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S05#07 - THE TRUTH IS IN YOUR HEART - PARTE II

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Fade in]

[Som: Foreigner – I Want To Know What Love Is]

[Fade out]

TEMPO REAL:

Apartamento de Mulder – 10:21 P.M.

Close na mão de Scully. O anel. A taça de vinho tinto que ela segura, observando de perto a cor avermelhada contra o cristal.

SCULLY: - Sangue...

Abre o ângulo. Os dois estão sentados no sofá. Mulder aproxima e cola o rosto ao rosto dela, observando a taça também.

SCULLY: - Quanto do nosso sangue ainda precisará ser derramado para conseguirmos atingir a nossa felicidade?

MULDER: - ...

SCULLY: - Quantas mágoas ainda teremos para conseguir atingir aquilo que chamamos de vitória: triunfar sobre o inimigo, fazer justiça aos comuns e ser felizes com o nosso filho?

Mulder afasta o rosto e olha pra ela.

MULDER: - Mais nenhuma.

Scully olha pra ele. Ele passa a mão no rosto dela. A aliança brilha contra a luz. Ela fecha as pálpebras suavemente. Mulder fala reafirmando convicto suas palavras, olhando pra ela com aquele seu olhar doce de ternura.

MULDER: - Mais nenhuma. Nunca mais... É uma fase nova pra nós dois Scully... Nós começamos de novo. E agora estamos mais espertos, aprendemos a lidar com essa gente. Eles atrapalham a nossa felicidade. Agora chegou a nossa vez... E você tem a certeza disso dentro de você.

Mulder continua-a a olha-la, segurando o rosto dela com a mão. Scully, de olhos fechados, desliza o rosto pela mão dele, sentindo-o em sua pele, num sorriso. Ele a admira com os olhos brilhando.

MULDER: - Posso esquecer até mesmo o meu nome. Mas não da promessa que eu te fiz. Estou a mantendo.

SCULLY: - ... (OLHOS FECHADOS/ SENTINDO A MÃO DELE EM SEU ROSTO) Nunca ninguém respeitou meus sentimentos e os fez saírem de dentro de mim. Nunca ninguém olhou sem medo dentro dos meus olhos. Nunca ninguém me fez sorrir como uma menina boba. Nem cumpriu sua promessa feita na primeira noite. Nunca nenhum deles me disse coisas bonitas, nem se preocupou com a minha auto-estima. Nunca me deram nada em troca. Nunca alimentaram o meu desejo de ser feliz.

Mulder retira a mão do rosto dela. Abaixa a cabeça timidamente. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Apenas você, Mulder. Eu poderia citar todos os seus defeitos. Mas eles são tão ínfimos diante das suas virtudes, da grandeza desse seu coração.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Hum?

Mulder ergue a cabeça. Está quase derrubando lágrimas.

MULDER: - Você tá me fazendo chorar...

Ela sorri. Revira os cabelos dele como menina sapeca.

SCULLY: - Então vamos parar.

MULDER: - Não, não para não.

Mulder deita a cabeça no colo dela e se encolhe no sofá. Fecha os olhos. Ela fica fazendo carinhos nos cabelos dele.

MULDER: - Eu gosto de você. Por isso eu retribuo o que você me dá, porque eu sei que você gosta de mim.

SCULLY: - ...

MULDER: - Porque você me dá carinho. E eu fui acostumado a receber patadas a vida toda.

SCULLY: - Chega de patadas, Mulder. O primeiro que te ofender ou que te magoar vai se entender comigo. Deixa com a sua Scully aqui. (DEBOCHADA) Eu sou baixinha mas tenho boa pontaria e uso salto 20. E quando eu grito, todo mundo se encolhe num canto e fica de olhos arregalados: ‘Ei, é a sargento Scully que está vindo!’

Ele sorri, ainda de olhos fechados.

SCULLY: - Se metam com o meu Mulderzinho pra ver o que acontece. (FEROZ) A leoa aqui dá uma rugida e não para a perseguição até estraçalhar a caça.

MULDER: - Uau!

SCULLY: - (RINDO) ...

MULDER: - Você me tornou humano, Scully. Você me fez descobrir uma coisa chamada amor. Eu nunca pensei que conseguiria amar alguém... Você me mostrou o amor, uma vida, sentimentos humanos...

SCULLY: - ...

MULDER: - Por isso eu acho tão injusto o que acontece conosco. A gente não merece isso. O nosso amor sempre foi tão meigo, sincero, que tem certas coisas que eu não posso conceber. Coisas que fazem contra a gente. Que distorcem de nós dois... A gente merece um final digno nessa coisa toda, Scully. Juntos.

SCULLY: - Eu sei Mulder... Também sinto uma dor lancinante no meu peito e me questiono todos os dias sobre os porquês da vida...

MULDER: - Mas você nunca me respondeu a uma pergunta que eu fiz.

SCULLY: - Que pergunta?

MULDER: - Não se arrependeu ainda de estar comigo?

SCULLY: - Mulder, as coisas que aborrecem muitas vezes acontecem por amor. E se eu tivesse que reviver todas as coisas pelas quais passei pra ter você, mesmo que tão sofridas, eu reviveria tudo novamente. Por que não me arrependo por nenhum segundo da minha vida de ter tido a coragem de aceitar esse desafio. Você é o prêmio que eu tive. E eu rezo humildemente todas as manhãs em agradecimento a isto.

Os dois se abraçam. Olhares perdidos no tempo que se passou.

VINHETA DE ABERTURA: THE TRUTH IS IN OUR HEART



BLOCO 1:


O DEPOIS NA PRIMEIRA NOITE...

FLASH BACK:

Apartamento de Mulder - 2:21 A.M.

[Som: Elvis Presley – Always on My Mind]

Câmera de aproximação pelo quarto, iluminado apenas pelas luzes de velas. O silêncio só é quebrado pela música.

Scully deitada na cama, enrolada no lençol preto, de costas pra Mulder. Ele de cuecas, com os braços envolvidos nela, acariciando o braço dela ternamente, de olhos fechados. Ela com o olhar perdido num ponto de fuga.

Ela fecha os olhos. Mulder continua a acaricia-la, como se precisasse toca-la pra ter certeza de que aquilo está acontecendo.

Scully suspira. Abre os olhos. Perde o olhar no nada, novamente.

SCULLY (OFF): - ... (NERVOSA) Ele não dorme. Eu tenho que ir embora. Eu preciso ir embora, mas ele não dorme. Por que ele não dorme?

Mulder continua acariciando-a. Ela distante, perdida em indagações.

SCULLY (OFF): - Mas eu não quero ir embora. Mas se eu ficar, é chato. A pior coisa pra um homem é uma mulher insistente. Eu não posso ser insistente. Eu o amo, não quero perde-lo. Eu tenho que ir embora. Ou ele vai pensar que eu sou insistente. É, estou certa. Daquela vez que Jack acordou e perguntou o que eu estava fazendo ali ainda? Se alguém me visse sair do prédio iria parar nos ouvidos do FBI e comprometer a carreira dele... Meu Deus, eu tenho que ir embora ou ele vai se zangar... Mas ele não dorme. Eles geralmente dormem, por que ele não?

MULDER (OFF): - ... Eu queria que ela nunca mais saísse daqui. Mas acho melhor eu não insistir ou ela vai notar que eu sou pegajoso. Mulheres não gostam de homens pegajosos... A Phoebe me disse isso na nossa primeira noite quando eu disse que queria casar com ela. E riu da minha cara. Eu sou um tolo sentimental, tenho que me conter ou vou perde-la... Não posso perder a Scully. Eu não posso perde-la.

SCULLY (OFF): - Eu não quero ir, mas preciso ter coragem e me levantar. Ele só falou aquelas coisas sobre ficar aqui porque está empolgado. Amanhã vai passar e eu vou acabar sofrendo. Ele vai inventar que tem coisas a resolver e que eu devo ir embora... Ele tem os céus para perscrutar e estou atrapalhando ele... Eu não deveria ter dito eu te amo. Homens odeiam ouvir eu te amo enquanto fazem amor. E afinal de contas, uma noite sempre termina com alguém indo embora. E nesse caso quem tem que ir sou eu, o apartamento é dele.

MULDER (OFF): - Eu não deveria ter falado tanto dos meus sentimentos por ela. Ela deve estar pensando que eu só quero conquista-la pra uma transa... Eu queria dizer pra ela nunca mais sair daqui, mas se eu falar isso, ela vai achar que sou precipitado. Eu nunca deveria ter começado isto, deveria ter deixado no platônico, no intocável. Eu me conheço, eu acabo me entregando e quero a pessoa comigo o dia todo. E ela vai me chamar de machista e possessivo. Perdi a Scully... Meu deus, eu sinto que perdi a Scully. Eu fiz tudo errado de novo!

Scully levanta-se num rompante, levando o lençol junto ao corpo. Enrola-se no lençol. Pega suas roupas atiradas no chão e vai em direção ao banheiro. Mulder olha pra ela assustado.

MULDER: - Aonde você vai?

SCULLY: - Embora.

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - E-eu tenho coisas pra fazer.

MULDER: - Às duas da manhã?

SCULLY: - Esqueci que não molhei minhas plantas e...

MULDER: - (CULPADO) Scully, o que eu fiz de errado?

SCULLY: - (NERVOSA) Nada. É que eu tenho que ir.

MULDER: - Fiz algo de errado, não é?

SCULLY: - Mulder, você está empolgado e é natural. Mas quando acordar, você vai ficar se perguntando o que eu faço aqui ainda.

MULDER: - Isso não deveria ser apenas quando você transa por transar? Ou é assim que funciona sempre? Ou eu fiz algo de errado que magoou você?

SCULLY: - Por que me pergunta isso?

MULDER: - (CABISBAIXO/FRUSTRADO) Porque até hoje todas as mulheres que eu tive levantam no meio da noite e vão embora. Acho que o problema é comigo. Eu falo demais. Sou pegajoso demais!

Ela solta a roupa no chão, incrédula. Ele fica cabisbaixo, sentindo-se culpado.

MULDER: - (NERVOSO) Desculpe se eu pedi pra você ficar. Eu... Eu achei que o certo, quando duas pessoas se amam, é ficarem juntas. Na minha cabeça você ficaria aqui eternamente. Desculpe. Eu disse ‘eu te amo’ muitas vezes e você ficou pensando que era só empolgação e fingimento pra atrair você pra cama. Afinal isso é apenas uma noite, as pessoas não costumam se casar na primeira noite, e você tem sua casa, sua vida... É claro que não vai ficar presa aqui... (RI DE SI MESMO) Eu sou um idiota, desculpe... Você vai ter que sair desse apartamento em algum momento e voltar pro seu... Mas eu não quero... Porque talvez você não volte mais... É loucura, a gente vai se encontrar, nem que seja no FBI, mas e se algo acontecer com você e... Desculpe... Eu sou paranoico.

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS/ COM MEDO) Mulder... Pare de pedir desculpas por tudo.

Scully senta-se na cama. Abaixa a cabeça. Começa a chorar. Ele olha pra ela, ficando mais triste e mais arrependido.

MULDER: - É... Eu fiz algo de errado. Magoei você. Eu não queria te magoar.

SCULLY: - Não... (DERRUBANDO LÁGRIMAS, ENROLANDO O LENÇOL NOS DEDOS) Você não fez nada de errado, Mulder... É que nunca nenhum homem quis acordar comigo também. Por isso... Por isso eu queria ir embora, antes que você me perguntasse o que eu ainda estava fazendo aqui. Porque ouvir isso justamente de você, ia doer muito... Me desculpe, eu... Eu não sei como agir com você, eu... Eu tenho tanto medo de perder a minha ilusão... Que prefiro ir logo, antes que alguma coisa que eu não goste aconteça.

Mulder se arrasta na cama, sentando-se atrás dela. Abraça-a por trás. Recosta o queixo em seu ombro.

SCULLY: - (CHORANDO) Eu não quero ir. Nunca mais se possível fosse.

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) Eu não quero que você vá. Nunca mais.

SCULLY: - Mas e amanhã? Mulder, como vamos nos encarar? Ambos estamos sem entender o que está acontecendo, morrendo de medo um do outro! Será que vamos ter assunto? Ou vamos fingir que nada aconteceu? Meu Deus, olha só o que a gente fez! Nós somos amigos! Isso não está certo!

MULDER: - Eu sei que somos amigos. Sei que isto torna tudo muito mais difícil, mas eu não consigo mais reprimir os meus sentimentos. Eles estão explodindo pelo meu peito!

SCULLY: - Eu...

MULDER: - (AFAGA OS CABELOS DELA) Não chora...

SCULLY: - (INCRÉDULA) Você me foge à compreensão! Nada que você faça é condizente com o que vivi na minha vida e com o que eu via no Mulder!

MULDER: - (CULPADO) Me desculpe.

Ela vira-se pra ele.

SCULLY: - (NERVOSA) Me desculpe? Mulder, eu estou em nervos porque você é mais do que eu esperava, você é... Você é o pedaço que completa a minha alma e eu tô morrendo de medo do que estou sentindo, porque sufoca meu peito de tão grande! E mais medo ainda que amanhã você me diga que foi um erro e adeus! E eu fique jogada num canto, sofrendo e tentando imaginar o que eu fiz de errado de novo e por que fui burra a ponto de perder você!

MULDER: - ... (TRISTE) Eu não vou dizer isso.

SCULLY: - (CHORANDO) Eu não quero mais sofrer... Droga! Por que eu vim até aqui? Por que eu não ouvi minha razão?

MULDER: - (CULPADO) Por que eu fui falar o que sentia pra você? Por que eu não inventei que era uma piada? A culpa é minha, Scully. Agora estamos nós dois aqui completamente transtornados. Não dá pra voltar no tempo e desfazer essa noite... E-eu não pensei na sua carreira. Você tem razão, eu não pensei no depois. O que vamos fazer? Mentir? Negar que estamos juntos? Negar o que sentimentos? Esconder isso de todos como estávamos fazendo antes de consumar essa noite?

SCULLY: - (CHORANDO) Deus, eu penso até em ter filhos com você! Estou louca! Completamente louca!

Mulder abaixa a cabeça e põe as mãos no rosto, culpado. Os dois estão completamente assustados. Começa a chuva de autodefesa.

MULDER: - Meu Deus! O que eu fiz com você?

SCULLY: - Você não fez nada de errado, eu pouco me importo se terei de negar esse envolvimento! Eu só não quero que você me abandone!

MULDER: - Mas eu não quero te abandonar! Eu quero viver grudado em você até morrer! Eu quero ser pai dos seus filhos, eu quero acordar pela manhã e ver seu rosto sem maquiagem e seus cabelos despenteados! Eu até quero fazer supermercado com você e ir à lavanderia!

SCULLY: - Isso não está certo, Mulder! Não é assim!

MULDER: - Não está certo não, eu concordo. Não nos conhecemos como homem e mulher, estamos nos precipitando...

SCULLY: - Eu tenho que ir embora!

MULDER: - E eu tenho que ficar sozinho. Você tem razão.

SCULLY: - Você não é homem de se apegar, você tem uma busca, uma vida, eu não tenho nada disso, eu tento seguir você, eu só quero uma casa, uma família... Não sou seu tipo de mulher!

MULDER: - Eu não sou homem pra você, eu não venho de uma família legal, eu sou louco, sou neurótico...

SCULLY: - E eu tenho muitos medos, eu não tive boas experiências, já fui magoada o que chegue nessa vida em matéria de relacionamentos amorosos.

MULDER: - E eu tenho uma busca, você não iria suportar isso. Ia sentir-se em segundo plano, ferida, arriscaria mais a sua vida envolvida com um sujeito como eu e...

Os dois se olham. Param de falar. Mulder põe as mãos no rosto. Deita-se na cama, perplexo. Ela olha pra ele.

MULDER: - Percebeu a gravidade da situação? Por que estamos tentando nos justificar um pro outro?

SCULLY: - Percebi que estamos falando e na verdade queremos a mesma coisa.

MULDER: - (RESPIRA FUNDO) Ok, ok... Vamos ser racionais agora. Se vamos ter um relacionamento, precisamos sempre dizer o que pensamos. Você quer ir embora?

SCULLY: - Não. Quer que eu vá?

MULDER: - Não.

SCULLY: - Ótimo!

MULDER: - Ótimo!

SCULLY: - Então por que estamos discutindo?

Ele faz uma careta de louco.

MULDER: - Por que somos doidinhos...

Ela ri. Seca as lágrimas.

MULDER: - Perturbados... Isso me surpreende.

SCULLY: - Por quê? Não se achava perturbado?

MULDER: - (INCRÉDULO) Por quê? Me acha perturbado, é?

SCULLY: - Desculpe, mas você é.

MULDER: - Tá, eu admito que sou sim, mas nunca imaginei que você fosse uma traumatizada!

SCULLY: - (INCRÉDULA) Eu? Traumatizada???

MULDER: - (RINDO) É, você.

SCULLY: - Traumatizado é você!

MULDER: - É, eu sou. E daí?

SCULLY: - (RINDO) É, eu também e daí? Você tem algo a ver com isso, Fox Mulder?

MULDER: - ... Fox?

SCULLY: - (NERVOSA) Ai, desculpe... Eu sei que você não gosta que te cha...

Ele fecha os olhos.

MULDER: - Fala de novo. Fica tão bonito o meu nome na sua voz... Até me dá prazer em ouvi-lo.

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - (PIDÃO/ DE OLHOS FECHADOS) Fala, vai...

SCULLY: - ... Fox Mulder.

MULDER: - ... (SUSPIRA)

Ela sorri. Abaixa a cabeça. Ele olha pra ela.

MULDER: - Acho que temos mais em comum do que pensávamos. Ok, Scully, encerre este assunto, deita aqui, você nunca ficou pro café da manhã e eu nunca tive a chance de oferecer um café da manhã.

SCULLY: - Vamos fazer um acordo primeiro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tá. Eu faço o primeiro turno.

SCULLY: - (RINDO) Para! Não é isso.

MULDER: - (SORRINDO) Ok...

SCULLY: - Se der certo essa coisa de café da manhã a gente continua. Se não der certo, a gente para por aqui. Finge que isto não aconteceu.

MULDER: - Tá. Mas encare isso como uma aventura então, pra você não se machucar.

SCULLY: - (PARANOICA) É uma aventura? Por que vou me machucar?

MULDER: - Pra mim não é aventura, mas eu não quero que você se apegue a mim, eu não sou um cara pra você. Você pode deixar de gostar de mim e se alguém tiver que sair sofrendo disso deixa que eu sofra.

Ela se deita ao lado dele, bem longe. Ele se aproxima, a puxando pra se deitar em seu braço. Ela cede. Os dois ficam olhando para o teto.

MULDER: - Se amanhã eu acordar e perceber que isso foi mais um delírio meu com você, Scully... Foi o mais real de todos. Me interne! Estou completamente louco.

Ela sorri.


2:46 A.M.

Os dois deitados, um ao lado do outro, sem se tocarem, em silêncio. Scully segura o lençol com uma das mãos, contra o peito. Suspira angustiada. Mulder aproxima a mão da outra mão dela e a segura. Ficam de mãos dadas.

MULDER: - E se der certo? Já pensou que teremos de esconder isso de todos, nos encontrar às escondidas...

SCULLY: - Será que conseguiremos?

MULDER: - Precisamos. Eu não quero correr o risco de que aquela gente saiba e acabe usando você pra me atingir. Se como minha amiga já te fizeram horrores imagina se soubessem que eu te amo?

SCULLY: - Me colocariam pra fora dos Arquivos X. Além de vestir a camisa do seu time agora eu estaria usando seus lençóis.

MULDER: - Isto é grave.

SCULLY: - É. Temos que ser discretos.

MULDER: - Hum... Até que isso vai ser interessante. Negar tudo... Eles não nos negam a verdade? Por que a gente também não pode mentir?

SCULLY: - Mentir não, ocultar um pequeno detalhe.

MULDER: - É, um detalhe de nada, insignificante.

SCULLY: - Sim, bem insignificante.

Os dois se olham. Começam a rir.

MULDER: - Sinto muito, Skinner. Mas eu só ocultei de você que estava dormindo com a minha parceira, só isso.

SCULLY: - Senhor, eu não acho que tenha ocultado algo tão grave. Simplesmente eu e Mulder concordamos com alguns aspectos nada relativos ao trabalho.

MULDER: - Eu só queria investigar os mistérios dela.

SCULLY: - E eu só queria comprovar cientificamente isso.

MULDER: - É, que mal tem nisso? Que mal tem dois agentes federais dividirem a cama?

SCULLY: - É, qual é o problema?

Mulder olha pra ela. Imita a voz de Skinner em tom bravo.

MULDER: - O problema é que vocês já têm netos e só agora eu sei disso!

Os dois começam a rir. Scully recosta a cabeça no peito dele. Ele a envolve nos braços.

MULDER: - (RINDO) Scully, tenho que confessar que nunca vivi uma experiência igual a desta noite. Que caos emocional!

SCULLY: - (RINDO) Confesso que nem eu!

MULDER: - E tenho que confessar que eu tenho muitas expectativas quanto a isto.

SCULLY: - Que tipo de expectativas, Mulder?

Ele olha sério pra ela.

MULDER: - Que não vamos ficar só no café da manhã.

SCULLY: - Eu também acho.

MULDER: - Se eu ficar chato você pode ir.

SCULLY: - Se eu encher muito você me manda embora.

MULDER: - Tá. E se você quiser ir embora, pense em você. Não em mim. Se sentir vontade de ir embora, vá.

SCULLY: - Tá. E se você sentir vontade de me mandar embora, me manda.

Mulder começa a rir. Põe a mão na testa.

MULDER: - (RINDO) Deus! Achei a tampa da minha panela! A louca que me completa. Ela é mais neurótica do que eu! Somos loucos, completamente loucos!

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Quem em sã consciência resolve dividir a cama pela primeira vez pra passar a noite toda se martirizando em neuroses e experiências más? Não deveríamos ter feito sexo a noite toda? Depois de vários anos de desejo? Não deveria ser o correto? Deixar rolar o desejo ensandecido e animal de corpos latentes de desejo acumulado?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Nossa! Isso foi profundo!

MULDER: - Scully, precisamos de um terapeuta. Bom, eu disse que não seria fácil. E o trouxa aqui demorou todo esse tempo pra se decidir, enquanto tinha esse monumento de mulher do lado! Eu sou um otário! Vou dar com a minha cabeça na parede.

Mulder ajoelha-se na cama e simula estar batendo com a cabeça na parede. Ela começa a rir dele.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - Eu sou um burro! Um cego! Um idiota!

Ela continua rindo. Ele se deita, com a cabeça no colo dela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Vamos resolver esse problema entre nós dois. Assim não dá pra continuar.

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - (RINDO) Mas é sério, Scully. Temos que pôr em pratos limpos e acabar de vez com essa tensão sexual! Duas pessoas adultas resolvem seus problemas e não fogem deles.

SCULLY: - (RINDO) Que problema sério! Eu não aguentava mais pra te dizer essas verdades, Mulder. Vamos resolver isso de uma vez por todas! Tem que acabar, de algum jeito isto vai ter que acabar.

Mulder fica sério. Olha pra ela, apoiando o queixo em sua barriga.

MULDER: - Já?

SCULLY: - ? (SÉRIA/ SEM ENTENDER)

MULDER: - (DEBOCHADO) Mas eu nem comecei ainda...

Ela começa a rir.

SCULLY: - Mulder, você é cômico até na cama?

MULDER: - Cômico de rir ou...

Ela solta uma risada.

SCULLY: - Hum, Mulder... Você realmente não existe!

MULDER: - (DEBOCHADO) Tudo bem, Scully. Você gosta do homem invisível? É uma das suas fantasias secretas?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, para! Eu não aguento mais de tanto rir!

MULDER: - Mas eu nem contei as piadas de papagaio ainda!

SCULLY: - (RINDO) Para, Mulder!

MULDER: -(FAZ CÓCEGAS NELA)

SCULLY: - (RINDO) Ai! Não vale fazer cócegas! Para Mulder!

MULDER: - Tá bem, eu vou parar.

SCULLY: - ...

MULDER: - ...

SCULLY: - ... (DÁ UMA RISADINHA)

MULDER: - ...

Agora é ela quem faz cócegas nele.

MULDER: - (GRITA/ RINDO) Não Scully!!!!!!!!!!!!! Eu tenho cócegas!!!!! Para, sua louca!

Os dois riem. Ela fica séria. O encara. Ele fica sério também, olhando pra ela como se questionasse sua seriedade. Ela dá um sorriso maroto. Puxa o travesseiro e acerta nele.

MULDER: - Au!

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Ah, é guerra? Tudo bem, Scully, foi você quem começou!

Os dois começam a lutar com os travesseiros. Risos altos. Ele a acerta. Ela cai deitada na cama, ajeitando o lençol sobre o corpo. Ele fica sobre ela. Ficam sérios. Mulder aproxima os lábios e a beija. Ela envolve os braços nele, soltando o travesseiro da mão. Ele desce os lábios pelo pescoço dela, levando as mãos até o lençol, tentando descobrir o corpo que ela esconde. Ela segura o lençol. Ele desiste. Passa mão no rosto dela, suavemente, fechando suas pálpebras. Lhe dá outro beijo. Ela envolve os braços nele, retribuindo o beijo que aumenta de intensidade. Ele solta os lábios dela, descendo por seu corpo. Ela enlaça as mãos nos cabelos dele, o guiando. Ele leva sua mão pelos quadris dela, ergue o lençol, descendo os lábios para as coxas de Scully. Ela o puxa pelos cabelos pra cima.

SCULLY: - (MURMURA/ NERVOSA) Mulder, não...

Ele volta aos lábios dela. Beija-a suavemente. Encosta sua testa na dela. Olham-se nos olhos.

MULDER: - Por que tem vergonha de você?

SCULLY: - ... E-eu...

MULDER: - Se não quer falar sobre isso, não tem problema, Scully. Não vou fazer nada que te desagrade. Jamais.

SCULLY: - ... Mulder... Preciso falar uma coisa pra você.

Ele olha pra ela. Senta-se na cama.


BLOCO 2:

Mulder ajeita o travesseiro e recosta-se na cama. Ela faz o mesmo. Os dois se olham.

MULDER: - Pode falar, Scully.

SCULLY: - Eu... Eu fiz um péssimo julgamento de você durante todos esses anos, baseada em evidências falsas, numa primeira impressão.

Ele olha debochado pra ela.

MULDER: - O que pensou de mim, agente Scully?

SCULLY: - Eu... A julgar pelo tipo de... De literaturas que você gostava, eu via você como um homem que pensava apenas no prazer próprio. Esse tipo de... De cultura alternativa é procurado por quem pensa apenas em seu próprio prazer.

MULDER: - (RINDO) Cultura alternativa... Você é tão meiga e educada com as coisas que diz... Você mostra um lado soft das coisas... Vê beleza onde todos veem apenas o feio e bizarro.

SCULLY: - (SORRI CABISBAIXA)

MULDER: - (SORRI) Você consegue transformar sexo em ‘coisinhas’... Revistas pornográficas em ‘cultura alternativa’... Mulder, o estranho em ‘Mulder, o ser humano’...

Ele coloca o braço por trás dela. Ela apoia a cabeça no ombro dele.

SCULLY: - Isso tem a ver comigo. Mulder, eu... Como vou dizer isso? (RI DE SI MESMA) Ai, esquece!

MULDER: - (SORRI) Fala. Eu quero ouvir.

SCULLY: - Não, é apenas besteira...

MULDER: - Não é besteira ou você não teria entrado no assunto.

SCULLY: - Bem, eu... Estamos descobrindo nossas intimidades hoje... Coisas íntimas um do outro que não sabíamos... Claro que isto é um assunto delicado para se falar mas...

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, eu não sei como agir com você, ok? Mas deixa pra lá, eu acho que você não quer conversar hoje, não é um momento pra isso...

MULDER: - Claro que é um momento pra isso. Sempre é um momento pra gente conversar. Eu gosto de conversar com você... Scully, eu não quero que nós dois façamos sexo feito dois malucos, a noite toda, morrendo de medo um do outro! Existe algo maior aqui. Vamos ter muito tempo pra bancar os doidos, pra fazer ‘coisinhas’ como você diz...

Ela sorri.

MULDER: - Mas primeiro temos realmente que conversar. Está sendo difícil pra nós dois, eu sei. É confuso. Eu também estou perdido! Portanto, me fala o que queria falar. Eu quero ouvir.

Ela deita-se com a cabeça no colo dele. Ele afaga seus cabelos. Ela fecha os olhos.

SCULLY: - Como toda a menina eu imaginava meu príncipe encantado... Você não pode entender isso... Mas a gente imagina viver um grande amor ao lado de um homem que seja muito mais do que um mortal... Um guerreiro, um amante carinhoso e atento, romântico, sensível aos nossos sentimentos...

MULDER: - ...

SCULLY: - Então a gente cresce e escuta nossas mães dizendo que isso não existe. Nossas amigas transam pela primeira vez e nos dizem que foi horrível. As que se casam dizem ‘invejo você por estar sozinha’. Então você vê que realmente não pode ficar se iludindo nesses sonhos, que a vida não é assim. E pra não ficar sozinha, esperando utopias, você se entrega... (SORRI) Ah, Mulder... Por que estou falando isso pra você? Você não deve estar interessado em ouvir sobre a complexa mente feminina...

MULDER: - (SORRI) Ao contrário do que pensa, Scully, eu não gosto apenas de mentes assassinas e medonhas... Vai, continua que está interessante. Eu sou psicólogo, esqueceu?

SCULLY: - ... Eu não fui diferente... Eu aceitei isso como verdade.

MULDER: - Você acreditou numa mentira.

SCULLY: - Não é mentira não, Mulder... Em proporções astronômicas eu poderia afirmar isso pra você por experiência que é uma verdade...

MULDER: - (DEBOCHADO) Bom, eu não posso afirmar isso pra você, porque não entendo nada de homens... Meu relacionamento mais íntimo com eles se limita a um abraço nos amigos e um aperto de mão nos demais. De resto quero distância, tenho nojo só do cheiro!

Ela ri. Ele afaga os cabelos dela num sorriso.

SCULLY: - Bem... Minha vida sentimental sempre foi muito tumultuada. Ao contrário de você que sempre quis ser diferente dos outros, eu sempre quis ser igual. Até eu descobrir que não poderia mais ter filhos, nunca pensei em tê-los. Mas eu pensava em encontrar alguém pra viver comigo, pra termos uma casa, com o tempo termos filhos... Mas pra isso você precisa se envolver. E pra se envolver, precisa conhecer gente.

MULDER: - (DEBOCHADO) E daí você ia pros inferninhos de Washington, com o pseudônimo de ‘Dana, a Dominadora’...

SCULLY: - (RINDO) Não! ... Eu costumava me envolver com homens que estivessem perto de mim... A maior parte deles mais velhos do que eu...

MULDER: - Por quê? Gosta de homens mais velhos?

SCULLY: - ... Um dia te conto melhor... Mas os da minha idade não se interessavam por mim. Sempre tinha a mais bonita da escola. A mais gostosa da universidade. A mais sexy do escritório... E eu não era nenhuma delas. Mas dentro de mim eu queria ser, eu me sentia assim. Mas eles não achavam isso...

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu só ficava cobiçando aqueles homens bonitos, enquanto eles perdiam os olhos para as mulheres mais quentes... Como diria você, eu ficava delirando...

MULDER: - ...

SCULLY: - Então você marca um encontro, porque vocês já conversaram sobre o interesse recíproco um no outro. Um jantar a luz de velas, algumas vezes rosas, champanhe, uma lareira. E você faz amor com ele.

MULDER: - ...

SCULLY: - Quando acontece com uma Scully, acontece porque ela é uma mulher, não porque ela é "A Scully". Afinal, se fosse pra escolher transar com alguém, seria a mais quente do escritório, não a Scully. Entende?

MULDER: - (OLHANDO TRISTE PRA ELA) Entendo.

SCULLY: - Então não esperam nada de você. Querem apenas transar. Então você é um objeto dado a um fim, não é uma pessoa. Se você surpreende e se revela tão quente quanto ‘a mais quente do escritório’, no outro dia os homens todos olham aos cochichos pra você. Chovem bilhetes e piadinhas... Reforçando o objeto que você é. Quando alguém chega com boas intenções, voltado para a sua pessoa, você desconfia.

MULDER: - ... Naturalmente.

SCULLY: - Você se apaixona pela pessoa. Entrega-se pra ela, cria tanta expectativa, se produz toda pra um encontro, faz amor sinceramente, pensa em dar prazer, mas percebe pelo que ele procura, que ele só quer o prazer dele, entende? Então te pede pra fazer coisas que você não faz, porque não vale a pena fazer isso com alguém que só pensa em prazer próprio. Você se anula e serve de objeto, você quer agradar, não quer perder. Depois que acaba, você fica esperando aquele algo mais e não vem. Se você faz um carinho, acaba escutando ‘me dá um tempo, eu tô cansado’.

MULDER: - ...

SCULLY: - Puxa, Mulder, você só quer fazer carinho, mostrar que ama, ficar ali nos braços dele, viver uma mágica, curtir um momento de paixão, que pra ele é apenas sexo e já terminou. E você fica ali deitada na cama, sem sono, olhando por um bom tempo pro quarto, amargurando mais um erro, enquanto ele dorme. Mas você mente pra si, não, não foi apenas um objeto, ele estava cansado, inventa mil desculpas em sua cabeça e torna a voltar àquela cama. E assim vai indo até chegar seu limite ou a desculpa de ‘eu acho que não vai dar certo entre a gente, sabe? Devíamos ser amigos...’

MULDER: - ... (TRISTE)

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Fala.

SCULLY: - Se vamos ser apenas amigos ao final disso, eu não vou me preocupar. Pelo menos dessa vez eu senti prazer. Eu não senti por nenhum momento que você pensasse apenas em você. Só peço desculpas por eu não me entregar tanto, por ter alguns receios, algumas barreiras... Eu fui acostumada a dar prazer e não a senti-lo. Portanto, me desculpa se eu me afobo, se pareço distante, ousada demais, neurótica demais, se quero apenas te dar prazer e quando você quer me dar prazer, eu me bloqueio por completo... Estou confusa. Vim aqui pensando apenas em sexo como eu achava que ele era. Não vim aqui pra ser amada. E você quebrou as minhas expectativas. Estou sem reação. Não sei como agir, não sei o que falar, e acredite, eu gosto muito de dizer coisas bonitas. Mas certas feridas custam a cicatrizar e até você reaprender a falar sobre o amor, pode levar muito tempo. Porque você não acredita mais nele.

Mulder perde o olhar no nada.

SCULLY: - Achei que deveria te dizer isso porque sempre fomos sinceros um com o outro e devemos manter isso. E você é uma pessoa de sensibilidade extrema, não queria que pensasse que sou uma mulher fria.

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Vem aqui.

Ela senta-se na cama. Ele a abraça.

MULDER: - Eu não pensei por nenhum segundo que você fosse uma mulher fria. Assim como você percebe as coisas pelos gestos, sua reluta em ousar mais e se entregar apenas me deu a certeza de que você tem medo. Eu não quero que se preocupe com isso. Dê tempo ao tempo. Nenhuma ferida cicatriza rápido. Eu só quero dizer que eu não sou desses homens... Não vejo você como eles viam. Mas só o tempo vai provar pra você...

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu vejo aqui uma mulher linda, fantástica, quente... Que só precisa acreditar nisso. Viver isso. Scully, me desculpe, mas... Você nunca foi amada. Você amou demais, mas nunca foi amada. Você merece mais do que isso... Fico completamente calado, porque eu... Eu não posso acreditar que você, a Scully... Que coisas assim aconteceram com você. Você só teve babacas, Scully. Só caras babacas e cegos.

SCULLY: - ...

MULDER: - Vejo você como a Scully, tanto que não consigo te chamar de Dana, me parece outra mulher, fico mais embaraçado, entende? Te conheci por Scully, e mesmo parecendo engraçado nos chamarmos pelos sobrenomes, eles são mais íntimos pra nós dois...

Ela sorri. Ele a beija na testa. Ela fecha os olhos, deitada nos braços dele.


3:11 A.M.

Mulder entra no quarto com duas taças e uma garrafa de vinho já aberta. Scully está em pé, enrolada no lençol, observando um livro nas mãos, em frente à pilha de caixas.

SCULLY: - Desculpe. Sou curiosa. Tudo isso são livros?

MULDER: - Nem me fale, Scully, não tenho mais lugar pra guardar tudo isso. Vou ter que alugar um depósito. Já percebeu que eu trabalho na bagunça, moro na bagunça...

SCULLY: - (DEBOCHADA) Depois não quer atrair ‘ratos’, Mulder...

MULDER: - (RINDO) Essa foi boa!

Ela sorri. Ele serve o vinho. Ela olha pro livro.

SCULLY: - Hum... Sexo Tântrico? Bem a sua cara mesmo, Mulder...

MULDER: - Não... Sinceramente não. (SORRI) O Tantra mesmo é meio complicado... Exige muita autodisciplina masculina e feminina... Séries de técnicas e exercícios... Um movimento errado e ficará por dias sem se mover!

SCULLY: - Isso é verdade mesmo?

MULDER: - Bem, para os adeptos, um orgasmo com menos de uma hora de enlevo é considerado ejaculação precoce!

Scully ri.

MULDER: - Um bom contato sexual tântrico tem em média três horas e acredite... Já ouvi relatos de seis!

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder isso é possível?

MULDER: - (RINDO) Não sei e sinceramente, Scully, nem quero saber! Tá além das minhas possibilidades... Mas eu acho interessante. É uma filosofia comportamental que faz você conhecer a si mesmo através do outro. É válido pelo menos para aprender a... (RI) Completar uma hora...

SCULLY: - Tão maluco como o Kama Sutra.

MULDER: - Ah, não tem nada a ver com o Kama Sutra. Eu só acho que o Kama Sutra é mais fácil...

SCULLY: - (INCRÉDULA) Ahn?????

Ele começa a rir.

SCULLY: - Mulder, é impossível alguém fazer essas coisas! Nunca tive a coragem de ler aquele livro.

MULDER: - Deveria ler. Não se atenha aos rótulos irônicos que as pessoas colocaram, criando paradigmas sobre o sexo na cultura oriental, Scully. Todos se atêm às figuras, enquanto o conteúdo em si é o mais interessante. Esqueça as figuras. Há várias diferenças em como o sexo é tratado na cultura oriental e em como é tratado na ocidental. Nós estamos muito atrasados. Eles associam o sexo a energia, amor, religiosidade e também como prazer espiritual. Nós associamos o sexo a prazer carnal e dane-se o resto.

Ela larga o livro. Senta-se na cama. Ele lhe entrega a taça de vinho.

SCULLY: - Hum, me fale sobre isso.

Ele senta-se ao lado dela.

MULDER: - O Kama Sutra foi escrito para a nobreza, por um cara chamado Vatsyayana. Apesar do conteúdo erótico, é um livro voltado para a espiritualidade. Kama significa amor, prazer, satisfação. É um dos três sustentáculos da religião hindu, ao lado do Dharma e Artha. Dharma é o mérito religioso e Artha a aquisição de riquezas e bens... O livro era destinado aos homens, pois as mulheres na época eram tratadas como submissas.

SCULLY: - Então é um livro machista?

MULDER: - (SORRI) Não. Ele não ignora as necessidades femininas. O Kama Sutra declara que é dever do homem satisfazer sua parceira.

SCULLY: - Hum... Sério?

MULDER: - Sério. E o livro é tão antigo e ainda tem homens que chamam suas esposas de frígidas empurrando a culpa pra elas... É o que você falou antes, Scully... Não existe mulher frígida, existe cara babaca.

SCULLY: - ... (SORRI)

MULDER: - Um brinde a nós dois.

Os dois brindam. Olham-se nos olhos. Ele pega na mão dela. Coloca sobre seu peito e fecha os olhos.

MULDER: - E agora perguntais em vosso coração: Como distinguiremos o que é bom no prazer do que é mau? Ide, pois, aos vossos campos e pomares e, lá, aprendereis que o prazer da abelha é sugar o mel da flor, mas que o prazer da flor é entregar o mel à abelha. Pois, para a abelha, uma flor é uma fonte de vida. E para a flor, uma abelha é uma mensageira do amor. E para ambas, a abelha e a flor, dar e receber prazer é uma necessidade e um êxtase.

SCULLY: - Hum... Gostei disso. Mas esqueça as abelhas Mulder, não são nossas amigas.

Ele ri. Toma a taça das mãos dela. Coloca as taças sobre a cômoda.

MULDER: - Vamos fazer uma coisa diferente?

SCULLY: - Que coisa?

MULDER: - (RINDO) Calma, confie em mim, tá legal?

Ele acende mais velas. Ela o olha com um olhar de gata assustada.

MULDER: - Tem alergia a incenso?

SCULLY: - Não... Mulder, o que vai fazer?

MULDER: - Apaga a luz. Vamos experimentar uma coisa juntos.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Tá bem, eu vou fazer uma coisa que nenhum homem jamais fez com você.

SCULLY: - Você tá me assustando...

MULDER: - (RI) Scully, eu sou estranho, mas não do jeito que você está pensando. Não se preocupe, não vou fazer nada que você não goste.

SCULLY: - Tem alguma coisa a ver com o Kama Sutra? Mulder, essas coisas são pra quem pratica sexo todo o dia, não pra nós que há anos não sabemos o que é fazer amor com alguém!

MULDER: - (RINDO) Scully, relaxa, tá legal?

SCULLY: - Você parece um irmão louco que eu tenho...

MULDER: - O correto disso seria usar algum óleo... Mas deixa assim.

Ela arregala os olhos.


BLOCO 3:

Mulder coloca uma música. Scully continua olhando assustada pra ele.

[Som: Sarah Brightman - Eden]

Mulder apaga a luz. O quarto fica iluminado por velas. Mulder senta-se no meio da cama. Estende a mão pra ela.

MULDER: - Vem.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Confia em mim, Scully. Se não gostar, a gente para. Nunca fiz isso também. Vamos praticar a teoria que adquiri.

SCULLY: - Bem... Até agora, pelo menos da música eu gostei.

Ela segura na mão dele.

MULDER: - Senta na minha frente, de costas pra mim, entre as minhas pernas. Dobre as pernas como se fosse meditar.

SCULLY: - Assim?

MULDER: - Isso. Agora relaxe os ombros.

SCULLY: - O que vamos fazer?

MULDER: - Deixa de ser curiosa. Relaxou?

SCULLY: - Tá.

MULDER: - (SUSSURRA) Agora deixa os braços caídos... Bem relaxada. Feche os olhos... Escute a música. Não pense. Apenas sinta o ambiente onde você está... Reconheça-o pelos seus sentidos... Relaxe cada vez mais...

SCULLY: - ...

MULDER: - (SUSSURRA) Confia em mim... Sinta a música... O ambiente... O perfume... Concentre-se apenas em sentir.

SCULLY: - (DEBOCHADA) E você? Vai se concentrar no quê?

MULDER: - (RI) Deixa a minha parte comigo. Faz a sua. Não se preocupe, acredite, preciso muito de concentração pra não ficar ‘nervoso’.

SCULLY: - Nervoso?

MULDER: - É... Deixa pra lá, Scully. Explico outra hora.

Ela sorri, de olhos fechados. Respira fundo. Relaxa mais ainda. Mulder fecha os olhos também.

MULDER: - (SUSSURRA) Permaneça de olhos fechados... Quero que você fique bem relaxada... Concentre-se em você.

SCULLY: - ...

MULDER: - (SUSSURRA) Só vai ouvir a minha voz e a música... Não pense em mim. Apenas sinta a música.

Mulder toma as mãos dela com as pontas dos dedos. Ergue-as no ar pela ponta dos dedos dela.

MULDER: - (SUSSURRA) Sinta apenas o seu corpo... Se deixe levar pela música... Respire fundo... Imagine o ar entrando pelo seu nariz, pelos pulmões... Oxigenando seus órgãos... Seu sangue... Sinta o quanto você está viva... A importância disso... A sua importância diante do universo... Você não é apenas mais uma pessoa... Você é única...

Mulder desce delicadamente os braços dela, colocando as mãos dela sobre as pernas. Sobe a ponta dos dedos pelo braço dela em carícias.

MULDER: - (SUSSURRA) Não sinta o meu toque... Sinta somente as reações do seu corpo... Concentre-se nelas... No quanto o seu corpo reage... O quanto ele é importante... Vivo... Sinta seu coração batendo... O seu sangue... O ar que entra em seus pulmões...

Mulder acaricia os ombros dela suavemente. Envolve as mãos por entre os cabelos dela. Scully de olhos fechados, cada vez mais relaxada.

MULDER: - (SUSSURRA) Sinta você... Apenas você... Vou tocar você e você vai sentir apenas a reação do seu corpo... Apenas sentir... Não julgue, não reaja...

Mulder vai tocando-a com a ponta dos dedos em movimentos suaves enquanto fala de olhos fechados.

MULDER: - Se deixe sentir... Sinta seus ombros... Seus cabelos... Seus braços... Suas mãos... Seus dedos... Suas pernas...

SCULLY: - ... (MURMURA) Hum... Isso é bom...

MULDER: - (SUSSURRA) Consegue sentir suas reações?

SCULLY: - ... (SUSSURRA) Uma sensação estranha... É muito estranho... Você me toca, mas eu só consigo sentir meu corpo...

Mulder acaricia as costas, ombros e a nuca de Scully com seu nariz, enquanto desliza os dedos pelas pernas dela. Aspira profundamente o seu perfume.

MULDER: - ... (SUSSURRA) Agora sinta esta noite, não se questione de nada... Sinta a vibração... a importância desse momento... A magia... O perfume... A música...

Mulder toma as mãos dela e enlaça os dedos nos dela.

MULDER: - (SUSSURRA) Agora você pode sentir o meu toque... Eu sinto sua pele arrepiada... Sinto o seu corpo, o calor dele... A vida... A energia...

SCULLY: - ... (SUSSURRA) Sinto o seu toque suave... Arrepios, mas não estou com frio... Hum, Mulder... Isso é muito bom...

Ele, ainda segurando os dedos dela, leva os braços à frente, guiando-a para um abraço, a envolvendo.

MULDER: - (SUSSURRA) Sinta os seus braços lhe abraçando... Respeite você... Agora sinta os meus braços, o meu abraço... O respeito que eu tenho por você... O amor que eu tenho por você... Eu posso sentir contra o meu peito muito mais do que as suas costas, eu posso sentir o seu coração... Sinta o meu coração... Sinta o quanto batem juntos...

Ela suspira. Ele sorri. Afaga os ombros dela com o nariz.

SCULLY: - Sinto o seu calor... Sinto o meu calor... Mulder, está quente aqui...

MULDER: - ... Estamos sentindo a sintonia de nós dois... Nossa energia se funde numa só...

Mulder abre os olhos.

MULDER: - Agora vira de frente pra mim.

Ela abre os olhos. Vira-se pra ele.

MULDER: - Coloca suas pernas sobre as minhas e me deixe abraçar você.

Ela o faz. Ele a envolve num abraço apertado. Ela chega a suspirar.

MULDER: - ... O abraço transcende o corpo, ele atinge a alma... Abraçar você é a forma mais pura de demonstrar o quanto eu te amo...

Ela abraça-se mais nele, fechando os olhos. Envolve as pernas nele. Ele abre os olhos.

MULDER: - ... Fica abraçada a mim... Como se o tempo tivesse parado... Nada mais importa... A harmonia completa... Paz... Não há mais nada... Apenas eu e você... Uma só vibração... Um só ser...

SCULLY: - Posso sentir você?

MULDER: - Deve sentir o que você quer sentir. Se dê ao direito de sentir...

Ela envolve as mãos nos cabelos dele, beijando seu ombro suavemente. Ele apoia o queixo no ombro dela, fechando os olhos.

SCULLY: - Você é quem está arrepiado agora.

MULDER: - (SORRI) ... Não estou acostumado a ser tocado... Isso é bom... Nada como um abraço...

SCULLY: - ... Mulder, nunca senti nada assim... Você tem razão, é excitante mas... É mágico.

Eles afastam os rostos trocando um olhar cúmplice. Olham-se nos olhos.

SCULLY: - Vejo algo nos seus olhos, Mulder. Me vejo no brilho dos seus olhos... Não tenho medo de olhar neles... Nem de sentir o que estou sentindo... Eu só quero sentir...

Ele envolve as mãos no rosto dela.

MULDER: - Posso me reconhecer nos seus olhos... E posso ver a verdade neles... A única verdade.

SCULLY: - Mulder... Eu te amo.

Ele sorri.

MULDER: - E eu amo você, Scully.

Ela fecha os olhos, inclinando a cabeça. Ele sopra em seu rosto suavemente. Ela sorri. Apoia as mãos no peito dele.

MULDER: - Sabia que a boca é um templo? Um símbolo de intimidade e confiança?

SCULLY: - (SORRI) E sabia que eu confio em você?

Ele sorri. Aproxima os lábios dos dela. Beija-lhe suavemente. Ela corresponde. Um beijo longo, demorado, carícias mútuas com as mãos. Beijos trocados e carinhos. Ele a envolve nos braços, ela fecha os olhos, amolecendo o corpo, se entregando a ele. Mulder beija-lhe a testa. Ela leva as mãos ao lençol que mantém enrolado ao corpo e o abre. Ele sorri olhando fascinado para o corpo dela.

MULDER: - (MURMURA) ... Você é linda...

Ela sorri.

MULDER: - (MURMURA) Muito linda...

Ela passa os dedos pelo rosto dele, o admirando. Ele olha pra ela apaixonado, olhos brilhando. Ela sorri. Contorna os lábios de Mulder com a ponta do dedo indicador. Beija-o no rosto. Toma o rosto dele com a mão e desce seus lábios para o pescoço. A outra mão pelas costas dele. Mulder fecha os olhos. Ela desliza a língua, levando-a até a orelha dele. Sorri.

SCULLY: - (MURMURA) Você se arrepiou...

MULDER: - (SORRI/ MURMURA) ... Já disse... Eu não estou acostumado com carinho...

Scully morde o lóbulo da orelha dele. Coloca a língua em seu ouvido. Ele solta um suspiro.

SCULLY: - (SORRI/ MURMURA) Acho que... Estou deixando você ‘nervoso’...

MULDER: - (SORRI/ MURMURA) Eu me controlo...

Ela morde o ombro, afaga o peito dele.

SCULLY: - (MURMURA) Tantra?

MULDER: - (MURMURA) Agora não... Apenas quero que isto não acabe mais...

SCULLY: - (SORRI/ MURMURA) ... Vai acabar hoje... Mas temos o resto da vida, é só me dizer sim...

Ele envolve as mãos no rosto de Scully. Olha nos olhos dela.

MULDER: - (MURMURA) Sim.

Ela sorri, olhando pra ele. Mulder beija o ombro dela. O pescoço. A beija como se a reverenciasse. Desce os lábios por seu pescoço, por seu peito. Ela solta um suspiro, enquanto sorri alto, refletindo felicidade. Mulder reclina um pouco o corpo dela para trás. Desliza seus lábios pelos seios dela, alternando entre eles sem pressa, brincando com a língua e os lábios em seus mamilos. Ela começa a gemer. Envolve os braços no pescoço dele, inclinando a cabeça e o corpo para trás. Ele a deita, entre suas pernas. Desliza sua mão por entre os seios dela, seu ventre, acariciando-a. Scully suspira, agarrando-se às pernas dele, estendidas por sobre a cama. Ele inclina-se sobre ela, distribuindo beijos por seu corpo. Ela vira o rosto, fechando os olhos.

SCULLY: - (MURMURA) Eu quero você, Mulder... Quero que essa sexta-feira nunca mais acabe.

Ele inclina-se sobre ela, a envolvendo nos braços, trazendo-a até si. Ela envolve os braços em Mulder, ficando de joelhos sobre ele. Apoia-se nele, enquanto ergue o corpo e o desce lentamente, sentindo-o dentro de si. Ele fecha os olhos, ofegante. Os dois abraçados. Ela, de olhos fechados, enlaça seus dedos nos cabelos dele, gemendo baixinho, mordendo os lábios, enquanto movimenta-se suavemente sobre ele, num sorriso de felicidade infinita.

O foco desvia para as velas espalhadas sobre o velho móvel.

[Fade in]


[Fade out]

Ambiente iluminado por velas.

Os dois nus sobre a cama. Ela deitada, ele ajoelhado na cama entre as pernas dela. Mulder ergue as pernas de Scully e beija-lhe os tornozelos. Ela apoia os braços na cama, curvando-se com a cabeça e quadris contra o colchão, soltando gemidos. Agarrada ao lençol da cama. Mulder dobra as pernas dela, colocando os pés de Scully contra seu peito. Inclina-se sobre ela.


Sábado, 6:18 A.M.

[Som: Rick Astley - Cry for Help]

Mulder sentado no chão, de camiseta e cuecas, escorado na porta do quarto. Observa Scully dormindo nua, de bruços, com o lençol por sobre a cintura. Ele a admira com os olhos brilhando de ternura.

MULDER (OFF): - (SUSPIRA) Não acredito que você está na minha cama, que fizemos amor ontem... Já me belisquei três vezes, mas acho que estou acordado mesmo. (SORRI) Agora é real...

Ele olha para o relógio, com um ar de quem sonha acordado, com aquele sorriso bobo estampado no rosto. Olha pra ela. Fecha os olhos num sorriso.

Ele suspira. Abre os olhos. Olha pra ela. Olha pro relógio. Faz aquela cara de pânico. Levanta-se tão rápido que quase cai, segurando-se na porta.

MULDER (OFF): - Droga! Ela acorda cedo todo o dia, bem antes de mim, porque mora mais longe do FBI... Sinal de que finais de semana, ela está acostumada a acordar cedo...

Ele vai pra cozinha, rapidamente. Coloca a água no fogo. Não consegue ligar o fogão.

MULDER: - Droga! Vamos, seu maldito conspirador, sei que eu e você não temos um relacionamento muito íntimo, mas não me negue fogo hoje! Hoje não! Qualquer dia, mas hoje não!

Ele tenta várias vezes até que consegue. Corre pro armário, pega os pães, deixando uma lata de café cair na cabeça.

MULDER: - Au!

Ele esfrega a cabeça. Abre a embalagem rapidamente, todo atrapalhado, retira os pães e os coloca na torradeira. Começa a revirar o armário.

MULDER: - Café, café! Eu sei que vi a lata de café...

Ele olha pro chão.

MULDER: - Idiota! Ela caiu na sua cabeça!

Ele pega a lata de café. Abre. Esparrama tudo pela pia. Ergue as mãos na defensiva e o pó de café vem junto, acertando o rosto dele, cabelos e a camiseta. Ele fecha os olhos. Respira fundo.

MULDER: - (PÂNICO) Calma, Mulder... Vamos com calma...

A chaleira começa a assoviar, ele entra em pânico novamente. Tenta desligar o fogão e acaba arrancando o botão. Puxa um pano de prato e tenta abafar o barulho da chaleira.

MULDER: - (DESESPERADO) Psiu!!!!!!!!! Não grita!!!!!!!!!

Ele consegue colocar o botão de volta no lugar e desliga o fogão. Então vê que o pano está pegando fogo. Entra em pânico. Pega o pano que está incendiando-se com a ponta dos dedos e o leva até a pia. Abre a torneira. A fumaça invade a cozinha. Ele afasta a fumaça do rosto com a mão.

MULDER: - Eu sou uma toupeira! Droga, não acorda ainda Scully, porque o bobo aqui ficou te olhando por mais de uma hora e quase que se atrasa!!!

Ele começa a revirar a geladeira.

MULDER: - Onde eu coloquei aquele queijo cremoso que comprei ontem... Não, catchup... maionese... Suco vencido, leite vencido... 1996??? Credo! Deve ter bactérias aqui dentro incubadas já em mutação genética! As do meteorito de Marte eram besteira!

Ele procura. Para. Ergue-se. Mexe o nariz.

MULDER: - Que cheiro de queimado... Maldito pano!

Ele vira-se e olha pra pia. Então vê a fumaça que sai da torradeira.

MULDER: - (PÂNICO) Ah não! As torradas não!

Ele tenta tirar as torradas queimadas, mas queima as pontas dos dedos.

MULDER: - Droga! Mas que droga, como eu sou destrambelhado!

Ele as puxa pra dentro da pia. Segura um grito de dor. Assopra os dedos. Procura com os olhos pela cozinha.

MULDER: - (PÂNICO) Ah Deus... Ela vai acordar... Cadê as malditas laranjas??? Laranjas, por favor... Me respondam!!!!


7:13 A.M.

Câmera subjetiva simulando os olhos de Scully que acorda e vê a rosa vermelha sobre o travesseiro de Mulder.

Close de Scully. Ela sorri. Estende a mão e pega a rosa, sentindo seu perfume.

MULDER: - Bom dia!

Ela sorri. Senta-se na cama, puxando o lençol sobre os seios. Olha pra ele sorrindo, enquanto aspira a rosa.

SCULLY: - Bom dia... Hum, o que é isso?

Corta pra Mulder sentado na cama. A bandeja sobre a cama, com o café pronto.

MULDER: - (SORRI) Seu café da manhã. Promessa é dívida. (PENSATIVO) Embora agora eu entenda porque elas nunca se arriscavam a ficar pro café da manhã...

SCULLY: - (SORRI/ EMOCIONADA) Mulder, você... Oh Mulder... Que gentileza a sua, e-eu... Não sabia que você cozinhava.

MULDER: - Nem eu.

SCULLY: - Mulder, por que está com pó de café na roupa?

MULDER: - Ahn?

SCULLY: - Sim, sua camiseta está cheia de pó de café.

MULDER: - Ahn, é... Deixa pra lá. Vou tomar banho mesmo.

SCULLY: - (EMPOLGADA) Nossa... Suco de laranja, café, croissant, torradas... Hum! Queijo cremoso? Mulder você lembrou!

Ele sorri bobo. Ela pega o copo de suco. Toma um gole.

MULDER: - (FRUSTRADO) Me diz que está bom.

SCULLY: - Hum, está... É suco natural.

MULDER: - (ALIVIADO) Ufa!

SCULLY: - (EMPOLGADA) Espremeu laranjas pra mim?

MULDER: - Eu não ia dar suco concentrado, aditivado e vencido pra você. A não ser pra fazer uma análise e ver que tipo de criatura bizarra está se desenvolvendo ali dentro...

SCULLY: - (SORRI) ... Não vai tomar seu café comigo?

MULDER: - (DEBOCHADO/ ESFREGANDO A MÃO NA CABEÇA) Café me dá dor de cabeça, Scully.

SCULLY: - (SORRI IMAGINANDO) ...

MULDER: - Que bom te agradei...

SCULLY: - Mulder, eu tenho que ir pra casa. Preciso pegar algumas roupas e...

MULDER: - Não, eu te empresto alguma coisa. (PIDÃO) Não vai, Scully... Olha, no armário tem camisetas, camisas... Eu só acho que as calças não servirão em você, mas as bermudas...

Ela sorri.

MULDER: - Scully, sinta-se em casa, tá legal? Têm toalhas no banheiro, roupas no armário... Vai revirando tudo que você achar por aí.

Ele pega um croissant e leva à boca de Scully. Ela o morde.

MULDER: - Esse eu não fiz, também não exagera no meu desprendimento.

Ela mastiga rindo. Ele sorri pra ela. Os dois trocam um beijo.

SCULLY: - Devo estar horrível pela manhã.

MULDER: - Você tá linda. Nem sabe quantas vezes eu sonhei com isso.

SCULLY: - (DEBOCHADA) E eu acordava com os cabelos revirados no seu sonho?

MULDER: - Melhor nem dizer como você acordava nos meus sonhos, Scully, ou você sairia correndo por aquela porta pedindo auxílio da polícia.

Ela começa a rir.

MULDER: - Tá do seu agrado? Faltou alguma coisa? E-eu acho que meu café ficou forte e...

SCULLY: - Mulder, o seu café está ótimo. E este gesto tão meigo me deixa sem palavras... A rosa, Mulder... Eu amei isso. Nunca recebi um café na cama, rosas menos ainda!

Ele sorri encabulado. Ela levanta-se, enrolada no lençol.

SCULLY: - Vou tomar um banho.

MULDER: - Sinta-se à vontade. Eu vou terminar de limpar uma sujeirinha que fiz na cozinha. Não sai daí, eu já volto. Não vai embora, eu tranquei a porta pra você não sair. Vou engolir a chave.

Ela ri. Ele sai do quarto. Ela aproxima-se do armário.

SCULLY: - Posso pegar qualquer camiseta, Mulder?

Ele não responde. Ela ergue os ombros. Abre a porta do armário.

Close nas pilhas de revistas pornográficas que caem no chão. Ela ri. Ele entra no quarto. Ela agacha-se segurando o lençol, tentando colocar as revistas no lugar. Ele fica mais embaraçado do que ela.

MULDER: - (PÂNICO) D-deixa que eu ajeito isso... E-eu ia queima-las, sabe?

SCULLY: - Ora Mulder, não é a primeira vez que eu vejo sua literatura preferida na minha frente.

Ela pega uma das revistas e abre.

SCULLY: - ... Ela é bonita. Corpo magro, pernas magras, seios fartos... Alta...

Ele puxa a revista das mãos dela e atira dentro do armário. Joga as outras todas pra dentro e fecha a porta, escorando-se de costas no armário, respirando aliviado.

MULDER: - Pronto. E-eu... As... As camisetas estão aqui, na outra porta.

Ele abre a porta do armário.

MULDER: - Escolhe o que você quiser... E-eu já volto.

Ele sai do quarto nervoso. Ela ergue os ombros e pega uma camiseta. Vai pro banheiro. Encosta a porta. Olha-se no espelho. Segura o lençol com uma das mãos. Sorri. Põe as mãos no rosto.

SCULLY: - (RINDO SOZINHA) Eu não acredito que fiz isso!

Ela ri baixinho. Olha pra pia. Dirige o olhar curioso pra uma das gavetas. Olha pra trás. Nenhum movimento. Ela segurando o riso abre a gaveta.

SCULLY: - Hum... Escova de cabelo... Secador... Uau! Hugo Boss... É chique... Se tiver batom aqui dentro, Mulder, você está morto... Ai, não.

Ela pega uma caixa de preservativos. Suspira entristecida. Vira a embalagem na mão. Segura o riso.

SCULLY: - Data de validade... 1994... (RI BAIXINHO) Oh, Mulder... Você realmente não existe...

Ela solta o lençol no chão. Entra no chuveiro.

Corta para o quarto. Mulder entra.

MULDER: - Scully, eu...

Ele vê a porta do banheiro aberta. Caminha em direção, levando a mão à fechadura para entrar. Mas afasta-se. Fecha os olhos. Sorri. Dá as costas e tira os lençóis da cama.


BLOCO 4:

12:11 P.M.

Mulder sai do quarto. Cabelos revirados, com uma camiseta do Knicks e cuecas. Corre até a cozinha. Recosta-se na porta e respira aliviado. Sorri.

MULDER: - Desculpa. Eu dormi e pensei que você tivesse ido embora.

Corta para Scully. Ela vestida num robe de Mulder, que lhe vai quase aos tornozelos, de frente pra pia, cortando alguns tomates. Sorri.

SCULLY: - Eu disse Mulder, que sou uma visita chata. Não vou embora. Acabei de invadir sua cozinha.

Ele sorri. Aproxima-se dela e envolve os braços em sua cintura, apoiando o queixo em seu ombro.

MULDER: - O que está fazendo?

SCULLY: - Como diria minha mãe, comida de quem tem preguiça de cozinhar: macarrão.

MULDER: - Eu podia ter encomendado alguma coisa...

SCULLY: - Hum, quero cozinhar pra você, posso?

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - Afinal você fez o café da manhã. É uma troca justa.

MULDER: - Espero que você seja mais feliz preparando o almoço do que eu fui com o café.

SCULLY: - (SORRI) Misteriosamente encontrei um pano de prato queimado. Combustão espontânea?

MULDER: - (DEBOCHADO) Por que não? Ou pode me explicar isso cientificamente?

SCULLY: - (RI) Mulder, você é um desastrado, mas eu gosto disso.

MULDER: - Me dá um tempo, Scully. Logo eu vou ser perito em café da manhã e vou fazer de olhos fechados, vai ver só.

Ela sorri. Ele a vira pra si, segurando-a pela cintura. Olha em seus olhos.

MULDER: - Me desculpe. Mas eu não me canso de olhar pra você. Ainda não acredito.

SCULLY: - Nem eu.

Scully olha pra ele. Uma mecha de cabelo lhe cai sobre o rosto.

MULDER: - Ver você, a Dana Scully... Fora daquela diplomacia toda de trabalho, fora daquelas roupas e sem uma arma, sem a máscara de agente federal, colega... Ver você como uma mulher...

Mulder percorre o pescoço de Scully com o nariz, aspirando seu perfume. Scully deixa a faca cair ao chão, erguendo as mãos, fechando os olhos. Envolve as mãos nele. Inclina o pescoço para trás. Mulder desata o robe que ela usa, enquanto beija-lhe o pescoço. Ela solta um suspiro incontido. Mulder desce os lábios por entre o robe aberto, entre os seios dela, pousando um beijo em seu ventre. Ela envolve as mãos nos cabelos dele.

MULDER: - (SORRI) Perdi a fome.

SCULLY: - Eu também...

[Fade in]


[Fade out]

TEMPO REAL:

[Som: Rick Astley - Cry for Help]

Mulder e Scully sentados no sofá. Ele deitado entre as pernas dela. Percebe-se ao lado que o aquário está coberto com um pano.

SCULLY: - Nós parecíamos dois idiotas.

MULDER: - Mas ainda parecemos dois idiotas.

SCULLY: - É... Mas, pelo menos agora, você é um idiota que sabe fazer café.

MULDER: - (DEBOCHADO) E um idiota que coloca música alta pra que ninguém nos escute e que sabe da existência de uma câmera dentro do aquário... Otários!

SCULLY: - (SORRI) Lembro que você me colocou sobre a mesa da cozinha...

MULDER: - Um dos melhores almoços que já tive... Comi meu prato favorito. Bem molhadinho.

SCULLY: - (DÁ UM TAPINHA NELE) Culpa sua, Mulder. Agora vejo que não tem razão quando diz que eu era louca. Foi você quem começou! Eu já era meio biruta, você só fez a fera sair. Depois disso eu comecei a te agredir sexualmente e você ficou com medo.

MULDER: - (RINDO) ...

SCULLY: - Não mandei me dar liberdade... Hum... Então fomos pro quarto... Fizemos amor de novo, depois terminamos o almoço... Lembra-se daquilo???

Ele põe as mãos no rosto, rindo.

[Fade in]


[Fade out]

FLASH BACK:

Os dois sentados à mesa. Apenas um prato de macarrão à frente deles. Os dois olham sérios para o macarrão.

MULDER: - Vai tentar?

SCULLY: - Não sei. Estou em dúvida.

MULDER: - (DEBOCHADO) Se quiser eu busco uma flauta. Queria ver se funciona aquela coisa de tocar e o macarrão começar a se erguer sozinho...

SCULLY: - Mulder, isso vai contra todas as leis físicas!

MULDER: - Scully, não deboche da paranormalidade, os hindus fazem isso.

SCULLY: - Com macarrão?

MULDER: - Com cobras. Mas é melhor ficar quieto ou posso alimentar sua imaginação fértil.

Ela começa a rir. Ele sorri.

SCULLY: - Desista Mulder... Não preciso de flautas pra fazer isso.

MULDER: - (DEBOCHADO) É, eu sei. É a minha velha teoria sobre garotas da escola católica manipuladoras de serpentes.

SCULLY: - Além do mais você não é criativo.

Ele olha pra ela.

SCULLY: - Não me censure. Lembrei do que você me disse. Que falar isso significa deixar você em auto-desafio e mais empolgado. Portanto, prepare-se porque eu vou te provocar com a frase pro resto da vida.

MULDER: - Mordi minha própria língua... E agora, Scully? O que vai fazer?

Scully olha pro macarrão e ri.

SCULLY: - Eu sempre quis fazer isso.

MULDER: - (DEBOCHADO) Para provar cientificamente que funciona?

SCULLY: - (RINDO) Hum, não... É bobo, eu sei, mas... Eu não vou resistir.

MULDER: - (RINDO) Vá em frente... É todo seu.

Ela retira um macarrão com os dedos. Ergue-o.

SCULLY: - Hum, esse tá bonito... O que acha?

MULDER: - Perfeito.

SCULLY: - (RINDO) Segura.

Ele pega a outra extremidade do macarrão. Esticam o macarrão. Mulder leva à boca. Ela rindo, faz o mesmo. Eles vão sorvendo o macarrão até encontrarem os lábios. Afastam-se rindo.

MULDER: - (MASTIGANDO) É, Dra. Scully... Funciona. Você acaba de comprovar...

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Mas espero que não esteja se referindo a mim como a dama...

Ela começa a rir. Ele olha debochado pra ela.

MULDER: - Gostei. Vamos fazer de novo?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, você não teve infância?

MULDER: - (RINDO) Eu??? Foi minha essa ideia???

[Fade in]


[Fade out]

TEMPO REAL:

Os dois riem, sentados no sofá.

SCULLY: - Terminou que almoçamos desse jeito...

MULDER: - Ei, que tal macarrão pro jantar hoje???

SCULLY: - (RINDO) ...

MULDER: - Se lembra da noite de sábado pra domingo?

SCULLY: - Claro que lembro... Pizza, vinho... Filmes... Nós dois juntinhos... Conversamos um monte sobre nós dois... Rimos... O tempo passou depressa...

MULDER: - Sempre passa depressa quando a gente está se divertindo...

SCULLY: - Fizemos amor... Se lembra do depois? Daquela nossa conversa?

MULDER: - (RINDO) A gente sempre se lembra de quando o vício começa... Você veio falando a coisa de acordar...

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[Fade out]

FLASH BACK:

Os dois deitados na cama, um de frente pro outro.

MULDER: - (SORRI) Não tá falando sério.

SCULLY: - (RINDO) Estou...

MULDER: - Bom, eu sempre sonhei em ser acordado assim...

SCULLY: - Hum, quer coisa mais gostosa do que acordar com a pessoa do seu lado empolgada?

MULDER: - Algumas pessoas diriam que isto é desrespeito. Busca do auto-prazer, ficar molestando o outro no meio da noite, cansado...

SCULLY: - Hum, eu não acho. Eu acho interessante.

Ela sorri maquiavélica.

SCULLY: - Dorme.

Ele começa a rir.

SCULLY: - Vai, Mulder, dorme. Você está cansado, dormiu pouco.

MULDER: - Não, dorme você...

SCULLY: - (RINDO) Não! Eu não vou dormir...

MULDER: - (RINDO) Eu é que não vou pregar o meu olho...

Ela se vira de costas pra ele. Ele a envolve com o braço. Ela apaga a luz. O quarto fica na penumbra. Ele ajeita o edredom em cima dela, se agarra nela.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - Por que você dorme agarrado comigo?

MULDER: - Eu gosto. Não gosta?

SCULLY: - Claro que eu gosto. Embora acho que com o tempo as pessoas começam a dormir afastadas.

MULDER: - Espero que a gente não. E depois, deixa eu te agarrar mais... Assim... Hummm... Bem agarradinho... Pra você não fugir durante a noite... Uhu! Que pés gelados!

SCULLY: - Ai, eu tenho os pés gelados!

MULDER: - Que bom, eu sinto calor no meio da noite... Coloca teus pés aqui que eu esquento.

SCULLY: - Hum... Nossa Mulder! Você está pegando fogo!

MULDER: - Tá quentinha agora?

SCULLY: - Deixa eu me ajeitar aqui... Hum... Agora sim...


4:13 A.M.

Scully abre os olhos. Afasta-se dele. Mulder dorme profundamente. Ela sorri. Vira-se de frente e aproxima os lábios do ouvido dele.

SCULLY: - (SUSSURRA) Mulder...

MULDER: - Zzzzzz...

SCULLY: - (SUSSURRA) Mulder, eu sou uma menina má...

Ele dá um sorriso, meio dormindo.

MULDER: - Zzzzzz... Desista... Não vou me acordar... zzzzz

SCULLY: - Mulder, eu avisei. Eu quero fazer coisinhas...

MULDER: - Zzzzz...

SCULLY: - Mulder... Você me deu tanto prazer, agora eu quero te dar.

MULDER: - ... Não fiz isso... Zzzzzz... Pensando em troca...

Ela sorri e vai pra baixo do edredom. Ele continua dormindo. Acorda-se arregalando os olhos.

MULDER: - (PÂNICO) Scully, você não vai fazer isso... Scully, não precisa fazer isso pra me agradar, eu... Oh, céus... não, Scully... hummm... Sim Scully... Acredite, me acordei. Estou... hummm... Completamente acordado.

[Fade in]


[Fade out]

TEMPO REAL:

Os dois riem. Mulder serve as taças com vinho. Olha pra ela.

MULDER: - Os joguinhos.

SCULLY: - Sim... Mulder, eu adoro esses joguinhos apimentados entre a gente. Estimulam a nossa criatividade, nos afastam da rotina...

MULDER: - Sabe por que funciona o nosso relacionamento? Porque a base de qualquer tipo de relacionamento humano envolve respeito e compreensão mútua. Compreensão das necessidades do outro.

SCULLY: - É. Acho que temos liberdade um com o outro, mas sabemos respeitar os limites...

MULDER: - Puxa, me lembro do domingo... Da angústia que pairou por sabermos que no outro dia iríamos ter que sair dali.

SCULLY: - E o pior: ir para o FBI como se nada tivesse acontecido.

MULDER: - Inevitável, Scully. Hoje percebo que se alguém estava prestando atenção sacou de cara que tinha acontecido algo entre a gente. Porque nunca mais fomos o mesmo um com o outro. Podíamos até disfarçar, mas os sorrisos bobos nas nossas caras nos entregavam.

SCULLY: - (SORRI) ... Ainda tenho o sorriso bobo daquela noite estampado na minha cara...

MULDER: - (SORRI) E eu aquela sensação estranha de ter morrido.

SCULLY: - Mulder, nem me lembra daquilo! Foi horrível!

[Fade in]


[Fade out]

FLASH BACK:

Segunda-feira, 06:31 A.M.

O despertador toca. Mulder dá um tapa nele. Vira-se na cama e agarra o travesseiro. Escuta o barulho do chuveiro. Levanta-se. Tropeça numa garrafa de champanhe.

MULDER: -Odeio segundas-feiras!

Mulder entra no banheiro. Começa a passar a espuma de barbear no rosto, na frente do espelho. O chuveiro é desligado. Scully abre o box e pega o roupão de banho de Mulder. Veste-o.

SCULLY: -Bom-dia, senhor dorminhoco!

MULDER: -Acordou cedo, “senhora insaciável”...

SCULLY: -Perdi o sono. Estou fazendo um café...

MULDER: -Deveria ter deixado essa tarefa pra mim.

SCULLY: -Você já me levou café na cama o fim de semana todo. Vai me acostumar mal.

MULDER: -Quero te acostumar mal.

SCULLY: -Deixa que eu faça isso.

Scully pega o barbeador da mão dele. Mulder a levanta. Coloca-a sentada no balcão da pia. Fica entre as pernas dela.

MULDER: -Sabe fazer isso?

SCULLY: -Mulder, sou perita em objetos cortantes...

Mulder afasta o rosto e faz aquela cara de “pânico”. Scully ri.

SCULLY: -Não se preocupe, não vou fazer uma incisão em Y.

MULDER: -Queria que o fim de semana não terminasse.

Mulder acaricia as pernas dela. Ela tira o barbeador do rosto dele. Ele aproxima o rosto do rosto dela.

SCULLY: -(RINDO) Não, Mulder! Vai me sujar!

MULDER: -Estou muito mal intencionado, Scully...

SCULLY: -Mulder, não! Vamos nos atrasar.

Mulder fita-a. Ela continua fazendo a barba dele.

SCULLY: -O Skinner foi viajar. Disse que há um caso pra nós, na mesa da secretária dele. Não acha estranho que ele tenha ido pro Himalaia? Mulder, acho que o Skinner sabe de nós. Armou pra que isso acontecesse.

MULDER: -Impressão sua.

Scully termina de barbeá-lo. Desce da pia.

SCULLY: -Vou secar os cabelos e colocar a roupa.

MULDER: -Precisamos ir pro trabalho hoje?

SCULLY: -Mulder, prometemos que nada vai mudar. Eu sou eu, você é você, e os Arquivos X nos esperam.

Mulder se aproxima dela. Scully afasta-se. Sinaliza que não com o dedo.

SCULLY: -Mulder, por favor... Vamos nos atrasar.

MULDER: -Tá bom. Eu tento me controlar. É que são anos de desejo e três noites não me bastam...

SCULLY: -Depois sou eu a “insaciável”...

Scully vai para o quarto. Mulder vai pra cozinha. Vê uma garrafa sobre a mesa.

MULDER: -Que garrafa é essa?

SCULLY: -Entregaram pelo correio. Veio em nome do Skinner.

MULDER: -Scully, ele sabe de nós!

Mulder abre a garrafa. Toma uns goles.

MULDER: -Ugh! Parece chá! Quer um gole?

SCULLY: -Não, obrigado. Não bebo pela manhã.

MULDER: -Tá me chamando de bêbado?

Batidas na porta. Mulder corre pro quarto.

MULDER: - (SUSSURRA) Scully! Esconda-se no banheiro!

Scully entra no banheiro, com as roupas debaixo do braço. Mulder abre a porta.

FROHIKE: -Onde estava todo o fim de semana?

Frohike vai empurrando-o e entra. Olha pra todos os lados, curioso. Mete a cara na porta do quarto. Mulder põe-se na frente dele. O empurra pra sala.

FROHIKE: -Deixei recado na secretária! Seu celular estava desligado... Liguei sexta falando sobre a queda de um ÓVNI e você... Que cara abatida é essa?

MULDER: -Dormi demais. O que quer aqui a essa hora?

FROHIKE: -Estávamos preocupados com você.

MULDER: - Eu estou bem.

FROHIKE: -Não me parece. Parece abatido.

MULDER: - Tive um final de semana desgastante. (SUSPIRA) Muito desgastante.

FROHIKE: - Exercícios físicos?

MULDER: - “Abdominais”.

Frohike começa a mexer o nariz.

FROHIKE: -Que perfume é esse?

MULDER: - É um perfume pra ambientes. Isso aqui fica muito tempo fechado...

FROHIKE: -Eu conheço esse perfume...

MULDER: - Frohike, eu ligo pra você depois, tá legal? Estou atrasado.

Mulder empurra Frohike pela porta. Fecha-a. Scully sai do banheiro.

SCULLY: -Ele percebeu alguma coisa?

MULDER: - O seu perfume. O tarado desgraçado sabe até o seu cheiro!

Mulder entra no banheiro. Vai pro chuveiro.


Época atual – Apartamento de Mulder – 12:00 A.M.

Os dois, sentados no sofá. Observam o relógio atentamente, cada segundo. O relógio muda pra 12:01. Eles se abraçam, trocando um beijo longo. Se afastam. Ela sorri. Ele levanta-se. Vai pro quarto. Volta com alguma coisa escondida nas costas.

SCULLY: - (SORRI) O que é?

MULDER: - (SORRI) Deixa de ser curiosa!

Ele senta-se, tomando o cuidado de continuar escondendo a surpresa. Ela olha pra ele.

MULDER: - Bom... Já é hoje e... Ontem passamos o dia todo eufóricos, contando as horas pra virar a meia noite. Relembramos nossa primeira noite, nosso primeiro final de semana juntos, escrevemos tudo isso como um livro... Então abrimos um vinho e desde então estamos sentados aqui relembrando coisas passadas entre nós dois.

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, em cinco anos de vida oficial com você... Completados há 2 minutos...

SCULLY: - (SORRI)

MULDER: - Você foi abduzida, quase morreu de câncer, sofreu, chorou, tudo por estar envolvida comigo...

SCULLY: - ...

MULDER: - Acho que agora posso dizer: Scully, você tem um mau gosto impressionante! Você é muito azarada, sabia?

Ela ri.

MULDER: - Tá, eu confesso: não me arrependo por um minuto de estar com você. Esses últimos anos foram os mais intensos na minha vida, eu cresci, eu consegui tomar coragem pra coisas que não tinha antes e eu sou feliz. Tudo isto por causa de você.

Ela sorri meiga.

MULDER: - Você transformou minha vida. Eu quero que estes cinco anos se multipliquem por toda a nossa vida. Viver com você foi a melhor coisa que poderia me acontecer.

SCULLY: - (EMOCIONADA) ... Oh, Mulder...

MULDER: - *Sete mil vezes, eu tornaria a viver assim, sempre contigo transando sob as estrelas. Sempre cantando a música doce que o amor pedir pra eu cantar... Noite feliz, todas as coisas são belas. Sete mil vezes, e em cada uma outra vez querer, sete mil outras em progressão infinita. Quando uma hora é grande e bonita assim quer se multiplicar, quer habitar todos os cantos do ser. Quarto crescente, pra sempre um constante quando... Eternamente um presente você me dando. Sete mil vidas, sete milhões e ainda um pouco mais... É o que eu desejo, e o que deseja essa noite, noite de calma e vento, momento de prece e de carnavais, noite de amor, noite de fogo e de paz.

SCULLY: - (EMOCIONADA) Mulder... Agora é você quem tá me fazendo chorar...

Ele sorri meigo pra ela.

MULDER: - Então, pra comemorar nosso aniversário de casamento... Namoro, sei lá... Até hoje a gente nem sabe como definir isso...

SCULLY: - (SORRI)

MULDER: - Eu comprei uma coisinha pra você. Com certeza é mais um daqueles meus presentes estranhos, que só você sabe o significado.

SCULLY: - Mulder, eu tô morrendo de curiosidade! O que aprontou dessa vez?

Ele retira a caixa quadrada de trás de si e entrega pra ela. Ela sorri. Abre depressa, com curiosidade.

Scully retira uma bola de vidro, transparente. Dentro dela, um feixe de raios se movimenta.

SCULLY: - Mulder, como isso funciona? Pilha?

MULDER: - É.

SCULLY: - Um... O que algo redondo e transparente com uma luz intensa dentro poderia significar... Que eu sou o seu mundo iluminado?

MULDER: - (DEBOCHADO) Impressionante! Assim perde a graça!

Ela olha pra ele apaixonada.

SCULLY: - (SORRI/ ENCANTADA) Você é o único marido que dá badulaques pra esposa e ela fica mais feliz do que com diamantes!

MULDER: - Ah, mas tem mais uma coisa. (DEBOCHADO) Eu ia esquecer do principal...

SCULLY: - (CURIOSA) Que coisa?

MULDER: - Isto.

Mulder retira a pequena caixinha do bolso.

MULDER: - Isso é um presente digno pra um marido dar pra uma esposa. E pode apostar que não saiu barato não...

Ela vai pra pegar a caixinha e ele ergue o braço. Ela tenta pegar, mas ele não deixa. Os dois aos risos.

SCULLY: - (RINDO/ MORTA DE CURIOSIDADE) Me dá logo aqui, eu quero abrir, Mulder!

MULDER: - (RINDO) Calma!!! Como você é curiosa, mulher!

SCULLY: - (RINDO) O que é isso, Mulder? Fala, seu cachorro!

Mulder entrega a caixinha pra ela, enquanto ri. Ela pega rápido.

SCULLY: - (SACUDINDO A CAIXINHA AO OUVIDO/ RINDO)

MULDER: - Espero que descubra o significado disso. Já te dei uma vez algo igual, mas agora o significado abrange mais um pouco.

SCULLY: - Hum... Um anel?

MULDER: - Não. Algo que te dei na nossa primeira noite. Agora te dou novamente reafirmando.

Ela abre rapidamente. Retira uma chave.

SCULLY: - Uma chave? Mulder, o que é isso?

MULDER: - Ah, vai ter que descobrir sozinha. Eu não vou dizer.

SCULLY: - ... (OLHA PRA ELE COM ESPANTO/ SÉRIA) Não... Mulder, você não faria o que eu estou pensando...

MULDER: - (SORRI) ...

Ela dá um sorriso e se abraça nele.

SCULLY: - (FELIZ) Mulder, você ficou louco! Aquela casa?

MULDER: - A própria.

SCULLY: - (NERVOSA) Mas Mulder, e...

MULDER: - E nada. Agora o resto é com você e terá bastante tempo pra organizar como quiser. Não vou meter meu bedelho nisso. Só quero as contas no final do mês.

Ela olha pra ele, olha pra chave, os olhos brilhando.

SCULLY: - Mulder... Não devia ter feito isso.

MULDER: - Não era a que você queria?

SCULLY: - Claro que sim, Mulder, mas... Mulder, como vamos pagar?

MULDER: - Se preocupe com outras coisas, isso eu resolvi.

Ela abaixa a cabeça. Olha pra chave em sua mão e derruba lágrimas. Ele olha pra ela.

MULDER: - Acha que é um bom presente de aniversário?

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - ... (OLHA PRA ELA COM CARINHO)

SCULLY: - (DERRUBANDO LÁGRIMAS) Isto significa tanto pra mim que você nunca poderia imaginar. Não pelo valor financeiro, mas pelo valor sentimental. Você realizou um sonho de toda uma vida.

MULDER: - Eu sei o quanto significa, Scully. E você merece. Até mais do que isto. Acho que agora é a hora de dar isso à você. Dar isso a nós dois... Corrigindo: a nós três.

Ela se abraça nele, derrubando lágrimas emocionadas.

MULDER: - Nós seremos felizes ali, Scully. Deixaremos esse lugar maldito, tanta desgraça aconteceu nesse apartamento. Coisas boas aconteceram também, como a nossa primeira noite, o nosso primeiro beijo. Mas eu acredito que esse lugar não mais nos basta. Ele é pequeno demais pra um mundo todo que temos em nós dois. E pro nosso filho. Afinal, ele vai precisar de espaço. Não queremos ver o moleque preso, não acha?

Ela sorri, olhando pra ele com os olhos cheios de lágrimas e ternura.

MULDER: - E o Cookie? Ele precisa ter um lugar grande pra poder correr.

SCULLY: - ...

MULDER: - Acha que agora eu sei o que é o amor?

SCULLY: - (OLHAR APAIXONADO)

MULDER: - Eu aprendi? Bem, não me responda. Apenas continue me ensinando pro resto da minha vida.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - Eu amo você... Agora posso realmente dizer que... A verdade está em nosso coração.

Ela cola os lábios aos lábios dele, beijando-o com ternura.


X


*Caetano Veloso.

16 de Agosto de 2019 a las 01:28 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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