lara-one Lara One

Continuação da fic anterior. Com medo da sua culpa, Scully torna-se mais vulnerável ainda ao feitiço a que foi exposta. Pode ela reagir e lutar para defender o que tem? Até que ponto vai a obsessão de Martha por Mulder? E Mulder? Pode ele realmente resistir ao feitiço que lhe foi feito?


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S04#07 - OBSESSION - PARTE II

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Apartamento de Mulder – 7:11 A.M.

Mulder sai do quarto, abotoando as mangas da camisa. Scully está na cozinha, tão fraca e abatida que as olheiras são visíveis. Ela olha pro nada, sentada à mesa.

MULDER: - (SURPRESO) Scully? Por que levantou cedo?

SCULLY: - Estou sem sono.

MULDER: - Precisa descansar.

Ela olha pra ele com ódio.

SCULLY: - Onde foi durante a madrugada?

MULDER: - ... Resolver esse mistério todo. Depois fui ao bureau.

Ela abaixa a cabeça. Cerra os punhos com a pouca força que tem. Ele olha pra ela, preocupado com sua saúde.

MULDER: - Eu não vou trabalhar hoje. Você tá me preocupando.

SCULLY: - Como se você se importasse comigo.

MULDER: - Scully, por que me diz isso? Desde quando eu não me importo com você?

SCULLY: - (EM TOM SECO) Vá trabalhar, Mulder. Estou bem. Nunca me senti melhor.

MULDER: - Não, não está. E eu estou preocupado. Não vou te deixar sozinha e doente.

SCULLY: - Não preciso de você. Nada como o ódio. O ódio faz a gente se reerguer.

MULDER: - ...??

SCULLY: - Sabe por que alguém colocaria sal dentro da minha bolsa?

Mulder fecha os olhos. Suspira. Vai pra sala, pega o paletó. Sai triste e cabisbaixo, batendo a porta.

VINHETA DE ABERTURA: MADNESS AND DEATH


BLOCO 1:

Apartamento de Mulder - 10:17 A.M.

Scully, no banheiro, maquiada e bem arrumada num tailleur, de sapatos altos. Ajeita os cabelos. Sorri para o espelho.

SCULLY: - (RESPIRA FUNDO) Agora sim, Dana. Reaja. Vamos lá, garota. Você já passou por coisas piores. Você não está doente. E precisa muito conversar com seu homem sobre certas coisas. E pedir desculpas pra ele... Eu vou reagir, Mulder. Não pensa que eu abandono uma luta por tão pouco. Não mesmo... Se é que não estou tão zonza que estou vendo coisas onde não existem... (SUSPIRA) Mulder, você não faria isso.

Ela põe as mãos no rosto.

SCULLY: - Como eu sou burra, meu Deus! Mulder, me perdoa, eu sei que estou confundindo tudo, meu estado mental está afetado... Eu confio em você, Mulder. Confio no que temos. Sei que você jamais me trairia... Dana, como você é estúpida e cruel! Você aprontou na vida e agora morre de medo do retorno!

Batidas na porta. Scully sai do banheiro e atende. Martha está parada ali, num vestido de cotton justíssimo e curto, peitos quase saltando do decote.

MARTHA: - O Mulder está?

Scully olha pra ela, de cima a baixo. Martha vai entrando. Scully fica intrigada. O ciúme começa a correr pelas veias e o sangue a ferver. Martha senta-se no sofá, cruza as pernas. Scully coloca as mãos na cintura, incrédula.

SCULLY: - Quem é você?

MARTHA: - Martha. Pode me trazer um suco?

Scully começa a sentir o gosto da raiva na língua.

MARTHA: - Pode ser com adoçante.

SCULLY: - Escute aqui, minha filha, eu não sou a empregada da casa.

MARTHA: - Ah, me desculpe. Pensei que Fox tivesse contratado uma serviços gerais por aqui.

SCULLY: - (ENCIUMADA) Fox? O ‘Fox’? Quem é você? Ou melhor, de que buraco você saiu?

MARTHA: - E quem é você?

SCULLY: - (CÍNICA) Uma amiga.

MARTHA: - (CÍNICA) Amiga?

SCULLY: - (CÍNICA) É, venho algumas vezes aqui pra dar comida aos peixes.

Cada qual das duas mente mais. O ódio é mútuo. Scully chega a ter insights de Ally McBeal e imagina-se afogando Martha no aquário.

SCULLY: - E você, é alguma coisa dele?

MARTHA: - Achei que sim, mas... Foi algo muito superficial. Pele.

SCULLY: - ... (CERRA AS SOBRANCELHAS/ TENSA)

MARTHA: - O conheci em New York, nós tomamos um drinque, nos amamos por várias noites e depois ele foi embora, sem explicação alguma.

SCULLY: - Ah! E veio atrás dele?

MARTHA: - (SORRI) Eu o amo. Não posso mais esquecer dele. Sabe que ele me fez sentir coisas que eu nunca senti antes?

SCULLY: - Imagino.

MARTHA: - Foi o melhor sexo que já fiz na vida.

SCULLY: - Imagino.

MARTHA: - Ele é tão gentil, tão amoroso, tão romântico...

SCULLY: - ... Cavalheiro, papo manhoso, carinha de cachorrinho pidão...

MARTHA: - ... É, isso... Fox é tudo o que mais desejo num homem.

SCULLY: - Muitas mulheres dizem isso.

MARTHA: - Você como amiga dele, nunca percebeu o quanto ele é perfeito?

SCULLY: - (RAIVA) É, por enquanto... até virar uma imperfeição física com o meu bisturi... O que não vai demorar muito tempo...

MARTHA: - Ele disse que me amava.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Sério? Puxa, como ele é criativo, não?

MARTHA: - Não consigo imaginar como um homem assim pode ser solteiro...

SCULLY: - (SEGURANDO A RAIVA) Ah, ele disse isso? (ENFURECIDA) Pois saiba que ele é casado e eu sou a mulher dele!

Martha abaixa a cabeça. Começa a se fazer de vítima.

MARTHA: - Então ele... ele... Aquele cachorro!

Scully a observa, irritada. Braços cruzados, batendo o pé no chão.

MARTHA: - Ele mentiu pra mim! Ele nunca disse que tinha uma esposa quando dividimos o quarto em New York.

SCULLY: - (PÂNICO)

MARTHA: - ... (ÓDIO) Cachorro, mentiroso! E eu acreditei nele!

Martha levanta-se. Passa por Scully. Scully fica confusa.

MARTHA: - Me desculpe, eu acho melhor ir embora.

Scully a puxa pelo braço, com raiva.

SCULLY: - Não senhora, vai me explicar que história é essa.

MARTHA: - Seu marido é um canalha, senhora Mulder. Não sabe o que ele apronta por aí, enganando uma mulher como você... Eu... Eu não consigo entender porque um homem faz esse tipo de coisa. Você é tão bonita, tão simpática. Não merece o que ele fez.

SCULLY: - (MEDO) O que ele fez?

Martha senta-se. Scully a observa.

MARTHA: - Nos conhecemos no bar do hotel. Ele me pagou um drink, conversamos a noite toda... Depois ele me convidou pra subir... Ele me disse que era solteiro. Não vi aliança em sua mão, então eu concluí que dizia a verdade. Afinal, ele é tão carismático...

Scully cerra os punhos, doida da vida.

MARTHA: - Então nós fomos pro quarto dele e... fizemos sexo a noite toda... Nos encontramos durante várias noites no meu apartamento... Por isso então ele ligava sempre! Devia estar ligando pra você, inventando mentiras... Me desculpe, eu não sabia. Eu juro que não sabia que ele era casado!

SCULLY: - Ele te deu o endereço?

MARTHA: - Não. Ele esqueceu isso na minha casa. Foi como o encontrei.

Martha entrega a credencial de Mulder. Scully fecha os olhos. Martha levanta-se.

MARTHA: - Me perdoe, senhora Mulder. Vou embora. Mas quero que saiba que não merece um ordinário como esse. Se soubesse que ele era casado, eu jamais teria feito algo assim. Também perdi meu marido por causa de uma vadia. Ele me deixou com 3 crianças pequenas por causa dela... Agora... (COMEÇA A CHORAR) Eu fui a vadia na vida de outra! A miserável desgraçada e destruidora de lares... Peça desculpa aos seus filhinhos. Eu vou sair da vida dele... Oh, meu Deus!

Ela sai chorando porta à fora. Scully se compadece dela. Fecha a porta. Batidas na porta. Scully abre. Martha olha pra ela, segurando Cookie pela coleira.

MARTHA: - Achei este cãozinho perdido. Conhece o dono?

Scully brilha os olhos, agarrando Cookie no colo.

SCULLY: - Obrigada. Ele fugiu, pensei que o tinha perdido...

Martha sai. Entra chorando no elevador. Scully olha pra ela com piedade. Entra com o cachorro. Tira-o da coleira. Abraça-o, beijando. Ele lhe enche de lambidas. Scully levanta-se. Fecha a porta. Olha pra credencial de Mulder sobre a mesa. Atira a credencial dele contra a parede. Vai furiosa pro quarto. Cookie atrás dela, abanando o rabinho, fazendo festa.

SCULLY: - Ah, ele me paga! Ele me paga, Cookie... Aquele safado, sem vergonha, tarado, cachorro! Deixa ele chegar...

Cookie deita-se na cama. Observa Scully. Scully abre o armário e coloca a mala ao lado de Cookie. Começa a atirar as roupas ali dentro.

SCULLY: - (FURIOSA) Que ódio! Ele vai me pagar caro por toda essa humilhação! Não pode ver um maldito rabo de saia? Ele pensa que eu sou boba? Isso é o que dá ficar dando folga pra ele. Vai, Dana, sua chifruda imbecil! Por que com Mulder seria diferente? Ele é homem também!

O cachorro fica olhando pra ela.

SCULLY: - Vamos embora, Cookie. E antes de ir, quero que você faça xixi em cima do sofá do Mulder! E pode roer tudo o que encontrar, inclusive o paletó dele! Aquele safado... como pôde fazer isso comigo? E com aquela pobre mulher?


6:28 P.M.

Mulder entra no apartamento. Segura um buquê de rosas. Scully sai da cozinha, furiosa. Ele sorri. Oferece as rosas.

MULDER: - (FELIZ) Pra você. Puxa, como está linda! Tão bom te ver bem de novo...

Scully enfia as rosas na cara dele, sem deixar ele terminar de falar. Vai pro quarto. Mulder fica cismado. Vai atrás dela.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Sabe bem o que foi.

MULDER: - Não, eu não sei.

Scully cruza os braços e olha pra ele com raiva, batendo o pé no chão.

SCULLY: - Confessa, cachorro!

MULDER: - Confessar o quê?

SCULLY: - Ora, não se faça de tonto, você sabe muito bem do que estou falando.

MULDER: - Não, eu não faço a mínima ideia.

Ele olha pras rosas amassadas em suas mãos. Triste.

MULDER: - Você ficou chateada com as rosas, é isso? Me desculpe, eu sei que as do Skinner eram mais bonitas, mas a floricultura estava fechando e...

SCULLY: - (GRITA ENLOUQUECIDA) Mulder!!!!!!!!!!!!!!

MULDER: - (PÂNICO) ... Aiiiiii!!!!!!!!! Scully, você nunca gritou comigo desse jeito...

SCULLY: - (AOS BERROS) Nem me viu gritar ainda!

MULDER: - Mas eu só trouxe umas rosas...

SCULLY: - Enfia essas rosas todinhas no seu orifício inferior, Mulder!

MULDER: - (PÂNICO)

SCULLY: - Vou embora.

Ela passa por ele o atropelando. Vai pra sala. Ele atrás dela, como cachorrinho.

MULDER: - Mas o que foi que eu fiz? Pelo menos tenho direito de saber a acusação.

SCULLY: - Sabe a acusação.

MULDER: - Aonde vai com a mala e o cachorro? (COMEÇANDO A FICAR COM MEDO) Aliás, como o cachorro voltou?

SCULLY: - Com as patas. Vou embora.

MULDER: - ... (RECEOSO) Por quê?

SCULLY: - Se não se lembra, vou refrescar a sua memória. Martha, esse nome te lembra algo?

MULDER: - ... (MEDO) ... Os vinhedos?

SCULLY: - Deus, mas como você é cínico!

MULDER: - ... Tá, Scully, eu conheci uma Martha. Mas não aconteceu nada. Eu já te falei sobre isso.

SCULLY: - Como começou a galinhagem?

MULDER: - Ah, Scully, por favor. Por que briga por tão pouco? Nós tomamos um drinque...

SCULLY: - Ahá! Confirma a história do drinque então, seu sem vergonha?

MULDER: - Sim, nós tomamos um drinque, tem algum crime nisso?

SCULLY: - E depois do drinque?

MULDER: - Não teve depois. Scully, eu já te disse que nós não transamos.

SCULLY: - Pense bem, Mulder. Acho que seu cérebro letárgico está sofrendo crises de esquecimento conveniente.

MULDER: - Acha que dormi com ela?

SCULLY: - Não acho, tenho certeza.

MULDER: - Mas como sabe que ela se chama Martha?

SCULLY: - Ela esteve aqui te procurando. Por que se não, eu nunca saberia, não é, Mulder?

MULDER: - Aqui?

SCULLY: - Veio devolver isso.

Scully atira credencial nele.

MULDER: - Au!

Ele agacha-se e pega a credencial. Percebe que Martha calculou tudo realmente pra ferrar com eles.

MULDER: - (DISFARÇA) Nem sei onde a perdi.

SCULLY: - Numa cama, entre lençóis de cetim pretos, sacanagem e geme-geme.

Mulder olha pra ela, incrédulo.

MULDER: - Scully? De onde tirou uma ideia dessas?

SCULLY: - Transa assim com qualquer uma é? Quantas vezes já fez isso sem que eu soubesse? Não deve ser a primeira vez. Se eu me olhar no espelho vou parecer um cervo!

MULDER: - Eu não transei com ela!

SCULLY: - Ah, não. Você apenas trocou fluídos corporais. Ora, Mulder, chame como quiser, mas isto significa sexo. Na mais maldita concepção da palavra. Você mente pra mim com medo de que eu vá embora! Se faz de bobo, de culpado e a tonta aqui acredita!

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Você não tinha esse direito, Mulder! Não te falta nada em casa! Eu sei que não sou tão bonita e nem faço o seu tipo físico, mas não tinha o direito de me trair! Você abusou da minha confiança. E acabou com ela. Isto significa que acabou tudo entre nós, porque onde não há mais confiança, não há mais amor!

MULDER: - Scully, deixa de ser doida...

SCULLY: - Eu sou doida, é? Mulder, a vontade que tenho é de encher essa sua cara safada de tabefes! Seu porco sujo, seu cretino, cachorro, tarado!

Ele senta-se no sofá. Larga o buquê sobre a mesa. Ela olha pra ele o fulminando.

SCULLY: - Pelo menos fez sexo seguro?

MULDER: - (DESESPERADO) Mas eu nem fiz nada!!!!

SCULLY: - (FURIOSA) Pra mim chega!

Scully pega a mala. Mulder joga-se no chão, a segurando pelas pernas.

MULDER: - Scullyzinha, tem que acreditar em mim...

SCULLY: - Não posso.

MULDER: - Eu não sou isso tudo que você pensa que eu sou!

SCULLY: - Seu galinha!

MULDER: - Eu não sou galinha. Scully, eu já te disse que o meu passado foi enterrado, que...

SCULLY: - (INCRÉDULA) Passado? Não, você não me falou do seu passado.

Mulder senta-se no chão. Suspira. Ela olha pra ele.

SCULLY: - (INDIGNADA) Cinco, né? Tá bem, Mulder, eu fingi que acreditei.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Você é um galinha, nasceu e vai morrer como um galinha!

MULDER: - Scully...

SCULLY: - E junte suas penas do chão, Mulder. Faça um travesseiro pra sua vadia!

MULDER: - Tudo isso por causa de uma credencial?

Mulder levanta-se.

SCULLY: - Ela me contou tudo!

MULDER: - (ASSUSTADO) Contou o quê?

SCULLY: - A verdade.

MULDER: - (PREVENDO A MENTIRA DE MARTHA) Que verdade?

SCULLY: - Ah, tem medo de que ela me contou os detalhes?

MULDER: - Scully, o que aquela mulher disse?

SCULLY: - ... Sobre o quê? Foram tantas coisas...

Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Ela disse que transamos?

SCULLY: - A pergunta encerra a resposta.

Mulder passa as mãos no rosto. Nervoso.

MULDER: - Scully, não acredite nessa mulher. Ela é obcecada e perigosa. Eu não tive nada com ela, eu juro pra você.

Scully respira fortemente pelo nariz e grita.

SCULLY: - Mulder!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ela vai pro quarto, batendo a porta, trancando-se. Mulder bate na porta do quarto.

MULDER: - Scully, abre essa porta! Precisamos conversar. Você tem que me ouvir! É isso que ela tá querendo, Scully, não cai no jogo daquela maluca!

SCULLY: - Não quero conversar!

MULDER: - Scully, precisa acreditar em mim!

Ela abre a porta. Ele entra.

SCULLY: - Nem vou falar com você, Mulder. Posso acabar cometendo um crime. E você não merece que eu passe o resto da minha vida atrás de uma cela!

MULDER: - Essa mulher é louca, ficou obcecada por mim! Tem me seguido, telefonou várias vezes pro escritório...

SCULLY: - Por que será? Deve ter adorado a sua performance. Também, o mercado tá escasso por aí, elas se apegam a qualquer porcaria que aparece.

MULDER: - (DESESPERADO) Scully, por favor... Quem não está agindo como adulto por aqui? Não me acuse de algo que não fiz. Eu te amo! Sabe que eu não minto e nunca mentira pra você!

SCULLY: - Sexo e amor são duas coisas diferentes. Pode ter sexo por aí sem precisar dizer eu te amo.

MULDER: - Sabe que não penso assim. Se eu amo alguém eu sou fiel em tudo. Ô, Scully, estamos juntos há tanto tempo, quando vai aprender a confiar em mim? Acha que me achei no lixo pra dormir com qualquer piranha que se ofereça?

SCULLY: - Não falo de qualquer piranha. Falo dela. E não se faça de bobo, Mulder. Você ia dormir com ela, você mesmo me confessou! Você não pensa com a cabeça de cima. Nunca pensou e eu te conheço muito bem pra dizer isso!

MULDER: - (INCRÉDULO) Scully?

SCULLY: - Vivia rastejando por aquela Diana Fowley. Que graças à Deus, sumiu da face da Terra! Vivia doidinho pra ir pra cama com ela. Phoebe Green, a detetive White, Dra. Bambi... E a lista vai até a China!

MULDER: - Mas isso foi antes...

SCULLY: - (FURIOSA) Diana Fowley não. Nós estávamos juntos!

MULDER: - Mas eu estava confuso, eu tive uma vida com ela antes de conhecer você!

SCULLY: - Tudo bem, eu vou reencontrar meus antigos namorados e dormir com todos eles.

MULDER: - (GRITA IRRITADO) Eu não dormi com ela!

SCULLY: - Não. Com certeza absoluta ficou acordado a noite toda.

MULDER: - Ela quis, eu não deixei!

SCULLY: - Ah, é questão de ‘não deixar’? Ora, tadinho, como ele é inocente e puro. Luta contra sua dupla personalidade, a de anjo e a de tarado. E o Oscar vai para Fox Mulder, por melhor interpretação em ‘Eu, eu mesmo e todas as barangas do mundo’.

MULDER: - Scully, já pensou nas coisas que aconteceram? Aquela mulher é uma bruxa poderosa, ela tá fazendo de tudo pra nos separar! Ela tá derrubando você aos poucos! Faz você brigar comigo pra que eu fique com raiva de você!

SCULLY: - Sai daqui, Mulder! Sua voz me dá nos nervos! Suas desculpas sobrenaturais já estão por demais conhecidas.

MULDER: - (FURIOSO) Tá, eu vou provar pra você, Scully. Eu vou pegar aquela vaca que tá arruinando a nossa vida e vou fazer ela te confessar a verdade!

SCULLY: - Puxa, se fala assim da amante, imagina o que não fala da esposa!

MULDER: - Tá, Scully, eu não vou mais ficar aqui rastejando. Você não confia em mim e nunca vai confiar. Sabe por quê? (IRÔNICO) Você mesma disse que já tirou o marido de outra. Portanto, quem não deve não teme. Vá dormir. Quando esfriar sua cabeça cheia de pigmentos químicos eu vou falar com você. Quem mal não tem, mal não pensa, sabia?

Ela olha pra ele, boquiaberta. Mulder sai furioso. Bate a porta do quarto. Ela atira um travesseiro na porta.

SCULLY: - (GRITA) Eu te odeio, Mulder! Desapareça da minha frente!


BLOCO 2:

Garagem. Mulder aproxima-se do carro. Pára. Arregala os olhos. O carro está todo destruído.

MULDER: - (PÂNICO) Ai, ai, ai, ai, ai... (PASSA A MÃO NO ROSTO/ AFLITO) Como vou explicar isso pra aquele chato da contabilidade do Bureau...

Um carro pára. Mulder olha. Martha está na direção.

MARTHA: - (SORRINDO) Carona?

Ele enlouquece. Abre a porta do carro dela, irritado.

MULDER: - O que pensa que está fazendo? Quer arruinar a minha vida?

MARTHA: - Entra aí. Se a sua mulher te ver comigo, vai apanhar feio.

Ele entra no carro.

MULDER: - O que está pretendendo?

MARTHA: - ...

MULDER: - (IRRITADO/ GRITA) Fala, sua piranha desgraçada!

Ela abre a bolsa. Retira um lenço. Rapidamente enfia no nariz de Mulder. Ele tenta se desvencilhar, mas não consegue. Desmaia no banco.

MARTHA: - (OBCECADA) Você vai ser meu. Por bem ou por mal.

Ela acelera o carro e sai cantando os pneus.


Arquivos X – 9:37 A.M.

Skinner entra na sala. Scully está sentada, arrumando alguns papéis. Beiço enorme.

SKINNER: - Onde está o Mulder?

SCULLY: - (INVOCADA) Por que eu deveria saber?

SKINNER: - ???

Ela soca os papéis na gaveta e fecha a gaveta com raiva, num supetão, fazendo barulho. Skinner olha pra ela, intrigado.

SKINNER: - Preciso que vocês dois resolvam... um problema na Virgínia... Scully, aconteceu alguma coisa?

SCULLY: - Não.

SKINNER: - ... Estou tentando o celular de Mulder, mas não atende. Sabe sobre isso?

SCULLY: - Deve estar de farra por aí.

SKINNER: - Ele não dormiu em casa?

SCULLY: - Não.

SKINNER: - (TENTANDO SER AMIGO) Estão com algum problema... particular?

SCULLY: - Nada que lhe interesse.

Ela levanta-se. Sai da sala. Skinner estranha a reação dela.


Sede dos Pistoleiros Solitários – 10:56 A.M.

Scully, de braços cruzados, olha pros três.

SCULLY: - (GRITANDO) ... E eu sei que vocês têm segredinhos! Nenhum dos quatro vale nada! Só quero que digam ao Mulder que eu voltei pra minha casa e que ele pode levar as tralhas dele que ficaram por lá. Deixei com o zelador.

Ela sai, batendo a porta. Os três se olham, perplexos.

FROHIKE: - Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Ela entrou, ficou aqui gritando por 10 minutos sem parar e foi embora. Alguém entendeu sobre o quê ela estava falando?

LANGLY: - Sei não. Mas a Scully tá furiosa... Aposto que o Mulder aprontou. Tem mulher no meio. Ah, tem!

BYERS: - Não sei de nada. Não me meto em briga de casal. Depois eles voltam e você fica de ruim na história.

Os três voltam aos seus afazeres.

LANGLY: - Mas que eu fiquei curioso... Deve ter sido feio...

FROHIKE: - Langly!


FBI – Gabinete do diretor-assistente – 12:21 P.M.

Skinner, sentado, agarrado aos braços da cadeira, olhar assustado. Scully caminha até a porta. Pára. Olha pra ele.

SCULLY: - E diga ao seu amiguinho, ‘Walter’, que eu fico com o cachorro! Espero que você esteja se sentindo bem, acobertando as safadezas dele! Vocês homens são todos iguais!

Ela sai batendo a porta. Skinner continua catatônico.


Apartamento de Mulder – 5:28 P.M.

Scully entra. Cookie vem correndo. Ela o afaga. Procura Mulder pelo apartamento.

SCULLY: - Onde está o cachorro da casa, meu bebê?

Scully vai pro quarto. Volta pra sala. Não o encontra. Começa a ficar com medo. Olha pro aquário. Há um bilhete anexado no vidro. O bilhete que Mulder escrevera e deixara pra Martha. Scully pega o bilhete. Reconhece a letra. O lê.

MULDER (OFF): - Me desculpe por ter ido embora sem te avisar. Não me entenda mal, eu não te amo, eu amo outra pessoa. Foi bom conhecer você. Espero que consiga superar seus desafios. Te desejo muita paz. Mas entenda que tudo foi um erro. Mulder.

Ela solta o bilhete no chão. Enche os olhos de lágrimas.


Local desconhecido – 6:19 P.M.

Uma pequena e velha cabana abandonada, à beira do mar.

Corta pra dentro da cabana. Há um congal com Exu e oferendas. Martha, de frente para o altar, olha pra foto de Mulder num porta retratos, com uma vela ao lado e rosas.

Corta pra cama. Mulder amarrado à cama, pelos braços e pernas, amordaçado. Apenas de cuecas boxer. Tenta se soltar mas não consegue. Martha assovia November Rain, tranquilamente. Acende a vela.

MARTHA: - Essa é a nossa música, Mulder. Acho que ela representa bem o misto de loucura e obsessão que existe em nós.

MULDER: - ...

MARTHA: - When I look into your eyes, I can see a love restrained... But darlin’ when I hold you, don’t you know I feel the same... Cause nothin lasts forever and we both know hearts can change... And it’s hard held a candle, in the cold november rain...

Mulder olha pra ela, assustado. Martha pega a arma dele. Mulder arregala os olhos.

MARTHA: - Não se preocupe, eu não vou usar isto contra você.

Ela coloca a arma sobre o altar. Olha pra ele.

MARTHA: - (SUSPIRA) Nem acredito que estamos juntos! Sei que com o tempo vai aprender a me amar. Aquela mulher nunca amou você. Ela briga, ela grita, ela te acusa de coisas que você jamais faria. Desconfia de você.

MULDER: - Mmmm...

MARTHA: - Eu nunca faria isso com você. Eu te amo. Eu te respeito. Eu confio em você cegamente, meu amor.

MULDER: - Mmmm...

MARTHA: - Sabe, eu... Eu sei mais sobre você do que pensa... Consultei búzios e vi que você é uma pessoa de coração tão grande, tão humana. Você é capaz de amar e dar sua vida por um amor. Mas eu nunca permitiria que você fizesse isso por mim. Sua vida vale muito mais do que a minha.

MULDER: - ... (ASSUSTADO)

MARTHA: - Vou te fazer feliz, Mulder. Vou dar filhos pra você. Coisa que ela nunca vai poder te dar.

MULDER: - ...???

MARTHA: - Pensa que não sei? Os búzios dizem tudo, Mulder. Vamos viver felizes. Eu faço tudo o que me pedir, meu amor.

Ela senta-se ao lado dele. Passa a mão em seu rosto. Mulder vira o rosto pro lado.

MARTHA: - Sei que está furioso, mas eu não posso soltar você. Não confio em você. Aquela mulher te hipnotizou. Ela não te merece, meu amor. Acho que vou pagar o Ebó que prometi e vou pedir que os Orixás te esclareçam... Algumas vezes, eu trabalho com um Exu encarnado por 24 horas... (SORRI) Eles foram humanos, sabem os problemas dos humanos...

MULDER: - ... (APAVORADO)

Martha beija-lhe o rosto. Levanta-se. Coloca a segurança azul e branca no pescoço dele. Ele reluta, mas ela vence.

MARTHA: - São as cores do seu Orixá, Mulder. Você é filho de Iemanjá, nasceu numa sexta-feira. Iemanjá é mãe. Ela vai te proteger das coisas ruins.

MULDER: - ...

MARTHA: - (SORRI) Por isso você se dá bem com as mulheres. Você tem uma alma feminina, Mulder. E a força da mãe de todos os homens.

MULDER: - ... (ESPANTADO)

MARTHA: - Vou preparar um jantar pra você. (OBCECADA) Eu vou cuidar de você como você merece. Eu vou te venerar como um deus. Porque você é um.

Mulder fecha os olhos, angustiado.


Apartamento de Scully – 8:33 P.M.

Scully, sentada no sofá. Cookie no colo dela. Ela olha pra Frohike, sentado na poltrona.

FROHIKE: - Fala, Scully. Não me tirou de uma investigação sobre mensagens subliminares na Internet à toa.

SCULLY: - ... Dos três, você me parece ser mais... mais íntimo dele.

FROHIKE: - Dele quem?

SCULLY: - Sabe de quem falo.

FROHIKE: - O que está acontecendo? Onde está o Mulder?

SCULLY: - ... Pensei que pudesse me dizer.

FROHIKE: - Scully, eu nem lembro quando foi a última vez que falei com ele.

SCULLY: - Frohike, seja sincero comigo.

FROHIKE: - Mas estou sendo!

SCULLY: - ... Mulder me deixou, com um bilhete, terminando tudo entre nós. Ele é tão cretino que não tem coragem de me dizer isso na cara. Precisa de um papel!

FROHIKE: - Scully, eu não sei o motivo da briga de vocês. Mas se quer saber o quanto conheço o meu amigo, eu vou te dizer: Nem que você o tivesse traído, o humilhado, o desprezado. Mesmo assim ele não fugiria de você, deixando um bilhete. O Mulder pode parecer uma criança crescida, mas ele é bem adulto pra encerrar uma relação cara a cara.

SCULLY: - ...

FROHIKE: - Quer me contar tudo? Quem sabe eu posso dar uma de Santo Antônio por aqui?

SCULLY: - Ele arranjou outra.

FROHIKE: - (INCRÉDULO) Ahn??? Scully, estamos falando do Mulder ou você mudou de assunto sem que eu percebesse?

SCULLY: - ... Nem sei porque estou falando assuntos íntimos com você.

FROHIKE: - Por favor, Scully. O que está acontecendo com você? Acha que isso é um esporte? Que um cara levaria quase 10 anos pra conquistar uma mulher e depois diria: bom, agora que já consegui, posso ir embora e levar mais 10 anos tentando conquistar outra? Pra começar, que cara insistiria por 10 anos numa mulher se não a amasse? Dez anos!

SCULLY: - (BEIÇO)

FROHIKE: - Scully, está há tanto tempo com ele e não o conhece? Eu que não divido a cama com ele sei muito bem quem é o Mulder!

SCULLY: - ... Frohike, eu e Mulder nunca conversamos sobre nossos relacionamentos, não antes de termos um. Portanto, eu não sei como ele reage numa situação dessas. E nem ele sabe a minha reação. Eu penso que não nos conhecemos tanto assim. Agora eu vejo isso. Pouco sabemos dos nossos passados afetivos. Tentamos sempre nos manter distantes, sem envolvimento, que o amor veio e... veio sem questionar nada. Sem saber de nada. Nós... Nós não nos conhecíamos como homem e mulher. Apenas como amigo e amiga. O que me faz questionar agora: é amor? Pode a gente se apaixonar por alguém por suas qualidades sem saber ao certo quem é essa pessoa? Não é uma confusão das nossas cabeças? Talvez seja só pele.

FROHIKE: - Nunca vi alguém dar a vida por outra pessoa por causa de ‘pele’. Scully, vocês confiam um no outro. Não foi por confiança e cumplicidade que isto começou? Não é por estas mesmas coisas que se mantém? Então, por que eu não vejo confiança da sua parte agora? Tudo bem, Scully. O Mulder sempre foi um cara bem ajeitado, bonito, de presença. Ele tem tudo pra ser um safado e se dar bem. Não é porque não quer.

SCULLY: - Que ideia a minha... Claro que vai defender seu amigo.

FROHIKE: - Vocês dois são meus amigos. E se ele estivesse errado, eu a defenderia. Mas não é o caso agora. O que estou dizendo é que o Mulder não faria isso com você. Se acontecesse, ele contaria. Eu sei que contaria. Porque eu sempre o condenei por isso. Por contar seus segredos, por ser sincero demais. Acaba que depois a mulher com quem está sabe tanto da vida dele que perde a graça, por não ter mais nada a descobrir.

SCULLY: - ...

FROHIKE: - Eu sei o que quer ouvir. Mas eu não sei tanto do passado dele quanto você. Só sei que quando nós saíamos juntos, as mulheres ficavam babando em cima dele e ele preferia discutir teorias de conspiração. Eu tenho motivos pra fugir em teorias. Mas ele não. Ele é um cara bem apanhado. E ele tem caráter. Caráter e um sério problema psicológico que o fazia ficar só naquele apartamento, remoendo culpa. Ele podia ter todas as mulheres que quisesse. Mas ele preferia ficar com revistas, porque as mulheres de verdade fugiam com medo da loucura dele. O Mulder é o tipo do cara que diz eu te amo na primeira noite. Porque ele se apaixona mesmo. E isso faz elas correrem dele.

SCULLY: - ...

FROHIKE: - (INDIGNADO) Quer saber dos casos que ele teve? Pergunte ao Mulder. Se quer saber dele, pergunte a ele. Só o Mulder vai poder falar da vida dele pra você com toda a autoridade e direito. Eu não.

Frohike levanta-se. Scully olha pra ele, com vergonha.

SCULLY: - ... (ANGUSTIADA) Eu acho que tô ficando louca mesmo. Eu não sei o que me deu pra desconfiar dele. Eu sei que a Martha falou aquelas coisas, mas eu nunca acreditaria nos outros, eu acreditaria nele... E agora, parece que há algo do meu lado dizendo que eu tenho de desistir dele, de tudo... Parece um feitiço.

FROHIKE: - Martha? Que Martha?

Ela suspira, desatinada e confusa. Cookie sai do colo dela. Começa a uivar. Scully olha assustada pra ele.

SCULLY: - Frohike, não me chame de louca, mas... Acho que até o cachorro presente essa sombra negra que está do meu lado, me puxando pra baixo.


BLOCO 3:

FBI – Laboratório de Dactiloscopia – 11:26 P.M.

Scully aguarda de um lado para o outro. Chuck se aproxima.

CHUCK: - Ahá! O que posso fazer por você, agente ruiva Scully?

SCULLY: - Estive na sua sala... O que você faz aqui?

CHUCK: - Pediram meus conhecimentos.

SCULLY: - Posso pedir também?

CHUCK: - O que precisar.

SCULLY: - ... Preciso descobrir o endereço de uma pessoa. Só tenho o nome. E a hipótese de que resida em Nova Iorque.

CHUCK: - Uma agulha num palheiro...

SCULLY: - Exatamente.

CHUCK: - Tudo bem. Começamos com fósforo e fogo. Então encontraremos a agulha... A reconheceria por foto?

SCULLY: - (RAIVA) Com toda a certeza.

CHUCK: - Vamos pra minha sala. Qual o nome do suspeito?

SCULLY: - Martha.

CHUCK: - Martha? Você e o Mulder não andam se falando? Eu já descobri o endereço dela.

SCULLY: - Mulder falou com você? Quando?

CHUCK: - Há uns dois dias? Um? Não lembro. Foi na madrugada... Mas pediu que analisasse as digitais que recolheu no apartamento dele. Disse que achava que alguém estava tentando te matar, que estava preocupado com isso. As digitais que ele encontrou no fogão eram desta tal de Martha. Se queria pegar o culpado, acaba de tê-lo nas mãos.

Scully fecha os olhos, sentindo-se culpada.

CHUCK: - Foi onde eu pedi ajuda aqui para os rapazes. As digitais nos levaram a Martha Werner. Moradora de Nova Iorque, 27 anos. Faz fotos artísticas bizarras e já fez algumas exposições. Eu ia procurar mais dados, mas o Mulder parecia com pressa. Liguei pra ele ontem na madrugada e confirmei o nome do suspeito. Ele a encontrou?

Scully sai porta à fora, apressada, deixando Chuck falar sozinho.


Sede dos Pistoleiros Solitários – 12:31 A.M.

Scully sentada na frente do computador. Olha pra tela. Os três ao redor dela.

SCULLY: - Martha Werner... Nascida no Kansas, em 29 de agosto de 1973. Está fichada pela polícia de N.Y, suspeita pelo assassinato do modelo George Britney, em 1993... (NERVOSA) A polícia de NY suspeita que tenha cometido vários crimes passionais, mas não encontraram provas contra ela. É uma fanática-religiosa, praticante de rituais africanos. Apresenta instabilidade emocional, dupla personalidade e compulsão obsessiva. No local onde o corpo da vítima fora encontrado, havia indícios de ritual satânico.

Scully pára. Põe as mãos no rosto.

SCULLY: - Meu Deus! Mulder está em perigo. Ele tinha razão. (ABAIXA A CABEÇA/ CULPADA)

Langly olha pra tela.

LANGLY: - Umbanda? Que raios é isso?

SCULLY: - (DESESPERADA) Eu não sei e nem tenho como saber!

Frohike olha pra ela.

FROHIKE: - Se esqueceu quem somos, Scully? Me dá a lista do que precisa e 10 minutos para te dar uma resposta.

Ela sorri, mais aliviada.


2:27 A.M.

Mulder acorda-se. Tonto. Está sem a mordaça. Vira o rosto. Martha, na frente do altar, de costas pra ele. Mulder tenta se soltar mas não consegue. A observa. Ela vira-se. Mulder olha pra ela assustado. Ela caminha em sua direção com um copo nas mãos. Senta-se ao seu lado.

MULDER: - O que é isso?

MARTHA: - Um ritual de purificação.

MULDER: - ... Eu não quero purificação alguma! Me tira daqui, sua louca!

Ela coloca o copo na boca de Mulder. Ele reluta, mas ela o força a beber. Mulder começa a cuspir. Ela continua empurrando o líquido na boca dele. Mulder se engasga, começa a tossir.

MULDER: - Que droga é essa? O que você me deu?

MARTHA: - Magia.

MULDER: - Sua vaca maluca, eu vou me soltar daqui e vou te mostrar o que é magia!

MARTHA: - Mulder, relaxa. Eu nunca faria mal à você...

Mulder olha pro altar.

MULDER: - Você é louca! Como pode ter um congal em casa e deixá-lo aberto, com santos e trabalhos expostos? Não sabe que as energias todas circularão pela casa?

Martha coloca a mordaça nele novamente.

MARTHA: - Enquanto não disser coisas bonitas pra mim, vai ficar de boca calada.

MULDER: - Mmmm...

Martha levanta-se. Sai da casa. Mulder olha pra arma sobre o altar. Angustiado. Martha volta, trazendo uma galinha nas mãos. Pára ao lado dele. Mulder arregala os olhos. Ela corta a cabeça da galinha com uma navalha, rapidamente, com destreza, sem tirar os olhos de Mulder, como que hipnotizada. Mulder fica catatônico. Ela ergue o animal por sobre o peito nu dele e derrama o sangue do animal por sobre Mulder. Ele fecha os olhos em desespero. Ela começa a recitar preces.

Corta para o fundo do quarto. Um vulto negro sai pelo chão, arrastando-se para baixo da cama, sem que eles percebam. Passa por entre os pés de Martha.


Espaço Cultural Brasileiro – NY – 8:39 A.M.

Scully e Frohike caminham pelo jardim, ao lado do velho negro, de barba branca, que usa roupas brancas e uma segurança vermelha e preta no pescoço. Scully com olheiras enormes, pálida e fraca.

PEDRO: - A Umbanda trabalha com o espíritos, filha. Existe uma hierarquia, conhecida através das manifestações espirituais. Alguns espíritos permanecem presos ao orbe terráqueo, ao passo que outros evoluem. A esses evoluídos denomina-se Entidades Espirituais ou Guias. Aos não evoluídos, Fatalidade ou Espíritos de Trevas. Nas falanges do bem encontramos os Pretos Velhos, os Caboclos, Orixás e todos os maiorais da Umbanda. É preciso estudo e disciplina, ou os médiuns podem acabar deturpando a religião, sendo apenas jogo das falanges do mal. Outros acabam sendo desmascarados, por não possuir realmente uma Entidade consigo.

SCULLY: - Então acha que meu parceiro corre perigo?

PEDRO: - Martha... Martha é um perigo. Ela é minha Filha de Santo. A doutrinei nos preceitos da Umbanda, mas Martha preferiu seguir outra linha. A expulsamos daqui por praticar falsa Umbanda.

FROHIKE: - E o que vem a ser isso?

PEDRO: - A falsa Umbanda é uma mistura de crenças, de falta de bom senso, ignorância dos preceitos religiosos. O Candomblé, explorando uma fonte de renda, acabou criando a Quimbanda, um misto de feitiçaria e religião. Kimbanda. Kim significa demônio. Banda, forças do mal. Prática única e exclusiva da maldade, ou Magia Negra. Evoca apenas falanges de Exus, entidades dirigidas pelo Agente Mágico Universal, ou o Demônio. A falsa Umbanda, mistura tudo isso. Geralmente para lesar alguém.

SCULLY: - Sabe onde posso encontrar Martha?

PEDRO: - Pelo jeito, ela se encrencou feio dessa vez... Tenho o endereço dela. Mas aviso: Não sabe com o que está lidando. Pode sair machucada.

SCULLY: - ...

PEDRO: - Vejo que há um Egun do seu lado, que está te colocando pra baixo, fazendo você agir sem pensar.

SCULLY: - Egun?

PEDRO: - Egun é um espírito de morto. E acredito que Martha o tenha prendido em um cemitério e feito dele seu escravo. Esse Egun vai te consumir até a morte, filha. Ele faz o que Martha mandar. E confesso, ela nunca pediu a permissão de Omolum, senhor dos cemitérios. Não pode aprisionar uma alma sem pedir permissão. Ela vai pagar caro por isso. Acredite.

SCULLY: - ...

PEDRO: - Pode se livrar dele, filha. Vai ter de devolver um ebó, um trabalho grande pra isso. Envolve sangue. É pelo sangue que ela se ligou a ele e vai ligá-lo a ela também, acredite. Ele vai ficar enfeitiçado. É questão de tempo.

SCULLY: - Não, eu não quero fazer nada. Quero só encontrar meu parceiro.

O negro segura a mão de Scully.

PEDRO: - Eu sei, filha. Você tem sua fé. Mas acredita nisto e tem medo. Martha é filha de Bará. Bará é encrenca, é violência, é coisa ruim se não souber lidar com ele. Vai precisar de muita fé. Me deixe colocar os búzios pra você. Vamos ver qual Orixá te rege. Vai precisar dele. Acredite. Ela está tentando fazer você deixar do seu homem. Você está cega e confusa. Precisa pensar com o coração. Precisa de esclarecimento. Ou definhará até a morte.

Scully e Frohike se entreolham assustados.


9:11 A.M.

Mulder acorda-se. Olha pra Martha, que limpa o sangue do corpo dele com um pano úmido, carinhosamente. Deitada a seu lado. Mulder desvia o olhar. Olha pro nada, num estado letárgico. Escorre suor por seu rosto. Parece febril.

MARTHA: - Está esperando que ela venha? Ela não vai vir. Ela pensa que você a deixou.

MULDER: - ... (OLHA PRA ELA/ CONFUSO)

MARTHA: - Você a traiu, Mulder. Você me desejou. Ela nunca mais virá. Ela te odeia. Não está mais se preocupando com você. Vai passar quantos meses amarrado aí até se convencer que ela não virá te salvar?

MULDER: - Eu conheço a Scully e eu sei que ela virá. E quando ela entrar aqui, nem seus santos vão te proteger da surra que vai levar.

MARTHA: - Acha mesmo? Ela está magoada demais pra querer ver você.

MULDER: - ...

MARTHA: - Sabe que eu falo a verdade, Mulder. Sabe bem disso. Você viu como ela está.

MULDER: - Você a enfeitiçou! Eu vou sair daqui, sua cadela e você vai me pagar caro! Eu vou matar você!

MARTHA: - Ela se enfeitiçou com seu ciúme doentio, com sua falta de confiança. Ela não confia em você. Você faz tudo por ela e o que recebe em troca? Humilhação, gritos, ofensas?

MULDER: - ...

MARTHA: - Mulder, eu não grito com você e te respeito. Me deixe amá-lo. Permita-se amar. Permita-se viver. Entregue-se ao prazer, à vida, Mulder. Não há pecado nisso, você sabe.

MULDER: - ... (CONFUSO)

MARTHA: - Sabe que ela sente raiva por ter feito coisas assim. Ela foi tão vadia quanto você diz que eu sou. E você também já viveu momentos de prazer puro, com mulheres que você desejava apenas fisicamente.

Ele está meio tonto, parece fora da realidade, sem distinguir nada.

MARTHA: - Você está só, Mulder. Eu também. Nós dois fomos feitos um para o outro. Somos loucos. Me deixa te confortar. Me deseja, Mulder. Eu te desejo tanto. Eu não sou má como pensa. Eu só quero amar alguém como você e viver isso. Deixa eu te amar, Mulder. Vai ver que a vida é muito mais do que você conhece.

Ela deita-se ao lado dele. Faz carinhos em seus cabelos.

Corta para o chão. A sombra negra sai debaixo da cama. Arrasta-se até o altar.

Mulder fecha os olhos. Ela o beija nos lábios. Ele corresponde. Enfeitiçado.


Espaço Cultural Brasileiro – NY – 10:39 A.M.

Scully, sentada numa almofada, de frente para o velho negro, observa assustada as imagens no altar. Olhos arregalados. O negro olha para os búzios. Olha para ela. Sorri.

PEDRO: - Em que dia nasceu, filha?

SCULLY: - ... (ASSUSTADA/ SEM DESVIAR OS OLHOS DAS IMAGENS DOS ORIXÁS) 23 de fevereiro de 1964... Num domingo...

PEDRO: - Você é filha de Oxalá.

SCULLY: - Ahn???

PEDRO: - Na igreja católica seria Jesus Cristo.

SCULLY: - ... E... O que eu devo fazer?

PEDRO: - Vai usar uma guia em seu pescoço e pedir esclarecimento pra ele.

SCULLY: - ... É, eu sempre peço.

PEDRO: -... Quer fazer alguma pergunta? Saber seu destino? Amor, trabalho...

SCULLY: - ... E-eu... Não, obrigado.

Ela levanta-se nervosa. O negro olha pra ela. Ela olha pros búzios. A curiosidade aguçada.

SCULLY: - ... Bem... Eu não acredito nessas coisas... Mas...

Ela senta-se de novo.

SCULLY: - ... Vou encontrar meu filho?

O negro joga os búzios. Olha pra ela.

PEDRO: -...

SCULLY: - O que foi?

PEDRO: - Oxalá não te responde.

SCULLY: - Por quê?

Ele atira os búzios novamente.

PEDRO: - Oxalá diz que não está preparada pra entender a verdade. Pede paciência e diz que tudo volta pra gente quando é da gente.

SCULLY: - (SÉRIA) ...

PEDRO: - Pede para que faça justiça... Pede para dar ouvidos a sua intuição, ao homem que você ama... Um outro homem cruzará seu caminho. Em breve. E mudará seu destino. Seu e do homem que ama.

SCULLY: - Um homem? Como assim?

PEDRO: - Oxalá não diz mais nada. Filha, tenho 40 anos de religião. E poucas vezes vi o que vejo aqui. Caminhos abertos. Confusos.

SCULLY: - ???

PEDRO: - Turbulência. Vai haver um período grande de turbulência em sua vida. Mentiras, medo, traição. Você ficará feliz, mas não terá descanso e chorará muito. Mas vejo que tem um homem ao seu lado, de quem você gosta. Fique ao lado dele. Só assim atravessará essa barreira.

SCULLY: - ...

PEDRO: - Confie nele. Não se afaste dele. Ele é sua segurança. Ele sabe o que faz. E ele precisa de você. Como nunca precisou antes.

SCULLY: - ...

PEDRO: - ... Vejo aqui uma escolha. Você terá de fazer uma escolha. Será dolorosa.

Scully levanta-se nervosa. O negro lhe entrega um colar de contas brancas.

PEDRO: - Confie em Oxalá e vencerá.

Ela pega o colar e sai nervosa dali.


7:32 P.M.

Chuva.

Martha continua afagando os cabelos de Mulder. Ele não olha pra ela, com repulsa, raiva. Ela beija-lhe o rosto. Aproxima seus lábios dos dele. Ele vira o rosto, a desprezando. Ela levanta-se da cama, furiosa. Pega um casaco.

MULDER: - Onde vai?

MARTHA: - Resolver esse assunto.

MULDER: - (ASSUSTADO)... O que vai fazer?

MARTHA: - Libertar você dessa escravidão. Afastar o único obstáculo que nos separa.

Ela coloca a navalha no bolso. Mulder olha pra ela desesperado. Tenta se soltar.

MARTHA: - Voltarei logo, meu amor.

MULDER: - Martha, por favor! Não pode matá-la!

MARTHA: - Por que não? Ela só está atrapalhando a nossa felicidade.

MULDER: - Martha, por favor!

Ela olha pra ele. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Martha... Eu amo você.

MARTHA: - ???

MULDER: - (MEIGO) Fica aqui comigo, não me deixa sozinho. Tenho medo que você se machuque. Não faça isso. Ela não merece que você se rebaixe a tal ponto.

Ela olha confusa pra ele. Sua fisionomia transforma-se em ódio e obsessão.

MARTHA: - (GRITA) Está mentindo pra mim!

Ela começa a atirar objetos contra a parede do quarto. Mulder mantém o sangue frio. Ele sabe como lidar com a psiquê dela. Fala calmamente.

MULDER: - (CALMO) Por que eu mentiria pra você?

MARTHA: - (GRITA) Porque você ama aquela mulher e não a quer morta!

MULDER: - (SORRI) Não. Eu amo você, Martha. E não quero te ver machucada.

MARTHA: - ...???

MULDER: - Esqueça dela. Fica aqui comigo.

MARTHA: - ...

Martha olha pra ele. Mulder olha ternamente pra ela. Ela sobe na cama e aproxima-se dele. Olha em seus olhos.

MARTHA: - (SORRI) Me ama mesmo?

MULDER: - Claro que te amo.

MARTHA: - Não está tentando protegê-la, não é?

MULDER: - Sabe que não.

MARTHA: - Então prove. Prove que me ama.

MULDER: - Vai ter que me soltar, se quer provas de amor.

MARTHA: - Não vou soltar você.

MULDER: - Não confia em mim? Você não me ama, Martha. Se me amasse, confiaria em mim.

MARTHA: - Você não me ama. Se me amasse me daria uma prova de amor.

MULDER: - O que quer que eu diga?

MARTHA: - Quero que faça amor comigo.

MULDER: - ... (FECHA OS OLHOS)

MARTHA: - Então vou saber se me ama.

MULDER: - ...

MARTHA: - (ÓDIO) Eu vou matá-la!

Ela levanta-se da cama.

MULDER: - Eu faço amor com você!

Ela olha pra ele.

MULDER: - Pra provar que te amo. Esquece dela. Não faça isso. Vem aqui, vem. Eu te desejo.

Ela volta pra cama. Olha pra ele.

MULDER: - (ANGUSTIADO/ MEDO) ...

Martha começa a beijar o pescoço dele, deslizando as mãos por seu peito. Mulder fecha os olhos. Ela aproxima a navalha do pescoço dele, pressionando-a com força. Mulder olha pra ela, tentando segurar o nervosismo. Precisa entrar na cabeça dela, fazer seu jogo.

MARTHA: - Diz que você me ama.

MULDER: - Eu... Eu amo você Martha.

MARTHA: - Se estiver mentindo, eu mato você.

MULDER: - Não estou mentindo. Afaste isso de mim. Por que eu mentiria pra mulher que me salvou de uma vida sem graça? Que me fez ver a vida com outros olhos?

Ela pressiona mais a navalha contra o pescoço dele, fazendo o sangue escorrer. Mulder mal respira, com medo no olhar.

MULDER: - Mais do que tudo no mundo, Martha, eu amo você. Mas se não acredita em mim, siga em frente. Faça o que tem que fazer. Me mate. Melhor morrer do que ver em seus olhos a desconfiança.

Ela retira a navalha. Mulder fecha os olhos, soltando o ar pelo nariz, num alívio. Ela desliza as mãos pelo corpo dele. Deixa a navalha sobre o travesseiro.

MARTHA: - Faz amor comigo?

MULDER: - Faria tudo com você, Martha. Mas você me deixa assustado, eu tenho medo de você.

MARTHA: - ... Me desculpe.

MULDER: - Me deixa relaxar um pouco, tá? Depois eu vou ser o homem que você deseja.

Ela sorri. Deita-se, agarrada nele. Olha pra ele. Mulder olha pra ela. Olha pra navalha.

MARTHA: - O que está olhando?

MULDER: - (DISFARÇA O OLHAR) Pra você. Você é linda.

Ela sorri. Aproxima seus lábios dos dele. Mulder não reage. Ela o beija. Ele corresponde. O beijo vai ficando mais intenso. Mulder devora os lábios dela, distraindo-a, enquanto tenta pegar a navalha com a mão. Ela solta os lábios dos dele. Mulder olha pra ela. Ela desce a língua por seu corpo.

MARTHA: - Vou deixar você relaxado.

MULDER: - Martha, eu... Eu não quero te incomodar, mas estou com fome. Não quer preparar alguma coisa pra mim? Pro seu homem? Hein?

Ela levanta-se da cama. Pega a navalha. Olha pra ele.

MARTHA: - (SORRINDO) O que quiser, Mulder. Descanse. Vou preparar algo pra você... Meu homem.

Ela sai, levando a navalha consigo. Mulder fecha os olhos. Suspira.


BLOCO 4:

FBI – Arquivos X – 9:22 P.M.

Scully lê alguns arquivos de Mulder no computador. Skinner ao telefone. Chuck entra na sala.

CHUCK: - Nada. Ninguém tem informação alguma de onde essa mulher possa estar.

SCULLY: - Eu sei que ele está com ela. Ela deve tê-lo sequestrado.

CHUCK: - Hum, Mulder sortudo. Esse é o meu tipo de fantasia sexual preferido... Ser sequestrado por uma mulher e ser obrigado a fazer tudo o que ela quer.

Scully olha pra Chuck com desprezo e ciúme. Skinner segura um riso. Desliga o telefone.

SKINNER: - A polícia está em alerta. Scully, melhor ir descansar. Não há nada que possamos fazer. Não sabemos do paradeiro do Mulder. Assim que tiverem algo, vão nos ligar.

SCULLY: - Acha mesmo que posso descansar sabendo do perigo que ele corre?

CHUCK: - (TENTANDO COLHER VERDE) Perigo? Scully, deixa o Mulder em paz. Ele é seu parceiro, mas isso não te dá o direito de atrapalhar a vida pessoal dele. Deixe-o se divertir. Aposto que ele está adorando. Afinal, o que um cara solteiro como ele tem a perder?

Ela tira os olhos do monitor e olha pra ele o fulminando. Skinner puxa Chuck pelo braço, antes que Scully faça uma cena e entregue sua relação com Mulder.

SKINNER: - Vamos embora, seu lugar não é no porão.

CHUCK: - Mas...

SKINNER: - Fora!


10:21 P.M

Mulder deitado, com um edredom por sobre o corpo. Está febril. Sua muito. Treme de frio. Martha coloca um pano sobre a testa dele.

MARTHA: - Mulder, o que há com você?

MULDER: - ...

Martha levanta-se da cama. Caminha até o altar.

MARTHA: - O que está acontecendo? Eu pedi que me dessem ele!

A sombra surge no chão, atrás de Martha. Aproxima-se rapidamente da cama. Entra no corpo de Mulder. Martha vira-se rapidamente.

MARTHA: - Nãããoooo!!!!!!!!!

Mulder dá um sobressalto, respirando com dificuldades. Martha corre até ele. Desamarra seus pulsos e pernas. Mulder sua mais ainda, olhos abertos, olhando pro nada. Martha retira o edredom e o sacode pelos braços.

MARTHA: - (GRITANDO) Mulder! Mulder!

Mulder fecha os olhos. Abre-os. Olha pra ela rindo. Possuído. Fala com uma voz sinistra, que não é a dele.

MULDER: - Você não me consultou. Você tomou um dos meus pra fazer seus serviços. Quer tê-lo pra você?

MARTHA: - (ASSUSTADA)

MULDER: - Pague o preço. Eu o dei pra você. Ele está aqui. Agora eu vou tomá-lo como pagamento, sua vaca. Vem pra mim, vem. Você não quer? Vem aqui que vou fazer todas as sujeiras que você sonha!

Martha levanta-se. Recua. Observa Mulder se contorcendo sobre a cama. Mulder grita, tentando reagir, sentindo algo dentro dele.

MULDER: - (DESESPERADO) Me ajuda!!!!

MARTHA: - ... (ASSUSTADA) Sai dele! Vá embora!

MULDER: - (RINDO) Vem aqui, vem. Não tenha medo de mim. Eu quero trepar com você, sua cadela. Eu sei que quer.

Mulder passa a língua sobre os lábios. Martha olha assustada. Mulder senta-se na cama, tentando reagir. Uma força o empurra. Mulder tenta se levantar e não consegue. O corpo inteiro treme e sacode-se contra a cama. Martha olha apavorada. Objetos começam a voar pelo quarto contra ela. Martha se defende com os braços contra o rosto. Mulder grita. Martha sai correndo porta à fora. Mulder continua se contorcendo. Algum tipo de força sobrenatural o faz sentar-se e o empurra, repetidas vezes, sacudindo seu corpo e batendo-lhe violentamente contra o colchão. Mulder desmaia.


11:02 P.M.

Close em Mulder, sendo arrastado pela areia da praia.

Mulder abre os olhos, tonto. Não distingue nada. Sente apenas as mãos femininas e delicadas que o arrastam pra fora da casa e o deixam deitado na areia, olhando para o céu nublado. As mãos tocam a testa dele, fechando-lhe os olhos. O anel com uma pequena estrela do mar emite brilhos como a lua cheia.

Os lábios rosados e delicados beijam-lhe a testa, como se o abençoassem. As mãos afagam seus cabelos com a doçura de uma mãe que afaga um filho que volta. Mulder desmaia de novo.

Corta para os pés descalços da mulher que caminha para o mar, revelando seu longo vestido azul claro, com brilhos mágicos, como se houvessem estrelas coladas pelo tecido. Os longos cabelos negros escorridos e lisos, caídos por sobre os ombros, com conchinhas do mar entrelaçadas.

Ela entra no mar, desaparecendo entre as ondas.


Apartamento de Mulder – 9:22 P.M.

Um dia depois...

Mulder e Scully sentados no sofá. Em silêncio. Distantes. Mulder com os braços sobre as pernas, inclinado pra frente, olhando pra parede. Ela de pernas cruzadas, olhando pro aquário.

MULDER: - ...

SCULLY: - ...

Ela vira o rosto e olha pra ele.

SCULLY: - ... Mulder.

Ele ergue o corpo. Olha pra ela, sério. Ela abaixa a cabeça, embaraçada. Brinca com os dedos, nervosa.

SCULLY: - E-eu...

MULDER: - Pelo menos, isso serviu como lição pra nós dois. A gente não se conhece tanto quanto pensava.

SCULLY: - Mulder, eu... E-eu sinto que uma coisa assim precisou acontecer pra que a gente descobrisse isso. Eu sou insegura, você sabe.

MULDER: - Eu podia ter morrido.

SCULLY: - (CULPADA) Por que não me contou a verdade quando descobriu? Eu podia tê-lo ajudado.

MULDER: - Te contar? Pra quê? Pra fazer um circo como fez quando eu disse que a conheci? Não, Scully. Não mesmo. Já tenho problemas demais e gritaria me incomoda.

SCULLY: - ...

MULDER: - Você disse que a gente não se conhece como homem e mulher. Não é verdade. Eu te conheço. Eu falei coisas da minha vida pra você que nunca falei pra ninguém. Mas você não acreditou nelas. Você me vê como o Mulder tarado. E a culpa disso é minha. Eu quis ser o que não era, pra poder ser alguma coisa.

SCULLY: - (INSEGURA) Mulder, há de convir comigo que você é um homem muito atraente. Eu tenho que me sentir insegura. As mulheres olham pra você e ficam enlouquecidas. Eu... eu não tenho condições de disputar você com elas.

Ele balança a cabeça negativamente.

MULDER: - Tudo bem, Scully. Sabemos que somos um casal bonito. Mas e você? Acha que eu tenho condição de disputar você com os outros?

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu? Você é o tipo de mulher com quem os homens sonham. Você entre 4 paredes sabe ser mais mulher que qualquer rostinho bonito. Você é a femme fatale, Scully. Você ora é tímida, ora é pervertida. Ora é santa, ora é pecadora. Há várias mulheres dentro de você. Se os homens são predispostos a cometer adultério porque enjoam do tipo de mulher que têm, com certeza eu vou te trair todos os dias com uma mulher diferente. Porque eu tenho você, Scully. E tenho todas elas em você .

SCULLY: - ...

MULDER: - Quantas vezes eu já te disse que você pode não ser daquelas mulheres exuberantes, que sua beleza é diferente. Scully, você não é uma mulher bonita na definição convencional de beleza. Mas é uma mulher bonita. Você é sexy, Scully. Completamente sensual. Eu vou falar, embora você nunca acredite. Mas desde o dia que coloquei meus olhos em você, e olha que você tinha aquela cara de bebê, cabelos castanhos compridos e mal sabia se vestir... eu senti a sua sensualidade. Você é uma mulher sexy. Por natureza.

SCULLY: - ...

MULDER: - Então eu não entendo porque tanta insegurança. Eu até admito aqueles ciúmes de frescurinha, onde eu provoco você ou você me provoca. Mas isso, Scully, o que aconteceu, foi doentio. Você acreditou numa estranha e não em mim. Se fosse algo que não envolvesse sexo, você correria ela daqui e me defenderia até a morte. Colocaria seu pescoço na guilhotina por mim. Mas como envolveu sexo e você não acredita ou realmente não sabe de mim, simplesmente me encheu de desaforos e me viu como o inimigo.

SCULLY: - ... (ARREPENDIDA) Desculpe. Eu... Eu vou tentar ser mais racional.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não, pelo amor de Deus!

Ela olha pra ele. Ele sorri.

MULDER: - Scully, eu te quero do jeito que você é, e não acho que tenho o direito de te pedir pra mudar o que é por minha causa. Não. Eu só quero que pense nisso. Só quero que pense bem antes de me acusar.

SCULLY: - Tá.

MULDER: - Eu também te peço desculpas. Me deixei levar pela minha mania de ser o bom samaritano.

SCULLY: - Nenhum de nós iria adivinhar que a mulher era uma louca doente.

MULDER: - Não confie em ninguém, lembra-se? Eu nunca aprendo.

SCULLY: - ...

MULDER: - Se lembra do Mulder amigo? Ele sempre fez tudo pra te salvar, nunca mentiu pra você. Ele daria sua vida por você. Negociaria até com o demônio se preciso fosse. Ele te amava, calado. Ele te respeitava. Nunca admitiu mentiras e traições. Então, quando ficar com ciúmes do Mulder homem, lembre-se do Mulder amigo. Vai saber que os dois são a mesma pessoa.

Mulder levanta-se.

MULDER: - Porque o Mulder homem e amigo se apaixonou pela Scully amiga. Se não fosse por ela, pelas qualidades dela, ele jamais se apaixonaria pela Scully mulher. Porque nunca a teria conhecido.

Ele vai para o quarto. Ela olha pro nada, envergonhada. Ele volta pra sala. Olha pra ela.

MULDER: - (SORRI) Essa é velha, coisa de diário de adolescente, mas é repleta de sabedoria.

Ela olha pra ele.

MULDER: - Não te quero só para mim e nem poderia. Quero-te pra ti mesmo e para tua própria vida. Quanto mais fores o que quiseres, mais serás o que eu queria.

Ele estende a mão.

MULDER: - Vem, vamos dormir. Ciumenta Dana Scully.

Ela levanta-se. Dá a mão pra ele. Ele a leva pela mão pro quarto.


7:44 A.M.

Mulder e Scully, na garagem do prédio. Aproximam-se do carro dela.

MULDER: - E o Porsche?

SCULLY: - Na oficina.

MULDER: - Vou ter de pagar o conserto do carro do Bureau. Mais uma dívida.

SCULLY: - Não... Eu disse que estava perseguindo um criminoso e bati o carro.

Mulder sorri.

MULDER: - (DEBOCHADO) Que batida, hein?

Ela retribui o sorriso. Ele abre a porta do carro pra ela. Olha-a nos olhos. Os dois trocam um beijo apaixonado.

Um tiro estilhaça o vidro frontal do carro. Mulder agarra Scully, se abaixando. Puxa a arma. Espia, tentando localizar o atirador.

MULDER: - Fica abaixada, Scully. Eu vou por aqui, você por ali.

Ela puxa a arma. Sai por trás do carro. Dá de cara com Martha. Martha aponta a arma na cabeça de Scully.

MARTHA: - Ora, se não é a ruiva desbotada e falsa... (GRITA) Larga isso! Levanta daí!

Scully levanta-se. Solta a arma no chão. Martha dá uma chave de pescoço em Scully, apontando a arma na cabeça dela. A mantém presa com seu braço ao redor do pescoço de Scully. Mulder aproxima-se, apontando a arma.

MULDER: - (GRITA) Solta ela.

Martha engatilha.

MARTHA: - Você é meu. Solta a arma ou atiro nela!

SCULLY: - Mulder, larga essa arma.

Mulder olha pra Scully. Joga a arma no chão.

MULDER: - Tá bem, Martha, deixe-a e vamos embora.

MARTHA: - Você mentiu pra mim!

MULDER: - Não, eu não menti. Você me abandonou, se lembra?

Martha olha pra Scully. Aperta mais seu pescoço.

MARTHA: - Vai morrer sua cadela ruiva!

Scully começa a rir. Mulder olha pra ela, incrédulo. Scully pára de rir. Mete uma cotovelada em Martha. Ela afasta-se, deixando a arma cair. Scully chuta a arma pra baixo do carro. Mulder pega sua arma. Scully olha pra ele, enquanto arregaça as mangas da camisa.

SCULLY: - Não, Mulder. Não se intrometa. Isso é um trabalho para a Super Scully Lee.

Mulder, segurando a arma, olha boquiaberto. Scully aproxima-se de Martha. A agarra pelo pescoço pressionando-a contra uma viga.

SCULLY: - Vai aprender a não se meter com o meu homem, sua vadia! Isso serve de aviso pra qualquer piranha que tentar tocar um dedo nele! Me entendeu?

Scully mete um soco na cara de Martha, que cai no chão. Mulder está catatônico. Martha levanta-se e Scully dá um giro, metendo um pontapé nela. Martha cai por cima do carro. Mulder faz uma fisionomia de pavor.

Martha avança em Scully. As duas se agarram pelos cabelos, aos gritos e tapas. Voa tabefe pra todo o lado. Mulder vira o rosto, apavorado. Martha agarra-se nela, rasgando a manga da camisa de Scully. Scully mete um bofetão na cara dela, Martha tonteia. Avança em Scully e mete um tapa na cara dela, tonteando Scully. As duas continuam atracadas, caindo no chão, se rolando aos tapas, puxões de cabelos, unhas quebradas.

Mulder observa, impressionado.

Scully se desvencilha dela. Levanta-se. Cabelos desgrenhados. Assopra os cabelos ruivos do rosto, a chamando com as mãos.

SCULLY: - Vem ‘minha filha.’ Vem que eu vou te ensinar a não mexer com o meu marido. Vem aqui, vem.

Martha levanta-se e parte pra cima de Scully, puxando uma navalha. Scully dá uma chave de perna, derrubando Martha. Martha cai no chão. Tenta se levantar, com a navalha erguida. Scully mete um pontapé no queixo dela, voando sangue pra todo o lado.

Mulder fica boquiaberto.

Martha fica desacordada. Scully arrasta Martha até um carro. Puxa as algemas e algema Martha no pára-choque.

Mulder continua estarrecido. Scully limpa as mãos, ajeita a roupa e os cabelos. Ergue a cabeça, convencida.

SCULLY: - Vamos, Mulder.

MULDER: - (CATATÔNICO) ...

SCULLY: - E avise as mulheres de todo o mundo, Mulder. Elas não conhecem Scully Lee. Agora viu o que acontece quando minha Pomba Gira desce!

MULDER: - ...

Os dois entram no carro. Mulder liga o carro. Em silêncio, assustado. Dá a partida, saindo da garagem.

[Som: November Rain - Guns N' Roses]

Corta para a sombra que se aproxima pelo chão, envolvendo Martha. Desaparece com o corpo dela, o sugando pra baixo do piso.

Close das algemas que balançam, vazias, penduradas no pára-choque do carro.


X


15/10/2000

6 de Agosto de 2019 a las 23:55 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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