lara-one Lara One

Virada de temporada. Mulder vê a verdade e confirma o que não queria acreditar. E quando toda a verdade for revelada, o que teremos para descobrir? O que motivará nossas vidas? A esperança. E parece que Mulder já não a tem mais... Se esta for a única verdade. Porque isto parece ser o fim.


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S03#23 - OUT OF ME – PARTE II

“O bem é tão forte que faz o mal trabalhar para ele o tempo todo”.

Allan Kardek


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Neblina, não se pode distinguir o lugar. Como num pedaço de espaço-tempo, numa superfície de terra, Mulder está parado à beira de um abismo, usando roupas de hospital e uma bandagem na cabeça. Pés no chão. O olhar de Mulder está distante como se não se importasse com mais nada. Sério. Ele ergue a cabeça e vê, do outro lado do precipício, Scully sentada, triste, olhando para o vazio. Mas Mulder não reage. Apenas olha pra ela e para o abismo que os separa.

MULDER (OFF): - Estou fora de mim... Vejo você do outro lado do abismo... Mas eu não quero voltar. Perdoa o amor que tenho por você, mas eu não quero nunca mais voltar. Meu ódio não permite que eu saia daqui e volte pra você. Você tem direito a ter algo mais em sua vida do que uma cobaia.

Câmera subjetiva. A distância do abismo que o separa de Scully aumenta.

Câmera objetiva. Mulder fica indiferente.

MULDER (OFF): - Não sinto nada aqui, nem meu coração. Apenas ódio e frio. Há dentro de mim um dom: tudo que toco morre, tudo que amo é roubado, tudo que me é sagrado cai por terra.

Ele continua olhando pra ela. Os olhos brilham de ódio.

MULDER (OFF): - Me recuso a aceitar isso. Agora entendo o que você passou. Agora eu sei a humilhação de ter seu corpo explorado, de roubarem seus filhos, de os usarem para propósitos escusos. Me perdoa, Scully, se eu muitas vezes a condenei por chorar a dor de não ter um filho. Por não entender o significado disso. Agora eu entendo o quanto isto é sagrado.

Mulder respira fundo. Olha pra ela, em lágrimas.

MULDER (OFF): - Amo você e é esse sentimento que me traz forças pra suportar a dor. Mas sei que tudo acabou. Não posso encarar você depois disso. Eu trouxe a maior das desgraças. Não vou suportar ver você cair. A culpa é minha. Longe da minha presença você poderá ser feliz. Eu só atraio desgraças.... Não posso voltar. Não posso viver com mais culpa, olhar pra você todos os dias sabendo que eu deixei que levassem nosso filho... Não, eu... eu não vou voltar.

Mulder dá as costas e desaparece no meio da neblina.

VINHETA DE ABERTURA


BLOCO 1:

Hospital Memorial – Washington D.C. – 5:12 A.M.

Scully entra no hospital, às pressas. Fisionomia abatida, cabelos amarrados, vestida com uma camisa e calças jeans. Aproxima-se do balcão, mostrando a credencial.

SCULLY: - Agente Especial Dana Scully. Estou procurando meu parceiro. Fui notificada de que está aqui.

ENFERMEIRA: - Sim, no quarto 23, ao fundo do corredor.

Scully avança pelo corredor. Um médico está parado ali, segurando uma prancheta.

MÉDICO: - Agente Scully?

Scully o ignora e entra às pressas no quarto. Vê Mulder, deitado na cama, com a cabeça enfaixada. Usa uma máscara de oxigênio. Está ligado a aparelhos. Ela esmorece, mas tenta disfarçar. Aproxima-se. Mulder está de olhos abertos, mas inconsciente. Ela toca a mão sobre os olhos dele, fechando-os. Segura as lágrimas e disfarça, sentando-se numa cadeira, pra que ele não perceba que não está mais grávida. Segura a mão dele e vê a aliança. Beija-a.

SCULLY: - Mulder...

O médico entra no quarto.

MÉDICO: - Agente Scully, precisamos conversar sobre o estado de seu marido.

SCULLY: - Como o acharam?

MÉDICO: - Alguém o deixou na porta do hospital. Mais alguns minutos e teria morrido. Só pudemos identificá-lo pelo anel que tem na mão. Foi como chegamos até você. Se não fosse por essa aliança, acredito que ele morreria aqui sem ninguém saber quem era. Como um indigente.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Morrer?

MÉDICO: - Conseguimos estancar a hemorragia, mas ele recusa-se a reagir. Não há mais nada que possamos fazer. Acreditamos que os danos cerebrais sejam irreversíveis. Se ele sobreviver, talvez desenvolva um tumor cerebral com o passar dos anos.

Scully fecha os olhos.

MÉDICO: - Tentamos tudo, mas parece que ele desistiu de viver. Não sabemos o que fizeram com ele, parece que sofreu alguma cirurgia cerebral. Chamamos um neuro-cirurgião e...

SCULLY: - Ninguém toca nele. Sou médica.

MÉDICO: - Ele apresenta sinais de exposição à radiação iônica... Seu marido é astronauta?

SCULLY: - Quero eu mesma fazer os exames em Mulder. Ele não está morrendo.

MÉDICO: - Sei que é difícil aceitar...

SCULLY: - (GRITA) Ele não está morrendo!

MÉDICO: - ...

Scully abaixa a cabeça.

SCULLY: - Me desculpe, estou nervosa.

MÉDICO: - Se quiser posso levá-la ao vestiário. Se sabe o que está acontecendo, melhor que interfira.

SCULLY: - ...

MÉDICO: - Quer que notifiquemos os familiares dele?

Scully olha pra Mulder, segurando as lágrimas.

SCULLY: - Eu sou a única pessoa que ele tem.

Scully desaba no choro. Abraça-se em Mulder. Tenta se conter e repete, com convicção.

SCULLY: - (CHORANDO/ DESESPERADA) Eu sou a única pessoa que ele tem! E só agora eu entendo o significado disso!


Mulder caminha por entre a neblina que parece não ter fim. Ele parece não sentir nada, como se estivesse hipnotizado.

MULDER (OFF): - Perdi a minha família. Causei dor à Scully... Não fui forte o suficiente para salvar meu filho. Eu matei a única família que eu tinha. Meu filho e minha mulher. Mas como eu posso querer ter direito às coisas normais da vida? Eu sou uma experiência bastarda.

Mulder continua caminhando.

MULDER (OFF): - Não posso descrever a raiva que sinto. Raiva de mim mesmo. E não posso descrever a dúvida que surge em minha cabeça. Ele não entregou meu filho, mas o tomou. O que fará com ele? Se é que ele ainda vive... O fato de ter me levado pro hospital não vai redimir sua culpa. Eu odeio você, Canceroso. Odeio suas mentiras. Odeio cada dia mais o sangue que corre em minhas veias. Tento pensar que talvez tenha sido melhor assim. Meu filho poderia vir a ser seu maldito sucessor. Eu... eu estou confuso, perdido e tentando achar respostas. Você queria uma vacina, por isso me usou. Por isso tomou meu filho. O que vai fazer com todas aquelas crianças? O sacrifício do meu filho não basta? Por que precisa de mais e mais crianças?

Mulder senta-se numa pedra e abaixa a cabeça.

MULDER (OFF): - ... Eu... eu estou confuso... Posso entender o que me disse, mas não posso perdoá-lo pelo que fez à Scully e ao nosso filho. Nem pelas maldades que fez em meu nome... Isso só me torna mais culpado. Por que usou a Scully? Por que a magoou? Eu nunca vou te perdoar por isso. Você sempre soube que eu a amava. Você tentou matá-la várias vezes! ... (SUSPIRA/ CONFUSO) Embora, depois que soube que estávamos juntos, você a protegeu... Não! Eu não quero sentir pena de você! Você nunca fala a verdade!


Hospital Memorial – Washington D.C. – 6:52 A.M.

Scully, num jaleco, aproxima-se de Mulder. Abre seus olhos e os ilumina com uma pequena lanterna.

SCULLY: - ... Sem movimento ocular. Sem movimento nas pálpebras, sem reação da retina. Está em coma de terceiro grau.

Scully examina o nariz de Mulder.

SCULLY: - Sangramento nasal. Talvez tenham retirado um chip.

Scully guarda a lanterna no bolso. Examina o rosto de Mulder.

SCULLY: - ... Há duas perfurações abaixo do queixo... (MENTINDO PRA SI MESMA/ QUASE CHORANDO) Não... eles não fizeram isso com você!

Retira o lençol de cima dele. Fecha os olhos, incrédula.

SCULLY: - Meu Deus... (SEGURA AS LÁGRIMAS)

Scully puxa a luminária pra mais perto de Mulder. Examina seus braços, seu corpo, atentamente.

SCULLY: - Há presença na pele de queimaduras, de perfurações...

Uma enfermeira entra, trazendo um envelope grande e o colocando sobre uma maca.

ENFERMEIRA: - Doutora, os resultados dos exames.

A enfermeira sai. Scully cobre Mulder. Pega o envelope e retira as radiografias. Coloca-as uma a uma contra a luz. Põe as mãos nos lábios, segurando as lágrimas, observando as radiografias na parede.

SCULLY: - Oh, meu Deus!

Close das radiografias. Centenas de pontos indicando presença de chips em várias partes do corpo de Mulder. Scully olha pra ele, derrubando lágrimas.

SCULLY: - O que fizeram com você? O que aqueles desgraçados fizeram com você?


FBI – Sala de reuniões – 6:23 P.M.

Uma semana depois...

Scully joga o envelope sobre a mesa. Está maquiada, disfarçando olheiras que não consegue. Cabelos soltos por sobre os ombros. Os homens do FBI se entreolham. Skinner observa.

SCULLY: - (SÉRIA) Vejam com seus próprios olhos, porque eu não vou retirar nenhum desses chips! Não sabemos com o que estamos lidando.

HOMEM DO FBI 1: - O que aconteceu com o agente Mulder?

SCULLY: - (INDIGNADA) Está em coma de terceiro grau, associado geralmente a pacientes que consideramos mortos. Apresenta queimaduras de radiação pelo corpo. Os exames de sangue confirmam a presença de substâncias desconhecidas, mas que agem como tranquilizantes. O agente Mulder foi submetido a experiências com fins médicos, sendo torturado, mantido acordado durante todo o processo. Há um chip alojado na cabeça de Mulder, e ele teve material cerebral retirado. Posso associar o coma a esta experiência, mas creio que o mais correto seria associá-lo ao trauma que ele vivenciou.

HOMEM DO FBI 2: - (DEBOCHADO) E por que fariam isso com ele? Queriam transformá-lo num homem biônico?

Scully olha pra ele, com ódio.

SCULLY: - O fim desta experiência foi puramente genético.

HOMEM DO FBI 1: - Como assim?

HOMEM DO FBI 3: - Pode confirmar isto?

Scully retira de sua pasta, uma pasta de papéis. Atira sobre a mesa, com raiva.

SCULLY: - Exames mostraram uma diminuição na taxa de espermatozoides. O que significa que o agente Mulder terá muitos problemas se quiser ter um filho.

Eles ficam em silêncio. Skinner fecha os olhos. Scully está segurando a raiva, mas os olhos estão vermelhos. Ela evita chorar na frente deles.

SCULLY: - O choque traumático pelo qual passou o impede de voltar à vida. As provas estão aí, senhores. Espero agora a justiça.

HOMEM DO FBI 2: - Agente Scully, acha que pode usar isto contra o governo? Tem ideia do que vai acontecer?

SCULLY: - Eu não me importo com o que vai acontecer. Eu enfrentarei. Tomaram meu filho de mim. E destruíram a vida do meu parceiro.

Scully atira outra pasta sobre a mesa.

SCULLY: - Exames médicos, ecografias. Provas de que eu estive grávida e que nunca dei à luz, nem por parto normal, nem por cesariana.

Eles se entreolham, assustados.

SCULLY: - (AMEAÇADORA) Expliquem se puderem. Se não chegam estas provas, eu posso conseguir mais.

HOMEM DO FBI 2: - Levaremos o caso adiante, agente Scully. Assim que você e o agente Mulder passem por testes de sanidade mental.

Scully olha com surpresa, incrédula. Skinner olha pra eles, não entendendo nada, tão incrédulo quanto Scully.

HOMEM DO FBI 2: - Os Arquivos X estão encerrados até a conclusão do inquérito sobre a saúde mental de vocês, os gastos em demasia e a idoneidade de seu trabalho. Acreditamos que está encobrindo coisas para proteger o agente Mulder e forjando provas falsas para safá-lo da sua doença mental crônica. (RINDO/ DEBOCHADO) Afinal, você dorme com ele.

SCULLY: - (INCRÉDULA)

HOMEM DO FBI 2: - (DEBOCHADO) Pediremos exames por nossos médicos. Essa foi a pior desculpa já criada para justificar o desaparecimento de uma criança. Se não quis seu filho, agente Scully, com medo do pai que ele tem, não precisava inventar uma desculpa dessas para justificar o desaparecimento da criança. Você é a mãe. Entregou ele pra quem? Ou o matou? Saiba que vamos pegá-la se fez isso.

Scully sai da sala, completamente humilhada e irritada, batendo a porta.


Hospital Memorial – 11:21 P.M.

Frohike sentado ao lado da cama de Mulder. Segura uma calculadora na mão. Mulder ainda em coma.

FROHIKE: - Bem, Mulder... Calculando... Acho que... Não... Ah, agora sim. A probabilidade de você ter uma mulher como a adorável agente Scully ao seu lado é de 0,00000001. Portanto, se você conseguiu, levante essa carcaça daí e mexa-se.

Mulder estático. Frohike suspira, olhando pro amigo.

FROHIKE: - Mulder, sei que pode me ouvir. Vamos, Mulder, precisa reagir. Precisa pegar aqueles safados. Só você pode fazer isso.

MULDER: - ...

FROHIKE: - Se não quer fazer isso por você, faça pela Scully. Mulder, ela está sozinha, desesperada, sofrendo... ela precisa de você. Talvez nunca tenha precisado tanto quanto agora.

Scully entra no quarto, segurando um livro. Frohike levanta-se.

FROHIKE: - Scully, eu fico aqui com ele. Vá pra casa. Você precisa descansar...

SCULLY: - (SÉRIA) Meu lugar é aqui ao lado do Mulder. Obrigado, Frohike, você tem sido um bom amigo, mas eu cuidarei dele. Mulder e eu temos um pacto. Quando um cai o outro segura. É minha vez de segurar.

Frohike sai do quarto. Scully senta-se na cadeira. Olha pra Mulder, ternamente, afagando-lhe a cabeça envolta em bandagens.

SCULLY: - Sei que pode me ouvir, Mulder. Já estive assim... Como você, eu me recusava a viver, não conseguia suportar o ódio, a dor, a raiva... Mas Mulder, precisa suportar e voltar. Eu... eu não posso seguir sozinha sem você. Se você desistir, Mulder, eu desistirei. Preciso tanto de você agora, Mulder. Já tiraram alguém importante de mim, não quero perder a única pessoa que me resta.

Scully deita a cabeça no colchão, afagando a mão de Mulder. Ele continua sem reagir.

SCULLY: - Posso imaginar todas as coisas horríveis pelas quais você passou. Mas, Mulder, volte pra mim. Precisamos encontrar nosso filho. Eu sei que ele está vivo. Eu sinto isso.

Corte.


Mulder, sentado numa pedra, no meio da neblina. Olhos perdidos no nada. Um garotinho aproxima-se dele. Mulder continua cabisbaixo.

GAROTO: - Sabe o que é o inferno?

Mulder ergue a cabeça e olha pro garotinho.

MULDER: - Sei. É onde estou. Revivendo eternamente a dor de ter perdido meu filho e magoado a única pessoa que me amou na vida. Tudo por causa da minha busca pela verdade. Mas o que se pode esperar de uma maldita aberração? O que esperar do filho do Canceroso, a não ser que seja mau?

GAROTO: - Acredita nisso realmente?

MULDER: - Eu sou o culpado disso tudo. Fui cego a ponto de não ver que eu era a verdade. Que as respostas todas estavam dentro de mim e não lá fora. Fiquei tanto tempo correndo atrás da verdade, buscando-a com telescópios e não percebi que ela estava ali, na lente de um microscópio.

GAROTO: - Os sonhos em que não acreditamos não se realizam. Quando viemos ao mundo, sempre escolhemos os espíritos a quem daremos a chance de encarnar. Isto é imutável. A forma ou a maneira como o destino caminha não altera a cumplicidade que os espíritos têm e a promessa que guardam entre si.

MULDER: - Quem é você? Por que me diz essas coisas?

GAROTO: - Você se culpa por algo que não poderia evitar. O destino é imutável. E estou dizendo que você está sendo egoísta. Seu lugar não é aqui. É ao lado da Dana. Ela precisa muito de você. Todos os caminhos te levariam a esse fim.

MULDER: - Quanto mais longe de mim, melhor pra ela. Eu nunca poderia olhar pra Scully sem sentir culpa pelo que aconteceu. Eu não posso mais viver, sabendo que nosso filho foi tirado de nós, que deve estar sofrendo.

GAROTO: - Sabe se esta não é a sina dele? Como pode ser tão pretensioso e egoísta a ponto de achar que você é o causador do sofrimento dele? Quando vai realmente acreditar em anjos?

MULDER: - (CURIOSO) Quem é você?

O garoto sai correndo por entre a neblina. Mulder vai atrás dele.

MULDER: - (GRITA) Ô, garoto! Ei!

Mulder fica o procurando, mas a neblina é densa demais.

Corte.


O médico entra no quarto.

MÉDICO: - Agente Scully...

Scully levanta-se da cadeira.

MÉDICO: - Há um papel assinado por seu parceiro. Ele diz que se estiver numa situação como essa, que as decisões cabem somente à você. Sinto muito, acho que não resta mais nada a fazer. Deixe-o ir.

SCULLY: - (IRRITADA) Se as decisões sobre a vida dele foram entregues em minhas mãos por ele mesmo, eu digo que não o deixarei morrer.

MÉDICO: - Sabe que não está sendo profissional...

SCULLY: - A situação não me permite ficar de fora emocionalmente. Conheço Mulder. Sei que ele ama a vida, apesar de que fica gritando besteiras boca à fora. Só vou desligar esses aparelhos se ele mesmo me pedir. Caso contrário, vou mantê-lo vivo.

O médico suspira. Sai do quarto. Scully olha pra Mulder. Com raiva.

SCULLY: - (PERTURBADA) Sei que pode me ouvir, Mulder. Se quer morrer aí como um covarde, o problema é seu. Eu não vou desistir de encontrar meu filho. Com ou sem você. Mulder, você me decepciona. Vai desistir assim? Vai se entregar pra eles? Ótimo. Pode tentar morrer, Mulder, mas eu digo que a ciência vai te impedir de conseguir isso. Porque cada vez que você tentar fugir da vida eu estarei aqui, torturando seu corpo com cada aparelho e medicamento que eu puder para segurá-lo. Se isso é egoísmo, pode ser. Mas eu não vou deixar você morrer!


1:21 A.M.

Scully, sentada, lê um livro. Mulder continua em coma.

SCULLY: - ... O submarino afundou um pouco mais. A água, rodopiando, subia cada vez mais alto... até alcançar a cintura dos homens que estavam no tombadilho. O professor Aronnax, porém, não dava sinal de desistir da sua resolução de morrer juntamente com seus companheiros. De súbito, o Capitão Nemo afastou-se da vigia. – Parem as máquinas – disse. – Vamos para a superfície. As alavancas rangeram novamente. Pouco a pouco, o “Nautilus” começou a subir...

Scully fecha o livro. Olha pra Mulder.

SCULLY: - Lembro que você me disse que adorava 20.000 Léguas Submarinas... Mulder, deixe de ser o Capitão Nemo. Não se torne obcecado pela culpa. Você não é culpado por terem tirado nosso filho. Precisa sair daí, Mulder. Precisamos encontrá-lo. Não tenho instinto pra fazer isso sozinha, eu preciso de você... (CHORA) Eu preciso de você...

Corta para Mulder, no meio da neblina. Ele está de costas pro abismo, sério, indiferente. Recusa-se a ver Scully sofrendo. Lá atrás, Scully, sentada na cadeira do hospital, chorando.

MULDER (OFF): - (CHORANDO) Não posso olhar pra você sem sentir ódio de mim! A culpa é minha, só minha! Nunca deveria ter contado meus sentimentos pra você. Agora, mais que nunca, percebo que tudo entre nós foi um erro. Eu coloquei você em riscos que poderia ter evitado se tivesse contido o amor que tenho.

Ele vira-se e olha pra ela.

MULDER (OFF): - Scully, não chora... (CHORANDO) Não chora... Eu não suporto ver você sofrendo, Scully... Eu amo você, mas eu não posso mais voltar. Tenho medo de você me odiar pelo que te aconteceu. Dói saber que eu só trago desgraças pra você, que você não merece isto... Como vou dizer pra você que eu não sou um ser humano normal? Que isto será seu karma, que eu nunca poderei te dar filhos sem que eles sejam levados... Me deixa morrer, Scully. Viva sua vida longe de mim, seja feliz. Eu não me importo. Eu só quero te ver sorrindo.

Mulder atira-se no chão, chorando.

MULDER (OFF): - Me deixa morrer, Scully... Por favor, me deixa morrer... Estou cansado de tudo! Não poderei viver mais sabendo que levaram nosso filho. Não tenho mais forças e nem saúde mental pra começar outra busca... Me deixa morrer, Scully, estou cansado! Nada será como antes. Você vai me culpar por tudo, eu não posso mais me sentir culpado! Scully, estou morto há muito tempo. Me enterre! Me enterre de sua vida! Seja feliz, Scully. Eu não posso te fazer feliz, eu sou uma experiência, você nunca terá paz do meu lado... Desligue esses aparelhos, Scully. Me deixe e vá viver! Você não merece sofrer mais. Eu não valho isso.

Mulder encolhe-se no chão, chorando, evitando de olhar pra ela.


BLOCO 2:

Scully, cabelos presos mas desgrenhados, com alguns fios caindo pelo rosto, ergue a cabeça ao ouvir o som do aparelho de batimentos cardíacos. Levanta-se rapidamente. Pega o desfibrilador.

SCULLY: - (INCRÉDULA/ SACUDINDO A CABEÇA) Não... (ÓDIO) Você não vai embora, Mulder!

Scully tenta reavivá-lo.

SCULLY: - (GRITA/ NERVOSA) Não vai me deixar aqui, não, seu desgraçado!

Scully tenta de novo. O batimento cardíaco volta. Scully, cansada, olha pra ele.

SCULLY: - Mulder... Volta pra mim! E-eu (CHORA) Eu preciso de você, Mulder... eu te amo! Você é a minha coragem, a minha força. Não desiste!

Scully larga o desfibrilador. Senta-se. Olha pra ele.

SCULLY: - (SUPLICA) Resista, Mulder! Nem que seja por vingança!


Duas semanas depois...

3:17 P.M.

Byers sentado num banco, no corredor, segurando um pacote de frutas. Frohike aproxima-se. Senta-se ao lado dele.

FROHIKE: - Então? Falou com ela? A convenceu a ir pra casa dormir?

BYERS: - Não. Scully nem quis comer as frutas que trouxe pra ela.

Frohike abaixa a cabeça. Byers suspira.

BYERS: - ... Imagine perder um filho, logo em seguida perder a pessoa que ela ama. Não há nervos que suportem tanta pressão. Acho até que a Scully é forte demais, porque está conseguindo segurar a barra.

FROHIKE: - Estou preocupado com ela. Vai acabar em depressão profunda.

BYERS: - Deixe-a se preocupar com Mulder. Pelo menos ela tem alguma coisa pra se preocupar. Isso a mantém firme.

FROHIKE: - ... Detesto dizer, mas acho que tem razão, Byers. Algumas vezes coisas espertas saem da sua cabeça.

BYERS: - ??

FROHIKE: - Vou entrar e tentar convencê-la a comer alguma coisa.

Frohike levanta-se e entra no quarto. Byers olha pro pacote de frutas em seu colo e suspira.

Corta para Frohike. Ele caminha até Scully, que está sentada na cadeira, ao lado da cama. Ela segura um terço nas mãos trêmulas e fracas. Reza baixinho. Abatida. Frohike agacha-se a o lado dela e coloca suas mãos sobre as mãos dela. Scully ergue a cabeça e olha pra ele, em silêncio, revelando olheiras de quem não dorme há muito tempo.

FROHIKE: - Não peço que deixe Mulder. Só peço que deixe Byers com ele por uns 20 minutos e vá almoçar com este seu amigo aqui. Estou morrendo de fome.

SCULLY: - (SORRI CANSADA) Não tenho fome, Frohike.

FROHIKE: - Acho que não resistiria ao purê de batatas que eu fiz pra você.

SCULLY: - ... Não consigo comer nada, não desce.

Frohike levanta-se. Olha pra Mulder. Vê os aparelhos ligados a ele. Scully levanta-se. Fica ao lado de Frohike.

FROHIKE: - Acha que ele nos escuta?

SCULLY: - Pra dizer a verdade, eu não sei.

FROHIKE: - Pra onde vai uma pessoa que está em coma? Se quando dormimos temos sonhos, se quando morremos vamos pra outro lugar...

SCULLY: - Acho que ele está sonhando. Quero acreditar nisso.

FROHIKE: - O que ele poderá estar sonhando?

Corta pra Mulder na neblina. Ele observa Frohike e Scully conversando, do outro lado do abismo.

SCULLY: - Talvez esteja num lugar melhor, onde não sinta dor.

FROHIKE: - Por que ele não volta? Por que não acorda?

SCULLY: - Porque ele desistiu de viver. Porque as coisas que passou foram demais pra ele. Quando eu estive no hospital, depois da minha abdução, eu também não queria voltar. Eu tinha raiva, ódio. Eu queria vingança. Acho que Mulder está com medo de voltar. Ele cansou.

FROHIKE: - ...

SCULLY: - Cansou de lutar. Algo como um trauma de reação. Ele sempre lutou contra o inimigo, mas desta vez, Mulder reagiu. E ao reagir, ele perdeu. E se culpa por isso. Por ter reagido. Talvez se questione sobre o que teria acontecido se não tivesse reagido. Talvez se arrependa...

Mulder continua olhando sério e indiferente pra eles. O abismo vai aumentando, o deixando mais e mais longe de Scully. Ele não mostra expressão alguma no rosto.

Corta pra Frohike e Scully no hospital.

FROHIKE: - Me coloco no lugar dele. Passou metade da vida buscando a irmã. Não acho justo que passe a outra metade da vida buscando o filho.

SCULLY: - ... Frohike, eu... Eu quero encontrar meu filho. Se ele estiver morto, pelo menos saberei onde está. É melhor saber do que viver na eterna dúvida.

FROHIKE: - Acha que ele está morto, Scully?

SCULLY: - A esperança não me deixa pensar assim. Mas a razão me diz que nunca mais verei meu filho.

FROHIKE: - ... Sinto pelo que te aconteceu. Pelo que aconteceu ao Mulder. Estou me perguntando todos os dias se a culpa não é minha, se eu fui amigo o suficiente...

Scully olha pra ele.

SCULLY: - Frohike, você é um grande amigo. O que fez por mim e por Mulder durante estes longos meses de tortura... Ainda não agradeci a você e aos rapazes por tudo que fizeram. Vocês tentaram, como eu e Mulder tentamos. Mas era inevitável.

FROHIKE: - Scully, o que vai ser de vocês agora? Se Mulder voltar, se vocês superarem isso? Nunca poderão ter uma família, sob risco de perder a criança pra essa gente de novo?

SCULLY: - Há várias maneiras de se ter uma família, Frohike. Se Mulder está assim hoje é por minha culpa. Eu sempre quis ter um filho. Agora recebi meu castigo por amaldiçoar a natureza das coisas.

FROHIKE: - Não deve se culpar, Scully.

SCULLY: - Eu sou culpada sim, Frohike. Mulder sempre me avisou e eu nunca quis dar ouvidos a ele. Ele nunca me iludiu quanto a isto. Antes de ficarmos juntos ele me disse suas dúvidas. Eu aceitei, mas depois fiquei cobrando dele. Minha teimosia, meu orgulho, fizeram com que isto acontecesse. Se eu não tivesse feito loucuras para ter um filho, talvez eles não tivessem feito isto comigo, mas com outra pessoa, sem até mesmo Mulder saber. Eu mostrei a eles que seria a mãe ideal. Eu coloquei Mulder nesta cama e dei meu filho pra eles. Se há um culpado aqui neste quarto sou eu. Não Mulder.

Scully abaixa a cabeça, derrubando lágrimas. Frohike a abraça.


8:11 P.M.

O Canceroso entra no quarto de Mulder. Aproxima-se da cama. Olha pra Mulder.

CANCEROSO: - Como um tolo e fraco, você perdeu. Eu venci.

MULDER: - ...

CANCEROSO: - Que bom que desistiu, Mulder. Assim não poderá salvar seu filho. Eu o tomei de você.

MULDER: - ...

CANCEROSO: - Mas ainda não acabou. Com você fora do caminho, a tonta da sua parceira vai criar mais confusão ainda. E sabe que eu não a pouparei desta vez. Obrigado, Mulder. Scully será minha cobaia viva. Seu filho também.

MULDER: - ...

CANCEROSO: - (NERVOSO) Levante-se daí e venha me enfrentar, seu covarde. Como é fácil abandonar a luta. Vai me dar o gosto da vitória?

O Canceroso reclina-se sobre a cama e cochicha no ouvido de Mulder.

CANCEROSO: - Perdedor! Você me dá nojo!

O Canceroso afasta-se. Olha pra Mulder. Fecha os olhos, angustiado. Sai do quarto. Caminha pelo corredor. Vê Scully, aproximando-se, cabisbaixa. O Canceroso entra por uma porta, se escondendo. Scully entra no quarto de Mulder.

Corte.


Mulder observa o Canceroso do outro lado do abismo. Com ódio. O ódio no olhar dele é muito grande. Mulder vira-se de costas para o abismo. A neblina desaparece e um túnel surge na frente dele. Mulder fecha os olhos. Respira fundo. Olha pra aliança em sua mão.

MULDER (OFF): - A única lembrança que levarei é de você. A única verdade que eu conheci por inteira. A única que nunca duvidei.

Mulder caminha em direção ao túnel.


Hospital Memorial - 12:14 A.M.

No corredor, Scully, de braços cruzados, encostada na parede. Está um bagaço, parece que desistiu de viver. Skinner ao lado dela. O médico olha pra eles.

MÉDICO: - Não podemos fazer mais nada. Desde que entrou aqui, ele teve 3 paradas cardíacas. Sinto, Dra. Scully, mas você não quer ver o que está acontecendo. Os exames estão normais, não há explicação racional para o estado de coma dele. Ele não quer mais viver! Está com morte cerebral! Não pode fazer mais nada por ele. O mais sensato como médica é deixá-lo ir embora. Onde está a sua ética médica? A sua ética e responsabilidade como profissional?

Scully está tão nervosa que nem escuta o médico. Skinner olha pro médico.

SKINNER: - Nos dê licença um minuto, por favor.

O médico sai. Skinner olha pra Scully.

SKINNER: - Scully...

SCULLY: - ... (OLHANDO PARA UM PONTO DE FUGA NA PAREDE)

SKINNER: - Scully?

SCULLY: - Ahn?

SKINNER: - Scully, você é médica. Acha justo que Mulder continue sofrendo?

SCULLY: - Mulder? (FORA DE SI) Não, Mulder não está sofrendo. Ele está dormindo.

Skinner fecha os olhos. Respira fundo.

SKINNER: - Scully, você passou por dois choques recentemente. Acho melhor ir descansar ou você é quem vai entrar em coma.

SCULLY: - Eu estou bem.

SKINNER: - Não, você não está! Nem sabe mais o que está dizendo. Scully, olhe pra você! Nunca a vi desse jeito, você está acabada, está falando besteiras, não dorme direito...

SCULLY: - Mulder ficou meses sem dormir, eu posso suportar.

SKINNER: - Scully, vá pra casa. Eu ficarei aqui com Mulder.

SCULLY: - Não! Vocês vão desligar os aparelhos!

SKINNER: - Scully, pelo amor de Deus! Não me faça ter de chamar um psiquiatra e internar você!

Scully entra no quarto. Skinner vai atrás dela. A vê, sentando-se ao lado de Mulder, segurando em sua mão. Ela pega o livro. Meg entra no quarto. Olha pra filha, emocionada. Skinner olha pra Meg e sai cabisbaixo. Meg aproxima-se de Scully. Agacha-se e toma o livro das mãos dela. Scully vira-se e chora convulsivamente nos braços da mãe. Meg afaga seus cabelos.


Mulder caminha por entre uma luz, dentro do túnel. Derrubando lágrimas, sem olhar pra trás. Ao final do túnel, Mulder sai numa cidade.

Geral da cidade destruída. Como se algum ataque aéreo tivesse acontecido. Tudo em ruínas. Mulder olha pra cidade, incrédulo. Vê um mendigo sentado num pedaço de escombro, segurando um rádio no colo. O rádio está mudo. Há pessoas mortas por entre os escombros. Mulder aproxima-se do mendigo. O mendigo parece ter pouco mais de 30 anos, cabelos longos e pretos, olhos azuis, de porte atlético. Carrega um certo ar de paz. Usa roupas esfarrapadas, luvas de lã rasgadas e segura o rádio sobre as pernas. Mulder percebe a cruz que ele carrega no pescoço, igual a de Scully. O mendigo olha pra Mulder. Seu olhar é de tranqüilidade. Mulder senta-se ao lado dele.

MULDER: - Onde estamos?

MENDIGO: - Em Washington. Ou o que sobrou dela.

MULDER: - O que aconteceu?

MENDIGO: - O rádio não funciona mais. Há três dias ouvi que os últimos estão morrendo.

MULDER: - Como assim?

MENDIGO: - Peste. Os que sobreviveram morrerão por causa da peste. Parece que quem poderia nos salvar, desistiu.

MULDER: - ...

MENDIGO: - Preferiu ficar se remoendo em culpa, lutando contra algo que não poderia evitar. Protegendo seu filho, se esquecendo de que se não lutar, seu filho e todas as outras crianças não terão um futuro. Não entendeu que pode salvar o mundo. Ele pensa que o filho o fará. Mas na verdade, não entende que ele é o filho. E que o sacrifício foi dele... Seu filho é apenas o Consolador. E não haverá a quem consolar, porque seu pai desistiu.

Mulder olha pro céu nublado de pó. O sol desapareceu. A natureza também. Mulder vê pessoas mortas por todos os lados. Crianças. Fecha os olhos.

MENDIGO: - A criança é o pai do homem. Do novo homem.

O mendigo levanta-se e estende a mão para Mulder. Mulder segura a mão dele e levanta-se.

MULDER: - Isto é a morte?

MENDIGO: - Não. Porque nem eu e nem você estamos mortos. Estamos apenas aguardando a vida, fora de nossos corpos. E estamos presos. Um ao outro.


The A.R.E. Medical Clinic - Massachussets – Virgínia – 4:45 A.M.

Um quarto, mais parecido com um quarto de uma casa, do que de um hospital. Decoração alegre. Folhagens, flores. Música ambiental suave.

Scully olha pra Mulder ainda em coma, deitado na cama, ligado a aparelhos. Há cristais ao redor dele e uma intensa luz violeta por sobre seu corpo. Margaret ao lado dela.

SCULLY: - ... (CONFUSA) Mãe, será que tomei a decisão certa?

MARGARET: - Quando eu estava doente, Melissa me trouxe aqui. Foi onde consegui me recuperar. Acredite, Dana. Isto faz bem ao Fox. Se quer ajudá-lo, precisa dar à ele aquilo em que ele acredita.

SCULLY: - Mãe, isto vai contra todos os meus princípios médicos! Eu...

Uma mulher entra no quarto. Olha pra Scully.

MORGANA: - Agente Scully, sou a Dra. Morgana Frey. Sou médica, graduada como você. Espero que isso lhe deixe mais relaxada.

As duas cumprimentam-se.

MORGANA: - Sei que sente-se confusa com o tipo de tratamento que aplicaremos em seu parceiro. Mas acredite, nem sempre a medicina tradicional pode curar as doenças. Mulder está doente, mas não em corpo. A doença provém do espírito. Os exames clínicos dele estão perfeitos. A alma dele é que está sofrendo.

SCULLY: - ...

MORGANA: - Utilizaremos tratamentos de abordagem holística, como biorientação, acupuntura, massagem bio-energética. Métodos holísticos de cura, baseados nos ensinamentos do profeta e espírita Edgar Cace, fundador desta clínica. Acredite, vimos muita gente desenganada pela medicina que encontrou aqui a sua cura... Tem fé, agente Scully?

Scully passa a mão no pescoço, e percebe que está sem a gargantilha. Fecha os olhos. Meg olha pra ela.

SCULLY: - Tenho. Tenho fé.

MORGANA: - Sabe que a oração e a meditação produzem dopamina no cérebro? E que a dopamina é uma substância que combate a depressão?

SCULLY: - (BEM FORA DE SI, PATETA) Acha que Mulder está com depressão?

MORGANA: - Acho que você precisa rezar por ele. Conversar com ele. Convencê-lo a buscar a cura. A voltar pro mundo dos vivos, porque ele está vagando entre dois mundos, e não quer voltar.

Scully segura-se no braço de Meg. Meg percebe o nervosismo dela.

MORGANA: - Ele sofreu um trauma muito profundo e sente-se culpado pelo que aconteceu. Por isso não quer voltar. Precisa sintonizar-se com ele, porque ele fugiu de sua sintonia com você. Ele tem medo. Medo de que você o odeie.

SCULLY: - ... Mas eu nunca odiaria ele.

MORGANA: - Faremos nossa parte. E precisamos de você. Você mesma assinou a ficha como sendo a única pessoa responsável por Mulder.

SCULLY: - ...

MORGANA: - Pode nos ajudar a trazê-lo de volta. Porque se eu entendi o que sua mãe disse, ele só escutará você. E se há esta sintonia tão grande entre seus espíritos, agora, mais do que nunca, precisa sintonizar-se com ele. Mulder precisa de você. Como nunca precisou antes. Guie-o de volta pra casa.

SCULLY: - Sabe onde ele está? O que sonha?

Morgana aproxima-se de Mulder. Fecha os olhos. Coloca suas mãos sobre o corpo dele, sem tocá-lo. Scully observa, receosa. Meg segura seu braço, confortando-a. Morgana fica por segundos em transe. Volta. Abre os olhos. Sorri. Olha pra Scully.

MORGANA: - Tem alguém com ele, o protegendo, o afastando da morte. Está tentando ajudá-lo a voltar. É um espírito muito iluminado. Mas esta pedindo à você que o ajude. Disse que agora precisa de seu amor mais do que nunca. E da fé que você tem.


BLOCO 3:

Mulder entra numa loja semi-destruída. O mendigo ao lado dele. Há alguns sobreviventes ali dentro, esfarrapados e sujos, sentados no chão. O mendigo olha pra eles.

MENDIGO: - Temos um novo amigo.

Eles acenam pra Mulder. Um homem levanta-se e olha para o mendigo.

HOMEM: - Estamos cansados. Não queremos mais viver! Não temos muito tempo. Sabe que eles virão novamente. Vão nos matar, tomarão este planeta... São parasitas, usam nossos corpos como invólucros para suas crias!

O mendigo puxa uma caixa e senta-se. Olha pra eles.

MENDIGO: - Quando a energia criou este mundo e anjos entoaram a criação de Deus, nem mesmo os anjos sabiam que muitas criações se rebelariam, usariam de seu conhecimento para a degradação final. Amigos, a dádiva da vida é o maior dom concedido pela energia motriz deste universo. Todos os acontecimentos são lições para serem aprendidas, com o fim de nunca mais cometermos os mesmos erros.

Eles escutam o mendigo.

MENDIGO: - Há dentro de cada um de nós dons que desconhecemos. Pela falta de fé. Pela falta de amor, de esperança. Pelo cansaço.

Uma mulher levanta-se.

MULHER: - Estamos aqui por causa deles! Nos mentiram! Esconderam a verdade! Onde estão os governos, agora que o mundo foi destruído? Estão a salvo, em seus abrigos anti-aéreos!

MENDIGO: - Por que você se preocupa com eles? Por que se preocupa com os corvos escondidos e não luta para que a plantação continue de pé?

A mulher senta-se calada.

MENDIGO: - Algumas guerras são necessárias para a transformação do mundo. Somos todos soldados, precisamos lutar. A sentença virá dos céus, como nos veio agora. Se estamos vivos, é porque Deus precisa de nós aqui. Nossa missão é aqui. É construir um mundo novo, sem guerras, fome, mentiras. Quando o homem estiver pronto para aceitar a verdade, ele a conhecerá por inteira. E saberá quem é. Mas enquanto o ódio em seu coração não se abranda, o homem não pode entender os significados dos planos de Deus e nem saber quem ele é.

Mulder olha para o mendigo.

MULDER: - E você, sabe quem é?

O mendigo sorri pra Mulder.

MENDIGO: - Eu sei quem sou. Você é que não me conhece. Já colocou seus olhos em mim, já fez muito por mim, mentiu em meu nome, colocou sua vida em jogo e não me reconhece?

Mulder ri.

MULDER: - Outro truque daquele anjo desgarrado? Gabriel está por aqui, é? (IRRITADO) Eu não sei quem é você, e acho que vou embora.

Mulder dá as costas. O mendigo o segura pelo ombro. Mulder vira-se pra ele.

MENDIGO: - Fox Mulder... Não perca a chance de olhar pela única vez em meus olhos ‘nesta vida’. Porque não a terá de novo. E tudo que mais quer é olhar em meus olhos.

Mulder percebe que as pessoas todas sumiram.

MULDER: - Quem é você?

MENDIGO: - Seu coração vai te dizer quem eu sou.

MULDER: - Meu coração me diz que odeio você, odeio essa gente, odeio este lugar!

MENDIGO: - Então por que não volta pro lugar que é seu?

MULDER: - Porque eu não posso mais olhar nos olhos da pessoa que eu queria olhar. E pode ter certeza de que você não é ela.

MENDIGO: - Não, eu não sou ela. Mas tenho ela dentro de mim.

MULDER: - Quem pensa que é? Pelo amor de Deus, não pode me dizer pra onde eu posso fugir e acabar com a minha alma? Eu quero morrer e não consigo!

MENDIGO: - Acha que a morte acabará com seu espírito?

MULDER: - Não sei. Mas eu quero acabar com ele porque nunca mais quero viver de novo, entendeu? (ÓDIO) A vida é infelicidade, é uma mentira convincente! Quando você consegue ser feliz por um dia, vem uma semana inteira de desgraças!

MENDIGO: - E não pode vir uma outra vida de felicidade?

MULDER: - (RI) Felicidade? Me diga se é felicidade ter um pai que você odeia porque nunca recebeu um carinho? Se é felicidade amar uma mulher e causar desgraças pra ela? Se é felicidade ter esses malditos genes dentro de mim, que me fizeram perder o meu filho!

Mulder está com raiva, cego de ódio. O mendigo aproxima-se de uma televisão velha e quebrada. Liga a TV. Mulder olha pra TV. Imagens começam a surgir:

[ Kevin desliga o telefone, furioso. Victoria entra na cozinha].

VICTORIA: - Nada como um banho... O que houve, Kevin?

KEVIN: - Querem que eu vá até Londres. Estão tendo problemas com a máquina...

VICTORIA: - ... (FISIONOMIA DE CHATEADA)

KEVIN: - Eu não vou, Victoria. Preciso primeiro cuidar da minha família.

Victoria sorri pra ele. O abraça. Suspira, pedindo conforto.

VICTORIA: - Não é nada grave. Sabe que o Fox está bem.

KEVIN: - Eu sei que o nosso filho está bem, mas sei que precisamos conversar sobre isso. Onde ele está?

VICTORIA: - Jogando vídeo game.

Kevin puxa uma cadeira. Senta-se.

KEVIN: - O que o médico disse?

VICTORIA: - Que não é nada físico... é psicológico.

KEVIN: - ...

VICTORIA: - Ele disse que nosso filho de 10 anos é retardado. (RI/ NERVOSA) Acredita nisso?

KEVIN: - (OFENDIDO) Retardado é ele, aquele imbecil! Meu filho é um menino que tem hipersensibilidade. Ele tem uma inteligência superior à sua capacidade.

VICTORIA: - ... Ele é uma criança especial. Mais especial do que eu fui... Kevin, sabe que temos... Outro paranormal na família.

KEVIN: - ... (NERVOSO) Devo me assustar ou rir?

Victoria abaixa a cabeça.

VICTORIA: - Ele disse ao médico que escutava vozes. Sabe o que o médico fez? Receitou uma pilha de medicamentos pra ele!

Victoria começa a chorar. Kevin levanta-se. Abraça-a.

Corte.


Mulder desvia o olhar da TV e olha pro mendigo, incrédulo.

MULDER: - O que é isso? Quem são eles?

MENDIGO: - ... Podem ser o futuro.

Corte.


The A.R.E. Medical Clinic - 5:39 A.M.

Scully observa Mulder, com os olhos cheios de lágrimas. Inclina a cabeça para o lado e passa a mão pelo rosto dele.

SCULLY: - Onde está você, o seu sorriso, as suas piadas? Onde está o meu Mulder?

Scully respira fundo, para não chorar. Continua afagando o rosto de Mulder.

SCULLY: - O que está sonhando?

Scully fecha os olhos. Coloca a mão sobre o coração dele.

SCULLY: - Não pare de bater. Porque se parar, o meu pára também.


Mulder continua olhando para as imagens. As lágrimas correm por seu rosto. Ele fica emocionado com o que vê.

Victoria, sentada na cadeira, com um pôster de um ÓVNI atrás de si, escrito: ‘Eu acredito’. Uma sala enorme, repleta de arquivos e computadores. Vários agentes trabalhando. Victoria pega o porta-retrato sobre a mesa, onde há a foto de Mulder e Scully. Olha com ternura pra eles. Fecha os olhos. O telefone toca.

VICTORIA: - Mulder... Sim, senhor? (Silêncio de segundos) ... Certo, eu vou checar... Hum... está bem.

Victoria desliga. Olha pro parceiro na mesa ao lado.

VICTORIA: - Há comentários sobre um grupo extremista composto por cientistas e militares reformados.

DANNER: - Ah, não!

VICTORIA: - Receio que isto afete nosso trabalho diretamente. Querem esconder a verdade. Como o governo e as forças armadas ainda estão sob vigilância constante, acho que criaram uma resistência.

Victoria olha para os agentes na sala. Levanta-se e grita.

VICTORIA: - Muito bem, pessoal, parem o que estão fazendo! Temos um caso prioritário. Ordens do diretor assistente! Quero todas as informações possíveis sobre um grupo extremista chamado Nova Ordem. Chequem todas as informações. E você, Matt, descubra se John Spender continua preso. Acho que está por trás disso.

Victoria senta-se ao computador. Danner fica ao lado dela.

DANNER: - Parceira, acho que está certa. Há 3 anos, John Spender foi preso por conspiração contra o povo. Mas sabe que, mesmo depois da denúncia sobre a existência do Sindicato, o líder soviético deles conseguiu escapar.

VICTORIA: - Krycek? Mas Krycek está tão velho que mal pode falar! É uma múmia ambulante. O governo russo o mantêm em prisão de segurança máxima.

DANNER: - Ainda acredita que o acordo mundial de paz está funcionando? A ideologia é muito bonita, Mulder, mas não é assim na prática. Acha mesmo que os governos mundiais estão empenhados em busca da paz?

VICTORIA: - Não. Não acredito, Danner.

DANNER: - O governo está encobrindo a existência desse grupo. Mulder, enquanto houver governos, haverá subjugados.

VICTORIA: - Se dissesse isso no século passado seria preso pelo próprio Edgar Hoover como comunista!

DANNER: - Tá vendo? Mudam algumas coisas, mas outras continuam. Lembra-se que ano passado prendemos uma carga de material genético não identificado. Eles ainda estão aqui, trabalhando com esse grupo, com a indiferença do governo.

VICTORIA: - Mas os alienígenas iriam se intrometer se isso fosse verdade.

DANNER: - Sabe que os alienígenas nos avisaram. Nos alertaram contra essa raça alienígena dissidente. Eles não vão interferir, Mulder. Precisamos caminhar com nossas pernas, foi o que disseram.

VICTORIA: - ... Acho que tem razão.

DANNER: - O governo facilitou a fuga do seu primo.

VICTORIA: - Ele não é meu primo. É um híbrido bastardo da minha tia com alguma coisa que nem sei o nome!

DANNER: - ... Seu pai ergueu esse departamento. Honre o nome dele. Siga sua intuição.

Corte.

Victoria, sentada dentro do carro, na frente da escola. Um furgão aproxima-se e pára a sua frente.

Corta para as crianças saindo da escola. Fox vem ao lado de um amigo, com a mochila nas costas. Os dois trocam um cumprimento, batendo as mãos. Fox sai da escola, correndo em direção ao carro de Victoria. Um homem desce do furgão e puxa o menino pra dentro. Victoria puxa a arma e desce do carro, mas o furgão parte. Victoria entra em desespero. Volta pro carro e sai atrás do furgão.


The A.R.E. Medical Clinic – 6:29 A.M.

Scully observa Mulder, segurando em sua mão. Com a outra, segura um terço. O celular toca. Scully levanta-se e sai do quarto. Atende.

SCULLY: - Scully.

SKINNER: - Scully, preciso que volte ao FBI com urgência.

SCULLY: - O que aconteceu?

SKINNER: - ... Problemas com os Arquivos X.

SCULLY: - Não posso. Estou de licença.

SKINNER: - (PREOCUPADO) Scully, suas denúncias não resultaram em nada. Apenas no pretexto que queriam para encerrarem os Arquivos X. Mesmo com pilhas de provas, eles alegam que você e Mulder estão inaptos mentalmente para prosseguirem com o trabalho. Eu não sei mais o que fazer.

SCULLY: - (DECIDIDA) Na verdade, senhor, me desculpe, mas só há algo muito importante na minha vida. E não está neste porão. Porque se estivesse, eu não estaria aqui, sofrendo.

SKINNER: - Scully, estão revirando a sala de vocês, tentando achar provas que incriminem os dois.

SCULLY: - Como assim?

SKINNER: - Querem justificativas, Scully. Acham que você está mentindo para encobrir a ‘irresponsabilidade’ de Mulder. Já estão checando possíveis candidatos ao seu cargo para substituí-la. E vão usar o relacionamento de vocês pra fazer isso.

SCULLY: - ... Senhor, pouco me importa o que estão fazendo. Se quiserem colocar fogo nessa sala, que o façam. Se querem me demitir, se querem culpar-me, nada disso tem importância agora. Eu não vou sair daqui. Não vou deixar Mulder sozinho. Façam o que quiserem com os Arquivos X. Porque a verdade, senhor, eu já descobri há muito tempo.

Scully desliga o telefone. Volta pro quarto. Senta-se. Olha pra Mulder. Abaixa a cabeça sobre a cama e chora convulsivamente, agarrando a mão dele com força.


Mulder olha pras imagens, derrubando lágrimas. O mendigo ao lado dele, em silêncio, cabisbaixo.

O pequeno Fox está encolhido num canto do beco escuro. Um vulto aproxima-se na penumbra. A luz do poste revela sua silhueta alta, de cabelos pretos e longos. Olhos azuis. Está vestido com roupas simples e surradas. Luvas de lã cobrindo apenas parte dos dedos. Fox olha assustado pra ele. O mendigo inclina-se pra frente, apoiando as mãos nas pernas. A luz do poste reflete um brilho no crucifixo que carrega no pescoço. Ele ergue as sobrancelhas.

MENDIGO: - Ei, amiguinho? Está com algum problema?

FOX: - ... (CHORANDO) Querem me pegar! Eles querem me matar por causa da minha mãe! Ela vai entregar eles pro FBI!

MENDIGO: - Quem quer pegar você?

FOX: - Homens maus!

MENDIGO: - E onde você mora?

FOX: - Em Virgínia.

MENDIGO: - Está bem longe de casa! Venha, eu vou levar você de volta pra sua mãe. Eles não vão machucar você.

FOX: - Acha que pode me salvar? Eles vão me pegar e vão matar você também!

MENDIGO: - Confie em mim. Eu vou salvar você. Ninguém vai te tocar, eu prometo, está bem?

Os homens da Nova Ordem entram no beco. O mendigo vira-se.

HOMEM: - Afaste-se do garoto. Sai daqui, seu vagabundo, isso não é problema seu!

O mendigo olha pra Fox. Olha pros homens.

MENDIGO: - São corajosos pra pegarem uma criança. Por que não se metem comigo?

Os homens se olham entre si e riem debochados.

HOMEM: - Se você quer assim, vamos nos divertir um pouquinho chutando esse seu traseiro!

O mendigo os chama com as mãos para a briga. Eles se aproximam. Ele coloca as mãos nas têmporas e fecha os olhos. Um ruído ensurdecedor começa. Os homens saem, correndo em pânico, ensurdecidos. Um deles, fica, não consegue se mexer. Os tímpanos dele estouram. Ele cai no chão. Fox olha assustado pro mendigo. Ele lhe estende a mão.

MENDIGO: - Venha, garoto. Vou te levar pra casa. Eles não vão te fazer mal.

Corte.

Fox caminha ao lado do mendigo, por uma rodovia. O mendigo sinaliza para os carros, mas nenhum pára pra dar carona.

FOX: - Por que você é mendigo?

MENDIGO: - Por que acha que sou mendigo?

FOX: - Porque é pobre.

MENDIGO: - E o que é ser pobre pra você?

FOX: - Não ter onde morar, não ter comida, não ter dinheiro.

MENDIGO: - Ser pobre é não ter paz no coração. Mas dentro da sua concepção de pobreza... (SORRI) Não, eu não sou pobre.

FOX: - Então é rico?

MENDIGO: - Tenho como sobreviver.

FOX: - Então tem casa? Tem família?

MENDIGO: - ... Prefiro andar pelo mundo, conhecendo pessoas, conversando com elas e as ajudando da maneira que eu posso.

FOX: - Como você fez aquilo?

MENDIGO: - Não sei. Faço aquilo quando homens maus tentam machucar as pessoas. Não gosto que machuquem criancinhas.

FOX: - Também faço coisas estranhas. Geralmente converso com gente que não existe... (SUSPIRA) Minha mãe deve estar preocupada comigo.

MENDIGO: - Aposto que sim.

FOX: - Vai gostar dela. Minha mãe é muito legal. Meu pai também. Minha mãe trabalha no FBI, ela é muito importante lá dentro. Sabe que as coisas que ela diz, as pessoas param pra ouvir. Ela sempre faz justiça.

MENDIGO: - ...

FOX: - Sua mãe é legal?

MENDIGO: - Não sei. Não conheci minha mãe.

FOX: - Ela morreu?

MENDIGO: - Não sei. Ela me abandonou.

FOX: - ... Por que ela fez isso?

MENDIGO: - Não sei.

FOX: - E seu pai?

MENDIGO: - Não o conheço também.

FOX: - Você é órfão?

MENDIGO: - Não, eu tenho uma família.

FOX: - ... Minha mãe tem uma cruz igualzinha a sua. Onde comprou essa?

MENDIGO: - Olha, garoto, você faz perguntas demais. Eu não tenho essas respostas. Estou procurando as respostas. Não sei quem sou e muito menos por que tenho esses dons dentro de mim.

FOX: ...

MENDIGO: - Desculpe. Talvez sua mãe, que é do FBI, possa descobrir quem são os meus pais. Quero saber por que me abandonaram. Passei minha vida toda me perguntando o que eu fiz pra eles me odiarem.

FOX: - ... Por que tá cuidando de mim?

MENDIGO: -... Porque algo me diz que você já fez muito mais por mim. E que preciso te devolver isso. Não me pergunte. Eu apenas sinto. Não sei explicar.

Fox dá a mão pra ele. Os dois caminham de mãos dadas.

Corte.


BLOCO 4:

Mulder fecha os olhos. As lágrimas correm. Ele abre os olhos, mas não vê mais o mendigo. A TV está desligada. Mulder senta-se no caixote e chora. O garoto aproxima-se dele novamente. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Onde está o meu filho?

GAROTO: - Seu filho? Não se lembra? Seu filho morreu. Morreu quando você desistiu. Se tivesse aceitado a verdade, teria poupado seu filho. Mas não. Você não pensou no futuro. Prendeu-se no presente. Agora, veja o que restou. Cinzas. Este é o mundo que deixou pra seu filho. E o mundo que tirou de si mesmo.

MULDER: - ... Quem é você?

Mulder olha pro menino. Ajoelha-se ao lado dele, e, enquanto derruba lágrimas, afaga os cabelos do menino.

MULDER: - Você é o meu filho. Tiraram você de mim.

GAROTO: - Não. Eu não sou o seu filho. E você é quem está tirando seu filho de você mesmo. Não entende? Você está preso é ele e por isso ele não pode voar! Você o mantém aqui nesse lugar e ele precisa sair daqui. Você vê a criança errada! A criança errada!

O menino sai correndo, chorando, por entre os escombros. Mulder o acompanha com os olhos, chorando também.


The A.R.E. Medical Clinic - 6:33 A.M.

Mulder move a cabeça de um lado pra outro, em pesadelo. Scully, dormindo com a cabeça sobre a cama, acorda-se. Olha pra ele, espantada. Mulder murmura.

MULDER: - Meu filho... eu quero o meu filho...

Scully segura as lágrimas e aperta a mão dele.

SCULLY: - Mulder, seu filho está aqui comigo. Ele está bem. Mulder, precisa acordar.

Ele pára de se mexer e continua em coma. Scully olha pra ele, derrubando lágrimas.

SCULLY: - A quem estou enganando? Você sabe. Eu sei que você sabe que ele não está mais conosco...

Ruído. O aparelho de batimentos cardíacos mostra apenas uma linha reta. Scully levanta-se da cadeira, e corre até a porta. Grita para os enfermeiros.

SCULLY: - Preciso de um desfibrilador!!! Ele está morrendo!!!


8:47 A.M.

Skinner observa a porta aberta da sala dos Arquivos X. Dois agentes saem. Trancam a porta. Colocam um cartaz de ‘Entrada proibida’. Skinner olha pra eles.

HOMEM DO FBI 3: - Sinto, senhor. Os agentes Mulder e Scully estão proibidos de entrarem aqui, até o final das investigações sobre a legitimidade do trabalho e da integridade deles.

Os homens saem. Skinner olha pro cartaz. Abaixa a cabeça, decepcionado com o acontecimento.


9:06 A.M.

Scully, sentada, abre uma caixinha. Vê um crucifixo igual ao seu. Sorri cansada. Pega o bilhete.

MARGARET (OFF): - Acho que Melissa ficaria feliz se isto fosse usado por você. Mantenha sua fé, minha filha. É um dom que poucos têm. Lembre-se da sua irmã. A fé que ela tinha não difere da sua em nada. Todos os meios chegam a única verdade: somos muito mais que corpo. Somos luz. Luz destinada a brilhar e a encontrar os seus pela eternidade toda. Esta é a lei imutável do amor, que Ele nos deixou. Com amor e luz, mamãe.

Scully guarda o bilhete no bolso. Coloca a corrente no pescoço. Segura a cruz, de olhos fechados. Respira fundo. Abre os olhos. Olha pra Mulder.

SCULLY: - ... Mulder, queria que visse o oceano que nos separa. Gostaria de por um momento entrar em seus sonhos e te conduzir de volta ao cais... Mas você parece não ver a luz que eu mando pra você, do alto do farol chamado esperança. Porque você trocou seu barco por um submarino...

Scully suspira. Olha pra ele, ternamente.

SCULLY: - Sabe onde estou, Mulder. Tente tocar-me. Não posso ir até você, mas você pode vir até mim... Eu... eu pouco me importo com o quê está acontecendo lá fora. Eu quero você vivo. O que tivemos foi tão bom que eu quero ter mais. Mais de você. Mais de nós dois. Só você pode curar a minha ferida, Mulder. E eu quero ajudar você a cicatrizar as chagas dessa verdade... Eu amo você. Que sempre foi diferente. Que sempre será o Mulder. Não faz diferença alguma pra mim o quê você é. E eu faria tudo de novo pra ficar com você. Só erraria menos. Porque aprendi contigo a ver as coisas através do coração...

Scully pega o livro. Abre-o. Olha pra Mulder. Coloca sua mão sobre a cama, ao lado da mão dele, enquanto com a outra, segura o livro. Começa a ler.

SCULLY: - ... Nemo havia sido colocado num divã em frente à abertura de observação de estibordo. A tripulação reunia-se à sua volta. Aronnax, Conseil e Ned adiantaram-se. – Imediato – disse Nemo – vamos fazer o Nautilus submergir pela última vez. – Nós compreendemos, senhor – respondeu o imediato. Ned avançou, protestando. – O senhor não nos pode levar consigo! Dois tripulantes agarraram-no e o puxaram-no para trás. – Estou morrendo e o Nautilus morrerá comigo – continuou Nemo. – leve-os, imediato...

Scully continua lendo. Mulder mexe a cabeça, mas ela não percebe.

SCULLY: - O imediato procurou o braço do professor, mas Aronnax esquivou-se dando um passo para o lado. – Espere! – disse. Então virou-se para Nemo. – Capitão, por favor, escute-me. O senhor não pode fazer isto! Este submarino é um sonho do futuro. O senhor fez com que ele se tornasse realidade. Não o destrua! – Se eu não o destruir, os navios de guerra o destruirão – respondeu Nemo calmamente. – E não se desespere, professor. Há uma esperança para o futuro. Quando o mundo estiver pronto para uma vida nova e melhor, tudo isto virá a acontecer... – Sua voz desceu a um murmúrio: Tudo, no bom tempo do Senhor... – Deixou a cabeça cair sobre o divã e ficou olhando as bolhas que flutuavam por trás da abertura de observação. Depois, seu braço caiu para o lado.

Close da mão dela sobre a cama. Mulder deixa seu braço cair para o lado e coloca sua mão sobre a mão dela. Scully tira os olhos do livro e olha pra ele, segurando as lágrimas. Mulder olha pra ela, num sorriso cansado.

MULDER: - ... (MURMURA/ FRACO/ SEM PRONUNCIAR NADA DIREITO) Agora é... o último... capí...pítulo do livro... ‘Espe...erança para ... o futuro.’... Scully... me... me ajuda a... esque...quecer do meu sub...ma...marino.

Ela sorri, derrubando lágrimas. Aperta a mão dele com força. Larga o livro e abraça-se nele, chorando.


Base Aérea de Wright-Patterson – 9:34 P.M.

Hangar 18

O Canceroso sai do laboratório. Caminha pra fora do hangar, tirando um dispositivo de detonação do bolso. Afasta-se. Já longe, sem virar pra trás, aperta o dispositivo e o hangar explode. O Canceroso entra num helicóptero. Garganta Profunda olha pra ele.

CANCEROSO: - Acabou. Não existirão mais provas do que fizemos.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Sou um homem morto.

O Canceroso tira um tubo de vidro do bolso.

CANCEROSO: - São as células de Mulder. Sabe onde guardá-las e pra quem entregá-las. Se algo acontecer comigo, faça-o. Se não, eu o farei.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Não resta mais tempo.

GARGANTA PROFUNDA: - Vão descobrir que você sabotou a operação. Que matou todos os fetos. Que destruiu todo o laboratório.

CANCEROSO: - Mas não terão a vacina.

GARGANTA PROFUNDA: - Krycek conseguiu outro feto alienígena... Não pretendo colocar meu pescoço nessa aposta, mas eu creio que sei como conseguiu isto.

CANCEROSO: - (CANSADO)

GARGANTA PROFUNDA: - Entregou o feto que lhe demos aos alienígenas. Agora, eles têm o DNA mutado de Mulder. Quando descobrirmos a vacina, os alienígenas já terão descoberto uma peste maior. Fracassamos. (NERVOSO) Fracassamos de novo.

O Canceroso acende um cigarro. Traga-o profundamente.

CANCEROSO: - Acha que entreguei à ele uma criança de Mulder?

GARGANTA PROFUNDA: - (ASSUSTADO) Mas como? Como ele não descobriu que os genes não eram de Mulder? Ele não seria tolo para não examinar o feto! Se descobriu, ele virá atrás da criança e... Eu nem quero pensar. O que nós dois planejamos, não terá adiantado nada.

CANCEROSO: - O idiota não sabe que tem nas mãos um clone de Mulder. Não o filho dele. Um clone mutado, sem ativação das partes cerebrais.

GARGANTA PROFUNDA: - (SORRI) Você me surpreende. Como consegue calcular tudo, sem nunca errar?

CANCEROSO: - Talvez eu tenha ‘genes’ bem matemáticos.

GARGANTA PROFUNDA: - ... E o que vai fazer agora? Tem pra onde fugir?

CANCEROSO: - Vou pra casa. Servirei um bom vinho e esperarei o tiro de misericórdia atravessar a janela.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Vá embora. Você é um homem morto.

GARGANTA PROFUNDA: - Não tão morto quanto era.

CANCEROSO: - Mas ainda assim pode viver como um morto.

GARGANTA PROFUNDA: - E você?

CANCEROSO: - Não quero viver como um morto.

GARGANTA PROFUNDA: - E quanto ao Mulder?

CANCEROSO: - Ele vai sobreviver. As atividades dele estão sendo investigadas. Eu o desafiei e Mulder não resiste a desafios. Ele fica impelido a dar a última cartada. Ele vai viver nem que seja por vingança.

GARGANTA PROFUNDA: - Acho que vou voltar pro mundo dos mortos.

CANCEROSO: - Mas pelo menos o mundo sabe de você.

GARGANTA PROFUNDA: - Acha que isso me deixa feliz? Pensam em mim como um herói, e na verdade, eu só fiz o que me mandaram. O que foi conveniente.

CANCEROSO: - Considere-se feliz: Você entregou o pescoço de Nixon para o repórter do Post. E eu matei Kennedy. Formamos uma boa dupla.

O Canceroso começa a tossir, cansado.


Apartamento de Mulder – 9:46 P.M.

Scully abre a porta. Mulder entra, segurando-se nela. Cabeça enfaixada.

MULDER: - ... Po... poderia ter me lev... vado pra sua ca...asa.

SCULLY: - (RECEOSA) ...Minha casa está bagunçada, Mulder. Deixei as janelas abertas e o vento quebrou muitas coisas...

Mulder está abatido. Scully fecha a porta. O ajuda a sentar-se no sofá. Mulder olha pra ela. Começa a chorar.

MULDER: - Foi mi...minha culpa.

SCULLY: - Não há culpas, Mulder...

MULDER: - E-eu... Scu...lly, não me... me odeie...

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - E-eu... eu te amo. Só...qui-quis pro...prote...ger você... o nosso bebê, eu...

Scully ajoelha-se na frente de Mulder e o abraça. Ele continua chorando. Scully olha pra ele, derrubando lágrimas, segurando o rosto dele com as mãos. Olham-se nos olhos.

MULDER: - Qui-quis... evitar... que você ca..ísse. Ma-as... quem caiu... fui eu.

SCULLY: - Mulder, eu te amo, eu jamais odiaria você. Tenho orgulho de você pelas coisas que fez, por tudo que tentou evitar, pelo sofrimento que passou calado, desde o início, tentando me poupar. Mulder, eu fui tão mesquinha com você. Precisei te ver... (SEGURA O CHORO) morrendo, naquela cama, pra entender o quanto eu significo pra você... que eu sou tudo o que você tem e que não tinha consciência disso. Nunca retribuí à altura.

MULDER: - Na...não... eu so-sou feliz... você...me faz...feliz... Po-por isso... Ti..tive medo... de que você... me cul...passe. Eu... não pode...ria viver... sem você.

SCULLY: - Eu percebi que se você morresse, eu... eu morreria junto...

Scully levanta-se, secando as lágrimas. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Vo...cê... fi...fica linda... de ca...belos... longos...

Ela sorri.

SCULLY: - E você fica uma graça carequinha.

Ele dá um sorriso cansado.

SCULLY: - Vou arrumar a cama pra você. Precisa descansar um pouquinho.

Scully vai pro quarto, secando as lágrimas com as mãos, tentando ser forte. Mulder observa a sala. Levanta-se com dificuldades. Caminha até o quarto, apoiando-se nas paredes e nos móveis.

Corta para o quarto. Scully, rapidamente, começa a jogar algumas roupas de bebê e brinquedos dentro de uma sacola, pra não causar nenhuma lembrança nele. Mas ergue a cabeça e vê Mulder a observá-la, escorado na porta do quarto. Scully fecha os olhos. Mulder começa a chorar. Escorrega o corpo pelo marco da porta, caindo no chão. Põe as mãos no rosto, chorando como criança. Scully vai até ele e ajoelha-se, o abraçando. Os dois choram juntos, sem dizer uma palavra. Mulder a empurra, levanta-se com raiva e ódio nos olhos. Vai pra sala, tropeçando, mal conseguindo ficar em pé. Scully vai atrás dele. Mulder começa a quebrar tudo, num desespero, gritando. Scully escora-se com a testa contra a parede, chorando ao ver o desespero dele. Mulder atira tudo que encontra pela frente contra as paredes, tomado de ódio. Ela não fala nada, chora calada. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Mi... minha a...arma. Onde está a... minha arma?

Ela aponta pra escrivaninha, sem olhar pra ele. Mulder pega a arma da gaveta e coloca um cartucho, com dificuldades. Scully continua chorando. Mulder passa por ela e abre a porta. Pára. Vira-se.

MULDER: - ... Scully... vo...você vem?

SCULLY: - Onde vai, Mulder?

MULDER: - Tra... trabalho. Tenho... um filho pra en...encontrar. Pre... preciso sal... salvá-lo.

SCULLY: - Mulder... Não há mais Arquivos X.

MULDER: - (OLHA-A, INCRÉDULO)

SCULLY: - Somos objeto de investigação dentro do FBI. Acabou, Mulder. Este é o fim. Você encontrou a sua verdade, eu encontrei a minha verdade, mas a verdade maior continua lá fora, longe de nossos olhos.

MULDER: - (CHOCADO) ...

SCULLY: - Nós... (EMOCIONADA, CONTENDO LÁGRIMAS) Nós dois, Mulder, perdemos. E perderemos sempre. Não há vitória em nosso destino.

Mulder segura-se na porta, está muito fraco. Scully segura-o. Os dois se abraçam, chorando.

SCULLY: - Acabou, Mulder... Os Arquivos X, a verdade... Só restaram os nossos cacos. E precisamos juntá-los e colá-los. A única coisa que não acabou foi o que sentimos um pelo outro. Porque isto é verdadeiro pra nós dois. É uma verdade em comum...

Os dois ficam abraçados um no outro. Scully, recostada no peito dele.

MULDER: - ... Vo-vou a...achar nosso fi...filho. A... mi...minha sina é vi...ver numa e...eterna bu...busca.

SCULLY: - Mulder, nossa sina. Porque eu vou até o inferno por isso. Com ou sem Arquivos X. Eu quero esta nova verdade que me foi tirada. E se descobrir a verdade dói, que assim seja. Eu quero a verdade.

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu quero acreditar, Mulder. Acreditar na bondade humana. Num mundo melhor. E não se preocupe. Nunca mais tocaremos no assunto.

MULDER: - ...

SCULLY: - Juro que nunca mais mencionarei o desejo de ter um filho. Porque eu não quero mais. Talvez algum dia possamos adotar uma criança. Porque eu vou continuar buscando nosso filho, mesmo que algo dentro de mim diga que ele nunca mais voltará.

MULDER: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS)

SCULLY: - Se Deus assim o quer, assim será. Mas isto não me impedirá de tentar encontrá-lo. E, Mulder, por favor... Nunca mais toque nesse assunto.

MULDER: - ... Nun...ca mais.

SCULLY: - Este será nosso segredo. Se algum dia adotarmos uma criança, nunca, Mulder, mas nunca mencione nada sobre isto.

MULDER: - E-eu... não que...ro que es...ssa bu...busca fique pra... no...nossos fi...filhos... A... a sina ter...termina em nós, Scu...lly. Este é o ...fim. Ma...s não a ú..nica... ver...dade.

Os dois ficam derrubando lágrimas, agarrados um no outro.


2:21 A.M.

[Música pra bebê dormir.]

O Canceroso dirige o carro. Não está fumando. Olha pelo retrovisor.

CANCEROSO: - Muitas vezes as coisas saem conforme o planejado. Confesso que as burrices de Mulder acabaram atrapalhando tudo. Mas felizmente, eu consegui resolver o problema. A razão pode ajudar um homem, embora, confesso que, muitas vezes, foram os sentimentos que me fizeram embrutecer e seguir adiante com esse plano. Pouco me importando quem teria de colocar sua cabeça nesta história.

O Canceroso olha pro banco ao lado. Continua dirigindo.

CANCEROSO: - É bem verdade que se não fosse a ajuda de um amigo, eu não teria conseguido. Ele é a única pessoa em quem poderia confiar. O lado humano dele me surpreende. Eu não conseguiria fazer as coisas que ele fez. Eu estava envolvido demais pra fazer isso. E olha que muitas vezes fiz coisas piores, bem piores. Até mesmo contra Mulder... Mas um dia, eu contarei pra você como eu consegui proteger meu filho das barbáries que fariam com ele. Isso é coisa pra outro dia.

O Canceroso suspira.

CANCEROSO: - Um homem tem de fazer sacrifícios algumas vezes. Ações que sempre deixam uma dúvida. Um homem sábio tem que deixar sempre alguma coisa em aberto. Ouvir mais e falar menos. Esta é a tática na qual eu consegui ser quem sou hoje. Fazer o que preciso fazer... O que faço hoje é por você. Por seu pai. Por sua mãe. Mas eles não entenderiam.

Corta para o banco do carona. Há um bebê, vestindo o casaquinho amarelo que Meg fizera e com o crucifixo de Scully no pescoço. Enroladinho no meio de um xale, de olhinhos fechados e fazendo beicinho. Com as mãos fechadas. Tem alguns fios de cabelo escuro. O Canceroso olha pra ele com um sorriso.

CANCEROSO: - Você é mão fechada como seu pai. Mas tem o beiço da sua mãe. E a sorte de uma raposa. E tem seu avô por perto, que não é tolo pra se deixar enganar por homens matreiros que matariam você por causa de uma estúpida vacina. Necessária, mas que pode ser conseguida de outras formas. Precisei entregar seu pai para que eles obtivessem células dele e criassem a vacina, outros clones, qualquer coisa que garantisse que você não seria o alvo da experiência. Para que desviassem as atenções de você. Não confio em ninguém. Sabia que seu pai sobreviveria. Ele é a matriz. Você não. Quando percebi o quanto sua mãe era importante pra seu pai, eu achei que devia você à eles. Mas acabei criando mais confusão e isto resultou num jogo de nervos. Fui exposto, precisei inventar mais mentiras. Nada disso teria acontecido se Krycek não soubesse que eu era pai de Mulder... Você nasceria normalmente, ninguém o perturbaria... Mas ser filho de Mulder é a maior ameaça que você poderia ser pra eles.

O Canceroso respira aliviado.

CANCEROSO: - Tenho dó de afastar você deles, eu sei o que é não poder tocar num filho. Sei bem a mágoa que carrego dentro de mim, pelas poucas vezes que tive seu pai nos meus braços. Mas esta é nossa sina. A sina que espero que você consiga evitar. Se eu deixar você com eles, o Sindicato descobrirá, Krycek descobrirá e pegarão você. E farão coisas com você que poderiam matá-lo. Muitas mentiras às vezes salvam. Sinto que seja assim. Mas preciso que seja assim. O que fiz foi pra te salvar.

O bebê dorme profundamente, tranquilo.

CANCEROSO: - Vou cuidar de você à distância. Não posso arriscar que saibam que está comigo. E que está bem.

O Canceroso pára o carro em frente à um orfanato.

CANCEROSO: - Terá tudo o que quiser. Não deixarei que nada te falte. Preciso que entenda que o melhor é deixar você de fora. Poderia entregar você nas mãos de alguém, mas eu não confiaria você pra ninguém. Quanto mais afastado, quanto mais fora do vínculo, melhor pra você. Não quero que liguem você a mim ou a seus pais. Isso será mortal pra você. Precisa de uma família que nada tenha a ver conosco. Será feliz, eu sei. Com o tempo, assim que tudo se acalmar, a verdade será revelada e você terá seus pais de volta. Mas agora, criança, o melhor pra você é ficar longe de encrencas. O pior está por vir.

O Canceroso o pega nos braços.

CANCEROSO: - Dói o que tenho de fazer. Mas que eu o faça. Seu pai nunca faria isso. Ele não conseguiria. E isso iria te arriscar, por isso não posso contar nada a seu pai. Se ele me odiar pra sempre, que assim seja. Não me importo com o que ele pense de mim. Você está seguro. Isso é o que importa.

O Canceroso beija o bebê. Coloca-o no cesto novamente. Desce do carro, segurando o cesto. Caminha até a porta do orfanato. Larga o cesto sobre o tapete. Olha pro neto.

CANCEROSO: - Verei você mais vezes.

O Canceroso bate na porta e esconde-se atrás de algumas folhagens. Uma freira bem velhinha abre a porta. Vê o bebê.

FREIRA: - Ah, Deus! Pobrezinho!

A freira o pega. Olha pra todos os lados.

FREIRA: - Quem teria a coragem de abandonar um pequeno tão lindo como você? Que mãe mais cruel!

Uma mulher aproxima-se.

FREIRA: - Veja o que deixaram numa cesta, na nossa porta.

MULHER: - Oh, Deus, que gracinha!

FREIRA: - E é católico. Veja a correntinha.

A mulher revira a cesta procurando por alguma pista.

MULHER: - Nada, nenhum bilhete. Nem nome o pobrezinho tem.

FREIRA: - É um menininho. E a experiência me diz que menininhos que chegam em cestas serão grandes profetas que conduzirão o povo em busca da Terra Prometida. E profetas sempre serão simples, pobres e puros de coração.

MULHER: - ...

FREIRA: - Vamos chamá-lo de Moisés. Acho que Moisés é um grande sobrevivente do caos, não é?

MULHER: - Bem, Moisés abandonou uma vida de luxo para seguir junto ao povo em busca da Terra Prometida... Será que temos um Moisés por aqui?

As duas entram. Fecham a porta. O Canceroso sai de trás das folhagens e caminha até o carro. Acende um cigarro.


Duas semanas depois...

Mulder e Scully, de mãos dadas, observam o pôr do sol no mar, do alto de uma planície. O carro está parado perto deles. Os dois, em silêncio, olham pro horizonte.

Close: Mulder aperta a mão dela com mais força.

Os dois olham um pro outro.

MULDER: - Pode ser que amanhã não mais vejamos o sol. Nem mesmo o mar. Talvez o mundo realmente acabe. E será pela própria mão do homem. Talvez nenhuma luz restará amanhã. Mas ainda assim, eu terei você. Terei a sua luz.

SCULLY: - ...

MULDER: - A verdade, Scully. Você tem razão quando diz que há muitas verdades. Eu vi a verdade que buscava. Acabou, isto foi o final de tudo. Mas há uma verdade que eu vou buscar, pelo resto da minha vida: O nosso filho. Porque ele é filho da nossa verdade, a mais bonita e desvelada de todas.

Os dois trocam um beijo. Ficam abraçados.

Panorâmica do local.

Fade out.

THE TIME IS CLOSURE ...


X

24/06/2000

6 de Agosto de 2019 a las 18:30 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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