lara-one Lara One

Uma famosa escritora de novelas afirma servir como médium entre dois mundos. Mas ela vê alguma coisa ou é apenas fruto de sua ‘Imaginação’? Os bastidores da tumultuada vida em Hollywood. Mais uma vez, nossos agentes vão aguentar todo esse suplício? Scully tem um ataque de ciúmes jamais visto!


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S03#18 - TRANSCOMUNICAÇÃO

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Apartamento de Laura Talbot – Los Angeles – 1:11 A.M.

Laura, na frente do computador, digita um roteiro.

LAURA: - ... Quanto às equações do enigma da existência. Você saberia mais tarde, Imaginação, o quanto é importante na minha vida e o pouco que me pede. A loucura e a razão me fogem completamente neste instante. Acho que vou parar com a terapia. A terapia vai me trazer lucidez, e nesse momento, tudo o que menos quero é ter lucidez. Se eu acreditar que você é apenas fruto da minha imaginação, você pode se afastar de mim e eu sei que vou sofrer.

Laura pára. Olha pra trás.

LAURA: - O que disse? ... Será que devo mesmo fazer uma auto-biografia? Não é melhor que eu transfira pra personagem coisas menos reais? Quem sabe se você aparecesse de verdade, se você se materializasse na vida dela?

Geral da sala. Não há ninguém com Laura. Ela fala sozinha.

LAURA: -... Tá eu sei, mas... Puxa, já chega a nossa situação e você sugere que eu deixe a pobre sofrer lá, o tanto quanto eu sofro aqui? Acho melhor que você se materialize na novela, pelo menos poderá existir em algum lugar. Em algum lugar poderemos nos encontrar, já que a vida não quer deixar que existamos num mesmo plano.

Laura suspira. Fecha os olhos. Close no monitor do computador. Vê-se o reflexo de um homem, passar rapidamente. Laura abre os olhos e começa a digitar. Corta para o sofá. Há um homem sentado, de aparência translúcida, observando-a, com um sorriso no rosto. Tem cabelos longos e pretos, muito alto e bonito. Laura não o vê. Ele fala com ela, sem mover os lábios.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Laura, você poderia fazer com que ela contasse às amigas, e que essas a internassem por pensar que está louca.

LAURA: - Boa ideia. Acho que seria uma ótima cena de humor. Ela tentaria fugir. Do jeito que é maluca, aprontaria mil confusões.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Se lembra quando você escreveu uma cena igual a do filme A Dama de Vermelho, onde Rafael ficava apaixonado por ela? ... Rafael vai procurá-la e ela pensa que ele é a Imaginação materializada dela. E ele não diz nada. Ele já a ama há muito tempo. Se for assim que ela o deseja, assim ele fará pra tê-la. Um dia, ela descobre a verdade.

LAURA: - Mas ela vai odiar ele!

Imaginação levanta-se. Caminha até ela. Massageia seus ombros. Laura fecha os olhos. Suspira, sentindo-o.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Vai nada, Laura. Ela vai ficar furiosa, mas verá que ele é aquilo que esperava, que ele é a imaginação dela. Pelo menos dê essa chance aos dois. Deixa que eles sejam felizes, já que nós não podemos.

LAURA: - E como vou explicar cientificamente que ela já falava com ele, antes de o conhecer?

IMAGINAÇÃO (OFF): - Laura, nem tudo tem explicação. Sabe bem disso...

Geral da sala. Laura está sozinha.

VINHETA DE ABERTURA


BLOCO 1:

Arquivos X – 3:21 P.M.

Mulder lê uma revista, sentado no chão. Scully caminha, com as mãos nos quadris, curvando-se pra trás, ajeitando a coluna. Mulder olha pra ela.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Dor nas costas.

MULDER: - Por que não senta?

SCULLY: - Dói as pernas.

MULDER: - Alguma coisa não está doendo?

SCULLY: - Sim. Meus cabelos...

Scully senta-se na cadeira de Mulder. Recosta-se.

SCULLY: - Seu filho tá pesado, Mulder. Ou são dois.

MULDER: - Ainda acho que devia estar descansando no QG dos Pistoleiros.

SCULLY: - Hum, não. Eu quero trabalhar.

MULDER: - Trabalhar? Isso aqui está parado, não temos nada pra fazer. Daqui à pouco vou tirar a roupa e dançar em cima da mesa pra passar o tempo.

SCULLY: - Hum, ideia interessante. Gostei.

O telefone toca. Scully atende.

SCULLY: - Agente Scully... Um momento.

Scully tapa o fone.

SCULLY: - Pra você. É mulher.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não vai perguntar quem é?

SCULLY: - Confio em você. Sou ‘folgada’, não sou?

Mulder levanta-se rindo. Atende.

MULDER: - Mulder... Sim... (SÉRIO) Quem? ... Ahn... Não, eu não recebi nenhum fax...

Mulder faz sinal pra Scully. Scully lhe entrega uma caneta.

MULDER: - Sei... Olha, senhorita Talbot, eu vou verificar e depois conversamos... Por favor, pode me dar o número do seu telefone?...... Seis?... Certo. Ligarei com certeza.

Mulder desliga. Olhar de desconfiado.

SCULLY: - O que foi? Algum cobrador de dívidas?

MULDER: - Vou verificar se chegou um fax. Temos um Arquivo X.

SCULLY: - Hum... Trabalho, oba!

MULDER: - Envolve espíritos.

SCULLY: - ... (DESANIMADA)

MULDER: - Quer ir?

SCULLY: - Bem, afinal tenho um ‘homem’ pra me proteger, por que deveria temer algo?

MULDER: - Senti uma ironia nesse ‘homem’?

SCULLY: - Hum, não. Foi apenas um comentário sem implicação de deboche.

MULDER: - Fique sentadinha e quietinha aí que eu já volto.

Mulder sai. Scully suspira.

SCULLY: - E por acaso ele acha que eu vou sair daqui, nesse estado, correndo e pulando feito uma louca?


Apartamento de Laura Talbot – Los Angeles - 1:59 A.M.

Mulder aperta o interfone. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Mulder, tem certeza? São quase duas da manhã, pessoas normais já estão dormindo e...

LAURA (OFF): - Sim?

MULDER: - Agentes Mulder e Scully, FBI.

LAURA (OFF): - Ah, sim, entrem.

A porta abre-se. Mulder olha pra Scully, debochado.

MULDER: - Pessoas normais. Não escritores.

Scully debocha da cara dele fazendo careta.

MULDER: - Laura Talbot, 32 anos, escritora de novelas.

SCULLY: - Alguma que eu já assisti?

MULDER: - Acredito que sua mãe entenda melhor do assunto.

Os dois entram no elevador. Mulder aperta o botão.

SCULLY: - E o que há de fantasmagórico na profissão dela?

MULDER: - Exceto o fato de escrever novelas?

SCULLY: - Mulder, por favor! Novelas podem ser interessantes.

MULDER: - Scully, tenha piedade. Não espere nosso filho nascer pra me dizer que você adora sentar na frente da TV e torcer pros mocinhos ficarem juntos, enquanto debulha lágrimas no sofá.

SCULLY: - O que quer, Mulder? Nossa vida já é uma novela. Estamos numa boa, algo nos afasta. É sempre assim, quer novela pior?

MULDER: - Acha que teremos um final emocionante?

A porta do elevador abre-se.

SCULLY: - Bem, dizem que no final ‘eles viveram felizes para sempre’.

MULDER: - ... Entediante. Ninguém vive feliz pra sempre, Scully. Isso é utopia! Que saco ser feliz pra sempre. E os conflitos? E aquelas situações que apimentam a rotina, que temperam o comum, que balançam o cotidiano? Aí reside a emoção, o suspense e a aventura.

Os dois caminham em direção ao apartamento.

SCULLY: - Mulder, as pessoas almejam a felicidade. Elas querem ver na tela o que lhes falta na vida. Elas espelham-se nas personagens, identificam-se com seus dramas, com sua experiência... Elas querem ver o que não têm. O que não tem coragem de fazer, o que lhes é proibido...

Mulder bate à porta.

SCULLY: - Por isso identificam-se, apegam-se... Elas vivem nesse mundo de ilusão porque ele é melhor.

Laura abre a porta. Sorri. Mulder olha pra ela, sério. Puxa a credencial.

MULDER: - Sou Fox Mulder e esta é minha esposa Dana Scully.

Scully olha pra Mulder, sem entender o motivo dele a apresentar como esposa. Laura tira o sorriso do rosto.

LAURA: - Entrem por favor.

SCULLY: - Desculpe incomodá-la numa hora dessas...

LAURA: - Oh, não. Estou trabalhando. Se chegassem aqui antes do meio dia me pegariam dormindo. E eu fico furiosa quando me acordam.

Mulder entra, olhando pra Laura. Os dois ficam se olhando. Laura desvia o olhar. O apartamento é enorme, com janelas panorâmicas. Há um computador perto da janela, ligado. Pilhas de livros ao lado da escrivaninha. Garrafa de café, cigarros. Scully entra no apartamento. Imaginação está escorado na parede e olha pra ela. Scully pára e olha pra parede sem ver nada. Fecha os olhos. Põe a mão sobre a barriga, como se percebesse algo.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - ... Não sei. Me sinto estranha... Estou bem, Mulder, não é nada.

LAURA: - Precisa de alguma coisa?

SCULLY: - Não, estou bem. Me desculpe.

LAURA: - Sentem-se, por favor. Querem algo pra beber?

MULDER: - Não, obrigado. Poderia nos contar em detalhes o que está acontecendo? Não foi muito clara no fax. Disse ter problemas com espíritos e que isso estava afetando seu trabalho... E devo dizer, senhorita Talbot, que nosso dever é investigar crimes, o que não parece ter ocorrido por aqui. Portanto, se for um caso de loucura, acho melhor procurar um médico.

Scully olha pra Mulder com surpresa.

LAURA: - Ainda não ocorreram fatos graves, mas eu sei que eles acontecerão.

Scully e Mulder sentam-se. Laura senta-se numa poltrona. Está nervosa. Scully fica olhando pra parede intrigada.

LAURA: - Começou há alguns meses. No início eu pensava que eram coincidências. Até que todos no estúdio começaram a ficar preocupados. Primeiro foi uma personagem que caía de uma escada. A atriz realmente caiu. Depois foi um incêndio no escritório do vilão. Houve um incêndio no set de filmagens e este ocorreu justamente no cenário desse escritório.

SCULLY: - Está nos dizendo que tudo o que você escreve acontece realmente?

LAURA: - Estou dizendo que tenho medo disso.

SCULLY: - Acha que algum fanático pode estar lendo os roteiros e cometendo os crimes?

LAURA: - Não. Acho que são premonições.

MULDER: - (RINDO) Premonições?

LAURA: - (SÉRIA/ NERVOSA) Sim. Não é de agora... Olha, chamei vocês porque sei que são os únicos que podem me ajudar, porque vão ouvir o que estou dizendo.

SCULLY: - Me desculpe pelo Mulder, ele não costuma ser assim. Pode nos dizer o que está acontecendo?

LAURA: - Agente Scully, não sei se você é escritora. Mas quando um escritor trabalha, é como se desse vida a personagens, pessoas que não existem. Comigo não acontece isso. Eu acho que elas preexistem em algum lugar, porque tomam vida. É como se eu fosse uma ponte entre duas dimensões, entende?

MULDER: - Acha que algum espírito encorpora em você enquanto escreve?

LAURA: - Não tenho provas disso, agente Mulder. Mas algumas vezes eu mesma leio o que escrevi e não me lembro de ter escrito aquilo...

SCULLY: - Vive sozinha aqui, senhorita Talbot?

LAURA: - Pode me chamar de Laura... Bem... (DÚVIDA) Eu vivo com meu namorado. (E OLHA PRA MULDER) Ele trabalha na novela. É o personagem principal.

SCULLY: - E seu namorado teria algum motivo pra acessar seus arquivos e modificar textos?

LAURA: - Não, agente Scully, não está entendendo. Eu escrevo, entro num transe e de repente olho pra tela e não lembro daquilo.

SCULLY: - Usa drogas?

LAURA: - Não. A não ser que chame nicotina e cafeína de drogas, eu não tomo alucinógenos, nem calmantes.

MULDER: - Isso acontece há muito tempo?

LAURA: - Desde que comecei a escrever. Mas nunca em proporções assim. Antes era como se fossem mensagens. Agora, me parecem avisos.

MULDER: - E o que está escrevendo neste momento?

LAURA: - Um acidente onde o personagem principal fica paraplégico.

MULDER: - ...

LAURA: - Entende agora o meu medo? Tenho um argumento para seguir, não posso modificar os roteiros. A coisa não funciona assim. A emissora vai cair em cima, tenho um contrato e um argumento vendido e não posso fugir disso. Entendem o meu problema?


Motel Hollywood – 3:29 A.M.

Mulder e Scully deitados na cama. Apenas a luz do abajur acesa.

SCULLY: - Mulder, acreditou nessa história?

MULDER: - ... Embora possa parecer que ela esteja tentando justificar o que ainda não aconteceu como se fosse um álibi...

SCULLY: - Acha que ela planeja tudo e depois executa?

MULDER: - Poderia ser, Scully, mas não acho que isso se encaixe neste caso. Ela não faria isso. Mas duvido muito que esteja recebendo mensagens mediúnicas.

SCULLY: - Acredito nela.

Mulder olha pra Scully, surpreso.

SCULLY: - É, eu... Eu acho que existem coisas por aí que parecem estranhas, mas... eu não sei explicar, Mulder. Estou olhando com olhos de espectador e não de crítico.

MULDER: - Mesmo assim, Scully, acho melhor a gente conversar com o ‘galã da novela’ e com o pessoal envolvido.

SCULLY: - ...

MULDER: - (CURIOSO) Ô, Scully, desde quando assiste novelas?

SCULLY: - ... (ASSOVIA/ DISFARÇANDO)

MULDER: - Ahá! Encontrei o lado out de Dana Scully.

Scully aconchega-se nele. Mulder a abraça.

MULDER: - Isso é sempre ou é reação da gravidez?

SCULLY: - Hum... Digamos que não ter o que fazer tem me deixado muitas horas na frente da televisão.

MULDER: - Ah, então é passageiro... Quer dizer que não tem o que fazer à noite?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Pobrezinha!

Mulder começa a beijá-la.

SCULLY: - Hum... Saudade... Coisa boa ganhar carinho...

MULDER: - Quer ganhar uma boa massagem nos pés?

SCULLY: - Ah, Deus! Mulder, acho que vou desmaiar se você fizer isso.

Mulder engatinha até os pés dela. Tira o edredom e começa a massageá-los. Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Hum, isso é bom... ai, dói aí.

MULDER: - Pobrezinha da minha baixinha... (DEBOCHADO) Tá virada só em barriga.

SCULLY: - Vai debochando, vai. Não sabe como minhas pernas doem cada vez que caminho.

MULDER: - Nome? Já escolheu um nome?

SCULLY: - Você escolhe.

MULDER: - Sou péssimo pra nomes, Scully. Escolhe você.

SCULLY: - Toda a responsabilidade você empurra pra mim.

MULDER: - Olha, eu dou um sobrenome, monto o berço, pinto o quarto, carrego no colo, troco fraldas, penduro móbiles, acordo na madrugada, embalo pra dormir... Mas amamentar e dar um nome é com você.

SCULLY: - Bom, parece justo. Ai, Mulder... Dá pra massagear minhas pernas também? Isso é tão relaxante...


Apartamento de Laura Talbot – 4:21 A.M.

Laura escreve no computador. Pára. Vira-se para trás.

LAURA: - O quê?

Imaginação olha pra ela, mas ela não o vê.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Laura, você pode evitar isso. Mude a cena. Noah vai se machucar de verdade. Há espíritos ruins ao redor dele. Me dê ouvidos dessa vez.

LAURA: - ... Você é real? Penso às vezes que falo comigo mesma e que você é uma criação minha.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Não sou uma criação sua. Eu amo você mais do que qualquer coisa.

LAURA: - Você é um anjo? Você está morto?

IMAGINAÇÃO (OFF): - Nem eu sei o que sou, Laura. Só sei que venho aqui, preciso ver você. Quando não estou aqui, não lembro de mais nada, eu não sei pra onde vou. E-eu não consigo descansar, eu... Eu senti seu espírito quando passei por você e não quero ir pra longe daqui. Eu me sinto bem com você. Queria viver com você, tocar você, amar você...

LAURA: - Acho que estou com distúrbios mentais mesmo.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Não pense assim ou não vamos ficar em sintonia. Laura, eu só vou embora se disser que quer isso. E nem sei se vou mesmo. Estou preso à você. Queria estar na sua dimensão, Laura. Mas eu não estou e isso me entristece.

LAURA: - Amanhã é nosso aniversário, sabia?

IMAGINAÇÃO (OFF): - Acha que me esqueceria? Estamos juntos há 18 anos, Laura. E eu ainda te amo. Desde que éramos adolescentes. Só não quero atrapalhar sua vida, mas isto é mais forte do que eu. Sei que precisa viver com os vivos, precisa ter uma vida normal e me culpo por prender você.

LAURA: - Você não me prende. Eu te quero pra sempre. Você é o único amor que eu conheci de verdade. Porque está comigo pelo que sou. Isto não envolve sexo e não haveria como. Mas eu queria que você fosse real, que você estivesse comigo... Se eu morrer, será que poderemos ficar juntos?

IMAGINAÇÃO (OFF): - Não faça tolices, Laura. Eu já te disse. Precisamos superar nosso amor platônico e impossível. Eu aqui, você aí. Dói, mas não pode mudar o que o destino quis.


Set de gravações – Estúdio 28 – 9:29 A.M.

Mulder parado num canto, de braços cruzados. Entediado. Scully olhando os atores fazendo a cena e deixando lágrimas caírem. Os atores estão fazendo uma cena de adeus.

NOAH: - Ann, você não pode ir embora. Não me deixe, eu amo você!

PAMELA: - Eu preciso ir, Andy. Acabou. Acabou tudo o que tínhamos.

NOAH: - Ann, todas as coisas que Sarah Jessica disse à você foram fofocas. Sabe que ela quer nos separar. Sabe que ela me deseja... Não percebe que tudo é para nos afastar?

PAMELA: - Adeus, Andy!

Ele a segura pelo braço.

NOAH: - Não, Ann. Eu amo você. Nossos destinos já estavam cruzados no livro da vida! Não me abandone, por favor.

PAMELA: - Não posso, Andy. (CHORA) Não posso! (e põe a mão na testa)

Mulder vira o rosto e boceja. Scully continua chorando.

PAMELA: - Adeus! Nosso amor é algo impossível, Andy.

DIRETOR: - Corta! ... perfeito Noah, perfeito Pamela. Essa valeu.

Todos batem palmas. Mulder entediado, fazendo cara feia.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ainda bem que essa valeu porque se eu tivesse que ouvir isso pela sexta vez acho que cometeria suicídio.

O diretor aproxima-se.

CLARENCE: - Se quiserem fazer perguntas, aproveitem e façam. Intervalo de uma hora.

O diretor olha pra Mulder de cima a baixo. Mulder olha pra ele recuando, desconfiado, com cara de ‘tá me estranhando, é?’

CLARENCE: - Não está a fim de fazer o papel de um motorista? O cara não veio e...

MULDER: - Não. Por acaso eu tenho cara de ‘extra’? Isso é perseguição?

CLARENCE: - Você já fez alguma coisa em televisão?

MULDER: - Já. Ligo, desligo e troco de canal. Uma vez até tentei consertar uma, mas sobrou peças.

CLARENCE: - Se estiver interessado, posso conseguir algo pra você no cinema. Você tem pose de galã, sabia? Pode conseguir muitos papéis e muita grana.

Mulder olha pra Scully, dando um sorrisinho convencido. O diretor entrega um cartão pra Mulder.

CLARENCE: - Se você cansar de perseguir criminosos, procure esse cara, é um amigo meu. Ele tá desesperado pra lançar um sujeito novo na mídia. Ele precisa de um cara grande, alto e sexy como você. É uma boa maneira de começar a carreira. Você deveria fazer um book. Eu tenho olho clínico e conheço um talento só de olhar pra ele.

Mulder olha pro cartão.

CLARENCE: - (O OLHANDO DE CIMA A BAIXO) Se mudar de idéia, meu endereço tá aí atrás. Posso conseguir fama e dinheiro pra você... Nem vai precisar fazer ‘muito esforço’ pra conseguir... Liga pra mim, marcamos uma hora para conversarmos na minha casa.

O diretor pisca pra Mulder. Mulder fica incrédulo. Scully fica enlouquecida. Agarra-se no braço de Mulder e encara o diretor. O diretor afasta-se. Scully tenta puxar o cartão da mão de Mulder, mas ele não deixa. Ergue o braço pra cima. Dá um sorriso matreiro. Ela tenta pegar, mas não alcança. Ele fica brincando de avião com o cartão e ela enfurece.

SCULLY: - O que é isso? Mulder, eu quero ver!

MULDER: - Nada, Scully.

SCULLY: - (CURIOSA) Mulder, me dá isso aqui!

Mulder guarda o cartão no bolso.

MULDER: - Sai fora!

SCULLY: - Mulder!

Scully coloca a mão no bolso dele e pega o cartão a força. Faz uma fisionomia de incredulidade.

SCULLY: - Não acredito! Você ia guardar isso?

MULDER: - (PROVOCANDO) Sei lá. Posso precisar fazer um extra. Afinal temos um filho vindo por aí e...

SCULLY: - (INCRÉDULA/ ENCIUMADA) Numa produtora chamada Hot Sex? Mulder, eu te mato!

MULDER: - (DEBOCHADO) Calma, Scully. Filmes pornôs são ficção de mentirinha...

SCULLY: - Ah, eu imagino! Ficção de ‘metidinha’.

Scully rasga o cartão. Mulder vira o rosto e fica rindo.

SCULLY: - (INDIGNADA) Como você é engraçadinho, sabia?

MULDER: - (DEBOCHADO/ PROVOCANDO) Ah, eu sei. Todas dizem que sou engraçadinho. Ah, confessa, eu sou né? Sou uma gracinha, eu sei. Sou tão fofinho... Eu me olho no espelho e não resisto! Sinto tesão por mim mesmo, acredita?

SCULLY: - Idiota. Você não tá com essa bola toda não.

MULDER: - Mamãe passou açúcar em mim.

SCULLY: - (DOIDA DE CIÚMES) Pois eu juro que vou passar repelente em você se não se comportar. Vamos trabalhar, Mulder! E pare de olhar pra essas mulheres! Tudo é silicone e plástica!

MULDER: - (DEBOCHADO) Por isso estou olhando. Ficou perfeito, não acha? Nem dá pra notar. Serviço de profissional...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Não me provoque.


BLOCO 2:

Apartamento de Laura Talbot – 6:13 P.M.

Laura abre a porta. Mulder olha pra ela.

LAURA: - Entra aí.

MULDER: - ...

LAURA: - E a esposa?

MULDER: - Ela não sabe que estou aqui. E nem sabe de você.

LAURA: - (DEBOCHADA) Nem poderia.

Mulder entra. Ela fecha a porta. Os dois sentam-se, um de frente para o outro, olhando-se como quem se admira mutuamente. Um carinho especial.

LAURA: - Você chegou cortando, apresentando ela como esposa, como se morresse de medo que eu pulasse em você e dissesse que tudo era pretexto pra matar a saudade. Ainda é convencido?

MULDER: - Não, Laura. Não é isso. A Scully é muito ciumenta.

LAURA: - Com o seu passado?

MULDER: - Pra ela sempre tudo é presente.

LAURA: - Não se preocupe, não vou comentar nada. (SORRI) Fiquei feliz de ver que vão ter um filho. (SUSPIRA) Queria ser menos Ally McBeal e ter um.

MULDER: - As coisas não mudaram? Desde...

LAURA: - 1985?

MULDER: - Acho que a última vez que nos vimos foi em 87.

LAURA: - Puxa... Você não mudou muito. Quer dizer, está mais corpulento, o cabelo... Por que cortou o cabelo? Federais não podem ser associados ao Mick Jagger?

MULDER: - (RI) Você também não mudou. Continua louca? Atirando coisas pela janela, gritando em cemitérios e dançando no meio da rua?

LAURA: - Não. Agora grito e danço dentro de igrejas também.

MULDER: - (SÉRIO) ... Ainda fala com ele? Ainda acha que ele existe?

LAURA: - ...

MULDER: - Tentou suicídio de novo?

LAURA: - ... Tentei quatro vezes, depois que ... aquilo aconteceu entre a gente... Sempre os paramédicos chegam antes. Mas não se preocupe. Não foi por sua causa.

MULDER: - Sei que foi por causa ‘dele’. Acha que ele existe? Que se morrer vai encontrá-lo?

LAURA: - Quando o desespero bate e a solidão, não queira estar no meu lugar, Mulder. Você faria qualquer coisa pra ser amado de verdade.

MULDER: - Ainda não procurou ajuda?

LAURA: - Pra quê? Pra psicólogos como você me encherem de remédios e afastá-lo de vez da minha vida? Mulder, a presença dele é o único conforto que tenho. Se sou feliz, se cheguei até aqui, foi porque ele sempre esteve do meu lado, me ajudando, me dando força. Quando eu chorava, sentia o afago dele. Quando eu caía, as palavras certas vinham dele. Não, você não entenderia. Ninguém poderia entender... Só de pensar em perdê-lo eu enlouqueço!

MULDER: - E se ele te deixasse?

LAURA: - O dia que isso acontecer vai receber o convite para o meu enterro.

MULDER: - (PASMO) Ainda não adquiriu amor próprio em todos esses anos?

LAURA: - Tenho amor próprio. Suicídio é só para os corajosos. Implica ir pra algum lugar desconhecido que não um céu. Com toda a sorte de coisas. Os covardes vão pro céu.

MULDER: - (PERPLEXO) Eu não te entendo, sabia? Você sempre quis escrever, agora que tem a fama que queria, que realizou seu sonho, o que pensa da vida?

LAURA: - Já realizei meu sonho. Amo escrever. Mas se eu perder minha Imaginação, dane-se tudo! Já cumpri meu papel.

MULDER: - E o Noah? Se não o ama, por que está com ele?

LAURA: - Porque ele é real. Porque cometi a besteira de acreditar em médicos, que tudo isso que eu sentia pelo Imaginação era como um alter ego. Que ele não existia, que era o meu outro lado, que eu sou uma pessoa narcisista. Que eu precisava viver com os pés no chão. Mas isso foi a pior coisa que eu poderia ter feito. Não amo Noah. Quem amo, não está neste mundo.

MULDER: - ....

LAURA: - ... Noah só me explora. O problema de homens bonitos é esse: eles só querem usar você para atingir o sucesso. Ele escalou a fama nas minhas costas. Antes de trabalhar nas minhas novelas, ele era apenas o garoto do comercial de xampú.

MULDER: - ...

LAURA: - Se antes eu era Laura Talbot, agora eu sou conhecida por ‘a desgraçada que agarrou o galã Noah Matthew’. Eu nem agarrei ele. Ele veio se chegando, parecendo como um sonho, e eu aceitei que ele era a minha alma gêmea. Tudo mentira, Mulder. Ele só queria subir na carreira, apoiando-se na minha fama. Agora, me destrata como uma qualquer. Nas sextas-feiras é impossível ficar nesse apartamento. É só festa, gente fresca e tipos estranhos que você catalogaria como extraterrestres. Bacanais hollywoodianos, aparências, conveniências. Mulder, este não é o mundo que idealizei. Nunca poderia imaginar que ao chegar ao topo eu teria uma decepção.

MULDER: - Por que não se divorcia?

LAURA: - Não pedi divórcio pra não causar especulação na mídia. Tenho muito a perder. E não quero o Hardy Copy xeretando minha vida, espiando pela janela da cozinha se eu como torradas ou biscoitos no café da manhã. Se tenho tatuagens, qual minha marca de absorvente, meu desodorante preferido... Eu quero respirar! Eu sou humana! Já chega as situações constrangedoras em que Noah me coloca. Escândalos e mais escândalos. Ele sai por aí aprontando com fãs em carros conversíveis e depois eu fico como ‘a escritora chifruda’.

MULDER: - (OLHA PRA ELA COMPADECIDO)

LAURA: - (SORRI) Engraçado. Quando você assiste televisão e projeta-se neste mundo artístico, sempre pensa que as fofocas de revistas são mentiras criadas com o intuito de vender mais e mais revistas... Mas não o são, Mulder. Este é um mundo sem lei. Um mundo onde o dinheiro vale tudo. Casamentos por conveniência financeira ou arranjados para disfarçar seu homossexualismo. Cláusula de contrato, exigência da emissora... Ninguém pode ser como é, mostrar sua essência. Poucos o fazem. Não dá pra confiar em ninguém, sabe? As pessoas se aproximam de você pelo seu status, pelo que pode conseguir pra elas e não pelo que você é. O mundo do marketing pessoal. Você é o produto.

MULDER: - ...

LAURA: - O público olha pra mim com admiração. As pessoas me abordam na rua, pedem autógrafos, comentam sobre a novela. Isso me deixa muito feliz, sabe? Mas fico imaginando que elas não sabem quem eu sou. Me idolatram como uma deusa e não entendem que sou um ser humano como elas. Talvez mais infeliz que elas. E quando vejo as pessoas que me cercam, na minha profissão, bancando mitos, agindo como se o mundo só existisse porque elas existem, isso me enoja. Não gostaria de saber um terço da podridão que isto tudo envolve. Exploração do seu trabalho, atores com personalidades difíceis, noites sem dormir, capítulos atrasados... Atores que querem sair, diretores que se estressam, executivos que por causa de dinheiro acabam destruindo a sua criação e exigindo que a idéia deles vença. Modelos com corpo e carinha bonitas, que você é obrigado a dar um papel, mesmo sabendo que não tem talento e que está tirando o lugar de um artista de verdade. Mas por exigência de algum engravatado, você tem que dar o papel, porque é parente ou está transando com algum deles...

MULDER: - Deve ser uma situação desgastante. Toma remédios ainda ou mentiu?

LAURA: - O que é isso? Interrogatório? Faz parte de sua função como agente federal?

MULDER: - Não. Faz parte da minha função como amigo.

LAURA: - Amigo? Você sumiu!

MULDER: - (INCRÉDULO) Eu? Eu sumi? Eu estava lá em Washington, você é que desapareceu e agora me liga, dizendo que está em Los Angeles, é famosa, que tem dons mediúnicos, que está desesperada e precisando da minha ajuda!

LAURA: - Se não quer me ajudar, eu entendo. Talvez tenha ficado magoado com a minha atitude.

MULDER: - ... (BALANÇA A CABEÇA) Não adianta. Você é o tipo de louco que não tem cura.

Mulder levanta-se.

LAURA: - Como vai seu pai?

MULDER: - Morreu há alguns anos.

LAURA: - Puxa, sinto muito.

MULDER: - (SORRI) Encontrei minha irmã.

LAURA: - Sério?

MULDER: - Ela está bem. Bem melhor do que eu.

LAURA: - ... Algum problema que quer falar?

MULDER: - ... Não, nenhum.

LAURA: - Fico feliz em ver você com a... Scully, não é? Gostei dela e acho que combina com você. Pelo menos deixou aquela baranga da Phoebe. Te disse que não valia um tostão aquele diabo de mulher.

MULDER: - Nossa! Mas quanto adjetivo pra uma pessoa só... e que era sua amiga...

LAURA: - Amiga? Não considero minha amiga uma pessoa que fala mal de um amigo meu pra mim. Odiava quando ela falava mal de você. Mulder, seu problema foi sempre que se meteu com as mulheres erradas porque queria corpo e não cabeça. Acho que agora já se tocou disso. Gostei da Scully. Cuide dela. Ela é uma mulher comum. E mulheres comuns são as mulheres verdadeiras, Mulder.

MULDER: - ... Encontrei a Phoebe tempos depois... Aliás, ela me encontrou.

LAURA: - Ah, imagino a cena! Você cai de quatro pra ela pisar em cima. Como sempre.

MULDER: - ...

LAURA: - Meu querido, poderia ter ido pro banheiro com uma revistinha que seria mais emocionante!

Mulder começa a rir.

MULDER: - Laura, você não muda mesmo. Tenho uns amigos que adorariam ter você por perto. Acho que o Langly se apaixonaria.

LAURA: - Ele gosta de Ramones?

MULDER: - (RINDO) Tá brincando!

Os dois se olham com ternura.

LAURA: - (SUSPIRA) Vejo que está feliz. Que bom te ver feliz, sabia? Acho que nunca vi você feliz.

MULDER: - Bom te ver feliz também. Nunca te vi com os olhos brilhando, só quando chorava.

LAURA: - Ah, esqueça daquele tempo, Mulder... O mundo gira muito, eu fiquei tonta... Pena que sumimos um da vida do outro, não acha? Na verdade, agora eu sei que ainda poderíamos ser amigos. Bom, mas e daí? O telefone serve para encurtar distâncias e eu não saio de casa, você também não. Se precisar ligue. Se a Scully deixar. Se não deixar, entendo os motivos dela. Também sempre quis ficar perto de homens bonitos pra me sentir segura como mulher. E no final, agora que tenho um, gostaria de ser casada com um Danny de Vito.

MULDER: - ... Que tal se colocasse uma câmera de vídeo?

LAURA: - Acha que vai funcionar?

MULDER: - Tenta. Vamos ver se captamos algo.

Mulder abre a porta. Olha pra ela.

MULDER: - ... Sabe de uma coisa, Laura?

LAURA: - ...

MULDER: - Pensei muito em você quando a Scully começou a mexer com meu coração. Você me ensinou uma coisa que eu nunca vou esquecer. Porque o que tivemos me fez ser cauteloso e nunca mais cometer o mesmo erro... Isso serviu pra que hoje eu tenha a felicidade que achei que nunca teria.

LAURA: - O que eu te ensinei?

MULDER: - Que amar é construir. Que há etapas. E que quando as etapas são avançadas, muitas vezes nos fazem perder uma amizade por causa de uma besteira. Como perdi sua amizade.

LAURA: - Não perdeu minha amizade. Eu é que não compreendi.

MULDER: - Ambos não compreendemos, Laura. O medo foi maior.

Mulder sorri. A beija no rosto. Sai. Laura fecha a porta.

LAURA: - (SUSPIRA) Ô Mulder... (SORRI) Não sabe o quanto fico feliz em saber que você encontrou a pessoa certa, que está feliz por isso. Te desejo toda a felicidade do mundo! Porque se há alguém que a merece, este é você, amigo. Pelas tantas coisas más que passou, pelo muito que chorou... Acho que agora conseguiu sua recompensa.


1:39 A.M.

Laura está escrevendo. Noah entra na sala, irritado. Bate a porta.

NOAH: - FBI?

Laura pára. Vira-se na cadeira.

NOAH: - (INCRÉDULO/ FURIOSO) Você chamou o FBI?

LAURA: - Qual o problema?

NOAH: - Você está cada vez mais louca, sabia? O FBI tem mais a fazer do que dar ouvidos a uma maluca como você.

LAURA: - ...

NOAH: - Querem me fazer perguntas. Eu não vou responder nada. A única coisa que posso dizer é que você precisa de internação!

LAURA: - Noah, por favor...

Ele vai para o quarto. Ela vai atrás dele.

LAURA: - Noah, preciso da sua ajuda. Vai acontecer alguma coisa com você. Eu só quero te proteger...

NOAH: - (GRITA) Pára! Pára com isso! Eu não suporto mais essas suas neuroses!

LAURA: - ...

Noah se atira na cama. Laura abaixa a cabeça.

LAURA: - Eu... Está pronto para fazer a cena do jantar amanhã de manhã?

NOAH: - Não vou gravar amanhã.

LAURA: - (INCRÉDULA) Como não?

NOAH: - Amanhã vou ficar o dia todo na piscina. Sem fazer absolutamente nada.

LAURA: - Noah, você tem compromissos! Não podemos mais adiar a cena!

NOAH: - Eu não preciso de vocês. Vocês precisam de mim.

LAURA: - Noah, por favor! O Clarence me ameaçou dizendo que nunca mais dirigirá uma novela minha se você estiver no elenco! Você está atrapalhando o trabalho dos outros. Precisa ser responsável com as pessoas que trabalham com você.

Ele levanta-se furioso. Vai pra sala. Ela atrás dele como um cachorrinho.

NOAH: - Dane-se você e eles!

LAURA: - Mas Noah, não podemos mais atrasar esse capítulo! Você tem um contrato com a emissora, você tem responsabilidades com seu público!

NOAH: - Dane-se o público!

LAURA: - (INDIGNADA) Ah, é assim? Eu te dei a chance de ser alguém e você quer bancar o astro agora?

NOAH: - Se não está satisfeita, mate meu personagem.

LAURA: - Como vou matar o mocinho da história? Quer que o público jogue pedras em mim? Noah, por favor, estamos no final da novela. Estamos todos estressados. Aguente só mais alguns dias. Só mais duas semanas de gravação.

NOAH: - Querida, o problema é seu. Como eu disse, vocês precisam de mim. Eu não preciso de vocês.

Ele serve uma bebida e senta-se no sofá. Imaginação o observa. Laura está nervosa, andando de um lado pra outro.

LAURA: - Eu nunca deveria ter lhe dado um papel importante! Você não tem compromissos com ninguém! Noah, por favor, precisa entender que...

NOAH: - Que as pessoas me vêem como Andy Klink, o médico da novela das oito? Eu não quero mais ser médico de novela das oito! Onde eu ando as pessoas ficam me atacando, me chamando de Andy!

LAURA: - E isso te incomoda? Te incomoda ser reconhecido e amado por elas? Você topou isso quando resolveu ser ator! Agora aguente as consequências!

NOAH: - Eu sou mais do que isso. Se quer que continue nessa droga, vai ter de me aturar do jeito que eu sou!

LAURA: - Está estragando sua carreira! Ninguém da TV quer ter você no elenco de alguma produção por causa do seu convencimento! Vai perder contratos!

NOAH: - Não. O público me quer, o público me ama. Executivos querem dinheiro. Então vão ter de me aturar sempre, porque eu sou uma estrela. Eu trago fãs e dinheiro.

Laura fecha os olhos. Respira fundo.

LAURA: - Você está sendo ingrato comigo.

NOAH: - Acha que cheguei até aqui por causa das suas novelas? Não. Cheguei até aqui por causa do meu talento.

LAURA: - (IRRITADA) Não duvide da criatividade de um escritor, Noah! Posso matar o galã e ainda assim conseguir ibope!

NOAH: - Está me ameaçando? Pois faça o que quiser. Eu não vou morrer de fome se ficar fora da sua novela. Pra dizer a verdade, Laura, dane-se a sua novela! Os grandes estúdios me querem pra fazer filmes. Não preciso mais fazer TV.

Ele entra no quarto, batendo a porta. Laura serve um copo enorme de wísque e senta-se no sofá. Começa a chorar. Imaginação senta-se ao lado dela e afaga seus cabelos.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Estou aqui. Não liga pra ele.

LAURA: - Nem sei se você está aqui.

IMAGINAÇÃO (OFF): - Só porque não me vê, não significa que não me escute, que não me sinta. Laura, suporte ele até o final disso. Depois, sabe o que fazer.

LAURA: - ...

IMAGINAÇÃO (OFF): - E páre de beber. Isso não vai resolver nada.

LAURA: - (CHORANDO) E agora? Ele estragou todos os planos que eu tinha! Ele matou minha história! Por causa dele terei de mudar tudo!

IMAGINAÇÃO (OFF): - Sabe que se ele não a matasse, os executivos da emissora poderiam matá-la. Laura, por favor. Pára de beber. Não quero te ver assim. Não fique se torturando.

LAURA: - A culpa é minha! Por que não escolhi outro pra fazer esse papel?

IMAGINAÇÃO (OFF): - Laura, largue esse copo. Vá pra aquele computador e faça sua parte. Escreva o mundo que você gostaria que fosse seu. Por mim, tá legal?

LAURA: - ...

IMAGINAÇÃO (OFF): - Escreve aquela cena romântica entre nós dois.

Laura larga o copo com raiva. Vai pro computador.

LAURA: - Como disse Anais Nïn: Escrevo porque não consigo viver em outros mundos que me foram dados. Eu prefiro o meu. E não vai ser esse palhaço que vai estragar a minha criação. Tenho outros atores que sabem dar valor a minha obra. Dane-se Noah! Ele vai ver só. Eu vou sair dessa. Eu quebro a minha maldita cabeça, mas eu saio dessa.


BLOCO 3:

Set de gravações – Estúdio 28 – 8:23 P.M.

Mulder e Scully saem do estúdio. Caminham em direção ao carro. Mulder segura uma fita de vídeo.

MULDER: - Pedirei aos Pistoleiros para analisarem. Talvez haja a presença de algum espectro.

Scully encosta-se no carro. Geme baixinho.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (MANHOSA) Quero ir pra minha casa, esticar minhas pernas, comer um pote bem grande de sorvete de chocolate com nozes e...

MULDER: - E...?

Scully o abraça.

SCULLY: - Hum... Ficar grudadinha em você.

MULDER: - Estamos sensíveis hoje, não é mesmo?

Laura aproxima-se. Olheiras enormes.

LAURA: - Falei com Noah. Ele vai responder o que quiserem saber.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Quer ir falar com o ‘astro’?

Scully suspira. Caminha em direção à um trailer. Mulder olha pra Laura.

MULDER: - O que foi?

LAURA: - Tive de usar de ameaça pra fazê-lo vir gravar hoje. Vou ter de repensar tudo que já havia planejado. Tenho de me livrar do personagem dele. E confesso, nunca conheci um escritor de novelas que matasse o personagem central. Acho que minha carreira vai por água à baixo.

MULDER: - Sinto, Laura.

LAURA: - Vá fazer seu trabalho, Mulder. Deixe as preocupações do meu trabalho pra mim. Fui eu quem escolhi esta carreira. Deveria ter imaginado que não seria fácil.

MULDER: - ...

LAURA: - Acho que terei de reescrever tudo o que escrevi. Terei de mudar idéias magníficas que tinha em mente por causa de um merda como o Noah. E estragar tudo o que o público gostaria de ver.

MULDER: - O que me preocupa é você.

LAURA: - Já disse, estou bem. Vá falar com ele. Faça suas perguntas de rotina.

Laura afasta-se e entra num carro. Mulder a acompanha com os olhos.


Residência do diretor Clarence Monroe – 11:01 P.M.

Várias limusines estacionadas. Mulder estaciona o carro perto das escadarias de acesso a casa. Olha debochado pra Scully.

MULDER: - Acho que escolhemos a hora errada pra falar com Monroe. Isto é uma festa e não estamos bem vestidos para a ocasião...

Um mordomo abre a porta do carro pra Scully. Os dois descem. Caminham até a porta da casa.

SCULLY: - Se eu encontrar George Clooney por aqui, Mulder, você não me conhece.

MULDER: - Se eu encontrar George Clooney por aqui, amasso a cara dele se tocar em você.

SCULLY: - Hum, vai fazer ceninha de ciúmes?

MULDER: - Vou proteger o que é meu. Nem que seja na porrada.

Scully ergue as sobrancelhas e olha pra ele. Os dois entram. Há punks, roqueiros, artistas... Todos em roupas que parecem mais do Exército da Salvação. Mulder cochicha pra Scully.

MULDER: - Ô, Scully, acho que estamos bem vestidos até demais pra ocasião.

SCULLY: - Mulder, eu... Eu tenho uma teoria. Diante das coisas que me falou sobre Laura, sobre esse homem que ela pensa estar ao lado dela...

MULDER: - (CURIOSO) Que teoria?

SCULLY: - Mulder, acho que Laura realmente recebe essas mensagens. Mas há alguma coisa bem explicável por aqui.

MULDER: - Scully, o que está tentando me dizer?

SCULLY: - Mulder, talvez o que esteja acontecendo com Laura seja algo mais comum do que você imagina.

MULDER: - ... (CURIOSO)

SCULLY: - Acredito que ela entre em sintonia com outra pessoa, que... não necessariamente, seja um morto.

Mulder olha pra ela, boquiaberto.

SCULLY: - Já li relatos de pessoas que conseguem sair de seu corpo, por alguns momentos, e projetar-se em outros lugares...

MULDER: - (SORRINDO) Scully, está falando sobre viagens astrais?

SCULLY: - ... (RECEOSA) Falei besteira?

MULDER: - (ADMIRADO)

SCULLY: - ... Falei?

MULDER: - (SORRINDO) Não, não falou besteira. (SURPRESO) Eu não havia pensado nisso. Isso explicaria por que não captamos nada com a câmera. Talvez a pessoa que Laura sinta esteja bem viva, em alguma parte desse planeta... (CURIOSO) Scully, o que está acontecendo com você?

SCULLY: - Comigo?

MULDER: - Por favor, Scully! Por que veio com uma teoria paranormal, que mais se encaixaria pra ser dita por mim do que por você? Acha que não me surpreendeu que algo assim tenha saído da sua boca?

SCULLY: - ...

MULDER: - (OLHA-A, INTERROGANDO COM OS OLHOS)

SCULLY: - (TENSA) Ah, sei lá, Mulder... Instinto de mulher grávida.

MULDER: - Vamos nos espalhar. (DEBOCHADO) Se vir alguém normal por aqui, comece a atirar. É suspeito.

Scully caminha pra um lado. Mulder pra outro.


11:29 P.M.

Mulder e Laura entram na biblioteca. Laura fecha a porta. Mulder escora-se numa escrivaninha. Cruza os braços.

MULDER: - O que sabe sobre viagens astrais?

LAURA: - O que isso tem a ver comigo?

MULDER: - Scully sugeriu que Imaginação possa ser alguém que consegue sair de seu corpo e encontrar-se com você.

LAURA: - O quê?

MULDER: - Ou é apenas uma ilusão da sua cabeça. Confesso, Laura, não tenho como ajudar você. Estamos interrogando pessoas de seu círculo só pra ter algo no relatório. Preciso que você fale com ele. Só você o escuta. Precisa perguntar quem ele é.

LAURA: - Ele sempre me disse que não sabe quem é. Só sabe que precisa de mim e que não pode se afastar.

Gritos. Mulder puxa a arma. Abre a porta e desce as escadas correndo.

Corta para a piscina. Dois seguranças tiram o diretor Clarence da água e o colocam ao lado da piscina, morto. Vários convidados observam, curiosos. Scully agacha-se e toma o pulso dele. Mulder e Laura se aproximam.

LAURA: - Oh, meu Deus!!!

SCULLY: - Está morto.

MULDER: - O que aconteceu?

Scully levanta-se. Vai abrir a boca para falar, mas uma mulher alta e magra, vestida como perua, arrogante, aproxima-se rapidamente.

RP: - Cruzes! Limpem isso rápido e não chamem a polícia. (GRITA) Acabou a festa, pessoal! Todo mundo fora daqui!

Os convidados debandam rapidinho. Scully e Mulder se entreolham, incrédulos.

RP: - Levem-no para sua propriedade no Maine. Coloquem-no no sofá e uma garrafa de vinho ao lado. Ele estava nervoso com o divórcio e teve um enfarte em sua casa de campo.

Scully olha pra mulher, incrédula e começando a se irritar.

SCULLY: - (IRRITADA) Quem é você?

RP: - A Relações Públicas da emissora, querida. (PETULANTE/ OLHANDO SCULLY DE CIMA A BAIXO) E quem é você?

Scully puxa a credencial.

SCULLY: - (IRRITADA) Agente Dana Scully, FBI, ‘querida’. E temos um caso de morte por overdose de drogas. E tentativa de encobrimento de provas.

RP: - (DEBOCHADA) Olha, querida, eu não sei quem teve a idéia de chamar o FBI pra festa, mas não quer que os jornais publiquem que Clarence Monroe, o maior diretor da TV americana, com 40 anos de carreira, morreu na compania de dois garotos, drogado numa piscina e de pau duro.

Mulder segura o riso. Abaixa a cabeça. Scully está irritada.

SCULLY: - Não sei quanto aos jornais, ‘querida’, mas este homem morreu por overdose de drogas. E isto constará no relatório da polícia.

RP: - Não deve estar me entendendo, querida. Isto é Hollywood. Aqui você só morre de modo ‘artístico’ se a imprensa descobre antes. Portanto, quanto podemos negociar para que isto não saia deste lugar, hein?

SCULLY: - Acho que não me entendeu, ‘querida’. Este homem está morto e não pode tocar na cena do crime até que a perícia venha averiguar o local.

RP: - Não acredito que vai infestar o lugar de policiais! A imprensa virá junto! Isso seria um ultraje na carreira de Clarence Monroe! Não pode fazer isso com ele!

SCULLY: - (DEBOCHADA) Clarence Monroe, o maior diretor da TV americana, com 40 anos de carreira, deveria ter pensado nisso antes de morrer nú numa piscina, com cocaína escorrendo pelo nariz, na companhia de dois garotos menores de idade e ‘de pau duro’ querida.

Mulder olha surpreso pra Scully. Scully olha pra ele, debochada.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Mulder, o que acha? Temos um belo processo por aqui, não?

RP: - (SAPATEANDO) Não pode fazer isso!

SCULLY: - Ah, eu posso... ‘querida’.

Scully puxa o celular e chama a polícia.


1:22 A.M.

A polícia circula pelo jardim. Scully observa, de braços cruzados. Laura e Mulder ao lado dela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que agora você conseguiu sua fama, Scully. Como a policial que não tem um pingo de sensibilidade com um diretor gay de 40 anos de carreira, que só tava dando uma festinha na piscina... O cara levava a sério a história de ‘afogar o ganso’...

SCULLY: - Essa gente precisa saber seus limites, Mulder.

MULDER: - Levaram os garotos pro distrito, para interrogatório.

LAURA: - Ele era um ótimo diretor. Pena que era viciado...

SCULLY: - Usava cocaína sempre?

LAURA: - Não. Era viciado em homens bonitos e garotinhos.

SCULLY: - Ah!

LAURA: - Agente Scully, não se surpreenda. Por aqui, quem nunca foi, tem duas alternativas: ou já é ou será. Nunca admitem, mas...

Mulder abaixa a cabeça rindo.

LAURA: - Ficaria surpresa se soubesse que os maiores galãs de televisão dão festinha privê gays em suas casas.

SCULLY: - ...

LAURA: - ... Noah é um deles.

Mulder segura o riso e afasta-se. Scully olha pra Laura.

SCULLY: - E aquele cara bonito, musculoso, daquela série que passa antes da novela?

LAURA: - Também.

SCULLY: - Que desperdício!

Scully fica olhando pro nada, incrédula.


Motel Hollywood – 7:29 A.M.

Mulder entra no quarto, segurando um jornal. Scully está vestindo uma bata.

MULDER: - Precisa ver a manchete do jornal desta manhã: Diretor morre em sua casa durante festa gay...

Scully olha séria pra ele.

SCULLY: - A verdade, Mulder. Se queremos a verdade, ele tem que começar a aparecer em pequenos delitos até chegar ao âmago da conspiração.

MULDER: - Uau, Scully! Essa foi realmente profunda!

SCULLY: - ... Mulder, acho que não temos nada pra fazer por aqui. Melhor encerrarmos isto tudo. Laura já mudou o roteiro. Não vamos encontrar nada. Falei com várias pessoas e todas elas não consideram Laura Talbot uma pessoa louca. Na verdade, todos a adoram. E odeiam Noah.

MULDER: - Não há fantasmas por aqui, Scully. Acho que você tem razão. Talvez Laura capte alguma coisa mesmo, mas não teremos como provar... Pedi a ela que tentasse descobrir por si só. É a única maneira.

Scully senta-se na cama. Mulder caminha até a porta.

MULDER: - Vou falar com Laura Talbot e dizer que estamos indo embora.

SCULLY: - Tá. Quero ir embora daqui, Mulder. Essa gente me deixa irritada.


Apartamento de Laura Talbot – 8:11 A.M.

Mulder bate na porta. Ninguém atende.

MULDER: - Laura!

Silêncio.

MULDER: - Laura!

Silêncio.

Mulder desconfia. Arromba a porta. Corre até o quarto. Laura está de camisola, com a perna pra fora da janela, tentado se matar.

MULDER: - Laura...

Ela vira-se.

LAURA: - (GRITA) Sai daqui!

MULDER: - Laura, vamos conversar... Não faz besteira...

Mulder aproxima-se dela lentamente.

LAURA: - (GRITA) Pára! Não se aproxime ou eu me atiro!

MULDER: - Laura, quero conversar com você...

Mulder vai se aproximando, conversando pra distraí-la.

LAURA: - (GRITA) Vou pular!

MULDER: - Não, não vai pular. Sabe que morrer não vai livrar você de seus problemas.

LAURA: - (CHORANDO) Eu quero morrer! Eu não posso mais suportar isso! Há 18 anos eu o amo e há 18 anos eu sou infeliz!

Mulder agarra pela cintura, a puxando pra dentro. Ela começa a espernear, tentando se livrar dele.

LAURA: - (GRITA) Me solta!!!

MULDER: - (GRITA) Você é louca, completamente biruta, devia estar num sanatório!

LAURA: - (GRITA) Me solta!!! Mulder, me solta! Eu quero morrer!!!!

MULDER: - (GRITA) Que quer morrer, o quê! Nem sabe o que está falando!

LAURA: - (GRITA) Me larga!

Ela gruda-se na janela. Mulder atrás dela, a puxando pela cintura.

MULDER: - (GRITA) Solta daí!

LAURA: - (GRITA) Não!

MULDER: - (GRITA IRRITADO) Laura, por favor!

LAURA: - (GRITA) Não!

MULDER: - (GRITA NERVOSO) Laura, pára com isso!

LAURA: - (GRITA) Dessa vez você não vai me impedir!

MULDER: - Vou. Como já impedi outras vezes! Laura, por favor, precisa se acalmar!

LAURA: - (GRITA) Não quero me acalmar, quero morrer.

MULDER: - Laura, solta essa droga!

LAURA: - (GRITA) Só se você me matar.

MULDER: - (IRRITADO) Eu não vou te matar!

LAURA: - (GRITA) Me mata!

MULDER: - Pára com isso!

LAURA: - Onde está sua arma? Pode ser um tiro na cabeça...

MULDER: - Laura...

LAURA: - (GRITA) Se não me soltar vou começar a gritar mais alto!!!

Mulder não a solta. Ela grita.

MULDER: - (GRITA) Pára com isso!!!

Ela continua gritando. Mulder, irritado, puxa Laura com força. Os dois caem na cama, ela por cima dele.

Corta pra sala. Scully entra. Escuta os gritos. Puxa a arma. Aproxima-se do quarto. Quando chega na porta dá de cara com a cena: Laura em cima de Mulder, os dois na cama. Mulder agarrando-a pela cintura, e ela de costas pra ele, se debatendo. Scully ergue as sobrancelhas, prende o fôlego e sai com um beiço, furiosa, derrubando tudo. Mulder empurra Laura e fica mais furioso. Tranca a janela. Laura olha pra ele.

LAURA: - (GRITA) Você quebrou minhas unhas!

Mulder a agarra furioso, a puxando pelos braços.

LAURA: - O que...

MULDER: - (GRITA) Louca!!! Você é louca e destrambelhada e só me causa problemas!

Mulder a algema nas grades da cama. Pega o telefone.

LAURA: - O que vai fazer?

MULDER: - (FURIOSO) Te internar.

LAURA: - (GRITA) Não!!!

MULDER: - Não vou deixar você aqui sozinha! Precisa de um médico.

LAURA: - (GRITA) Não!!! Eu te odeio!!!

MULDER: - (INDIGNADO) Tá vendo a encrenca em que me meteu? A Scully agora vai ficar maluca comigo!

LAURA: - (GRITA) Bem feito pra você não se intrometer na vida dos outros!!!

MULDER: - Laura, há duas maneiras de você sair dessa. Escolha. Ou vai pra um sanatório e perde toda a sua vida ou começa do zero, em algum lugar distante. Conselho médico. Se quiser me ouvir, tudo bem. A vida é sua.


BLOCO 4:

Motel Hollywood – 9:27 A.M.

Mulder entra no quarto. Cara de cachorrinho pidão. Scully está furiosa, arrumando as malas.

MULDER: - Não é o que está pensando...

SCULLY: - Ah, não?

MULDER: - Sei que a situação não está a meu favor, mas não foi o que você viu.

Scully vira-se pra ele.

SCULLY: - (GRITA) Cachorro, desgraçado! Você mentiu pra mim!

MULDER: - ... (MEDO) Eu não menti! Eu... e-eu só omiti algumas coisinhas...

SCULLY: - (GRITA) Mulder, eu tenho vontade de te esganar, sabia?

MULDER: - (SUSPIRA) Meu passado me condena... Acho que já vi esse filme.

SCULLY: - (GRITA) Sai daqui! Vá se divertir com a sua baranga!

MULDER: - Scully...

SCULLY: - (GRITA) Mulder, seu cretino, asqueroso!

MULDER: - Scully, não houve nada entre a gente. O que aconteceu foi no passado e...

SCULLY: - (GRITA) Mulder, não me engane! Essa história tá muito mal contada!

MULDER: - Mas é verdade! Eu estava apenas tentando evitar que ela se suicidasse. A Laura é louca. Sempre foi.

SCULLY: -... (CONTINUA FAZENDO AS MALAS, O IGNORANDO)

MULDER: - (NERVOSO) Scully...

SCULLY: - (GRITA) Fora do meu quarto!

MULDER: - (IRRITANDO-SE) Scully, sabe de uma coisa? Acho que eu vou atrás dela mesmo. Você sempre me acusa de te trair e eu nunca fiz isso. Acho que agora vou dar motivo para as suas acusações!

Mulder abre a porta. Scully olha pra ele. Mulder sai. Pára. Suspira. Desiste. Volta pro quarto. Entra e fecha a porta.

MULDER: - Em respeito ao meu filho eu não vou te dar esse susto não.

SCULLY: - ... Vai. Pode ir pros braços daquela mocréia.

MULDER: - Scully, pára de fazer drama!

SCULLY: - ...

MULDER: - Pelo amor de Deus, Scully!!! O que está havendo com você? Está estranha, muito estranha! Chora por qualquer coisa, sugere teorias paranormais, está ferina e debochada...

SCULLY: - (GRITA) Estou grávida! Isso é o que está havendo comigo! Grávida e sozinha, porque você não cuida de mim!

Mulder olha pasmo pra ela. Ela faz beiço. Mulder olha pra ela, ternamente.

MULDER: - Quantas vezes eu tenho que te dizer: Scully eu te amo, Scully eu só quero fazer coisinhas com você, Scully eu só quero você, só respiro você, só penso em você?

SCULLY: - Sempre, ainda mais que eu tô... (FISIONOMIA DE QUEM VAI CHORAR) ... carente!

MULDER: - Se parar de agir como uma maluca eu até posso contar sobre a Laura.

SCULLY: - (GRITA) Não quero saber!

MULDER: - Acho melhor irmos embora mesmo. Você está sendo criança.

Mulder abre o armário e começa a fazer as malas.


Washington - Apartamento de Scully – 6:11 P.M.

Mulder sai do elevador, tirando as chaves do bolso. Vê uma mala ao lado da porta. Suspira.

MULDER: - Por que tenho a sensação de que o barraco tá armado?

Coloca a chave na fechadura. Não abre. Mulder suspira. Bate na porta.

MULDER: - Scully, sei que está aí. Não adianta trocar a fechadura!

Silêncio.

MULDER: - Scully, por favor! Isso não é da sua índole!

Um dos vizinhos abre a porta e fica olhando. Mulder vira-se.

MULDER: - (IRRITADO) O que foi? Nunca viu isso numa novela?

O vizinho fecha a porta. Mulder bate na porta de novo.

MULDER: - (NERVOSO) Scully, por favor!

Scully abre a porta, segurando uma tigela de mousse. Mulder olha pra ela. Scully atira o mousse com travessa e tudo na cara dele. Mulder limpa o mousse dos olhos, calmamente. Faz cara de cachorrinho pidão.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Não.

MULDER: - (SUSPIRA) ... Scully, por favor...

SCULLY: - Suas coisas estão aí fora.

MULDER: - Scully, vamos conversar...

Scully cruza os braços fazendo beiço.

MULDER: - Posso entrar?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Scully, não é o que está pensando.

SCULLY: - Ah, não é? Vocês dois só estão trocando figurinhas?

MULDER: - Scully, me deixa explicar. Mas não aqui fora.

Ela abre a porta. Ele entra, tropeçando na travessa, com mousse até pelos cabelos. Ela bate a porta. Cruza os braços, batendo o pé sem parar. O encara.

SCULLY: - Fala, cachorro. Quero ouvir até aonde pode ser cínico.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Tudo isso por que estou grávida?

MULDER: - ...

SCULLY: - Eu sei, Mulder! Sei bem que está com seus hormônios à flor da pele e que eu não estou num estado nada sedutor pra satisfazer seus desejos e...

MULDER: - (IRRITADO) Cala a boca, Scully!

Ela olha pra ele, abrindo a boca, perplexa.

MULDER: - Quer me escutar? Posso falar? Você me manda falar mas não fecha essa maldita boca!

SCULLY: - ... (PERPLEXA)

MULDER: - Laura e eu éramos amigos. Quando conheci a Phoebe, conheci a Laura. Nós ficamos muito amigos e confesso, que a Laura preferia conversar comigo do que com a Phoebe.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Phoebe Green?

MULDER: - ... Mas as coisas entre eu e Phoebe... Você sabe dessa história. A Phoebe começou a falar mal de mim e a Laura se indignou e quebrou os pratos com ela. Não que Laura estivesse apaixonada por mim. Não, não era isso. A gente era como dois amigos. Mas eu estava começando a gostar dela.

SCULLY: - ...

MULDER: - Um dia, numa daquelas noites desgraçadas em que você se afunda dentro da garrafa e filosofa sobre a vida, eu e Laura... Eu acabei me declarando pra ela. E quando fiz isso, Laura me recusou. Disse que não esperava essa atitude do único amigo que ela tinha. O susto foi tão grande, que ela voltou pra casa, pegou suas coisas e desapareceu. Nunca mais ouvi falar dela. Até agora.

SCULLY: - ...

MULDER: - Agora entende por que foi difícil dizer o quanto eu gostava de você? O medo que eu tinha de perder uma amiga? Porque já tinha perdido uma.

Mulder caminha até a porta.

SCULLY: - ... Desculpe. Acho que são os hormônios.

Mulder vira-se. Olha pra ela.

MULDER: - Sabe que você é tudo pra mim, não fica fazendo esse estardalhaço todo.

SCULLY: - Você disse que eu era folgada!

MULDER: - Pode continuar folgada, sabe que eu gosto de você e que só tenho olhos pra você... Scully, eu te amo tanto, só queria que confiasse no que eu digo.

SCULLY: - ...

MULDER: - Fico triste quando vejo que confia em mim como um amigo, que deixaria sua vida nas minhas mãos, mas não confia em mim como homem.

SCULLY: - ...

MULDER: - Isso significa que não confia em você mesma. Que continua achando que não pode me cativar.

SCULLY: - ...

MULDER: - Reflita isso, Scully. Ciúmes é uma coisa muito gostosa, sabia? Fico feliz em saber que sente ciúmes do idiota e repulsivo Mulder. Mas ciúmes demais vira doença. E estraga um relacionamento.

SCULLY: - ...

MULDER: - Vou pra minha casa. Acho que você precisa de espaço hoje.

Mulder sai. Scully fecha a porta. Suspira.

SCULLY: - Ele tem razão. Ele sempre tem razão. Até nisso!


Apartamento de Mulder – 8:33 P.M.

Batidas na porta. Mulder atende. Laura está ali parada. Sorri. Mulder balança a cabeça, rindo.

LAURA: - Vim de longe... Posso entrar?

MULDER: - ... Entra.

Laura entra. Olha pro apartamento.

LAURA: - Continua a sua cara.

MULDER: - Vou encarar isso como um elogio.

LAURA: - Olha, eu vim até aqui dizer que... agradeço muito o que você e Scully fizeram por mim, por serem meus amigos. Eu segui seu conselho, Mulder. Deixei minha carreira. Aquilo não é o mundo que eu imaginava.

Mulder olha pra ela, apiedado.

LAURA: - Os roteiros estão prontos. A emissora aumentou o cachê e conseguiu segurar Noah até o final da novela. Com isso, o final que eu queria vai acontecer. Mulder, percebi que eu posso ser feliz começando do zero. Vou voltar pra um pequeno apartamento, escrever livros com um pseudônimo e tentar ficar o mais longe possível da mídia. Não faço parte deste mundo. Hollywood é grande e louca demais pra mim. Já dei uma nota oficial para a imprensa sobre o meu afastamento e meu divórcio de Noah. Sinto pelo público, mas eu estou doente. Preciso cuidar de mim primeiro, pra depois dar a eles o que merecem.

Mulder senta-se no sofá. Suspira.

MULDER: - Laura, se todos os problemas da vida fossem os fantasmas bons... Os piores fantasmas são aqueles que nunca vão embora e só te trazem medo e desespero.

Laura senta-se do lado dele. Olha pra Mulder, que parece louco pra chorar.

LAURA: - (CULPADA) Ela brigou com você? Olha, eu posso ir falar com ela e explicar...

MULDER: - Não, Laura. Ela brigou comigo, mas eu sei que é fogo de palha. O que me preocupa não é isso.

LAURA: - (PREOCUPADA) Aconteceu alguma coisa?

MULDER: - ...

LAURA: - Mulder, quer falar? Parece que vai desabar a qualquer momento.

MULDER: - Não sabe as coisas que tenho passado pela Scully. Não sabe as noites que não consigo dormir, preocupado com ela e ao mesmo tempo, querendo estar longe dela pra não ver o que vai acontecer. Não posso me apegar nessa criança, não posso protegê-la, minhas forças estão acabando. Vão machucá-la, ela vai me odiar por isso. Eu não posso falar a verdade, eu tentei, ela ficou furiosa, ela não acredita! Então eu seguro essa barra sozinho, com medo e vergonha da minha impotência diante de certos homens que não tem escrúpulos.

LAURA: - ...

MULDER: - Laura, eu... eu tô desesperado! Tudo desabou na minha cabeça ao mesmo tempo. O cerco está se fechando. Eu tô tão cansado que você não pode imaginar. Eu tento rir pra ela não ficar preocupada comigo, mas eu não consigo mais rir. Eu tenho que mentir pra ela não sofrer. E a cada dia que passa, eu me odeio mais por ter de fazer isso!

Laura o abraça. Mulder abraça-se nela.

MULDER: - Odeio quem sou. E por ser quem eu sou, é que ela está nessa situação.

LAURA: - ...

Mulder solta-se dela. Abaixa a cabeça, nervoso.

MULDER: - ...

LAURA: - Mulder, quer me explicar o que está falando? Quem sabe eu possa ajudar você?

MULDER: - Ninguém pode me ajudar, Laura. A única pessoa que poderia me ajudar é o meu maior inimigo. Mas ele simplesmente se recusa a falar comigo. Sem negociações. Ele tá conseguindo me destruir, porque me atingiu no meu ponto mais vulnerável: ela. Sabe que eu suporto qualquer dor física, qualquer coisa que fizerem contra mim. Mas não contra ela. A Scully é o meu calcanhar de Aquiles. Faz ela chorar e eu dou a minha vida em troca do sorriso dela.

Laura derruba lágrimas. Mulder olha pra ela.

MULDER: - O que foi?

LAURA: - Nada... Queria ter alguém real que fizesse isso por mim. Que se preocupasse comigo, que cuidasse de mim... Mas acho que meu destino é ser só. Só e louca.

MULDER: - Eu me pergunto todos os dias: por que ela foi parar na minha vida? Por que, se é pra gente nunca conseguir ser feliz? Porque o destino não me deixou louco e só? Porque me dá um tesouro e tenta me tirar todos os dias?

LAURA: - Vai entender a vida, Mulder... Dizem que há motivo pra tudo, que o destino já está escrito. Que é imutável e tem um propósito, por mais odioso que pareça.

MULDER: - Já descobriu o propósito?

LAURA: - Não. Por que eu seria apaixonada por alguém que não existe neste mundo? Por que ele não existe nesta dimensão? Por que a gente não pode ficar junto e ser feliz?

MULDER: - Talvez porque a felicidade completa não tenha gosto algum.

LAURA: - Será? Já teve a felicidade completa?

MULDER: - Por momentos e não achei que fosse ruim. Queria que fosse eterna.

LAURA: - Nunca tive essa felicidade, Mulder. Nem por momentos. O único momento bom foi quando ele apareceu. E quando eu consegui realizar meu sonho.

MULDER: - Laura, por que as coisas sempre foram difíceis pra nós? O que há de errado com a gente?

LAURA: - Somos ETs neste planeta, Mulder. Isso é o que há de errado. Nunca se sentiu um estranho no ninho? Como se não pertencesse a essa gente, a esse mundo?

MULDER: - Me sinto assim todos os dias, desde que nasci.

Laura levanta-se.

LAURA: - Mulder, se puder ajudar você, sabe pra onde ligar.

MULDER: - Pra onde vai agora?

LAURA: - Pro aeroporto. Tomar o primeiro vôo internacional que aparecer no painel. Qualquer lugar, Mulder. Começar do zero.

MULDER: - Laura, espero que consiga ser feliz.

LAURA: - Eu sou feliz, Mulder. Eu tenho um ‘bom espírito’ do meu lado.

Mulder levanta-se. Os dois se abraçam.

LAURA: - Espero que você seja feliz. Entenda a Scully. Ela está grávida e mulheres grávidas ficam sensíveis. E espero que consiga vencer o que está te derrubando, Mulder.

MULDER: - Preciso te dizer uma coisa.

LAURA: - Diga.

MULDER: - Perdoa pela minha empolgação. Pela besteira que eu fiz.

LAURA: - Não fez besteira, Mulder. Eu era infantil demais pra dizer não e continuar como sua amiga.

MULDER: - Sabe que tudo mudaria entre nós. Sempre ficaria pensando que cada gesto meu teria alguma intenção de conquista.

LAURA: - ... Esqueça o passado, Mulder. Ele valeu como lição pra nós dois.

Laura abre a porta. Olha pra ele.

LAURA: - E depois, foi melhor assim Mulder. Dois loucos juntos nunca daria certo.

Mulder sorri. Laura sai, fechando a porta atrás de si.


10:13 P.M.

Mulder, vestido com a calça do pijama, abre a porta. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Não quero mais espaço. Tô cansada de espaço.

Mulder sorri.

SCULLY: - Posso invadir o seu?

MULDER: - Certas invasões são muito desejadas, Scully.

Os dois se abraçam.

MULDER: - Isso tá ficando difícil, Scully. Há alguém ‘entre a gente’.

Scully solta-se dele e a afaga a barriga. Sorri.

SCULLY: - Preciso de uma massagem nos pés...

MULDER: - Minha Scully interesseira... Só veio aqui pra ganhar massagem de graça?

SCULLY: - Pra dizer a verdade, Mulder... Vim pra ganhar massagem, abraço, beijinho, pé quente e carinho.

Mulder fecha a porta. Ergue Scully nos braços.

MULDER: - Com direito a transporte gratuito até o quarto.


Aeroporto Internacional de Washington – 1:03 A.M.

Laura olha pro painel de embarque. O próximo voo é pra Suécia. Ela aproxima-se do balcão.

LAURA: - Uma passagem pra Suécia.

A atendente providencia. Laura olha pro nada. Toma a passagem na mão e dirige-se para o embarque.

Corta para o avião. Laura senta-se em sua poltrona. Olha pela janela.

LAURA (OFF): - Deixo tudo pra trás, enterro aqui todas as mágoas. Preciso começar do zero. Com ou sem você.

IMAGINAÇÃO: - Com licença?

Laura vira-se. Imaginação olha pra ela. Está com os cabelos presos, usando um sobretudo, segurando um livro nas mãos. Senta-se a seu lado. Laura o admira, interessada, mas volta a olhar pela janela. Algo a perturba. Vira-se pra ele. Os dois se olham ao mesmo tempo.

IMAGINAÇÃO: - (TENSO) Não interprete mal a minha observação, mas sinto que conheço você de algum lugar.

LAURA: - Sinto a mesma coisa.

IMAGINAÇÃO: - Me desculpe, sou escritor e leio muito sobre espiritualidade. Há 18 anos eu faço viagens astrais. Não lembro pra onde vou, mas isto me dá forças pra viver, pra superar problemas. Sinal de encontro algo bom por lá.

LAURA: - ... So-sou escritora também...

IMAGINAÇÃO: - Puxa, então a viagem será agradável... Ah, me desculpe. Meu nome é Erich. Erich Linch.

LAURA: - Prazer. Laura Talbot.

Os dois trocam um aperto de mão, olhando-se com admiração. Confusos e curiosos.

LAURA: - Mora por aqui?

IMAGINAÇÃO: - Na verdade moro na Suécia. Passei alguns dias aqui, lançando o meu novo livro. Estou voltando pra casa. E você?

LAURA: - Estou tentando fugir daqui. Começar do zero. Conselho de um amigo psicólogo.

IMAGINAÇÃO: - (SURPRESO) Faz terapia também? Fiz terapia por muitos anos. Foi onde descobri essa coisa de viagem astral. Eu tenho problemas pra me relacionar com as pessoas... Sou um sonhador. E nunca conheci uma mulher que gostasse de um sonhador. Na verdade, acho que relacionamentos começam na amizade, amadurecem com o tempo e tornam-se mais fortes, mesmo diante das desgraças que a vida nos dá. Procuro alguém que goste do que sou e não do que tenho. Que queira a simplicidade da vida e acredite na bondade humana. Que respeite o meu espaço, entenda que as madrugadas me são preciosas porque é quando a imaginação flui e dá vazão ao processo criativo das coisas... Eu acredito em relacionamentos eternos. Espero pela minha alma gêmea. Um ocultista me disse que ela está longe da Suécia.

LAURA: - (SORRI) O que escreve, senhor Linch?

IMAGINAÇÃO: - Livros, mais precisamente romances, senhorita Talbot...

Os dois perdem-se um nos olhos do outro, como se já se conhecessem há muito, muito tempo...


THE END?


04/07/2000

5 de Agosto de 2019 a las 01:25 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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