lara-one Lara One

Você já experimentou fazer reformas em sua casa? Contratar ‘pessoal especializado’? E perguntou no quê eles são especializados? E quando dois agentes estão doidos de desejo, mas... Imprevistos acontecem? Dedicado às bandas brasileiras dos anos 80. Pra galera da minha geração matar a saudade.


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

#x-files #arquivo-x
0
5.0mil VISITAS
Completado
tiempo de lectura
AA Compartir

S06#08 - WARNING: UNDER CONSTRUCTION !!!


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

[Som: Ultraje a Rigor – Nós Vamos Invadir sua Praia]

Abre a tela.

Close do caminhão que para em frente à casa. Começam a saltar operários de macacões e capacetes.

O Baiano passa lentamente, com um rádio-gravador no ombro, agitando os cabelos rastafáris.

O Paulista passa apressado com uma cesta de piquenique, mascando chiclete.

O Carioca vem com uma barraca, músculos todos a mostra, rabo de cavalo, calças jeans justas e camiseta regata, todo suado.

O Gaúcho carregando ferramentas, um suporte com a cuia de chimarrão e uma churrasqueira, invocado.

O Mineiro entra dirigindo uma escavadeira, calmamente, sem pressa, com um capim na boca.

Corta pra Mulder e Scully parados no jardim, que viram o rosto ao mesmo tempo, incrédulos, acompanhando as 'figuras' que invadem seu quintal.

MULDER: - Tem certeza de que foi uma boa ideia? Eu juro que nunca havia visto esta espécie de alienígenas!

SCULLY: - ... Ninguém mais quis pegar o serviço. O que significa essa música?

MULDER: - (PÂNICO) O que significa aquela barraca? E aquela churrasqueira? E pra quê uma escavadeira? Quanto tempo eles vão levar pra colocar um piso ao redor da piscina e instalar uma nova piscina de fibra?

SCULLY: - Mulder... Agora fiquei nervosa. É a minha casinha, dos meus sonhos!!! Não quero botá-la abaixo!

MULDER: - Scully, vamos pra dentro. Não quero ficar aqui fora, porque tenho a sensação de que vou sinceramente me arrepender disso...

VINHETA DE ABERTURA: OS PEDREIROS ESTÃO LÁ FORA!!!



BLOCO 1:

Residência dos Mulder – Virgínia – 7:38 A.M.

[Som: RPM – Olhar 43]

Mulder sentado à mesa, tomando café e lendo o jornal. Scully fazendo torradas. Mulder alterna a atenção do jornal pro traseiro de Scully. Scully despreocupada, olha pela janela, admira o tempo, continua seus afazeres.

MULDER: - Sabe de uma coisa?

SCULLY: - Sei. Está um lindo dia pra levar Victoria pra passear. Que droga ter que trabalhar hoje!

MULDER: - Não. Você é gostosa. Muito gostosa. Agora entendi que não estou com nenhum problema psicológico do tipo 'ser viciado em sexo'. É que com você é impossível não sentir tesão a qualquer hora do dia. Você é uma perdição pra qualquer homem.

Scully vira-se pra ele, sorrindo. Mulder se faz de difícil, volta a atenção pro jornal. Scully coloca as torradas na mesa. Mulder se levanta, dando um olhar matreiro pra ela. Pega uma torrada. Aproxima-se da porta de tela, comendo a torrada.

MULDER: - Espero que consertem logo essa piscina. Estou doido pra cair naquela água com você, antes que o inverno chegue.

Scully se aproxima.

SCULLY: - Bem, pelo menos são pontuais. Chegaram cedo. Parecem dispostos a trabalhar.

MULDER: - ...

SCULLY: - A agência diz que são profissionais. Imigrantes legalizados provenientes do Brasil... Por que está com essa cara, Mulder?

MULDER: - Aquela barraca está me intrigando...

SCULLY: - Não se preocupe. Nos deram um prazo de três dias pra fazerem todo o serviço.

MULDER: - Parece mais que estão se mudando pro meu quintal e que vão exigir posse legal de terra por usucapião!

SCULLY: - Mulder! Deixe os rapazes!

Mulder pega o paletó. Olha pra Scully.

MULDER: - Vamos trabalhar. Mas se quando eu voltar, alguma coisa estiver fora do lugar, eu vou correr daqui até a América do Sul só pra atirar neles! E pouco me importa se são pentacampeões!

Scully se aproxima de Mulder, afagando o peito dele. Mulder olha debochado pra ela.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Quero fazer coisinhas. Estou entediada de fazer coisinhas rápidas e sem qualidade. Quero coisinhas qualitativas e longas. Coisinhas gostosas, diferentes e ousadas.

MULDER: - Scully, para com isso, a gente tá atrasado, você fica me provocando e eu já tô ficando nervoso.

SCULLY: - Tá bom... Mas me promete que se veste de Adão pra mim? Hum?

MULDER: - Adão???

SCULLY: - Sim! Ai, Mulder, diz que sim! Hum? Que tal? Eu de Eva, você de Adão? Hum??? Eu te dou minha maçã e você me dá a sua cobra...

MULDER: - Uh! Deus!

Mulder coloca as mãos na frente das calças.

MULDER: - Vamos embora, antes que aconteça algum imprevisto por aqui e eu acabe sujando minhas calças!


Arquivos X – 9:22 A.M.

[Som: Kid Abelha e os Abóboras Selvagens – Como eu Quero]

Mulder entra na sala. Scully sentada, se abanando com uma pasta, blusa semi- aberta.

SCULLY: - Que calor horrível!

MULDER: - Não estou com calor. Aumente o ar condicionado.

Scully levanta-se. Olha pra ele debochada. Afasta as pernas e se abana embaixo da saia. Inclina a cabeça pra trás, fechando os olhos.

SCULLY: - Hum... Parece que está refrescando.

MULDER: - (PÂNICO) Pelo amor de Deus, não faz mais isso na minha frente mulher!

Mulder todo nervoso, tropeça na lixeira, bate contra a escrivaninha e tenta sentar-se, mas cai no chão errando a cadeira. Scully olha pra ele, segurando o riso. Mulder se levanta.

MULDER: - (DEBOCHADO) Fiz isso intencionalmente, meus movimentos são friamente calculados.

Mulder senta-se. Scully se aproxima de Mulder. Inclina-se sobre ele, ficando entre as pernas dele, passando as mãos em sua barriga e a língua ao redor dos lábios dele.

SCULLY: - Sei... Calcule então os movimentos que eu quero fazer com a pélvis hoje à noite.

MULDER: - Scully, aqui não. O que houve com você?

SCULLY: - Hum... Estou no cio...

MULDER: - Que droga! Logo hoje?

SCULLY: - (SEM ENTENDER)

MULDER: - Me escalaram pra ajudar nas investigações do assassino das babás de Maryland.

SCULLY: - Isso significa que vai ficar longe de mim o dia todo?

Mulder abre a gaveta. Pega o celular. Mostra pra ela.

MULDER: - Sabe o que é isso? Hum?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não. É uma banana de dinamite?

MULDER: - Engraçadinha. A banana de dinamite tá dentro das minhas calças pedindo pra você acender o pavio. Eu quero dizer que agora eu coloquei duas linhas nesse aparelho. Uma pra você. Entendeu?

SCULLY: - Hum...

MULDER: - Agora você e eu podemos, sem preocupação alguma, fazer aquelas coisas peculiares que gostamos de fazer por telefone, sem correr o risco de depois Skinner ficar chateando porque a linha estava ocupada por duas horas! E Maryland é pertíssimo da Virgínia, entendeu?

SCULLY: - Hum... E se eu achar melhor ir pra algum motel em Maryland? Hum?

Mulder levanta-se. Coloca o celular no bolso. Olha maroto pra ela. Pega um pedaço de papel e um lápis. Escreve algo. Entrega pra Scully.

MULDER: - Se for um caso urgente, Dana Scully, ligue pro 'amante profissional' nesse número, que ele vem correndo, faz sua parte e volta sem ninguém desconfiar de nada.

Mulder sai. Scully olha pro papel. Sorri. O telefone toca. Ela atende, colocando o papel sobre a mesa de Mulder.


Residência dos Mulder - 10:01 A.M.

[Som: Camisa de Vênus – Sinca Chambord]

O Carioca com uma picareta quebrando o piso do jardim. O Gaúcho ao lado dele.

CARIOCA: - Vai arrumar o que fazer, 'bródi'. Larga do meu pé.

O Mineiro sinaliza pro Baiano, que está na escavadeira. O Baiano adentra a escavadeira pelo jardim até a piscina. Nancy observa escondida atrás da cerca de arbustos.

MINEIRO: - Vem, mais pra direita... Quebra aquele lado ali desse trem!

BAIANO: - Onde fica a direita?

PAULISTA: - É só puxar a marcha pra direita, Mumm-Ha!

BAIANO: - Oxe! Mumm-Ha é sua avó, palhaço! Deixa minhas tranças rastafáris em paz!

O Baiano dá a marcha. Emperra. Ele insiste. A escavadeira sobe.

MINEIRO: - Só mais um cadinho... Assim... Vem mais um pouquinho... Chega perto daquele trem ali...

O Baiano tenta, mas emperra. A escavadeira vai pra esquerda. O Paulista põe as mãos na cabeça.

PAULISTA: - Não, mano! Não! A casa!

Estrondo. Nancy arregala os olhos.

GAÚCHO: - A la pucha, tchê!

PAULISTA: - Mano, o que você fez??? Ôrra meu, olha a merda! Você tirou um pedaço da varanda da dona, cara!


Arquivos X – 10:13 A.M.

[Som: Raul Seixas – Não Quero Mais Andar na Contramão]

Carter entra na sala, com aquela sua cara de tapado ou chapado? Bandana na cabeça, camisa cheia de desenhos de palmeiras, bermuda e sandálias. Mãos nos bolsos. Scully olha pra ele, incrédula.

SCULLY: - Algum problema, senhor?

CARTER: - Não... (FUNGANDO) Dor de cabeça...

SCULLY: - O senhor está gripado?

CARTER: - Não... É... (FUNGANDO) Alergia ao pó.

SCULLY: - (SEGURA O RISO) Quer alguma coisa?

CARTER: - (PERDIDO) Eu? Nem sei o que estou fazendo aqui! (RINDO) E você o que faz aqui? (APONTA PRA ESTANTE) Desde quando vocês criam gnomos?

SCULLY: - (OLHA PRA ESTANTE SEM VER NADA) Gnomos?

CARTER: - Eu acredito em gnomos e essas coisas estranhas. Tem um que mora dentro do meu armário... O que você faz aqui?

SCULLY: - (DOIDA PRA RIR) Senhor, eu... Eu trabalho aqui.

CARTER: - Ah! É mesmo! Pode ir pra casa, afinal hoje é sábado e se eu pudesse estaria na praia, curando a ressaca da festa de ontem no Hawaii... Vá pra sua casa. Eu permito. Vá, vá! Vá pra praia! Tenho ingressos pra um show do Iggy Pop. Quer?

SCULLY: - Não, obrigado. Receio que não possa ir.

Scully sorri. Pega a bolsa e sai. Carter observa a sala, meio 'aéreo'. Pega um papel e um lápis e começa a anotar algo. Então vê o bilhete sobre a mesa de Scully.

CARTER: - (ABRE UM SORRISO) Amante profissional???

Carter olha pra todos os lados e coloca o bilhete dentro do paletó, saindo de fininho.


Residência dos Mulder – 10:15 A.M.

[Som: Eduardo Dusek – Doméstica]

Os cinco pedreiros, parados olhando um pedaço da parede da varanda caída ao chão.

PAULISTA: - Nego doido, olha só o que você fez! A mulher vai nos matar, mano!

BAIANO: - Oxe! A culpa é minha se me dão uma máquina que tá travada?

CARIOCA: - Calma, tudo tem solução, peixe. Enquanto a gente faz o lance da piscina, o Gaúcho e o Mineiro ajeitam essa droga antes que os donos cheguem.

MINEIRO: - Uai? Por que eu?

O Carioca pega a picareta e continua quebrando o piso. O Gaúcho e o Mineiro tentam erguer a parede, com ajuda do Paulista.

PAULISTA: - Bota força nisso, gente! Mais um pouco, nada que uns preguinhos não resolvam.

O Carioca dá um golpe com a picareta no piso. Jorra água pra todo o lado. O Carioca coça a cabeça.

CARIOCA: - Seguinte, brodis... Acho que peguei o encanamento de água.

Eles olham pra trás, deixando a parede cair no chão. O Paulista põe as mãos na cabeça.

PAULISTA: - Meu Deus! Vamos ser deportados desse país! Esses gringos vão esfolar nosso couro, seu idiota!

GAÚCHO: - Eu acho que vou me mandar à la cria, que a peleia aqui vai ser feia!

CARIOCA: - Eu ia adivinhar que o encanamento passava por aqui? Nunca vi uma coisa dessas, quem foi o engenheiro dessa merda? Vai lá, desliga o registro. Vá você que o baiano até chegar lá já acabou a água do quarteirão todo!

O Baiano faz careta. O Paulista sai correndo, agacha-se perto do registro. Faz força.

PAULISTA: - Não fecha! Porra, me deem uma chave!

O Gaúcho traz a chave. O Paulista força, o registro quebra.

GAÚCHO: - Barbaridade! Olha aí o que tu fez!

PAULISTA: - Cala a boca, gaúcho! Vá à frente da casa e desliga o registro geral! Rápido antes que alague tudo por aqui e não dê pra trabalhar!


FBI - Gabinete do diretor – 10:38 A.M.

A secretária entra. Ninguém na sala. Coloca a pasta sobre a mesa. Vai sair mais volta. Olha pro bilhete que aparece saindo debaixo de um papel. Pega-o. Sorri. Pega o telefone e disca.

SECRETÁRIA: - ... Amanda, você nem imagina o que descobri! Acho que já sei o que vamos fazer de surpresa pro aniversário da Dorothy! Anote aí: Amante profissional, telefone...


Residência dos Mulder – 12:03 P.M.

[Som: Ira – Núcleo Base]

Scully entra com o carro, observando nervosa a água embarrada pelo ladrilho. Victoria sentada na cadeirinha. Scully estaciona o carro na frente da garagem e desce. Olha em pânico pro jardim. Põe as mãos na cabeça.

Close do jardim todo alagado, a piscina embarrada, a varanda caída, a casa do cachorro debaixo da escavadeira.

SCULLY: - O que vocês fizeram com o meu jardim????

PAULISTA: - Aí, agora vão explicar pra ela. Eu tô fora. A gringa tá irada!

O Mineiro se aproxima calmamente.

MINEIRO: - Assim, dona. Lamentamos muito, mas houve um imprevisto. De acordo com a planta da sua casa, não passava nenhum encanamento debaixo desse trem, digo, do ladrilho da piscina. Entretanto, quando fomos destruir o trem, digo, o piso, pegamos o cano de água principal. Mas está tudo sob controle. Ocê pode ficar tranquila. Estamos consertando.

SCULLY: - E a minha varanda? O que houve com a minha varanda?

O Baiano se aproxima. O Carioca o empurra e faz charme com o corpo.

CARIOCA: - Desculpe. A culpa foi do Baiano, princesa.

Scully olha pra ele, encabulada.

CARIOCA: - Mas eu vou consertar sua varanda todinha, princesa. Vou deixar sua varanda novinha em folha e do jeito que você quiser, com todo o carinho. (PISCA O OLHO) Por você, princesa.

Scully segura o riso. Volta pro carro. Pega Victoria.

SCULLY: - Filha, vamos entrar que a tarde vai ser longa.


1:38 P.M.

[Som: Blitz – Você não soube me amar]

Scully abre a porta da cozinha e olha pro jardim.

SCULLY: - Ei!!!!!!!! O que houve com a água?

BAIANO: - Já consertamos, dona!

SCULLY: - Mas não sai água na pia da cozinha! Como vou fazer o almoço?

O Carioca larga a picareta. Pega a caixa de ferramentas e se aproxima.

CARIOCA: - Deixa eu ver pra você, princesa.

O Carioca passa por Scully, todo suado, músculos à mostra e entra na cozinha. Scully ergue as sobrancelhas, debochada. Victoria sentada na cadeirinha observa. O Carioca abre a pia e se agacha.

CARIOCA: - Tem um cano rachado aqui, princesa. Mas não se preocupe, sou encanador e conserto rapidinho.

Ele se deita no chão. Coloca a cabeça pra dentro da pia.

CARIOCA: - Princesa, segure a torneira pra mim.

SCULLY: - Como vou fazer isso?

CARIOCA: - Preciso que segure firme. Vou girar o cano.

Scully ergue os ombros. Segura a torneira, se apoiando na pia. O Carioca tira a cabeça de dentro da pia e olha pras pernas dela.

SCULLY: - Tá bom assim?

CARIOCA: - (SORRI) Muito bom! Continua segurando. Segura firme e com cuidado, princesa.

SCULLY: - Tá.

CARIOCA: - Eu vou arrumar todo o seu encanamento. Vou deixar novinho em folha.

Mulder entra na cozinha. O Carioca não percebe. Mulder põe as mãos na cintura, olhando a cena, invocado.

CARIOCA: - Sabe, princesa, talvez eu precise que você pegue no cano.

Mulder se aproxima. Empurra Scully pra trás. Fica segurando a torneira. Victoria põe as mãozinhas no rosto, pressentindo a confusão.

CARIOCA: - Gira a torneira, princesa. Isso... Bem devagarinho... Vou pegar uma chave e girar o cano pra você... Vou pegar no cano agora... Você pode se abaixar aqui e pegar no cano pra mim?

MULDER: - ...

Scully segura o riso, observando.

CARIOCA: - Princesa, se abaixe e pegue no cano.

MULDER: - (ENCIUMADO/ SÉRIO)

O Carioca sai de debaixo da pia e dá de cara com Mulder o encarando sério.

MULDER: - Quem sabe você pega no meu cano? Ahn?

O Carioca se levanta, dá um sorriso sem graça e sai porta à fora. Mulder caminha até a porta. Olha pra fora.

MULDER: - (GRITOS/ ENCIUMADO) Mais alguém aí quer fazer servicinhos aqui dentro? Ahn? Estou esperando!

Mulder fecha a porta. Scully fica boba de convencida. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Vim almoçar em casa e vejo essa patifaria. Vou bater naquele cara se chegar a um metro dessa cozinha!

SCULLY: - Mulder! Ele só estava consertando o cano.

MULDER: - Sei bem que cano ele queria consertar. O conserto é lá fora e não aqui dentro. Se pegar um desses idiotas na minha casa eu mato! Você é muito ingênua, Scully, não percebe a maldade à sua volta.

SCULLY: - ... Que maldade? Mulder, por falar nisso, você já fez o que eu pedi semana passada, que você disse que era uma maldade pedir-lhe uma coisa dessas?

MULDER: - Aquilo o quê?

SCULLY: - O exame!

MULDER: - Ah! E-eu... Eu vou fazer hoje.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Eu juro que vou fazer!

Mulder sai da cozinha. Scully olha pra Victoria.

SCULLY: - Hum... Ficamos bravos... E não somos ciumentos!

VICTORIA: - (RINDO/ BATE PALMAS) Ox! 'Mento'!

SCULLY: - (RINDO) Mamãe vai fazer a sua sopinha rapidinho. Estamos muito atrasadas hoje.


Thami's – Fast Food – Maryland - 5:12 P.M.

Mulder sai pela porta dos fundos da lanchonete. Policiais no local. Mulder aproxima-se da lixeira. Olha pra dentro. Faz careta.

MULDER: - Quero fotos disso. Depois removam o corpo. Onde está a maldita perícia?

Os caras da perícia se aproximam, isolando a área. Mulder os observa. O celular toca. Mulder puxa o celular. Olha a tela, intrigado. Sorri.

MULDER: - Hum... É a linha exclusiva. Não conheço esse número, ela deve ter ido pra um motel mesmo... Scully, menina má...

[Som: Herva Doce – Amante Profissional]

Mulder afasta-se dali e atende.

MULDER: - (DEBOCHADO) Aqui é o amante profissional.

DOROTHY: - Hum... Consegui seu telefone com uma amiga. Como você é?

MULDER: - Eu? Bom... (RINDO) Moreno, alto, bonito, sensual... Olhos verdes... Porte físico invejável, carinhoso, inteligente, nível superior, bem dotado... Sou um cara de presença. Uma máquina de sexo e sensualidade.

DOROTHY: - (RINDO) Bem dotado o quanto?

MULDER: - 23 cm de muito prazer e circuncidado...

DOROTHY: - Hum... Circuncidado? Interessante! Você pratica sado?

MULDER: - Pratico o que você quiser, onde quiser, quando quiser. Posso levar você a descobrir prazeres que nunca imaginou em sua vida.

DOROTHY: - Gosto de bater. Sou dominadora.

MULDER: - Sem problemas. Pode me dominar inteirinho que eu não vou reclamar. Adoro ser dominado por uma mulher como você.

DOROTHY: - Sou casada, preciso de sigilo. Pode me encontrar hoje à noite?

MULDER: - Ah! (DEBOCHADO) Você é casada... Não se preocupe, sou sigiloso e discreto. Sem envolvimento emocional, apenas financeiro.

DOROTHY: - Me encontre hoje, às 7 da noite, no seguinte endereço...

MULDER: - Certo... (PUXA A CADERNETA DE ANOTAÇÕES)

DOROTHY: - Rua 13, número 800, apto. 707. Washington.

MULDER: - ... (ESCREVENDO) Ok. Estarei em sua porta, doidinho, às 7 da noite.

DOROTHY: - Você é daqueles caras que conseguem se empolgar rapidinho?

MULDER: - Acredite, garota, eu posso funcionar rapidinho e a noite toda.

Mulder desliga.

MULDER: - (EMPOLGADO) Essa Scully... Sabia que ela ia arrumar algum lugar só pra ficar mais empolgante!


Residência dos Mulder – 6:56 P.M.

[Som: Alguém – Kiko Zambianchi]

Ellen estaciona o carro atrás do carro de Scully. Percebe a sujeira no ladrilho e vozes masculinas no fundo da casa. Curiosa ela vai até o jardim dos fundos. Arregala os olhos.

Corta pra Scully, na cozinha, fazendo o jantar. Ellen entra pela porta dos fundos. Ergue os braços.

ELLEN: - (CANTANDO) It's rainning men!!!!!!! Aleluia!!!!!!!!!

SCULLY: - (RINDO) Para, sua louca!

Ellen entra. Observa pela porta de tela.

ELLEN: - Minha nossa, Dana! Aquela muda de árvore de homem já começou a dar frutos?

SCULLY: - São os rapazes que vieram fazer a reforma da piscina.

ELLEN: - Eles reformam uma mulher entediada também? Olha só aqueles corpos másculos e suados em seu quintal, sua sortuda!

Ellen aproxima-se de Scully e rouba um pedaço de cenoura. Come.

ELLEN: - (BOCA CHEIA) Onde está o bem dotado?

SCULLY: - Trabalhando.

ELLEN: - Em pleno sábado? A essa hora? Ele devia é estar trabalhando lá em cima na sua cama!

SCULLY: - Ellen!

ELLEN: - O que está cozinhando?

SCULLY: - Estou fazendo frango a xadrez, arroz branco, salada de palmito...

ELLEN: - Hum, acho que vou jantar por aqui.

SCULLY: - Pode jantar, mas depois caia fora. Hoje quero dar um trato no meu marido. Nem deixei Victoria dormir à tarde pra ela despencar na cama hoje e só acordar amanhã.

ELLEN: - É isso aí! Assim que se fala! (SOCANDO O AR, FEITO BOXEADOR) Acaba com ele! Derruba o homem no 13º round. Sim, porque no primeiro é burrice!


7:01 P.M.

[Som: Léo Jaime – Conquistador Barato]

Mulder desce do carro em frente ao prédio, empolgado. Entra no prédio. Aperta o andar do elevador.

MULDER: - (SORRINDO CONVENCIDO) Eu hoje vou me dar bem... Só me aguarde, Scully... (RINDO) Amante profissional...


Residência dos Mulder – 7:02 P.M.

[Som: Metrô – Tudo pode mudar]

Ellen com Victoria no colo, dando sopinha pra ela. Scully servindo a mesa.

SCULLY: - Engraçado... Mulder nem ligou a tarde toda.

ELLEN: - Deve estar atarefado.

SCULLY: - Milagre! Porque quando ele trabalha sozinho, liga de hora em hora pra saber como estou, o que estou fazendo, se estou com saudade dele, que chega me dar vontade de dizer: Mulder, você não tem trabalho pra fazer, então vem pra casa! ... Vou ligar pra ele daqui a pouco pra saber se vem pro jantar. Eu acho que ele não vem.

Estrondo. Ellen arregala os olhos. Scully olha pra porta da cozinha que cai ao chão. O gaúcho entra sem jeito.

GAÚCHO: - Desculpe, madame... Acho que... Sem querer derrubamos sua porta...

Scully fecha os olhos. Ellen segura o riso. Victoria põe as mãos no rosto.

GAÚCHO: - Mas não se preocupe, vamos arrumar rapidinho...


7:04 P.M.

[Som: João Penca e seus Miquinhos Amestrados – Esse meu cabelo]

Mulder sai do elevador, ajeitando a gravata e o cabelo, todo convencido, metido a 'Johnny Bravo'. Tira o chiclete da boca. Passa em frente a um espelho. Volta. Se ajeita, olhando-se no espelho. Atira beijo pro espelho.

MULDER: - Gostoso! Eu transaria com você, seu pedaço de mau caminho!

Mulder caminha pelo corredor, procurando o número. Para em frente ao apartamento. Bate à porta. Completamente empolgado.

DOROTHY (OFF): - Só um momento, já vou abrir!!! Estou ao telefone!

Mulder sorri convencido. O celular toca. Mulder atende sem olhar a tela.

MULDER: - Mulder.

SCULLY (OFF): - Onde está?

MULDER: - (SEDUTOR) Advinha? Hum?

SCULLY (OFF): - Não faço ideia! Em Maryland?

MULDER: - Deixa de joguinho, eu tô excitado. Abre logo essa porta.

Corta pra Scully na sala. Ela caminha até a porta da frente. Abre a porta. Espia pra fora. Não vê Mulder.

SCULLY: - Onde você está?

MULDER (OFF): - Deixa de gracinha e abre essa porta que eu tô em estado de tesão!

SCULLY: - Que porta? A dos fundos?

Corta pra Mulder.

MULDER: - Scully, para de besteira. Abre de uma vez.

SCULLY (OFF): - Mulder, estou olhando pra fora e não vejo você!

A porta abre-se. Dorothy põe a cara pra fora. Sorri. Mulder olha pro celular. Olha pra Dorothy, em pânico, na maior fria.

SCULLY (OFF): - Mulder? Mulder, está aí?

DOROTHY: - Oi... Nossa! Você é melhor do que eu esperava!

Mulder desliga o celular.

MULDER: - (PÂNICO) Desculpe, foi engano. Apartamento errado.

Mulder sai pelo corredor, cabisbaixo, disfarçando. Bate na porta do apartamento ao lado. Dorothy, frustrada, volta pra dentro. Mulder volta correndo pro elevador. Entra no elevador. A porta do apartamento ao lado se abre. A velhinha põe a cara pra fora.

VELHINHA: - Quem é? Ahn? Quem está aí? É você, Frajola?


Residência dos Mulder - 8:49 P.M.

[Som: Rádio Táxi – Coisas de Casal]

Mulder sentado à mesa, com cara de poucos amigos. Scully o observa. Os dois jantando a luz de velas.

SCULLY: - O que aconteceu que não quer me contar?

MULDER: - (SÉRIO) Nada.

SCULLY: - (RINDO) Foi tão ruim assim?

MULDER: - Se eu nem contei e você já está se matando de rir da minha cara, imagina se eu contasse!

SCULLY: - Onde estava?

MULDER: - Estava tirando com a sua cara. Só isso. Queria fazer você de boba, pra abrir a porta e ficar me procurando.

SCULLY: - (RINDO) Tá bem... Então não falamos mais nisso. Vai voltar pra Maryland?

MULDER: - Preciso.

SCULLY: - Vou ligar pra você, meu amante profissional.

MULDER: - Acho melhor a gente parar com essas brincadeiras de se passar por estranhos. Você e o meu ego só me metem em fria!

SCULLY: - Por quê parar? Não se excita com elas? Eu fico perturbada!

MULDER: - Acredite, elas me deixam muito perturbado também. Não me ligue mais se passando por quem você não é. Ou pelo menos diga, 'Mulder é a Scully'. Avise que é você.

SCULLY: - (PREVENDO O QUE HOUVE/ SEGURA O RISO)

Mulder sério, jantando. Irritado.

SCULLY: - E então? Fez o exame?

MULDER: - Não tive tempo.

SCULLY: - Mulder! Quer parar com essas atitudes machistas? Você está na faixa dos 40 é essencial que faça um exame de próstata!

MULDER: - Eu não vou fazer nenhum exame de próstata! Nem sob ameaça de morte eu viro o meu traseiro pra um homem!

SCULLY: - Mulder, não é um homem, é um médico! E você precisa fazer um exame preventivo. É só um exame de toque, Mulder...

MULDER: - Não vou fazer! Nem de toque, nem de nada! Ninguém vai tocar no meu traseiro.

SCULLY: - Ah, não vai fazer? Então quer que eu faça em você?

MULDER: - (PÂNICO) Vou ver o médico amanhã. Prometo. Juro!

O celular toca.

MULDER: - Nem na hora do jantar eles me esquecem. (PEGA O CELULAR DE CIMA DA MESA) Alô? Não, é engano.

Mulder desliga. Scully o observa. O telefone toca de novo. Mulder atende.

MULDER: - (IRRITADO) Não, não é o amante profissional! Esse é o número do telefone do comedor da sua mãe, seu viado de merda!!!

Mulder desliga. Scully de sobrancelhas erguidas, louca pra rir.

MULDER: - (IRRITADO) Pra quem deu esse número?

SCULLY: - Pra ninguém.

MULDER: - Então por que mais de metade da população gay e feminina dessa região já me ligou me propondo coisas que eu nem sabia que existia???

SCULLY: - (RINDO) Não acredito! Só se alguém pegou o seu bilhete de cima da mesa.

MULDER: - Esqueça esse número. Vou ter que mudar. Você e sua mania de deixar os papéis por cima das mesas! Viu no que deu? Sabe lá quem pegou e espalhou meu número por aí e agora, além de agente do FBI, eu sou garoto de programa!

SCULLY: - (CURIOSA) E o que elas propõem? Hum?

MULDER: -(IRRITADO) Não vou dizer. Você não gostaria de saber o que a sociedade americana anda fazendo na calada da noite. Ficaria apavorada. Eu que sou um pervertido fiquei.

SCULLY: - Fala! Eu não vou rir de você. Talvez me excite... Diga... Hum???

MULDER: - (IRRITADO) Sadomasoquismo com tiras de couro, lamber pés de macho, sexo grupal, voyeurismo enquanto me masturbo, transar com uma mulher enquanto o marido observa, suruba com duas mulheres de 200 quilos e até me amarrarem de cabeça pra baixo numa árvore chupando um cara e com outro me comendo!

SCULLY: - (SOLTA UMA GARGALHADA ALTA)

Mulder fica emburrado.

SCULLY: - Descul... (GARGALHADA ALTA)

Mulder se levanta e sai da mesa. Scully para de rir.

MULDER: - Vou trabalhar. Não me ligue porque não vou atender mais aquela linha!

Mulder sai pela porta dos fundos, batendo a porta. A maçaneta cai no chão. Scully começa a rir de novo.

SCULLY: - Tadinho do meu marido... (RINDO) ... Olha as confusões em que eu meto o coitadinho! Hum... E eu me achava estranha por querer transar vestidinha com folhinhas de parreira...



BLOCO 2:

10:14 P.M.

[Som: Gang 90 & Absurdettes – Nosso Louco Amor]

Scully sentada no sofá, assistindo TV com Victoria e separando pipocas, colocando na boca da menina.

SCULLY: - Me lembre de avisar seu pai que a porta dos fundos não está abrindo por fora. Não sei o que esses malucos fizeram que estragaram minha porta... Calma, filha... Mamãe tem que tirar a casquinha, você pode se engasgar... Ai! Não morde o dedinho da mamãe!

A campainha toca. Scully leva a tigela junto e atende a porta. O homem de camisa social aberta, medalhão no pescoço, peito peludo e bigodão, olha pra ela.

HOMEM: - Residência do Senhor Mulder?

SCULLY: - Sim. Algum problema?

HOMEM: - (REVIRA O BOLSO DA CAMISA/ RETIRA UM CHEQUE) Sim, posso falar com ele?

SCULLY: - Ele não está. Mas posso dar recado.

HOMEM: - Senhora, o problema é este: O senhor Mulder... (LENDO O CHEQUE) Fox Willian Mulder... Bem, ele passou um cheque sem fundos pra minha 'empresa'.

SCULLY: - Sem fundos? Mulder não costuma fazer isso... Quanto é o cheque?

HOMEM: - 800 dólares.

SCULLY: - Nossa! Tudo isso? Só um momento...

Scully vai pra dentro. O Homem fica parado na porta, analisando as unhas, revelando um anel enorme de pedra azul. Scully volta, com a caneta e um talão de cheques. Preenche.

SCULLY: - Lamento o incômodo. (ENTREGA O CHEQUE)

O Homem devolve o cheque de Mulder e pega o de Scully.

SCULLY: - (CURIOSA) Onde ele passou esse cheque?

HOMEM: - Na boate 'Assanhadas e Molhadinhas'.

Scully cerra o cenho. O Homem vai embora. Scully fica catatônica, olhando pro cheque. Vai ficando vermelha, começa a bufar. Bate a porta.

SCULLY: - 800 dólares??? Boate? Assanhadas e Molhadinhas?? Ele me paga! Ah, mas ele me paga, aquele cachorro, safado, sem vergonha! Ele vai ver só! Vou esfregar esse cheque naquela cara safada e descarada dele!


11:39 P.M.

[Som: Cazuza – Exagerado]

Scully zanza pela sala, de camisola, soltando fogo pelas ventas, em frente à janela.

[Barulho de carro]

Scully corre pra cozinha. Pega a vassoura e corre pra porta da frente. Apoia a vassoura na parede.

SCULLY: - Hoje a coisa vai feder... Vai ter Mulder espalhado pela Virgínia inteira! Ah ele me paga!

Mulder entra, com uma rosa na mão. Fecha a porta. Scully de braços cruzados, batendo o pé no chão, o encarando, fula da vida. Mulder, cansado, nem liga. Tira o paletó. Tira o coldre. Olha pra ela. Se ajoelha oferecendo a rosa.

MULDER: - (PIDÃO) Amor da minha vida!!!!! Perdoe, me atrasei. Mas pode me bater, me jogar nesse chão, pisar em cima de mim que eu não ligo! Bate, bate que eu gosto!

SCULLY: - (IRRITADA)

Mulder se levanta.

MULDER: - Hum... Tá certo. Eu me atrasei, mas vou compensar rapidinho. Agora mesmo, minha deusa ruiva!

Mulder começa a se despir. Scully vermelha de raiva. Mulder fica nu na frente dela. Abre os braços.

MULDER: - Vem, vem pro seu Adão. Esqueci a folha de parreira.

SCULLY: - Eu vou te dar a folha de parreira, seu cachorro!!!!!!

Scully pega a vassoura e sai atrás dele pela sala. Mulder aos gritos.

MULDER: - O que foi que eu fiz???

SCULLY: - Sai da minha casa agora, seu tarado asqueroso doentio! 800 dólares? Tem noção de quanto é 800 dólares??? E a pobre da sua filha precisando de roupas!

MULDER: - Do que está falando?

Scully abre a porta. O empurra porta à fora. Tranca a porta.

SCULLY: - E vai dormir aí fora, seu cretino!

MULDER: - (BATENDO NA PORTA/DESESPERADO) Scully, pelo amor de Deus! Me deixa entrar, não posso ficar aqui fora, tá frio e eu estou completamente nu!!!!!!!

Scully desliga as luzes. Liga o alarme e sobe as escadas.


[Som: Barão Vermelho – Maior Abandonado]

Corta pra fora da casa. Mulder pelado, batendo desesperado na porta da frente.

MULDER: - (PIDÃO) Scully, me deixa entrar! Scullyzinha, não me deixe aqui fora, sozinho, abandonado, feito um cachorro!

Nada.

MULDER: - Scuuuuuuuuuuulllllllieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!

Os cachorros começam a latir. As luzes da vizinhança se acendem. Mulder, com as mãos em frente ao corpo, corre de fininho pro meio dos arbustos do jardim.

MULDER: - (RECLAMANDO) Eu mereço!!! Isso só acontece comigo! Devia me benzer porque o dia todo foi contra mim!


12:03 A.M.

[Som: Ultraje à Rigor – Pelado!]

Mulder bate na porta dos fundos, enquanto segura um galho de arbusto na frente do corpo.

MULDER: - (GRITANDO BAIXO) Scully, pelo amor de Deus, me deixa entrar! Vamos conversar!

Mulder sai da varanda. Atira uma pedrinha na vidraça do quarto.

MULDER: - Scully, eu sei que está acordada! Eu estou com frio! Abre a porta e vamos conversar!!!!! Scully, pelo amor de Deus, tem noção da minha situação? Estou pelado aqui fora!!!!!! Scully!!!!!!!!... Droga! Mulher doida! Você me paga!

Mulder dá a volta na casa. Observa na lateral a armação tipo escadinha das plantas que sobem em direção à janela do quarto de Victoria. Mulder sorri.

MULDER: - Nem tudo está perdido!

Mulder começa a escalar. Na metade percebe que a estrutura está se soltando.

MULDER: - Ô-ô...

Mulder tenta se agarrar nas plantas, mas a escadinha vai pra trás, com Mulder e tudo, caindo no quintal de Nancy. Mulder se estatela no chão. Levanta-se, esfregando o traseiro.

MULDER: - Que dia mais ferrado! Eu vou matar essa mulher doida por me deixar nessa situação ridícula!

Mulder se vira e dá de cara com Nancy, bobs na cabeça, robe, pantufas e segurando uma lanterna. Nancy arregala os olhos mirando a lanterna em Mulder. Dá um grito, histérica, olhando pra baixo, sem desgrudar os olhos. Mulder coloca as mãos na frente do corpo.

NANCY: -(ASSUSTADA) Geoooooooooooooorgeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!

Mulder sai correndo, com as mãos na frente do corpo, apavorado, pulando rapidamente pelos arbustos do quintal. Nancy continua berrando.


12:08 A.M.

Nancy sentada na poltrona, catatônica.

NANCY: - ... Como era grande! Eu nunca vi algo tão grande assim na minha vida...

George, de cuecas e camiseta regata entra na sala, arrastando os chinelos e segurando uma xícara. Entrega pra ela. Nancy continua catatônica.

NANCY: - Muito grande... Completamente grande...

George a sacode pelo ombro. Nancy pega a xícara.

GEORGE: - O que aconteceu que você está branca feito uma vela?

NANCY: - A-a-que-quele tarado...

GEORGE: - Que tarado?

NANCY: - Esse louco que mora aí do lado! Estava nu no nosso quintal e queria me estuprar!

GEORGE: - Mulder queria estuprar você?

George começa a rir alto sem parar. Nancy olha pra ele o censurando.

NANCY: - Ele me atacou!

GEORGE: - Nancy, ninguém em seu estado mental perfeito atacaria você! Vai dormir! Está vendo coisas!

NANCY: - Ele estava pelado no nosso quintal, George... Aquele... Aquele... Tarado, enorme... Com músculos definidos e aquele... Nossa, como era grande!

George balança a cabeça e vai pro quarto. Nancy pega o binóculo e corre pra janela.

NANCY: - Eu não estou vendo coisas! Aquele tarado está à solta pela comunidade, nu, mostrando aquele... Aquele... Meu Deus, como era grande!


1:11 A.M.

Mulder sentado na varanda. Cookie sai pela porta da cozinha. Se esfrega nele.

MULDER: - Veio me fazer companhia, pulguento? Quer me ajudar? Sobe lá em cima e faz xixi na sua dona, que está deitada, quentinha e no conforto daquela cama! Ou pelo menos pede pra ela me jogar uma toalha!

[Som: Ultraje à Rigor – Pelado!]

Mulder tem um insight. Olha pra portinhola da porta.

MULDER: - ... Hum... Não vou passar por ali. Mas eu sei um jeito de chegar no meu sótão, a janela tá sempre aberta.

Mulder se levanta, atravessa o jardim, com as mãos na frente do corpo e entra na casinha de ferramentas.

Corta pra Nancy, observando pelo binóculo.

NANCY: - O que ele quer pelado do lado de fora da casa? Depois eu não tenho razão quando digo que essa gente é louca! Que tipo de mulher deixa o marido correr pelado pelo quintal? Que tipo de orgia é essa?

Corta pra Mulder que sai da casinha de ferramentas com uma corda. Tenta laçar a marquise da varanda de cima.

MULDER: - Hehehehe... Raposa esperta. Agora eu entro em casa.

Mulder começa a subir pela corda.

Scully aparece lá em cima na varanda. Pega uma tesoura e corta a corda. Mulder cai no chão.

MULDER: - Scully!!!!!! Me deixa entrar!

SCULLY: - (FURIOSA) Não!

MULDER: - Oh, Julieta, venha à janela e lance suas tranças pro seu Romeu apaixonado!!!!!

SCULLY: - Essa não é Julieta, é a Rapunzel, seu cachorro!

MULDER: - Então, Rapunzel, pelo menos me diz do que estou sendo acusado! Eu tenho direito a julgamento!

SCULLY: - Você sabe muito bem o que aprontou, seu canalha!

Scully começa a atirar os vasos de flores da varanda nele. Mulder sai correndo pelo meio da confusão de obras e vai pro lado da casa.

MULDER: - Mulher maluca! Não é você que está aqui do lado de fora nessa situação!

Mulder pressente algo. Vira-se pra trás e vê Nancy na janela. Mulder põe as mãos na cintura. Olha pra ela.

MULDER: - Nunca viu um cara pelado? Você não dorme, sua velha fofoqueira? Vá cuidar da sua vida!

Nancy abre a janela.

NANCY: - (GRITA) Eu vou chamar a polícia, seu pervertido!

MULDER: - (GRITA) Chame quem você quiser!!!!

NANCY: - (GRITA) Geoooooooooooorrrrrrrrrgeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!

Mulder entra em pânico. Vira-se e dá de cara com Scully. Scully olha pra Nancy.

SCULLY: - (GRITA) Nunca viu um homem na sua vida? Ahn?

NANCY: - (GRITA) Seus doentes pervertidos! George! George, acorda! Chame a polícia!!!!!!!!! Chame a SWAT!!!!!!!!!

SCULLY: - (GRITA) Tá olhando o quê? Ahn? Nunca viu um homem pelado antes?

NANCY: - (GRITA) Nunca vi uma coisa desse tamanho!

SCULLY: - (GRITA) É grande sim e é toda minha! E tira os olhos do meu marido, sua bruxa fuxiqueira, porque eu vou aí bater na sua cara se continuar olhando pra ele!

Scully se põe na frente de Mulder. Mulder, atrás dela, se escondendo. Nancy atira uma laranja. Scully desvia. Os cachorros da vizinhança começam a latir. As luzes se acendem. Cookie sai pra fora, atrás de Scully e Mulder.

SCULLY: - (GRITA/FURIOSA) Sua velha invejosa! Pois inveje, inveje mesmo! Eu tenho, você não tem! Mulder, vamos pra dentro. Deixa essa doida varrida ficar babando aí. Cuidado pra não engolir a língua, jararaca, ou vai morrer envenenada!

NANCY: - (GRITA) Sua mundana pervertida!

SCULLY: - (GRITA) Ah, eu sou pervertida? Você não me conhece, bruxa!

VIZINHO: - (GRITA) Calem a boca aí!!!!!!!!!

SCULLY: - (GRITA) Cala a boca você!

NANCY: - (GRITA) George! Essa mulher está me ameaçando! Faça alguma coisa, George! Acorda, George!!!!!!!!!

SCULLY: - (GRITA) Por que se intromete na minha vida, hein? Vá dormir, o espetáculo terminou!

VIZINHO: - (GRITA) A rua inteira quer dormir!!!!!!!!!!

NANCY: - (GRITA) O que esperar de gentinha como vocês? Vou fazer um abaixo-assinado pra expurgar vocês dessa comunidade de respeito, porque você é uma mundana! Uma mundana!!!!!!!!!!!!!

SCULLY: - (GRITA) Ah, sou mundana é? Tá bom, eu sou.

Scully começa a tirar a camisola. Mulder arregala os olhos. Scully fica nua, abrindo os braços, debochada, olhando pra Nancy. Atira a camisola no chão. Cookie observa.

SCULLY: - (ENFEZADA) E agora? Ahn? Agora sim você pode fazer o seu abaixo-assinado, jararaca peçonhenta!

Nancy arregala os olhos, catatônica. Cookie pega a camisola e sai em disparada, entrando pela portinhola dos fundos.

SCULLY: - Cookie!!!!!! Dá isso aqui, seu cachorro maluco!!!!!!!!!!!!

A vizinhança sai pra rua pra ver o que está havendo. George vem pra janela. Scully arregala os olhos e se esconde atrás de Mulder. Mulder põe as mãos na frente do corpo, em pânico. Sai com passos de ladinho, Scully atrás dele. Correm pra varanda dos fundos. George coça a careca.

GEORGE: - (RINDO) São os melhores vizinhos que já tivemos. Essa gente sabe se divertir. Aposto que tão dando uma festa.

Nancy olha pra ele, escandalizada.

GEORGE: - Ei, não me olhe assim. Pelo menos alguém nesse quarteirão faz sexo!

George volta pro quarto. Nancy continua catatônica.

NANCY: - E como era grande! Meu Jesus!


1:46 A.M.

Mulder e Scully completamente nus na varanda. Scully em pé, se abraçando, com frio. Mulder, sentado, pernas cruzadas, olhando debochado pra ela.

SCULLY: - Que frio!!!!!!! Brrrrrrrrrrrrr!!!!!!!

MULDER: - (CANTANDO) Uau! Que legal, nós dois pelados aqui!!!!! Que nem me conheceram no dia em que eu nasci. Que nem no banho, por baixo da etiqueta, é sempre tudo igual o curioso e a xereta...

SCULLY: - Cala a boca Mulder!

MULDER: - Que tal provar do próprio veneno, ahn?

SCULLY: - (FURIOSA) Cala a boca, Mulder! Eu vou matar esse cachorro!

MULDER: - Vai nada. Ele não era o seu queridinho?

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Olha que situação constrangedora!

Mulder a observa debochado. Scully tentando abrir a porta, fazendo força.

SCULLY: - Nunca passei por uma situação dessas em toda a minha vida! Pra ajudar esses imbecis estragaram a maçaneta da porta! Essa droga não abre por fora!!!!!!

MULDER: - Eles não eram os seus queridinhos também? Quem manda ser burra e deixar a chave pelo lado de dentro e a porta da frente aberta? Primeira rajada de vento e olha nós dois aqui fora: (CANTANDO) Pelado, pelado, nu com a mão no bolso...

SCULLY: - Cala a boca! Você parece estar adorando isso!

MULDER: - Eu? Fui eu quem nos colocou nessa encrenca?

SCULLY: - Cala a boca, Mulder!


1:52 A.M.

[Som: Blitz – A Verdadeira História de Adão e Eva]

Os dois sentados na varanda, sem olhar um pro outro, emburrados. Scully comendo uma maçã, olhando pra macieira no jardim.

MULDER: - (DEBOCHADO) Pensei que era você quem queria brincar de Adão e Eva.

SCULLY: - Cala a boca, Mulder!

MULDER: - O que mais você quer? Estamos nus, uma macieira à nossa frente, num jardim que não me parece o Éden, porque no Éden, Deus devia ter pedreiros melhores que os nossos... Isso aqui parece um campo de guerra, estou com frio e com fome... (SACANA) Você podia pelo menos me oferecer a sua maçã...

Scully acerta um tapinha nele.

SCULLY: - Eu vou te dar uma maçã na sua cara sem vergonha, Mulder!

MULDER: - Devolva minha costela, Scully! Eu não assinei nenhum termo de compromisso! Vou chamar meu advogado!

SCULLY: - (IRRITADA) ...

MULDER: - (OLHA PRO CÉU) Ei, Deus! Acaba com todo mundo e me deixa ser o único homem sobre a Terra. Adão era um idiota! Mas eu já sei o que vou pedir pra não me sentir sozinho no paraíso: uma pilha de livros de mistério e uma Ferrari.

SCULLY: - E vai fazer o quê quando estiver doidão?

MULDER: - (OLHA PRO CÉU) Pode criar alguma coisa alternativa que tenha tudo que uma mulher tem, mas que seja muda, cega e surda?

Scully começa a bater nele.

MULDER: - Au! Para!

SCULLY: - Você não pode calar essa maldita boca?

MULDER: - Posso.

Mulder rouba a maçã dela e dá uma enorme dentada. Scully cruza os braços, olhando pro céu.

SCULLY: - Oh, Senhor... Me dê um homem, mas um homem mesmo! Um que saiba fazer todos os consertos, que seja um garanhão na cama, faça tudo dentro de casa, que fale pouco e que me beije o dia todo, me chamando de 'meu amor'!

MULDER: - Coitada... O frio afetou o cérebro dela.

Luzes se projetam na porta da garagem. Som de carro. Scully e Mulder arregalam os olhos. Levantam-se.

MULDER: - Psiu, fica quieta...

MARGARET: - Dana!!!!!!

SCULLY: - (HORRORIZADA) Meu Deus! É a mamãe!!!!!!!!!!! O que ela vai pensar de mim?

MULDER: - (PÕE AS MÃOS NA FRENTE DO CORPO/ DEBOCHADO) Não vai pensar nada. Só vai ter a certeza de que a filhinha dela é uma safadinha pervertida.

SCULLY: - Oh meu Deus! Vou ser deserdada! E a culpa é sua, Mulder!

MULDER: - Quer gritar mais alto pra ela vir até aqui e nos pegar nesse flagrante delito? O que você vai explicar? Que somos adeptos do naturalismo?

SCULLY: - Isso é um pesadelo! Eu vou ter que acordar!

MULDER: - Quem sabe você vai lá e explica pra ela... (PÂNICO) Escuta... São vozes... Acho que seu irmão Bill está junto! Essa não!

SCULLY: - O que vamos fazer?

MULDER: - Eu não vou fazer nada! Em último caso me atiro nesse lamaçal que virou a minha piscina. Fica quieta e finge que não estamos em casa.

SCULLY: - E se Victoria chorar?

MULDER: - (PÂNICO) Ai, ai, ai, ai, ai...

Som do carro indo embora. Os dois respiram aliviados.

MULDER: - Tem um telefone nessa quadra. Podemos chamar um chaveiro.

SCULLY: - É? E quem vai correndo até o telefone público?

MULDER: - Não olhe pra mim! Eu sou um agente federal! Se pedirem minha identificação eu vou mostrar essa!

SCULLY: - Seu abusado!!!!!!!! Não aponte isso pra mim, eu vou te matar!!!!!!!!

Scully começa a bater nele e a perseguir Mulder pelo jardim.

SCULLY: - A culpa é toda sua, Mulder, seu cachorro! Agora vamos ficar pelados aqui até que hora?

MULDER: - (DEBOCHADO) Pede o telefone da vizinha emprestado!

SCULLY: - Eu vou matar você, Fox Mulder!

Os dois correndo ao redor da piscina.

Corta pra Nancy na janela.

NANCY: - Que pouca duma vergonha! Estão fazendo de propósito! George!!!!!! Chame a polícia! Estão fazendo orgias na casa ao lado!!!!!

GEORGE: - Nancy, vá dormir e deixe os vizinhos em paz!

NANCY: - Mas estão correndo pelados pelo jardim dos fundos, um atrás do outro!

GEORGE: - Eu também correria pelado atrás da minha esposa, se tivesse físico pra isso... E se tivesse apetite pra comer a comida de casa...

NANCY: - Que absurdo! Mas o padre vai saber, ah ele vai! Tinha que ser judeu! Todo judeu é doido!

GEORGE: - Não, Todo o judeu é comediante, veja Wood Allen, por exemplo. Deixa de ser racista e vá dormir! Deixa os outros se divertirem.

NANCY: - Só falta o vinho e a fogueira e é uma legítima festa pagã em homenagem a Baco! Não vai demorar muito e a moda pega!!!!!!


2:18 A.M.

[Som: Titãs – Sonífera ilha]

Mulder parado na porta dos fundos. A porta se abre e surge Scully pelo lado de dentro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Agora você sabe a utilidade da portinhola do cachorro. É sua entrada de emergência, baixinha.

SCULLY: - Vou bater em você!

Mulder entra. Fecha a porta. Respira aliviado.

MULDER: - Finalmente! Dentro de casa! Lar doce lar!

SCULLY: - Mas deveria ficar na rua por ter passado um cheque de 800 dólares!!!!!!

MULDER: - Como sabe disso? Andou xeretando minha conta de novo?

SCULLY: - Ainda tem coragem de admitir, cafajeste?

MULDER: - E por que não teria? Pediram na loja um cheque de 800 como garantia da entrega do carro. Eu deixei, mas avisei que não tinha fundos.

SCULLY: - ??? Que loja? Que carro?

MULDER: - Eu comprei meu carro, chega na semana que vem. Charles foi comigo, me ajudou a escolher. Mas agora me conta que história é essa de cheque! Por que me deixou na rua por causa de um carro?

SCULLY: - M-mas... Teve um cara aqui com seu cheque me cobrando porque não tinha fundos, dizendo que você tinha passado numa boate e...

MULDER: - (INDIGNADO) Um cara? Com o meu cheque? Boate? O que meu cheque faz na rua? Eu mandei aquele cretino da loja de carros segurar porque não tinha fundos! Ainda avisei que não tinha, mas ele insistiu dizendo que precisava de uma garantia...

SCULLY: - (PÂNICO) ...

MULDER: - (IRRITADO) O filho da mãe pegou meu cheque e foi gastar numa boate! Eu vou processar esse sacana por danos morais! Quase perco minha mulher, fico horas pelado na rua e toda essa confusão por causa de um maldito cheque pré-datado! Não quero mais aquele carro! Ah, mas não quero mesmo! Eu encontro outro! E vou demitir esses pedreiros todos! A sorte dessa cambada de doidos é que estou atolado de trabalho, porque se estivesse em casa eu matava um por um!

SCULLY: - M-Mulder, me desculpe...

MULDER: - Sem desculpas pra você. E quer saber? Vou dormir. Tenho que trabalhar amanhã. E quando aqueles caras chegarem, pode dizer que se a piscina e todo o resto não estiver consertado até a hora que eu voltar, vou enfiar eles em cana!

SCULLY: - M-mas...

MULDER: - (DEBOCHADO) E da próxima vez, Dana 'Esperta' Scully, pense e reflita: desde quando judeu gasta 800 dólares em diversão? Ahn? Eu não gasto 5 pra ir num cinema, quanto mais 800 com mulher! Dinheiro posto fora! Olha se eu tenho cara de quem precisa pagar pra elas se atirarem na minha cama? Elas é que imploram pra me pagar!

Mulder sai da cozinha. Scully suspira.

SCULLY: - Que noite! (IRRITADA) Podia ter ido dormir sem ouvir essa. E a vizinhança inteira agora conhece o raposão do meu marido!


FBI - 9:11 A.M.

[Som: Ultraje a Rigor - Hino dos Cafajestes]

O agente Forrest conversa com Skinner no banheiro. Os dois escorados na pia, tomando cafezinho.

SKINNER: - E ainda depois elas nos acusam de canalhas. Eu não sei, agente Forrest, particularmente prefiro ser livre. Casamento nunca mais. Eu não vou ser idiota pra mulher nenhuma de novo. Elas é que serão umas idiotas pra mim.

FORREST: - Penso em desmanchar esse noivado. Mas não tenho coragem. Não que me preocupe com ela sofrer por isso, mas acho que vou esperar porque não estou a fim de me incomodar com ceninhas de choro e histeria logo agora que estou concluindo uma dissertação de mestrado. Vou enrolando mais um pouco.

Mulder e Donald entram.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não sabia que a sala de reunião tinha mudado de lugar.

SKINNER: - É o único lugar seguro no bureau nesse fim de semana pra se fazer uma pausa sem que alguém chegue e pergunte o que você está fazendo parado. Estão atrás de vocês em Maryland.

MULDER: - Dá pra pelo menos eu fazer xixi em paz? Que noite do cão eu tive! O mundo inteiro caiu em cima de mim ontem: mulher, cachorro, sogra, pedreiros, vizinhos... E o filho da puta do vendedor da loja de carros.

DONALD: - Pior que a minha não deve ter sido. Passei a noite atolado num lamaçal retirando pedaços de um corpo.

SKINNER: - Não me culpem, adoraria estar passando o domingo com o meu filho. Mas parece que os criminosos todos estão à solta nesse fim de semana...

Skinner volta-se pra Forrest.

SKINNER: - Mas voltando ao nosso assunto. É questão de sorte. E ultimamente tenho tido azar com mulheres.

MULDER: - Não seria por que elas ainda usam fraldas, Skinner?

SKINNER: - Como você é engraçado, Mulder. Eu já disse, as novinhas são melhores porque ainda não tem malandragem.

DONALD: - Confia nisso. Vai confiando. Todas elas acabam te agarrando com uma barriga e uma pensão bem alta todo fim de mês. Profissão 'mãe'. Tem umas que vivem disso. E os idiotas estão aí.

FORREST: - Não sou tão idiota pra cair nessa. E além do mais nem adianta argumentar paternidade porque só vou acreditar nisso depois de ver as evidências de DNA.

SKINNER: - É só dizer que você é policial que elas caem fora rapidinho morrendo de medo...

FORREST: - Eu conheci uma mulher... Que mulher! Ela tem uma mente super inteligente, um corpo muito perfeito... A voz dela parece um canto angelical.

MULDER: - Já vi o final da história... Mais um dizendo, eu prometo!

FORREST: - Não, não quero nada sério, já sou noivo e estou louco pra cair fora. Quero só uma aventura. Se ficar sério tudo bem, senão melhor ainda.

DONALD: - É gostosona?

FORREST: - Gostosona é apelido! Ela é tão boa que você tem até medo de chegar perto e convidá-la pra sair. Parece aquelas gatinhas de revistas pornôs. Você fica doente imaginando como a mulher deve ser na cama.

MULDER: - Você tá com uma dessas na mira e tá esperando o quê? É só dizer 'eu te amo' e levar uma caixa de bombons que já está no papo.

SKINNER: - Rosas... Rosas funcionam. Toda mulher se derrete com rosas num primeiro encontro.

DONALD: - Um bom restaurante... Tem que causar boa impressão.

SKINNER: - Pra quê? Se for só pra levar pra cama, pra que boa impressão? Elas não querem que a tratemos de igual pra igual?

MULDER: - É, mas elas dizem isso e se você as trata como se fossem iguais elas te chamam de cafajeste.

FORREST: - Ah, mas eu adoraria transar com aquela mulher... Ela tem um... Um sex appeal... Ela deve ser um fogo debaixo dos lençóis. E os peitos?

DONALD: - Hum... Faróis altos?

FORREST: - Uns peitos que dá vontade de agarrar! Eu me controlo quando estou perto dela. E as pernas? Que pernas mais lindas! A pele parece uma seda, a boca... Os cabelos...

MULDER: - Não tem erro. Toda mulher é como pipoca. É só você colocar fogo no traseiro delas que elas pulam no seu braseiro.

FORREST: - É, mas ela parece difícil, nem sei como chegar.

SKINNER: -Ela é mais nova?

FORREST: - Não sei a idade dela, mas desde que a conheci não paro de ter sonhos eróticos com ela. Se eu não levar essa mulher pra cama, acho que vou morrer de ataque cardíaco.

DONALD: - Então por que ainda tá esperando?

MULDER: - Come essa mulher de uma vez e pare de se lamentar. Arruma um tempo pra sair com ela.

FORREST: - Não vai ser difícil. Ela é colega. E é a coisa mais linda que eu já vi. Só que não dá bola pra mim.

SKINNER: - Tá se fazendo de difícil. Elas adoram se fazer de difícil.

DONALD: - Quem sabe ela é casada?

FORREST: - Não sei, ela não usa aliança. Acho que é solteira.

MULDER: - Ah, e daí se é casada? O que importa é tirar uma lasca. Dane-se o corno, quem manda não dar conta do recado? Faz uma carinha de pidão, chega como um carente dizendo coisas bonitas e você ganha a parada. Leva pra cama e depois pensa se fica ou não.

FORREST: - Valeria a pena fazer qualquer coisa pra ganhar aquela gostosona!

MULDER: - Em que departamento a gostosona trabalha?

FORREST: - Não sei onde a gostosona trabalha.

MULDER: - Qual o nome dela?

FORREST: - Dana Scully. E o traseiro? Ela tem um traseiro! Você tem razão, Mulder, tenho que fazê-la pular feito pipoca no meu braseiro... Dane-se o corno se for casada!

Fade in.


Fade out.

[Som: Ultraje a Rigor - Ciúme]

Donald e Skinner puxando Mulder pelos braços pra fora do banheiro, que tenta se soltar, ensandecido de raiva.

MULDER: - (AOS GRITOS) Deixa eu dar um tiro na testa dele! Só um tiro!!!! Eu quero fazer ele pular feito pipoca com as balas da minha Glock!!!!!


BLOCO 3:

Residência dos Mulder – 11:11 A.M.

[Som: Ultraje a Rigor – Eu gosto é de mulher]

Mulder entra em casa, a cara de poucos amigos. Afrouxa a gravata e senta-se no sofá, batucando com raiva os dedos no sofá. Scully desce as escadas com Victoria. As duas arrumadas.

SCULLY: - Já? Pensei que não vinha tão cedo.

MULDER: - (IRRITADO) Aonde você vai?

SCULLY: - Aproveitar que as lojas estão abertas e comprar roupas pra sua filha.

Mulder abre a carteira. Retira o cartão de crédito. Entrega pra ela.

SCULLY: - O que é isso? Aquele 'nosso' cartão que 'só você' tem acesso?

MULDER: - Pague com isso. E compre uma coisa que eu quero.

SCULLY: - Você? (ESPANTADA) Você vai gastar dinheiro, Mulder?

MULDER: - Quero que compre uma aliança pra você.

SCULLY: - Aliança? Pra quê?

MULDER: - Ah, somos casados e eu nunca te dei uma aliança.

SCULLY: - Mas você me deu um anel de casamento, que é muito mais chique, bonito e delicadinho. Não quero aliança. Aliança fica mais bonita em homem. Pra mulher é mais romântico um anel. E além do mais, foi você mesmo quem disse que não precisava desses símbolos idiotas pra gente provar que se ama. Portanto, poupe dinheiro.

MULDER: - (IRRITADO) Mas eu quero que você compre uma aliança!!!!! Você é uma mulher casada e todo mundo tem que saber disso!

SCULLY: - Pra quê? Depois de tanto tempo?

Mulder sobe as escadas, irritado. Scully olha pra Victoria.

SCULLY: - O que está havendo com o seu pai? Desde ontem está agindo feito um maluco, não diz coisa com coisa... Por que veio agora pra casa? Pra quê? Eu, hein? Quem entende os homens?

Mulder desce as escadas.

MULDER: - Tem que sair agora?

SCULLY: - Precisa de alguma coisa?

MULDER: - Estou sendo homem na cama pra você?

Scully olha pra cara dele incrédula. Cruza os braços.

MULDER: - Você ainda acha que eu sou o cara? Não acha que tô precisando de uns exercícios, musculação...

SCULLY: - Mulder, o que está havendo com você? Está agindo mais estranhamente do que de costume!

MULDER: - (IRRITADO) Não pode simplesmente responder?

SCULLY: - Você tá bem assim. Tá gostoso, tem carne pra apertar e não tem gordura. É o suficiente ou quer que eu recite os Cânticos dos Cânticos inteiro pra alimentar o seu ego?

MULDER: - ... Vamos fazer amor?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Agora? Mulder, eu preciso sair, tenho que comprar roupas pra Victoria...

MULDER: - Você não se sente mais atraída por mim. Eu não tô dando conta do recado, é isso. Você tá me evitando porque não estou sendo homem pra você. Aposto que tá doida pra achar algum que seja!

SCULLY: - (SUSPIRA) Santo padroeiro das esposas atarefadas que tem maridos inseguros! Mulder, você não tem o que fazer, vá arranjar alguma coisa como dar banho no cachorro. Porque eu tenho muita coisa pra fazer hoje e nem sei por onde começar!

Mulder sobe as escadas, emburrado. Batidas na porta dos fundos. Scully vai pra cozinha com Victoria no colo. Abre a porta.

PAULISTA: - Dona, a senhora pode nos conseguir um pouco de água pra fazer café? Está um bocado frio hoje...

SCULLY: - Sim, claro. Entre.

O Paulista, o Gaúcho e o Mineiro entram. Scully coloca Victoria na cadeirinha.

SCULLY: - Eu tenho café pronto na cafeteira.

PAULISTA: - É muito incômodo...

SCULLY: - Não é incômodo algum.

MINEIRO: - (OBSERVANDO A LAVANDERIA) Quem fez a instalação hidráulica da casa?

SCULLY: - Não sei, compramos assim, mas como viu, tem um vazamento naquela parede atrás da máquina de lavar roupas.

GAÚCHO: - Se quiser, posso verificar pra senhora.

SCULLY: - Ah eu adoraria! Tudo aqui precisa de um consertinho, meu marido não entende muito dessas coisas...

O Paulista cutuca o Mineiro. Os dois rindo, sem Scully perceber. Os três a comendo com os olhos. O Gaúcho vai pra lavanderia.

SCULLY: - Então? Acham que terminam hoje?

PAULISTA: - Estamos tentando, dona.

SCULLY: - Espero que consigam.

GAÚCHO: - É a mangueira da máquina. Está furada. Mas eu posso trocar a sua mangueira.

SCULLY: - Bom, eu aceito... O café está quente. Vou servir vocês.

MINEIRO: - Vou buscar as ferramentas.

Scully serve as canecas. Vai até a lavanderia. O Gaúcho olha pra ela.

GAÚCHO: - A senhora tá vendo aqui?

O Paulista, discretamente, pega um biscoito da lata. Victoria o observa. Ele sinaliza pra ela ficar em silêncio. Victoria ri. O Mineiro entra com as ferramentas, trazendo o baiano junto. Os quatro na lavanderia, com Scully. O Paulista comendo biscoito e tomando café.

GAÚCHO: - Posso consertar aquele varal também. E o aquecedor tá funcionando?

SCULLY: - Sim. O aquecedor não tem problemas.

MINEIRO: - Olha, a gente faz qualquer conserto que ocê precisar.

PAULISTA: - Essa mangueira tá é mal encaixada! Olha aí pra você ver.

BAIANO: - Deixa que eu ajude. Oxe! Tá mal colocada mesmo.

MINEIRO: - É só colocar no buraco. Olha madame, lamento muito, mas o cara não soube colocar esse trem direito. Colocou tudo torto.

Mulder entra na cozinha. Vê o café. Serve uma xícara.

GAÚCHO: - Assim, segura ela desse jeito. Eu meto aqui e você mete ali.

PAULISTA: - A senhora vai gostar do serviço, acredite.

Mulder arregala os olhos em pânico. Vira-se pra porta da lavanderia.

MINEIRO: - Pega aqui nesse trem pra senhora ver como a mangueira tá torta.

Mulder puxa a arma. Entra na lavanderia. Os caras todos saem correndo pela porta dos fundos, apavorados. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - (ENCIUMADO) Café? Biscoitinho? Mangueira? Daqui a pouco querem cochilar na minha cama e usar minhas cuecas! Eu vou acabar com essa macharada dentro da minha casa e vai ser agora!

SCULLY: - Mulder!!!!!!

MULDER: - (FURIOSO) Tão pensando o quê? Que bando de gaviões desgraçados rondando a minha mulher!

Scully segura Mulder. Mulder se solta e vai pra rua. Descarrega a arma dando tiros pra cima. Os cinco atrás da escavadeira, espiam pra ele.

MULDER: - Vocês têm menos de 48 horas pra deixarem minha casa como estava e colocarem essa piscina ou vou deportar vocês de volta pro Brasil na porrada!!!!

Eles se entreolham.

CARIOCA: - Aí, brodi, eu disse... O cara é cana dura, falô?

MINEIRO: - Eita trem danado de ruim esse emprego!

PAULISTA: - Mano, ele tá irado! Pode até plantar droga nas nossas coisas e chamar a imigração...

GAÚCHO: - Não viaja, Paulista. Tu tá confundindo polícia de gringo com a Rota, é?

BAIANO: - Eu quero voltar pra Salvador! Eu quero! Eu quero! Gosto daqui não! Quero minha maínha!


6:01 P.M.

[Som: Tic Tic Nervoso – Magazine]

Mulder estaciona o carro na frente da casa. Desce, puxando e engatilhando a arma. Caminha até os fundos da casa.

Geral do quintal. Tudo arrumadinho, menos a piscina nova.

Corta pra sala. Scully e Ellen sentadas, tomando chá.

SCULLY: - Eu fico impressionada, sabia? São uns cafajestes, todos eles, sem exceção alguma. Homem não presta e isso é verdade incontestável.

ELLEN: - Por que acha que eu ajo dessa maneira? Sinceramente, Dana, deixo que pensem que sou vulgar, não me importo. Eles pensam que mulheres que dizem as coisas de maneira aberta, que são independentes e livres são todas vagabundas. Não me importo, só estou agindo como eles, que cantam vitórias em cima da gente. Eles não gostam de ficar nos tratando como objetos sexuais? Ora essa, eu também vou tratá-los como objetos. Se vejo um homem me refiro como 'um gostoso' que estou doida pra levar pra cama e bye. Eles não fazem isso com a gente?

SCULLY: - Vou te dizer uma coisa, Ellen. Deveria ser feito um estudo sobre onde realmente está o cérebro masculino porque eu ainda acho que é no meio das pernas! Ainda está pra nascer o homem que vai prestar atenção nessas atitudes e perceber que são reflexos do que eles mesmos fazem conosco. Ainda bem que pus uma mulher no mundo!

ELLEN: - E ensine Victoria a ser muito esperta.

SCULLY: - Com certeza. Minha filha não vai ser tola como eu fui. Ela não vai ter nenhum Douglas na vida dela.

Mulder entra na sala.

SCULLY: - (OLHA PRA MULDER) Já em casa?

MULDER: - Por quê? Minha presença incomoda?

Scully olha pra Ellen, cerrando os olhos. Ellen suspira. Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Notou que os rapazes consertaram tudo?

MULDER: - (MAL HUMORADO) Menos a piscina. Nunca mais me fale em reformas nessa casa! Comprou o que eu pedi?

SCULLY: - Não. Pra que eu compraria?

Mulder sobe as escadas, completamente irritado. Chuta o vaso de plantas no alto da escada. Bate a porta do quarto. Ellen olha pra Scully.

ELLEN: - É a minha presença? Quem sabe ele quer ficar sozinho com você e...

SCULLY: - Não é a sua presença não. E daí que fosse? Eu tenho que ficar de plantão esperando o 'bwana' chegar e largar tudo pra atendê-lo?

ELLEN: - O que o 'bem dotado' tem hoje? Nunca o vi de mau humor!

SCULLY: - Eu sei muito bem o que ele tem. É uma doença tipicamente masculina chamada: não faço sexo há dias! Impulso biológico de espalhar sementes! Hoje de noite eu vou resolver rapidinho esse mau humor dele! Odeio quando o Mulder fica mal humorado. Prefiro que fale piadinhas bestas o dia todo a ficar resmungando feito velho caquético no meu ouvido!

ELLEN: - ...

SCULLY: - Depois fica reclamando quando eu fico furiosa. Vem dizendo que tô sempre de mau humor, que não gosto de ceder nada... Mas ele é quem tá de mau humor!

ELLEN: - Amiga, me escute. Pra fazer marido parar de cobrar as coisas é fácil. Diga que de hoje em diante você vai ser a mulher perfeita pra ele. Vai fazer tudo o que ele quiser, cuidar da casa toda, das coisas deles, do jantar, vai ser um furacão na cama, sexo anal todas as noites e ainda não vai questionar nada. Liberdade pra ele e servidão pra você. Mas em troca disso você quer que ele faça apenas uma coisa: Peça algo que ele nunca faria, como colocar um piercing no pênis. Nunca mais ele vai cobrar nada.

SCULLY: - (RINDO) ... Ellen, você é um gênio!

ELLEN: - (PEGA A BOLSA) Então vê se liga pro seu gênio aqui. Ficamos combinadas, quando você ligar eu vou trazer a moça e ela vai colocar a sua casa todinha dentro dos padrões do Feng Shui. Você vai ver, tudo vai ficar mais harmonizado, energizado, com vibrações boas. O que custa trocar alguns móveis de lugar e colocar cristais e sinos de vento por aí?

SCULLY: - Tá, eu te ligo. Você me convenceu. Só você mesma pra conseguir fazer isso.


6:18 P.M.

[Som: Rita Lee – Bwana]

Scully deitada na cama. Assiste TV, com um beiço. Olha com o rabo dos olhos pra porta do banheiro. Levanta-se. Entra no banheiro.

SCULLY: - Tudo isso é por causa do cheque? Por causa da brincadeira do amante sexual? Ou por causa do exame de próstata que por sinal, nem vou perguntar, porque já sei que não fez.

Mulder no chuveiro. Abre a porta do box e espia pra ela, cabelos ensaboados.

MULDER: - Não é culpa sua. Estou de lua.

SCULLY: - Ah, bom me dizer. Pensei que só as mulheres fossem de fases, confusas, indecisas e portadoras de TPM.

Mulder fecha a porta do box. Scully senta-se no vaso. Cruza os braços e as pernas.

SCULLY: - Quer me contar o que está acontecendo, 'Bwana'?

MULDER: - Não!

SCULLY: - Então por que está furioso comigo? O que eu fiz? Foi por que me recusei a comprar a aliança?

MULDER: - Não estou furioso com você, esquece a droga da aliança. Estou furioso comigo. Furioso com o FBI, com esses pedreiros, com meus colegas de trabalho, meu chefe e com o mundo inteiro!

SCULLY: - E o que eles fizeram?

MULDER: - ... Nem sob ameaça de morte eu conto!

SCULLY: - Ah, você conta. Você conta rapidinho se eu quiser. Você não consegue esconder nada de mim, Mulder. Eu arranco a verdade à força.

Scully ergue a sobrancelha, revirando a língua dentro da boca, num gesto de curiosidade. Levanta-se. Abre o box e entra, fechando a porta.

SCULLY: - Conta.

MULDER: - Não quero contar.

SCULLY: - Hum... Tem certeza?

MULDER: - Para! Não faz isso! Scully, tira a mão daí! Eu não vou contar! Sai, sai, sua tarada!

SCULLY: - Ah, Mulderzinho, conta... Vai, conta...

MULDER: - Nunca! Sai, Scully, não vem se esfregando! Você não vai me comprar com sexo.

SCULLY: - Tem certeza?

MULDER: - ... Maldito traidor!!!

SCULLY: - Não fale assim com o meu raposão!

MULDER: - Ele é meu, eu falo com ele do jeito que eu quiser!

SCULLY: - Não é seu nada, ele é meu! Nada mais no seu corpo te pertence, Fox Mulder! Nada! Tudo é meu! Você é todo meu, até seus pensamentos são meus!

MULDER: - Não fala assim. Eu tô avisando pra não falar assim...

SCULLY: - Eu falo como eu quiser! Quem manda em você sou eu!

MULDER: - Uh! Eu avisei!

Barulhos dentro do box. Scully abre o box e tenta sair pra fora, desesperada. Mulder a puxa fechando a porta do box de novo. Scully aos gritos e risadas altas.


10:23 P.M.

[Som: Radio Táxi – Dentro do Coração]

Scully sentada à mesa da cozinha, lendo uma revista, de óculos. Mulder, também sentado, de frente pra ela, escrevendo num papel. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Tá bom, se não quer falar, não fale. Não vou forçar nada.

MULDER: - Não vou falar. Vai ferir meu orgulho de macho.

SCULLY: - Ok, Mr. Macho. Não fale. Termine seu relatório... E o exame de próstata?

MULDER: - Quer esquecer esse assunto chato? Eu faço amanhã.

SCULLY: - Está dizendo isso há semana inteira, Mulder. Não brinque com isso, é sua saúde.

Scully volta a atenção pra revista, séria. Mulder solta a caneta. Espreguiça-se na cadeira. Boceja. Olha pra Scully. Ela compenetrada na revista.

MULDER: - O que tem de tão importante aí? 'Como fazer bordados em lencinhos de seda que você nunca vai usar'?

SCULLY: - Não. Estou lendo informações sobre PHD em medicina criminalística.

MULDER: - ... Vai voltar a estudar?

SCULLY: - Alguma oposição?

MULDER: - Não, nenhuma. Dou apoio, te ajudo, mas não me inclua nisso.

SCULLY: - Deveria pelo menos fazer um MD. Está parado no tempo, Mulder.

MULDER: - Pra quê teorias e títulos? Prefiro a prática.

SCULLY: - Detesto quando você tá desse jeito, Mulder. Odeio você de mau humor, você fica chato. Não é o meu Mulder. Meu Mulder é debochado, faz piada boba, é malicioso e também um crianção.

Scully se concentra na leitura. Silêncio. Mulder pega uma banana da cesta de frutas. Olha debochado pra ela. Se ajeita de lado na cadeira. Segura a banana. Começa a descascá-la devagarinho. Pigarreia. Scully não percebe. Ele pigarreia de novo. Ela dirige a atenção pra ele. Mulder, debochadamente, vai descascando a banana. Scully ergue a sobrancelha, segurando o riso. Mulder passa a língua na banana.

SCULLY: - (RINDO) Para com isso!

MULDER: - (DEBOCHADO) Com o quê?

Mulder abocanha sensualmente a banana. Scully fecha a revista, aos risos.

SCULLY: - Você não vale nem a casca dessa banana, seu podre de pervertido! Vamos lá pra cima, que quem tem que fazer esse tipo de coisa sou eu.

MULDER: - Ah! Deixa eu terminar a minha bananinha... (BOCA CHEIA) Tá tão boa!

SCULLY: - (RINDO) Termine sua bananinha então. Vou espiar Victoria e vou pra cama. Seu moleque pervertido.

MULDER: - Quer uma bananinha também? Hum?

SCULLY: - Nem vou te responder, Mulder. Suba em menos de um minuto ou vai ficar aí comendo banana a noite toda.

MULDER: - Detesto banana!

Mulder larga a banana e levanta-se rapidamente. Scully se levanta e sai da cozinha rindo.


10:01 P.M.

[Som: Sempre Livre - Esse Seu Jeito Sexy de Ser]

Mulder deitado na cama, cabelos molhados, só com as calças do pijama. Scully entra no quarto, de camisola, trazendo pipocas. Coloca a tigela sobre o criado mudo. Senta-se. Olha pra ele. Mulder pensando longe. Scully sobe em cima dele. Passa os dedos em seus lábios, até colocar o polegar dentro da boca de Mulder, a abrindo. Coloca a língua dentro da boca dele. Mulder fecha os olhos, leva os braços pra cima e se entrega. Scully revira os cabelos dele, enquanto devora sua boca. Leva as mãos até os braços dele, o segurando. Afasta os lábios rumo ao pescoço dele. Mulder solta o ar, num suspiro.

MULDER: - ... Se você soubesse... O quanto eu me sinto feliz quando isso parte de você...

Scully desce os lábios pelo peito dele. Mulder fecha os olhos, num sorriso.

MULDER: - Não quero piadinhas hoje.

SCULLY: - (MORDISCA O MAMILO DE MULDER) Acha que eu quero?

MULDER: - Nunca sei o que você quer.

SCULLY: - Eu digo o que eu quero: quero você, assim, quietinho, completamente meu, de olhos fechados, envolto em magia.

MULDER: - (SORRI) ... Não vai ser difícil. Sabe o quanto eu sou fácil pra você...

Scully sorri, distribuindo beijos e chupões pelo peito dele.

MULDER: - (SORRI) Vou ficar todo machucado.

SCULLY: - Eu sou médica. Sei como não deixar marcas... nesse peito gostoso.

MULDER: - Deus! Há quanto tempo não partia de você uma coisa dessas? Que não fosse depois de eu te provocar ou por algum tipo de crise de consciência como 'eu devo algo a ele'?

Scully apoia o queixo no peito dele. Fica brincando com os pelos dele.

SCULLY: - Estou esquisita, não é mesmo?

MULDER: - Talvez tanto quanto eu... Estou em crise de identidade novamente. Me arrependo tanto do passado... Estou adorando essa vida nova que você me proporcionou e isso está fazendo com que eu me questione de tantas coisas que eram verdades inquestionáveis pra mim...

SCULLY: - Eu sei que tenho parecido fria e distante, algumas vezes me dá uma loucura, mas realmente, eu não tenho feito isso com você dessa maneira há muito tempo. Não o culpo por estar tão carente de carinho. Sexo nós até temos, mas o carinho tem partido mais de você.

MULDER: - Penso algumas vezes que você enjoou de mim. Até porque sei que sou um porre mesmo.

SCULLY: - Pois então... (SORRI) Esse é o melhor porre que eu já tomei na minha vida.

MULDER: - (OLHA PRA ELA) Posso pedir uma coisa?

SCULLY: - O que quiser.

MULDER: - Me abraça? Hum? Há muito tempo eu quero um colinho, mas você só tem tomado o meu colinho. Eu tô precisando de um também.

SCULLY: - Oh, pobrezinho...

Scully sorri e vai de encontro a ele. Mulder se deita sobre ela. Scully o abraça forte. Mulder se aninha nela.

MULDER: - (BOCEJA) Não quero mais sexo. Quero ficar aqui, assim. Se importa?

SCULLY: - (SORRI) Não, meu 'bebê' crescido.

MULDER: - Fala alguma coisa. Quero dormir ouvindo sua voz.

SCULLY: - Puxa, mas você está carente mesmo!

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder... (DESCONFIADA) Isso não é um joguinho esperto do conquistador barato, não é? Sei a manha masculina do vir se fazendo de carente porque sabe que as mulheres têm o ladinho maternal de querer proteger e daí depois você dá o golpe e...

MULDER: - Zzzzzzzz

Scully sorri. Ajeita o edredom sobre Mulder e o abraça.

SCULLY: - Homens... Você não vale nada, Mulder. Mas até que seu percentual de machão cretino diminui quando faz coisas desse tipo...

Scully faz carinhos nele. Mulder dormindo. Scully o solta. Se ajeita de frente pra ele, o observa dormindo.

SCULLY: - Dizem que não tem maior falta de educação do ficar olhando os outros dormirem... Mas eu gosto de olhar você dormindo. Fica tão bonitinho... Calminho... Quietinho... Sexy... Esse beicinho... Mulder?

MULDER: - Zzzzzzzz

SCULLY: - Mulder, que droga! Isso não é hora de dormir. Estou excitada.

MULDER: - Zzzzzzzz

SCULLY: - Puxa vida, Mulder! Isso é o que eu chamo de maldade. Me provocou na cozinha e agora fica aí roncando? Fala, fala, mas na hora do bem bom você dorme?

MULDER: - Zzzzzz

SCULLY: - Ah não! Mas não mesmo! Eu quero coisinhas. Mulder, acorda.

Scully o cutuca. Mulder vira-se de costas, dormindo.

SCULLY: - Que desaforo!

Scully o vira. Senta-se sobre ele. Começa a beijá-lo, acariciá-lo. Mulder dormindo.

SCULLY: - Você me paga... Ah me paga. Quando eu tô com sono vem se esfregar em mim! Só na sua ideia que eu vou deixar por isso mesmo. Hum? ... Gostoso da Scully... (PASSA A LÍNGUA NO PEITO DELE) Não tem problema, Mulder... Eu consigo tudo que eu quero.

Scully sai de cima dele. Ajeita-se, encostando-se ao corpo de Mulder. Desliza a mão pra dentro da calça do pijama dele.

SCULLY: - Tá bom... Pode dormir. O assunto é entre eu e o raposão... Hum? Cadê o meu raposão? Hum, raposão?

MULDER: - Scully, me deixa dormir...

SCULLY: - (RINDO) Impressionante o bicho homem! Até dormindo ele fica excitado! (RINDO) Adoro isso... Mulder? Mulderzinho?

MULDER: - (RECLAMANDO ALGO INAUDÍVEL/ VIRA-SE PRA ELA/ DORME DE NOVO)

Scully vira-se de costas pra ele. Fica se esfregando nele.

SCULLY: - Hum, Mulder... Não quer, não é? Fazendo pouco caso?

MULDER: - Zzzzzzzz

SCULLY: - Tem certeza? Acho que você quer... Pelo menos o raposão quer... Hum?

Scully se esfrega mais ainda nele. Mulder vira-se de costas pra ela.

SCULLY: - Mas não mesmo! Hoje estou a fim de perturbar!

Scully o vira. Senta-se em cima dele.

SCULLY: - Tá cansado é? Não senhor, porque eu não posso estar cansada nunca. Você também não pode. Mulder, acorda, eu tô pegando fogo!

MULDER: - (DORMINDO) Scully... Sai...

Scully se ajeita em cima dele.

SCULLY: - Eu tenho que fazer tudo nessa casa! Ô homem preguiçoso! Tem preguiça até de transar!

MULDER: - Zzzzzzz

SCULLY: - Eu consigo... Espera aí... Hum, assim... Assim... Oh céus!

Scully começa a se mover sobre ele. Inclina a cabeça pra trás.

SCULLY: - Hum... Que gostoso! Isso meu raposão, seu dono não faz falta nenhuma! Isso é entre eu e você...


Arquivos X – 8:39 A.M.

[Som: Adoro – Léo Jaime]

Scully revira os arquivos. Mulder sentado, escrevendo algo, olha pra ela.

MULDER: - (BEIÇO) O que você fez comigo ontem à noite não tem nome.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Tem sim. Chama-se sexo.

MULDER: - Eu sei que sexo é quando duas pessoas transam.

SCULLY: - Mas nós transamos.

MULDER: - Não. Você me estuprou! Se não houve consentimento da minha parte isso se enquadra em estupro!

SCULLY: - Me processe.

MULDER: - (BEIÇO)

SCULLY: - Não se faça de vítima, Mulder. Você faz isso até dormindo.

MULDER: - Não faço isso dormindo!

SCULLY: - Como não?

MULDER: - Não faço não.

SCULLY: - Faz sim senhor, e uma hora dessas, eu juro que vou colocar uma câmera de vídeo no quarto pra depois provar pra você.

MULDER: - (BEIÇO)

SCULLY: - Você acorda no meio da noite, vira pra mim e eu me acordo com você transando comigo.

MULDER: - Mentira!

SCULLY: - Sim senhor. Portanto, ontem eu fiz a mesma coisa. Você pensa em sexo até dormindo!

MULDER: - Não mesmo! Como vou ficar excitado dormindo?

SCULLY: - Quer que te explique isso? Já ouviu falar em polução noturna?

MULDER: - Tá, tá certo. Fica sim, mas... Eu fiz isso?

SCULLY: - Fez. E faz sempre. Quando está cansado demais, você faz isso.

MULDER: - Como é que não me lembro depois?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Deve ser porque isto é um Arquivo X, Fox Mulder.

Scully fecha o arquivo. Mulder continua intrigado. Scully abre a porta.

MULDER: - Aonde vai?

SCULLY: - Pegar os resultados das análises no laboratório.

MULDER: - Manda um abraço pro Chuck... (PÂNICO) Laboratório? Com quem?

SCULLY: -Chuck está na Alemanha, Mulder. Agora é com o agente Forrest, ele...

Mulder se levanta rapidamente.

MULDER: - Eu faço isso.

SCULLY: - ???

MULDER: - Preciso ir ao laboratório mesmo.

SCULLY: - Fazer o quê?

MULDER: - Deixa que eu faça isso. E hoje de noite eu prometo que não vou dormir. Vou dar conta do recado. Não importa o quanto esteja cansado. Pode ser de Adão, de Zorro, de mecânico, de Tarzan, você é quem manda.

Mulder sai. Scully senta-se, sem entender nada.

SCULLY: - O que está havendo com esse homem? Desde quando ele é tão democrático assim?


BLOCO 4:

Residência dos Mulder – 12:39 P.M.

Mulder sentado no sofá assistindo TV. Scully sai da cozinha, vestida num avental com bolso e aproxima-se dele. Mulder não percebe.

SCULLY: - (PREOCUPADA) Mulder, não ligaram ainda?

MULDER: - Não. E vamos esperar... Não tem nada pra fazer naquele porão enquanto não ligarem. E não quero ficar lá hoje. Estou com raiva do FBI.

SCULLY: - Do FBI ou de alguém no FBI?

MULDER: - ...

SCULLY: - E o exame? Já que temos a tarde livre poderia aproveitar e...

MULDER: - Vou fazer amanhã.

SCULLY: - Mulder, por favor! Vamos ser racionais!

MULDER: - Como vou ser racional diante do que você tá me pedindo? Você quer que eu dê minhas costas pra um desconhecido enfiar o dedo no meu...

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - (BEIÇO)

SCULLY: - É pro seu bem homem de Deus! Não tem nada demais! É um profissional, um médico!

MULDER: - Não tem nada demais porque não é em você que vão enfiar um dedo! Isso é constrangedor!

SCULLY: - Ah, sim, Mulder. Se você tivesse que ficar de pernas abertas pra um desconhecido, em posição de frango assado, aí sim você ia saber o que é constrangedor! Você não sabe o quanto é chato ir a um ginecologista! Se soubesse, nunca iria reclamar de um maldito exame de próstata!

MULDER: - Eu não vou fazer isso.

SCULLY: - Ah, é assim?

MULDER: - É!

SCULLY: - Está bem. Que seja!

Scully retira as luvas de borracha do bolso do avental. Veste a luva. Estala a luva. Mulder olha pra ela. Levanta-se, pulando pelo sofá e sobe as escadas em disparada. Barulho da porta do quarto se fechando. Scully para nas escadas.

SCULLY: - (GRITA) Mulder??? O que deu em você?

MULDER: -(GRITA) Não toque em mim, sua maluca tarada!

Scully veste a outra luva de borracha, debochada. Entra na cozinha. Aproxima-se da pia, num semblante debochado. Começa a lavar a louça.

SCULLY: - O que ele pensou? Pronto, agora sim posso lavar a louça sem estragar as unhas.


1:34 P.M.

[Som: Lulu Santos – Um pro Outro]

Mulder com Victoria no colo, sentado no sofá. Victoria reinando. Scully ajoelhada tentando cortar as unhas da menina.

SCULLY: - Filha, para com isso!

VICTORIA: - Ói!!!

SCULLY: - Não dói nada, sua medrosa.

VICTORIA: - Ói!! Mama!!!! Nah!

SCULLY: - Olha o tamanho dessas unhas! A mocinha da mamãe não pode ficar com as unhas sujas e grandes desse jeito. Tá vendo? Olha que sujeira!

VICTORIA: - Nah!

SCULLY: - Sim, sujeira sim, projeto de Fox Mulder de saias! Depois cria bactérias.

VICTORIA: - (INTERROGANDO COM OS OLHOS)

SCULLY: - Criam bichinhos debaixo das unhas do neném. Bichinhos que deixam o neném doente.

VICTORIA: -(OBSERVANDO COM MEDO)

SCULLY: - Mulder, por que está tão calado?

MULDER: -(VIAJANDO)

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - Ahn?

SCULLY: - Em que planeta estava?

MULDER: - Pensando longe... Juntando uns fatos na minha cabeça e tentando encaixá-los.

SCULLY: - Não vai começar a falar de conspirações, Mulder! Victoria está quase com um ano e não tentaram mais nada. Sei que estão quietos demais, mas talvez tenham desistido.

Victoria tenta se soltar. Mulder a põe no chão, entre os brinquedos. Scully senta-se ao lado dele.

[Sons de batidas e barulho de escavadeira.]

SCULLY: - Mulder... Relaxa um pouco, por favor. Você me deixa angustiada.

MULDER: - Estou só cansado. É isso. Parece que o meu tempo está passando... Acho que finalmente entrei na crise dos 40.

SCULLY: - Que tal a gente subir? Eu faço uma massagem em você.

MULDER: - Quero ver o jogo. Se tiver a coragem de levantar pra pegar o controle remoto. E se esses infelizes pararem de fazer barulho!

Scully se recosta nele. Põe as pernas sobre o sofá. Mulder a envolve nos braços. Silêncio. Os dois distantes. Victoria engatinha, pega brinquedos. Atira-os longe. Engatinha até eles, brinca. Se ergue, tentando caminhar segurando-se nos móveis, cai. Se cansa, volta pra perto do sofá. Senta-se e encara os dois. Eles olham pra ela.

SCULLY: - Estou pensando na festinha de aniversário de Victoria. Disse à mamãe que vamos fazer o aniversário dela no dia 24 mesmo. Depois ficamos aqui, comemoramos o natal e dia 25 pegamos as malas e vamos viajar. Só voltaremos em janeiro.

MULDER: - Tem certeza de que quer ir pra Roma?

SCULLY: - Quero sim. Quero sair um pouco daqui. Eu nunca viajei pra fora do país por diversão.

VICTORIA: - Oma!

MULDER: - (SORRI) Pizza, filha. Muita pizza.

VICTORIA: - Oba!

SCULLY: - (RINDO) Como ela é comilona! A gordinha da mamãe! Não rejeita nada!

MULDER: - Nem ração de cachorro...

SCULLY: - (RINDO) Vai fazer 1 aninho... Como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que ela estava aqui dentro da minha barriga...

MULDER: - O que vamos fazer em Roma?

SCULLY: - Passear, oras! Vamos a museus, igrejas... Vaticano... Quero ir pra Veneza...

MULDER: - Esse seu roteiro tá muito religioso.

SCULLY: - Mulder, é meu sonho conhecer a Itália. Fazer uma viagem romântica...

MULDER: - Por que não a Espanha? Hum? Por que não a Alemanha?

SCULLY: - Se você for pra Alemanha não vai ter descanso nenhum. Eu conheço você, Fox Mulder. Vai ficar pra lá e pra cá seguindo mapas com um advogado ao lado tentando requerer do governo, propriedades de família que foram tomadas por nazistas na segunda guerra.

MULDER: - ... Devo isso ao Klaus. Tenho que tirar um tempo pra fazer essas coisas. Aos judeus o que é deles. Não quero nada, quero só pegar o que é meu e doar. Mas não deixar pra governo nenhum.

SCULLY: - Roma?

MULDER: - Ok, você venceu, vamos pra Roma. Vamos ver o Papa, vamos andar por todas as igrejas... Enquanto você fica babando eu tiro fotos da arquitetura... Quero ligar a TV, mas te juro que tô com preguiça de procurar o controle ou de me levantar pra fazer isso...

SCULLY: - Hum, quem sabe vamos pra cozinha? Você me ajuda a fazer um chocolate quente, a gente sobe, ficamos os três juntinhos na cama... Depois que Victoria dormir, vamos fazer coisinhas...

MULDER: - Gostei dessa ideia.

Scully sorri. Os dois se levantam e vão pra cozinha.


2:06 P.M.

Scully prepara o chocolate. Mulder entra pela porta dos fundos com uma sacola.

MULDER: - Encaixaram a piscina. Estão terminando... Não tinha o filme que você queria.

SCULLY: - O que trouxe?

MULDER: - Ação.

Scully olha pra ele, erguendo a sobrancelha. Mulder sorri.

MULDER: - E um romance.

SCULLY: - Ah, agora sim! Tem George Clooney, Antônio Banderas ou Bruce Willis?

MULDER: - (CHEIRA O PESCOÇO DELA) Não, mas tem Fox Mulder.

SCULLY: - Hum... (SORRI) Adoro esse também. É um ótimo policial, um detetive fantástico, tem um charme incrível e é bom de cama.

MULDER: - Você tá me confundindo com o Shaft.

Scully ri. Serve duas canecas. Entrega uma pra Mulder.

MULDER: - Trouxe um Almodóvar pra você.

SCULLY: - Oba! (ESTRANHANDO) Victoria está tão quieta... Mulder, veja se ela não está aprontando alguma coisa. Sentido de mãe nunca falha.

Barulhos. Os dois olham pra porta.

MULDER: - (GRITA) Pinguinho, se comporte ou vai pra cama tirar uma siesta!

SCULLY: - Quer marshmallow?

Mulder olha pra Scully. Os dois trocam um beijo longo.

VICTORIA: - Dah!

Os dois soltam os lábios. Olham pra porta. Victoria, a passos confusos vem caminhando, até cair sentada. Scully põe a mão nos lábios, surpresa, escondendo um sorriso. Mulder agacha-se no chão. Chama Victoria com as mãos.

MULDER: - Quer marshmallow? Hum?

VICTORIA: - Dah!

MULDER: - Vem no papai, vem. Vem aqui que mamãe vai dar marshmallow pra você...

SCULLY: - (ESTENDENDO AS MÃOS) Vem filhinha! Vem! Mamãe não vai deixar você se machucar... Vem!

Victoria apoia as mãos no chão, erguendo o bumbum rechonchudo com fraldas. Vai dando passinhos, com os braços abertos, em direção a eles. Quase cai, Mulder a segura. Olha pra ela rindo.

MULDER: - Meu Pinguinho está caminhando? É?

Mulder a ergue no alto. Victoria começa a rir.

MULDER: - Mamãe, Pinguinho está caminhando! Aplausos pra ela.

Scully bate palmas. Victoria bate palmas também.

SCULLY: - Oh, filha! (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS)

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Minha filha está... (CHORANDO/ EMOCIONADA) Caminhando...

MULDER: - Shi, filha, sua mãe se emocionou! Vai com a mamãe, vai. Faz carinho nela.

Scully pega Victoria a abraçando forte. Scully coloca Victoria no chão. A segura pelas mãos. Começa a caminhar com ela pela cozinha.

SCULLY: - Mulder, olha só! Ela tá pegando o jeitinho!

MULDER: - Percebi. Agora vou ter que comprar uma coleira...

VICTORIA: - Nah!

MULDER: - Só gostaria de saber por que essa menina ainda não fala direito.

SCULLY: - É, já devia estar falando mais...

MULDER: - Até nisso ela é diferente...

Corte.


Mulder numa extremidade da sala. Scully em outra, segurando Victoria.

MULDER: - (CHAMANDO COM AS MÃOS) Vem no papai, vem!

Scully solta Victoria. Ela vai correndo, atrapalhando-se nas pernas, Mulder a segura. Scully bate palmas. Chama com as mãos.

SCULLY: - Vem na mamãe, vem, Docinho!

Mulder solta Victoria e lá volta ela correndo aos risos pra Scully, toda atrapalhada.

MULDER: - Pinguinho, estamos brincando de bobinho. Adivinha quem é o bobinho?

VICTORIA: - (RINDO) Nah! Nah! Nah!

MULDER: - (PIDÃO) Ah, papai tá tão triste... Vem no papai vem...

Victoria dá risadas e volta pra Mulder.


3:44 P.M.

Meg olha pra Mulder, enquanto segura Victoria no colo. Victoria batendo palmas, rindo, toda arrumadinha de vestido, tiara, sapatinhos e meias de babados.

MARGARET: - Não me olhe com essa cara. Voltamos antes das 10 da noite, depois da biriba.

MULDER: - Espero que seja depois da biriba e não depois da birita.

MARGARET: - Fox, por favor! É aniversário de criança. Como vou dizer pra minha amiga Penélope que não vou levar minha netinha no aniversário da netinha dela?

SCULLY: - Mulder, deixe Victoria se divertir. Pobrezinha, nunca tem criança por aqui. Ela precisa conviver com crianças. Olha como ela está empolgada!

MULDER: - Meg, leve uma coleira. Ela começou a caminhar.

SCULLY: - Mulder! Minha mãe criou quatro filhos!

Scully abre a porta. Meg dá um beijo nela.

MARGARET: - Aproveitem e façam algo juntos. Tá bom às 10 ou mais tarde?

SCULLY: - Pode ser às 10.

Meg sai. Mulder fica na janela espiando.

SCULLY: - Mulder, pare com isso!

MULDER: - Ela tá levando nossa filha...

SCULLY: - Mulder, quer deixar de ser chato?

MULDER: - Se algo acontecer já sabe muito bem quem eu vou culpar.

SCULLY: - Nada vai acontecer. Ela só vai brincar, se divertir e comer gulodices.

MULDER: - Acho que vou com ela...

SCULLY: - Mulder!

Mulder senta-se no sofá. Scully se aproxima e senta-se no colo dele.

SCULLY: - Quer relaxar? Hum? (ABRINDO A CAMISA DELE) Ficar bem relaxadinho...

MULDER: - Não consigo relaxar quando Victoria está longe.

SCULLY: - Que tal... (TIRANDO A CAMISA DELE) A gente se distrair um pouquinho?

MULDER: - ... Pra quê? Pra eu ficar excitado e o telefone tocar?

SCULLY: - Não vai tocar... (PASSANDO AS MÃOS PELO PEITO DELE/ SUSSURRA) Agora pode ficar excitado... (LEVA AS MÃOS AO ZÍPER DELE) Completamente excitado... Hum?

MULDER: - Scully... Para de me agarrar! Não brinca desse jeito comigo que o bom rapaz vai embora e o cafajeste vem chegando...

SCULLY: - Hum, meu cafajeste... E além do mais... (LAMBE O ROSTO DELE) O que vamos ficar fazendo a tarde toda? Hum? Deixa eu te agarrar todinho... Assim, bem gostoso...

MULDER: - (SORRI/ MALICIOSO) A tarde toda é?

SCULLY: - É... Ou tem algum compromisso inadiável?

Mulder desliza os dedos pela blusa dela, abrindo os botões.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tenho uma reunião inadiável... (AFUNDA O ROSTO ENTRE OS SEIOS DELA) Com os seus peitos...

SCULLY: - (RINDO) E o que vão conversar?

MULDER: - Não vou conversar... Vou devorá-los...

SCULLY: - Seu canibal! Hum, Mulder... Ai! Não morde forte! Guloso...

MULDER: - O que você tá procurando nas minhas calças?

SCULLY: - Já achei...

MULDER: - Tem festinha hoje é?

SCULLY: - Tem... Muita festa...

Scully se levanta. Mulder olha pra ela, frustrado.

MULDER: - Vai pular fora e me deixar aqui cheio de tesão?

SCULLY: - Não. Vou buscar champanhe. Vá para o banheiro e depois pra cama, Mulder. Quero você todo molhadinho, com aquela calça sexy do pijama. Quero abrir aquela cordinha lentamente com os dentes.

MULDER: - Yhaaaaaaaaaa!!!!!! Dá-lhe Dana Scully! Só vou avisando que a coisa hoje vai pegar fogo e que não tô pra brincadeira. Tenha noção das consequências de me provocar. Se quer cair fora, cai agora, porque eu não vou me responsabilizar depois.

SCULLY: - Hum... Eu tenho juízo. Sei bem onde estou me metendo...

MULDER: - (MALICIOSO) Não deveria ser eu a dizer isso?

SCULLY: - (RINDO) Anda, seu boca suja tarado! Sobe de uma vez que eu tenho uma surpresinha pra você... Você vai delirar...

MULDER: - (SACANA) Só uma perguntinha básica: Quem manda hoje?

SCULLY: - Eu mando. E não vá dormir. Só porque está em casa não significa que vá descansar. Tem que trabalhar muito! Tem que dar duro, Mulder.

MULDER: - Dormir? Tais brincando! Tô lá em cima te esperando prontinho pra dar duro!

SCULLY: - Que língua suja, Mulder... Vai me dizer muita sujeira hoje?

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Porque eu estou cheia de sujeiras pra te dizer ao pé do ouvido até às 10 da noite! Você prefere leite condensado ou chantili?

MULDER: - Uh!

Mulder sobe as escadas, empolgado. Scully sorri e vai pra cozinha.


4:21 P.M.

[Som: Ritchie – Casanova]

Mulder deitado na cama, só com as calças do pijama, cabelos molhados. Observa a champanhe ao lado da cama. Olha pra porta fechada do banheiro.

MULDER: - O que você tá aprontando aí dentro?

SCULLY: - Nada.

MULDER: - Você esqueceu as taças.

SCULLY: - Pra que taças? Eu prefiro beber no gargalo.

MULDER: - Uh! Scully, eu tô tremendo feito vara verde.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Não ouvi direito, Mulder... Que vara está tremendo?

Mulder mete o travesseiro na cara, se encolhendo.

MULDER: -Isso é tortura auditiva! Como pode caber tanta sacanagem numa mulher tão pequena?

Mulder tira o travesseiro do rosto. Abre o champanhe.

MULDER: -Você vai me deixar tão doido que vou acabar tendo um enfarto e morrer em cima de você! Só quero ver como vai conseguir fechar o caixão...

Scully sai do banheiro. Corpete negro de rendas e ligas, meias 7/8, tanguinha, saltos altos. Cabelos desfiados pelo rosto, batom vermelho. Mulder abre a boca, catatônico.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - (CATATÔNICO)

SCULLY: -(RINDO) Mulder!

MULDER: - Amhm ma mm mmm

SCULLY: - Está falando como sua filha e não estou entendendo nada.

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) Ai meu coração... Meu testamento e seguro de vida estão dentro do closet. Diga aos meus amigos que eu gostava deles, diga a minha filha que ela era muito importante pra mim e não coloque crisântemos no meu caixão... Adeus, mundo cruel!

Scully sorrindo sacana, pega o champanhe e anda de joelhos pela cama até ele. Mulder morde os lábios.

SCULLY: - Quer fazer gracinhas é? É gracinha que você quer? Hum? (BEBE NO GARGALO/ LAMBENDO A GARRAFA) Vou te dar gracinhas...

MULDER: - Eu sempre percebi, mas não admitia pra não atiçar a cachorrada faminta...

SCULLY: - Do quê está falando?

MULDER: - Nada. Coisas de macho.

SCULLY: - Mulder... (LAMBE A GARRAFA) Você está me dizendo que eu sou sexy?

MULDER: - Eu sempre disse que você era sexy. Você é tão sexy que eu não me surpreenderia se alguém batesse à porta te convidando pra posar nua.

SCULLY: - E você deixaria?

MULDER: - Por deus que eu deixaria! Queria ver todo mundo babando e invejando o que eu tenho! Mas nu artístico!

SCULLY: - (SORRI) E um nu erótico? (BEICINHO) Vulgar? Podre?

MULDER: - Não, esse é exclusividade pra mim. Acha que sou besta é?

Mulder escora-se na cama, olhando encantado pra ela.

MULDER: - Vai ser gostosa assim lá no raio que o parta! Pelo amor de Deus! Me deixa só olhar um pouco, porque eu tô fascinado! Sabe criança, né? Fica olhando pro brinquedo, estudando as formas, pensando no que pode fazer e sonhando longe...

SCULLY: - (RINDO) Mulder, deixa de ser bobo. Não tem nada aqui que você não conheça.

MULDER: - Tudo aí é constante mistério. É como várias dimensões, você sempre volta no mesmo lugar e tem surpresa... Faz uma coisa pra mim?

SCULLY: - Tudo.

MULDER: - Fica mais longe... Ali, no pé da cama. Faz umas poses sensuais pra eu ficar aqui enlouquecido e uivando feito lobo faminto!

SCULLY: - Isso irritaria meu lado feminista.

MULDER: - Não mesmo. Olhar e desejar não significa que você seja objeto. (PIDÃO) Vai, faz isso pra mim, faz... É o seu Mulderzinho quem tá pedindo...

SCULLY: - (INDO DE QUATRO PROS PÉS DA CAMA/ INOCENTE) Eu não sei fazer isso...

MULDER: - Yhaaaaaaaa!!!!! Que calor que tá aqui dentro!

SCULLY: - (RINDO/ SENTA-SE) Mulder!

MULDER: - Que traseiro, Scully! Que pernas, que peitos, que corpo!

SCULLY: - (SORRI) Gosta é?

MULDER: -(EMPOLGADO) Claro que eu gosto! Joga o corpo e os cabelos pra trás... Isso... Eu digo e você faz... Ai meu Deus, que vontade de tirar fotos de você desse jeito!

SCULLY: - Fetiche?

MULDER: - Com certeza não seria pra espalhar pela internet pra um bando de tarados desocupados se divertirem com as mãos olhando pra você! Agora deita de lado... Faz um beiço bem sexy, passando as mãos pelo corpo... Scully... (RINDO) Deixa eu dizer uma coisa...

SCULLY: - Hum, diretor?

MULDER: - Gostosa! Auuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!The best of Scully's nude!

SCULLY: - (RINDO) Quanta perversão pra duas pessoas sérias.

MULDER: - Não somos sérios! Nunca fomos. Talvez lá dentro do FBI, mas aqui na vida privada... Gostei daquela sua ideia da câmera... Entendeu?

SCULLY: - (RINDO) Não fala sério!

MULDER: - Falo!

SCULLY: - Mulder, admito que seria muito excitante. Mas o que faríamos com a fita? Teríamos de esconder isso muito escondido!

MULDER: - Estou com vontade de começar a fazer meus próprios filmes caseiros...

SCULLY: - Fox Mulder... Isso não vai dar certo...

MULDER: - A gente olha e depois destrói. Combinado?

SCULLY: - ... Eu sei que vou me arrepender disso... Busque a câmera, diretor. Vou ajeitar o cenário... Preciso decorar os diálogos?

MULDER: - E quem vai falar aqui? O roteiro é improvisado. Desde quando esse tipo de arte tem diálogos?

SCULLY: - Arte? Desde quando isso é arte, Mulder?

MULDER: - Claro que é arte. Se a arte é toda expressão humana, isto é arte. (SACANA) E além do mais, Scully... Você sabe que nós dois juntos sempre fazemos muita arte.

SCULLY: - Pensei que faria um pornô alternativo. Seja criativo, Mulder...

MULDER: - Serei muito, acredite.

Mulder sai correndo do quarto. Scully suspira.

SCULLY: - Sei não, Mulder. Você como cineasta não me parece ter futuro. Nem carro você consegue dirigir direito, quanto mais um filme! O que você fez na tarde de folga do trabalho, Dana? Eu? Hum, eu fui fazer um extra como atriz pornô pro meu marido que está com síndrome de diretor de cinema de terceira categoria!

Mulder entra no quarto com a câmera. Começa a ajeitá-la num tripé.

SCULLY: - E o cachê? Quero saber quanto vou ganhar com isso.

MULDER: - Se a bilheteria for grande...

SCULLY: - Mulder, nem ouse em algum momento de insanidade deixar essa fita aí por cima! Não quero bilheteria nenhuma! O marketing todo se limita entre nós... Como vai editar isso?

MULDER: - Pra que editar o que já rola perfeito?

SCULLY: - (SORRI) Mulder... Só você mesmo pra despertar essa fera doentia aqui dentro.

MULDER: - Vamos lá, fera doentia... Luzes, câmera... (PULA NA CAMA) Ação!


9:12 P.M.

[Som: João Penca e seus Miquinhos Amestrados – Lágrimas de Crocodilo]

Scully acorda-se. Mulder dormindo de bruços, nu. Scully se levanta, preguiçosamente. Veste um robe. Observa o quarto.

SCULLY: - Eu tenho que dar uma ajeitadinha na casa... Pôr as roupas pra lavar... Hum, acho que vou pegar uma roupa e tomar um bom banho pra acordar.

Scully abre o closet. Olha pras camisetas de Mulder, dobradas. Suspira.

SCULLY: - Quantas vezes eu já disse pra ele colocar isso fora e comprar camisetas novas? Tem umas que parecem ter saído da guerra civil americana!

Scully sai do quarto. Volta com um saco plástico preto. Pega um bolo de camisetas e joga dentro. Fecha-o.

SCULLY: - Vai pro lixo! Quando ele sentir falta aí sim vai comprar, esse sovina descarado.


10:39 P.M.

[Som: Biquíni Cavadão – Timidez]

Mulder olha sério para os cinco pedreiros que embalam seus pertences em sacos pretos de lixo. Caminha ao redor da piscina, verifica tudo.

MULDER: - É. Acho que está tudo ok. Se não estiver eu encontro vocês.

Corta para a frente da casa. Scully com Victoria dormindo em seu colo, se despede de Meg, que vai embora de táxi. Mulder aproxima-se.

MULDER: - Finalmente nos livramos dos pedreiros. Estão juntando tudo pra ir embora.

SCULLY: - Acho que a festa foi demais pra sua filha. Chega a suspirar dormindo, de tão cansada.

MULDER: - Vamos pra dentro. Coloque-a na cama. Depois vamos assistir a nossa fita?

SCULLY: - (SORRI) Seu pervertido, sem vergonha...

Scully entra em casa. Mulder a segue, trancando a porta. Scully sobe as escadas e Mulder vai pra cozinha. Observa os pedreiro indo embora.

MULDER: - Finalmente livre da ameaça... (SORRI) Pena que é outono e não vai dar pra usar a piscina...

Scully entra na cozinha.

SCULLY: - Hum... E então, 'diretor', vamos assistir ao nosso filminho?

MULDER: - Vamos. Vou pegar o vinho e talvez saia uma reprise ao vivo.

SCULLY: - Mulder, me faz um favor? Coloque o lixo pra fora. Deixei o saco na varanda. Vou subindo, preparar o vídeo e... (SORRI) Onde colocou a fita, Mulder?

MULDER: - Num lugar que nunca ninguém poderá pegar.

SCULLY: - Onde?

MULDER: - No meio das minhas camisetas velhas.

Scully tira o sorriso do rosto em pânico. Corre pra porta, abre-a e olha na varanda.

SCULLY: - Mulder, cadê o lixo?

MULDER: - Como vou saber?

SCULLY: - Estava aqui num saco plástico preto...

MULDER: - Ah, quem liga pro lixo? Vamos ver nossa fita...

SCULLY: - Mulder... (FECHA OS OLHOS/ APAVORADA) Eu coloquei suas camisetas... Naquele saco de lixo!

Os dois se olham em pânico. Saem correndo pelo quintal, procurando o lixo.


Em algum lugar de Washington...

[Som: Ultraje a Rigor – Sexo]

Os cinco pedreiros com as pernas pra cima, num apartamento pequeno e bagunçado, assistem a um certo vídeo instrutivo, comendo pipoca.


X


22/06/2002

15 de Septiembre de 2019 a las 21:02 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

Comenta algo

Publica!
No hay comentarios aún. ¡Conviértete en el primero en decir algo!
~