opoetaurbano Rafael Reis

Um homem sem memória e quebrado parte em busca de suas outras "partes", nesse conto simples viajamos até suas personalidades encarnadas em pessoas reais e nos perguntamos, como seria encontrar um pedaço de si mesmo andando por aí?


Ciencia ficción Todo público.

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Capítulo 01 - O quarto

Eu acordo em um quarto que não é meu, digo que não é meu pois não tenho lembranças de nada dele, a cor do carpete, a mancha de goteira no teto, a poltrona com um corte no tecido, nada, que me remete a nada.


Eu vim aqui com alguém? Sozinho? Eu pretendia morar aqui?
Duas camas de solteiro desarrumadas, uma mala pequena aberta, roupas jogadas para lá e para cá, mas nenhum item pessoal, sem recibos de contas, carteira, cartões, apenas um pouco de dinheiro dobrado em cima do frigobar, nem mesmo o melhor dos detetives saberia como começar por aqui.


Me levanto e caminho em direção ao banheiro dando provavelmente dois ou três passos para isso - um quarto de hotel barato não precisa ser grande -, ao entrar, lavo as mãos e as levo ao rosto, me sinto estranho como se de ressaca, mas sem aquela dor de cabeça característica, sabe? Olho no espelho, um sujeito desconhecido com o rosto confuso me olha de volta, olhos castanhos e desconhecidos se movem visualizando aquele rosto severo e cansado, olheiras, cabelo desarrumado e um ponto de interrogação imaginário na testa.


Vejo um corte no meu queixo e fico imaginando por um tempo se teria sido uma travessura de criança, briga de adolescente ou mesmo ou um descuido de adulto. Minha divagação é interrompida por uma porta se abrindo de maneira descuidada e barulhenta.

Jack entra de supetão no quarto enquanto devora um hambúrguer com pressa, consigo ver um pouco do molho escorrendo por sua camisa e um lanche meio mastigado em sua boca, que insiste em fazer duas coisas ao mesmo tempo, falar e comer, sua conversa não me traz paz ou tranquilidade.


- Você tem algo que muitas pessoas gostariam de ter, Clay, você não tem arrependimentos, frustrações, decepções, essas coisas que botam a gente para baixo e nos impedem de tentar fazer algo novo.


- Eu não tenho nada Jack, não tenho lembranças, não sei nada sobre mim mesmo! Como posso saber o que fazer? Essas mãos aqui, minhas mãos, já acariciaram uma mulher? Tocaram harpa ou flauta? Levantaram casas? Eu não sei por onde começar nem para onde ir.


- Exato Clay, você pode ser qualquer coisa.





31 de Agosto de 2019 a las 00:43 0 Reporte Insertar Seguir historia
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