drama #romance #conto
Cuento corto
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Querida Clare.

Encosto-me no sofá buscando uma posição confortável no sofá da sala. Algo inútil, já que não importa quantas posições eu tente, minhas costas sempre latejam. Recompensas por estudar sem ao menos uma pausa na mesinha desconfortável do meu quarto.

Um murmúrio cansado sai de meus lábios. Mudo outra vez de canal tentando encontrar algo que me distraia, fico alguns minutos na mesma busca até que paro em um canal aleatório de desenhos animados.

Apesar dos meus olhos estarem fixos na grande tela, minha mente vagueia dentre meus pensamentos sem um rumo específico. Faço uma careta ao me lembrar da semana de provas que terei daqui a alguns dias. Isso é realmente torturante.

Fecho os olhos e me deito no sofá. Preciso descansar. O barulho dos personagens infantis parece longe agora, como se eu estivesse me desligando da realidade a minha volta. Tudo se torna escuro.

Então como se ele estivesse esperando apenas por esse momento, ele volta. Lembranças invadem com brutalidade o meu pensamento, e como sempre, faz com que todas as minhas tentativas para esquecê-lo sejam inúteis.

Já faz meses que ele se foi. Faz meses que ele me deixou e permitiu com que todos os nossos sonhos e expectativas juntos ecoassem no eco vazio das minhas memórias.

Sinto meu coração se apertar novamente com a falta dele.

— Já está na hora de seguir em frente, Clare. — Murmuro baixo para mim mesma tentando me acostumar com a dor da partida.

[...]

Abro meus olhos aos poucos enquanto tento me familiarizar com o sol da tarde que reflete em todo cômodo. Faço uma careta de desgosto e passo a mão sobre o meu rosto tentando tirar cada resquício de sono que ainda há no meu corpo. Continuo na mesma posição de antes, mas agora encaro o teto tentando encontrar alguma disposição para me levantar.

— Vamos Clare... Levante! — Digo tentando buscar forças. — Você precisa terminar de revisar o relatório semanal.

Estico meu braço e pego o controle da televisão para que eu possa desliga-la. Segundos depois o pequeno apartamento se encontra em um profundo silêncio. Sento-me no sofá e respiro profundamente, hora de voltar a fazer alguma coisa.

Ding Dong.

Quase pulo de susto ao ouvir a campainha quebrar todo o silêncio do local. Confusão surge em meu olhar. Quem pode ser? Eu não estou esperando ninguém. Procuro minhas pantufas com o olhar e as calço. Não demora muito para que eu caminhe em direção a porta.

— Pois não? — Falo assim que abro a porta. Porém, para a minha surpresa não há absolutamente ninguém no pequeno corredor. Olho para ambos os lados confusa. — Olá? — Chamo para me certificar que realmente não tem ninguém.

Reviro os olhos e me afasto da porta para fecha-la. Detesto esse tipo de trote. Mas antes que feche, algo me chama a atenção. Em frente a entrada do apartamento, sobre o tapete da entrada há um envelope com uma tulipa da cor azul ao lado. Franzo minha testa.

Agacho-me e os pego sem entender. Fecho a porta e volto para o sofá enquanto encaro o envelope pardo em minha mão. A única coisa escrita no mesmo é o número um em algoritmo romano.

Abro a carta sem conseguir conter a curiosidade, não faço ideia de quem mandou já que não possui identificação. Dou ombros e a abro para que eu consiga ler.

"Querida Clare,

Sei que deve ser muito estranho receber uma carta minha depois de tudo o que aconteceu. Mas eu precisava fazer isso, por você.

Acho que eu devia isso a você, mesmo depois dos nossos caminhos terem se separado. Apesar das distâncias gigantescas entre mim e você, ainda penso em seus lindos olhos azuis, se eles ainda possuem aquele mesmo brilho daquele dia em que fomos no parque de diversões, e depois ficamos horas e horas no jardim atrás da sua casa, enquanto você segurava o Ben no seu colo. Ainda não entendo o porque de você ter dado esse nome para aquele urso que eu ganhei em uma daquelas barracas, mas acho que naquele dia a sua felicidade era tudo o que eu poderia me importar. O resto não me interessava.

Nunca pensei que eu encontraria alguém que me entendesse tanto como você me entendia. Eu podia sentir que algo nos conectava enquanto olhava nos seus olhos, e o que eu mais queria naquele dia Clare, era ter a certeza que você sentia o mesmo que eu sentia. Porque eu com certeza estava caindo cada vez mais no abismo que era você. Nunca pensei que um parque de diversões poderia se tornar algo tão mágico, e que apenas uma conversa casual poderia fazer alguém ficar totalmente nas nuvens. E você me mostrou que era possível.

Aquelas horas em que ficamos naqueles balanços, na verdade pareceram segundos, e eu faria de tudo hoje para tê-los outra vez. Porque foi nesse dia Clare, que eu tive a mais bela certeza de todas:

Eu estava completamente apaixonado por você.

Sempre seu,

Ethan."

Lágrimas e mais lágrimas caem. Seguro o papel pardo em minha mão com força, como se ele pudesse escapar a qualquer instante. Soluços escapam de meus lábios.

Isso só pode ser uma espécie de brincadeira de mal gosto.

Toda a dor que tento afastar volta com força. A dor da saudade.

Leio seu nome outra vez e me desespero.

Pego a tulipa que está ao meu lado e a observo, isso só poderia ser algo vindo dele. Mas como? Isso é impossível.

— Não pode ser você, Ethan. — Falo ao sentir mais lágrimas em minha bochecha.


***

Desde ontem eu não consigo deixar de segurar aquela carta. Todos os meus sentimentos e certezas que eu tinha não são mais apalpáveis como antes. Tudo está um completo caos.

Minha cabeça trabalha todo momento buscando uma resposta de onde essa carta surgiu, porém nada consegue responder.

No final não há nenhuma outra pessoa no mundo que possa ter escrito o que está naquele pedaço de papel além de Ethan. Aquelas memórias são nossas. Apenas nós sabemos daquilo.

Chega a ser perturbador, tudo o que eu quis esquecer ao longo do tempo bateu em minha porta novamente. Tudo o que eu lutei para guardar veio átona. E agora não sei mais como lidar com tanta saudade reprimida, com cada lágrima que reprimi. Não sei mais lidar com a presença dele.

E sinceramente, estou com medo.

[...]

Deixo a água cair sobre o meu corpo por alguns minutos. Tento me focar naquele barulho e esquecer tudo o que ronda os meus pensamentos. Me aprisiono em pensamentos banais já que não ouso pensar nada além disso, não consigo derramar mais uma lágrima que seja sem sentir a dor me preencher novamente.

Termino o banho e me seco, coloco um pijama velho qualquer e saio do banheiro. Caminho até meu quarto, pego a escova para pentear meus cabelos e encaro meu reflexo. Estou acabada.

Separo meu cabelo e pego uma mecha qualquer, a penteio vagarosamente para que não puxe. Faço isso algumas vezes até com que eu acabe. E sem nem mesmo perceber, acabo fazendo o penteado que ele gostava. Ao observar a trança no espelho, me lembro de todas as vezes que ele disse que ela me fazia parecer como algo divino.

Eu sempre soltava algumas risadas sem graça e pedia para ele parar, Ethan sempre negava com a cabeça e continuava com os elogios. Apesar de pedir para que ele parasse todas as vezes que ele fazia, eu nunca desejei verdadeiramente que ele parasse. Eu amava como ele reparava em mim.

Encaro o chão ao sentir todo o peso em minhas costas novamente.

Apenas queria você de volta, Ethan.

Ding Dong.

Paraliso ao ouvir o som da campainha novamente, pelo segundo dia seguido. Mesmo sabendo que não é certo, eu sinto esperança novamente. Sabendo que mesmo sendo impossível, tenha a chance de ser algo dele.

Meus passos são rápidos até a porta. É como se eu estivesse correndo até ele novamente.

Assim que abro a porta e me deparo com o mesmo envelope e com a mesma tulipa azul eu travo. Dessa vez nem olho ao redor para ver se vejo algo ou alguém, só pego a carta. Fecho a porta e me sento no sofá. Minha respiração está descompassada.

Como no dia anterior, não há nenhuma identificação na carta, a única coisa escrita é o número dois em algoritmo romano. Sem pensar muito, abro a carta rapidamente.

"Querida Clare,

Espero que tenha dormido bem, e que a minha carta de ontem não tenha te assustado. Mas você sempre me chamava de louco, pelo motivo de eu sempre arranjar algum meio de fazer algo, até para as coisas consideradas "impossíveis". Você me dizia que isso era o que me tornava diferente dos outros caras.

Ainda me lembro daquele dia, quando te beijei pela primeira vez. Acho que você nunca pensou que o seu primeiro beijo seria em um show do Coldplay, você sempre detestou músicas assim. Já disse que você estava linda? Nunca pensei que você poderia ficar mais linda que aquele dia do parque, mas sim, você me surpreendeu outra vez.

Seus longos cabelos estavam soltos, e os seus olhos reluziam por causa das luzes. Naquele momento eu poderia me afogar neles, e eu não reclamaria.

Já tinha alguns meses que nos conhecíamos, mas eu poderia jurar que parecia uma eternidade. E naquele dia eu planejava mudar tudo. Abriria o meu coração para a menina mais linda que já tinha conhecido.

Ainda me lembro do seu semblante cheio de confusão quando segurei o seu pulso e saímos no meio da multidão, em direção as escadas. Naquele momento apenas queria que fossemos apenas eu e você, no nosso mundo particular. Subimos até o telhado, e durante todo o caminho você ria e me chamava de louco diversas vezes, mas valeu a pena, pode acreditar.

Pois quando estávamos lá em cima, longe de tudo e todos, com nossos olhos conectados, com apenas as estrelas nos observando, eu sei que valeu a pena.

Porque foi a primeira vez que a beijei.

Sempre seu,

Ethan."

Fecho os olhos ao passo em que todas as memórias me atingem com força.

Não consigo acreditar que realmente seja você, Ethan.


***

Abraço minhas pernas e me encolho no canto do sofá. Estou assim quase o dia todo encarando a entrada da casa. Estou completamente esgotada.

Quando o Ethan se foi, ele deixou mais que um vácuo há ser preenchido. Ele levou consigo boa parte de mim, e o que sobrou não foi o suficiente para suprir a dor de sua partida.

Não sei exatamente quem está por trás dessas cartas, não sei quem as deixa em minha porta, entretanto não faço tanta questão de saber. Depois de tantos meses eu o sinto novamente. Eu sinto a esperança crescer dentro de mim.

Sei que não é certo e nem saudável, porém não é como se eu me importasse. Eu preciso dele. Eu necessito de sua presença perto de mim.

Apesar do medo absurdo que estou sentindo, ele ainda não é maior que meu amor por Ethan. Por mais que doa admitir eu ainda o amo com todas as minhas forças, e não tenho certeza se esse amor irá diminuir ou sumir ao longo do tempo. Afinal, ele deixou de ser alguém da minha vida, agora do meu passado, para se tornar parte de mim.

Ding Dong.

Todos os pensamentos somem e dão lugar para a ansiedade. Engulo em seco e me coloco de pé, refaço o mesmo caminho pelo terceiro dia seguido.

Assim que pego a carta que como as outras possui apenas o número três em algoritmo romano na sua identificação e a tulipa azul, fecho a porta e abro o envelope pardo.

Sinto meu coração na minha boca, porém isso não me impede de continuar.

"Querida Clare,

Nunca pensei que a vida fosse uma caixinha de surpresas cruéis. Ou que o tempo passasse tão rápido ao ponto de em um momento estarmos felizes, com as pessoas que amamos, e em outro momento estarmos em uma cama de hospital, com vários fios conectados a você, enquanto um cara de branco diz ao seu lado que você possui uma doença grave.

Não queria me lembrar de você Clare. Dos seus olhos azuis mergulhados em lágrimas todas as vezes que você entrava naquela porta do meu quarto, ou todas as vezes que ouvia você chorar baixo a noite, quando achava que eu dormia. Minha vontade era de levantar e de te colocar nos meus braços e dizer que estava tudo bem. Mas além de louco, eu era um mentiroso, pois eu sabia que as coisas não eram tão fáceis assim.

Como eu queria voltar naquele dia do nosso primeiro beijo em baixo das estrelas. Como eu queria voltar a primeira vez que eu te vi.

Mas eu não podia.

A única coisa que eu podia fazer naquele momento, era pensar em você, e eu me mantive forte por você.

Eu nunca quis que você passasse por algo assim. Naqueles dias, pensava se tinha sido uma boa ideia termos no conhecido, mas nem sei porque cheguei a pensar nisso. Porque você com toda a certeza do mundo, foi a melhor coisa que aconteceu comigo.

A melhor de todas, Clare.

Sempre seu,

Ethan."

Você é a melhor parte de mim, Ethan.


***

— Joshua? — Pergunto surpresa.

Engulo em seco ao encarar olhos castanhos tão semelhantes com os dele. O garoto um pouco mais novo que eu dá um sorriso de canto e me encara. Fazia tempo que eu não o via.

Todos ficaram extremamente abalados com a morte de Ethan, principalmente Joshua, seu irmão mais novo. Antes eu achava engraçado o fato dos dois serem tão parecidos um com o outro, mas hoje não consigo distinguir se acho mais reconfortante ou aterrorizante.

— Olá Clare. — Ele diz com uma voz suave. — Sei que está sendo estranho para você receber essas últimas cartas. — Ele sabe das cartas? O encaro confusa. — Mas você sabe como Ethan era louco por você. Chegava a ser irritante. Ele sempre comprava coisas azuis, dizia que ele se sentia mais perto de você assim. — Ele faz uma pausa antes de continuar. — Antes que ele morresse, ele me fez prometer que eu faria isso. Foi o seu único pedido antes de partir. Ele disse que queria que fosse especial para você, e que mesmo que não pudesse fazer isso sozinho, ainda sim queria te surpreender.

— Foi você? — Perguntei com lágrimas nos olhos. Ele acenou.

— Ele as escreveu antes de ir, fiquei encarregado apenas de entrega-las para você. Ele me pediu para que fosse surpresa, ele gostava de todo esse mistério, você sabe. — Ele disse sorrindo. — Enfim, de qualquer modo queria apenas te entregar isso.

Minha boca se abre ao ver o garoto estender um buquê de tulipas azuis e uma pelúcia em minha direção. Pego tanto as tulipas quanto a pelúcia de sua mão. Minhas lágrimas lutam para sair.

— Não sei quando iremos nos encontrar novamente, por isso quero te dizer que espero que você seja feliz, Clare. O Ethan amava você mais que a própria vida. Seja feliz por ele. — Mordo os lábios ao sentir uma lágrima escorrer. — Aliás, feliz dia dos namorados.

— Eu o amo. — Digo entre as lágrimas.

Joshua acena com um sorriso triste e vai embora.

Entro para dentro e me sento no chão frio. Encaro as tulipas e percebo que por cima há um envelope pardo. O pego com pesar e o abro sabendo que é o último.

"Querida Clare,

Oi meu amor. Como está? Espero que bem.

Soube que hoje é o Dia dos Namorados por aí. Como o tempo passa rápido. Ainda lembro da sensação de ter você nos meus braços nessa mesma data do ano passado. Enquanto ríamos e fazíamos planos para o futuro. Só de imaginar uma garotinha com os seus olhos, já me enche de felicidade.

Nunca pensei que poderia existir outra dor além da de perder alguém que amamos. Existe outra igualmente cruel, que é a de deixar quem amamos.

Me dói tanto saber que você sofreu Clare. Como eu queria que tudo tivesse acontecido de outra forma.

No último dia, o dia em que te deixei, não me despedi como devia. Na verdade, nem sei se conseguiria fazer isso. Porque se tivesse a visto antes, não teria a deixado ir, o que te faria sofrer ainda mais.

Quando estava naquela cama, a única coisa em que eu pensava era você, apenas você, meu amor. O engraçado, é que o meu quarto tinha uma janela enorme onde eu conseguia ver o céu, azul claro e sereno. Depois que te conheci, o azul se tornou a minha cor favorita, ela sempre me faz pensar em você, sabia? A cor dos seus olhos se tornou a minha favorita em relação as outras.

Mas, ao escrever essa última carta ou as outras, a minha intenção não é faze-la sofrer ou reviver o passado. Eu quero que você siga em frente. Eu sei que pode parecer estranho eu dizer isso depois de tudo, mas quero que você viva.

Sinto muito Clare. Por tudo.

Eu sei que fui apenas uma página na sua vida, mas saiba que você foi tudo de mais precioso que eu poderia ter. Você me mudou, e eu serei eternamente grato por isso.

Espero que você seja a mulher mais feliz do mundo inteiro. E eu sempre estarei ao seu lado, não importa onde.

Antes de terminar, espero que tenha gostado das flores, e que o Joshua tenha escolhido as mais bonitas, já que são as suas favoritas.

Eu sempre irei te amar Clare.

Ps: Eu sei que você deve estar me chamando de louco nesse exato momento por fazer essa loucura das cartas. Mas é isso que eu sou:

Completamente louco por você.

Sempre seu,

Ethan."

Você ainda está vivo em mim, Ethan.

Eu sempre amarei você.

30 de Septiembre de 2019 a las 17:08 2 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

Conoce al autor

JuVick Sou formada em Hogwarts, e vivo atualmente em Nárnia. Sou considerada uma bruxa nova, já que tenho apenas 19 anos. Sou uma amante do terror, suspense/mistério e principalmente do romance, sim sou daquelas que adoram um A Bela e a Fera, ou até mesmo 50 Tons de Cinza. Acredito que os livros são os melhores amigos que uma pessoa pode ter. E se você é um aspirante a escritor, com certeza é uma pessoa especial. ;)

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FD Felipe Davi
Parabéns ótimo texto, me fez lembrar algo que fiz no passado e que estou tentando desfazer. Adorei
October 15, 2019, 22:52

  • JuVick JuVick
    Super obrigada! 😆 October 17, 2019, 12:17
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