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S03#13 - TEMPESTADE II – PARTE I: A ANUNCIAÇÃO

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Washington, D.C. – 9:38 P.M.

[Fortes trovoadas].

Geral de uma rua da cidade. Chuva forte. O vento balança todas as árvores na calçada. Um raio cai sobre uma das árvores, partindo-a ao meio.

A chuva cai no asfalto, correndo pra dentro dos bueiros que já não conseguem conter a inundação. E muito menos os ratos que morrem afogados e são levados pela correnteza até a praça mais próxima, onde as crianças brincam todo o dia. Anunciando que o início da peste será inevitável.

Corta pra dentro da cafeteria. O cheiro da poluição impregnada no ar, que a chuva levanta, pode ser sentido no nariz do velho homem sentado à mesa, enquanto ele lê um artigo no jornal dizendo que fumar causa câncer. Ele vira a página do jornal, bebendo um gole de café. A manchete diz: “ Nova gripe faz mais 10 vítimas em Londres.” Na página ao lado, uma igreja anuncia a chegada da besta com chifres enormes. Numa pequena nota, o governo americano fala sobre a descoberta do genoma e sua utilização apenas para curar doenças, negando a nova raça, a nova ordem mundial.

A velha garçonete serve mais um pouco de café na caneca do velho. Volta pra trás do balcão. Pega a revista que estava lendo sobre ‘O Terceiro Segredo de Fátima’. Segura o crucifixo que carrega no pescoço com uma das mãos.

Corta para a rua. A chuva continua caindo. Por sobre as nuvens, no enegrecido céu, um clarão movimenta-se lentamente. Um raio se projeta do clarão até o asfalto, causando um estrondo enorme.

Close do asfalto, onde uma luz intensa brilha como mancha, desaparecendo no meio da chuva que se quebra no piche. Câmera baixa, mostrando os pés de um homem, que usa botas com fivelas, como as de um roqueiro. Ele sai caminhando, chutando os ratos mortos no meio da rua. Erguer o foco da câmera, visualizando-o por trás. Ele caminha em direção à cafeteria. O vento faz voar seu sobretudo preto e cabelos longos. Os babados que lhe saem dos punhos, de cor branca, revelam uma camisa bastante antiga. Em sua mão, carrega uma trombeta.

Corta para a cafeteria. Barulho da porta abrindo-se. O velho ergue a cabeça e franze o cenho. A garçonete olha curiosa. Gabriel entra. Ele ergue os braços. Inspira fundo.

GABRIEL: - Ah, cheiro de peste no ar! Adoro o cheiro da morte...

O velho olha pra ele e ri.

VELHO: - De que cemitério você saiu, seu maluco?

Gabriel aproxima-se do velho e debruça-se sobre a mesa, olhando-o nos olhos. O velho recua o corpo pra trás, abaixando o jornal, assustado.

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Aposto Henry, que não foi do mesmo cemitério onde você estará daqui há dois dias, por causa dessa sua maldita cirrose hepática.

Gabriel ergue-se. Close da trombeta que ele larga sobre a mesa do velho. Olha pra garçonete.

GABRIEL: - Molly, por favor, um café muito, mas muito doce e três rosquinhas cobertas com bastante açúcar... é bom estar de volta, mas (PISCA O OLHO) tenho muito trabalho pela frente.

VINHETA DE ABERTURA: THE TRUTH IS HERE...


BLOCO 1:

Hospital Trinity – 10:49 P.M.

Gabriel entra na recepção. Pára na frente do balcão. Inclina a cabeça para o lado e olha pra enfermeira, arregalando os olhos, debochado.

GABRIEL: - Nancy, onde fica a maternidade?

A enfermeira olha como que hipnotizada.

ENFERMEIRA: - Siga o corredor... O senhor é pai?

GABRIEL: - Não, Pai existe apenas um só. O que não significa que eu seja filho, assim como você é.

Gabriel sai pelo corredor. A enfermeira o acompanha com os olhos, erguendo as sobrancelhas. Gabriel entra na maternidade. Olha as crianças através do vidro. Puxa um bilhete do casaco. Lê atentamente, como se memorizasse. Guarda o bilhete. Olha pras crianças, enquanto aponta pra cada uma delas.

GABRIEL: - Você, você, você, você... e você.

Gabriel vira-se e sai da maternidade. Caminha pelo corredor. Passa por uma porta semi-aberta, onde os médicos tentam salvar um paciente. Gabriel volta. Olha pro paciente. Aponta.

GABRIEL: - E você...

Som dos aparelhos médicos. Os médicos tentam reavivar o homem, mas não conseguem.

Gabriel segue o corredor. Passa por outra porta. Pára. Volta. Vê Scully, sentada numa cama, abatida. Gabriel pára na porta, olhando pra ela. Scully olha pra ele, intrigada. Gabriel sorri. Scully retribui o sorriso. Gabriel acena pra ela. Scully acena também, sorrindo. Gabriel segue caminhando.

GABRIEL: - Você não.

Corta para Mulder que vem pelo corredor, cabisbaixo, segurando rosas, todo encharcado da chuva. Mulder passa por Gabriel. Mulder ergue a cabeça, pressentindo algo. Gabriel pressente também, cheirando o ar. Mulder vira-se pra Gabriel, ao mesmo tempo que Gabriel vira-se pra ele. Os dois se olham.

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Vai me oferecer rosas?

Mulder abaixa a cabeça, a balançando, sorrindo da piada. Continua caminhando. Gabriel dá as costas e sai do hospital.

Mulder entra no quarto de Scully. Scully está passando as mãos na barriga.

MULDER: - (SORRINDO) Olá, agente especial Dana Scully. Trouxe umas rosas pra você, mas um cara ali no corredor, acho que me estranhou um pouco... Mas não, ele não era tão bonito quanto você.

Scully sorri. Mulder entrega as rosas pra ela. Senta-se na cama.

SCULLY: - Ai, Mulder. Preciso voltar pra minha dieta! Estou ficando rechonchuda, lerda e lenta. Poderia ter escapado daquele tiro.

MULDER: - Ôba! Carne para agarrar! Quem gosta de osso é sopa, Scully. Bem vinda aos 40!

SCULLY: - Eu estou longe dos 40!

MULDER: - Nem tão longe. Scully, a lei da gravidade é coisa séria. É inevitável. Aquele mousse que você comia aos 15 anos na madrugada e nada te acontecia, depois dos 25 cai em forma de um quilo!

Ela sorri.

MULDER: - Como está?

SCULLY: - Bem. Foi de raspão. Apenas sinto uma ardência no braço.

MULDER: - Acidentes de trabalho acontecem.

SCULLY: - ... Mulder, e quem atirou no suspeito? Encontrou o homem?

MULDER: - ... Ainda não... Scully, não sei como o diretor mudou de ideia... Torturei o Skinner, mas ele nega saber algo. Acho tudo isso muito estranho. Ele sabe que estamos quebrando regras, vem com a maior naturalidade pedir discrição e te devolve o cargo? Não acha isso suspeito?

SCULLY: - ... Mulder, não sei quem está te protegendo lá dentro. Mas acho que estão me protegendo também. E eu queria saber porquê... Mulder... Sinto te dizer isso, mas... o óvulo não foi fecundado...

MULDER: - (SORRI TENTANDO CONFORTÁ-LA) A gente tenta de novo. Ainda têm dois. Um deles vai ter que dar certo.

SCULLY: - ... A culpa foi minha, por que não te dei ouvidos antes? Por que levei aquele prego de Bodie?

MULDER: - Acredita em maldições então, Scully?

SCULLY: - Mulder, não tenho explicações científicas pro que aconteceu. Por via das dúvidas, devolvi. E parece que a boa sorte voltou.

MULDER: - Tentei achar o atirador, Scully, mas ele fugiu. O FBI diz que pode ser um justiceiro. Mas eu acho que ele te defendeu. E isso me deixa preocupado.

SCULLY: - ... Estragaram nossos planos. Eu tinha achado uma casa perfeita...

MULDER: - (SORRI) Tá melhor mesmo?

SCULLY: - Tô. Já posso ir pra casa.

MULDER: - Então, vamos lá. Tem um jantarzinho te esperando, com direito a flores, música e uma companhia masculina bem agradável.

SCULLY: - ... Como você é convencido, Mulder! Acha que é o melhor?

MULDER: - Tenho certeza disso. Você me disse e eu não costumo discordar das suas opiniões, Scully.

SCULLY: - Ah, não costuma discordar das minhas opiniões? Mulder, como você é cínico!

Os dois trocam um beijo.

MULDER: - Vem, vou te levar pra casa. Mas só um jantarzinho, tá? Nada que possa nos comprometer. Vou pro meu apartamento depois. Vamos continuar fingindo até que você consiga ficar grávida.

SCULLY: - E vai tomar um banho bem quente, antes que pegue uma gripe. Sabe que as gripes agora estão cada vez mais perigosas, Mulder.


Apartamento de Mulder – 3:33 A.M.

Mulder entra em seu apartamento. Acende as luzes. Fecha a porta. Tira a jaqueta e atira-se no sofá. Liga a TV.

Corta pra rua. Na calçada, Gabriel observa a janela de Mulder.


FBI – Gabinete do Diretor Assistente – 2:33 P.M.

Skinner olha pra Mulder e Scully. A chuva continua caindo forte lá fora.

SKINNER: - Agentes, fizeram um bom trabalho no caso Pablo Villanova. Pena que alguém apagou o cara antes dele nos dar as dicas. A Interpol se encarregará do resto... Agente Scully, está bem?

SCULLY: - Sim, senhor. Nada sério.

SKINNER: - Ótimo... Bom, temos um probleminha.

MULDER: - Skinner... Hoje é Sexta-feira, nada de probleminhas...

SKINNER: - Devido as chuvas fortes, a polícia e o resgate não estão conseguindo cumprir suas tarefas, e o FBI está auxiliando no resgate das pessoas e fazendo a ronda contra possíveis saques nas lojas. Houve um maremoto na Flórida, terremotos em Los Angeles e Nova Iorque está inundada.

Mulder suspira.

MULDER: - Skinner, é que eu e a Scully precisávamos fazer uma coisa que não dá mais pra adiar.

SCULLY: - Mulder, podemos adiar pra outra semana. Qual o problema?

SKINNER: - O que vocês dois têm de tão importante pra fazer?

SCULLY: - ... Hum, não gostaria de dizer agora, senhor. É uma coisa minha e do Mulder. Algo a ver com nosso futuro.

SKINNER: - ... Sinto, agentes, mas terão de esperar.

Mulder fica nervoso. Scully segura a mão dele.

SCULLY: - Mulder, por favor! Esperou tanto tempo, um final de semana não vai fazer diferença!

MULDER: - Eu não sei, Scully, mas... Tenho a sensação de que a desgraça está lá fora, me espreitando...

Skinner caminha até a janela. Olha pra fora.

SKINNER: - Maldita chuva! Isso me deixa irritado.

Corta para fora da janela de Skinner. Na marquise, Gabriel está sentando, balançando as pernas.

GABRIEL: - (CANTAROLANDO) I’m singing in the rain... just singing in the rain... oh, gloria’s feeling... I’m happy again... nana.. nanarana... nana...naranana.. just singing in the rain...


Apartamento de Mulder – 11:21 P.M.

Mulder cochila no sofá. A TV ligada. Corta para a porta. Gabriel está parado, encostado na parede, de braços cruzados. Aproxima-se de Mulder. Coloca a mão em sua testa.

GABRIEL: - Sono profundo...

Gabriel o cheira. Passa a língua em seu rosto.

GABRIEL: - Hum, é você mesmo. Não estou enganado.

Gabriel senta-se na mesa de centro. Observa Mulder dormindo profundamente.

GABRIEL: - Amanhã irá pra Los Angeles e... (ERGUENDO AS SOBRANCELHAS/CARA DE DEBOCHE) Hum, nome sugestivo...

Gabriel levanta-se. Anda pela sala, observando tudo.

GABRIEL: - (INDIGNADO) Isso aqui está um lixo! Onde estão suas fitas pornôs e as revistas com aqueles mulherões incríveis? O que houve com você? Basta a gente sair um pouco e quando volta o caos está instalado?

Gabriel olha pra ele. Sai da sala. Abre a porta. Olha pro apartamento, com repulsa.

GABRIEL: - Lixo! Isso aqui é menos confortável que viver num trailer. E eu sei do que estou falando!

Gabriel sai, batendo a porta. Mulder não escuta, está ferrado no sono.


Apartamento de Scully – 12:38 A.M.

Scully entra no quarto, enrolada numa toalha de banho. Close dos pés dela. A toalha cai.

Corta para a janela. Gabriel a observa, de pé, no parapeito do prédio. Scully veste uma camisola e deita-se na cama. Desliga o abajur e percebe a silhueta de Gabriel dentro do quarto. Scully acende o abajur depressa. Gabriel olha pra ela. Coloca o indicador sobre os lábios pedindo silêncio e depois aponta-o pra Scully. Scully cai em sono profundo. Gabriel aproxima-se. Olha pra ela. Encosta sua boca no ouvido de Scully. Percebe-se seus lábios se moverem, mas sua voz não sai. Gabriel põe a mão sobre a barriga de Scully, (percebe-se as unhas dele de cor de prata).

SCULLY: - (DORMINDO) ... Momentum...

Gabriel percebe o crucifixo dela no pescoço.

GABRIEL: - Por ordem superiores eu te dei algo que não queria, a imortalidade. Mas um dia, implorará por mim e eu te tomarei entre minhas asas. Mas não agora. Você é imortal em carne, até eu dizer basta...

Gabriel senta-se na poltrona e a observa dormir.

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Gosto daqui. É mais limpinho... Confortável... E você é bonitinha.


Motel Mônaco - Los Angeles – 10:37 A.M.

Scully troca de roupa. Mulder entra, assustado e todo molhado.

SCULLY: - Então?

MULDER: - (EMPOLGADO) Não vai acreditar!

SCULLY: - No quê?

MULDER: - Precisa ver isso. Scully, precisa realmente ver isso.

Scully coloca os sapatos.

SCULLY: - Mulder, o que aconteceu?

MULDER: - Vinha voltando pra cá com o Skinner e de repente... A polícia estava toda em volta do corpo.

S

SCULLY: - Corpo? Que corpo?

MULDER: - Um homem, Scully... Segurava a cabeça na mão.

SCULLY: - O quê?

MULDER: - Scully, acho que encontramos um Arquivo X.

SCULLY: - Por quê? Não pode ter sido um assassinato?

MULDER: - Não... não depois de ver o corpo. Vamos lá, Scully. Precisa ir até o necrotério.

SCULLY: - Viemos por uma causa, agora você nos arranja mais serviço?

MULDER: - Ah, Scully... Você sabe que nós dois somos tão altruístas.

Scully olha pra ele, debochada. Pega o guarda-chuva.

SCULLY: - Vamos lá, Mulder. Seus olhos estão brilhando como criança que viu um brinquedo novo...


Necrotério da Polícia – 29º Distrito – 11:48 A.M.

Mulder e Scully entram com o legista, na sala do necrotério.

LEGISTA: - Não vai acreditar, Dra. Eu não acreditei.

Scully aproxima-se da mesa. Tira o lençol do corpo. Arregala os olhos.

SCULLY: - Ah, meu Deus! Os olhos foram arrancados?

LEGISTA: - Não. Ele não tinha olhos.

SCULLY: - ...

LEGISTA: - Ausência total de músculos oculares, nervo óptico. Não há nada. Nada mesmo.

Scully coloca luvas. Puxa a luminária mais pra perto do rosto. Analisa.

SCULLY: - Era cego... Mas juro que nunca vi isso antes.

LEGISTA: - A cabeça foi arrancada. Parece que perfuraram o peito com um objeto metálico e retiraram o coração arrancando-o.

SCULLY: - Com as mãos?

LEGISTA: - Acredito. Já vi de tudo em Los Angeles, mas isto é a primeira vez.

Scully examina o corpo. Mulder observa, empolgado.

MULDER: - O que acha, Scully?

SCULLY: - Pode ser algum tipo de ritual satânico. Talvez o assassino só ataque pessoas cegas.

Scully vira o corpo. Olha pro alto dos ombros e costas. Passa a mão.

SCULLY: - ... Há protuberâncias aqui... Como calos...

MULDER: - Calos ou ‘asas’?

Scully olha-o com censura. O legista aproxima-se.

LEGISTA: - E não é tudo, doutora.

O legista levanta o lençol. Scully olha incrédula.

LEGISTA: - Hermafrodita.

MULDER: - Scully, não acha que ele tem muitas coisas incomuns pra se encaixarem num padrão?

Scully tira as luvas. Suspira.

SCULLY: - É um Arquivo X, Mulder... Já vi isso.

MULDER: - (CONVENCIDO) Impressão minha ou estamos começando a falar a mesma língua?

Scully olha-o, fulminando. Sai da sala.

LEGISTA: - O que é isso, agente Mulder?

MULDER: - Acredita em anjos?

LEGISTA: - Anjos?

MULDER: - Pois, é. Tem um bem aí na sua frente. Fique de olho nele.

LEGISTA: - (ASSUSTADO) Ma-mas... Acha que ele pode sair voando?

MULDER: - Voando não, mas quem sabe ‘caminhando’?

Mulder sai da sala. O legista olha pro corpo, assustado, fazendo o sinal da cruz.

LEGISTA: - Mãe de Deus! Estamos perto do fim do mundo mesmo... Eles já estão chegando!


BLOCO 2:

Motel Mônaco – 1:33 P.M.

Scully, cabisbaixa, sentada no sofá. Mulder caminha de um lado pra outro, comendo sementes de girassol.

SCULLY: - O que um anjo faz em Los Angeles?

MULDER: - Não acha que o nome é convidativo?

SCULLY: - ... Eu... Mulder, eu não sei explicar.

MULDER: - Nem tente. Nem tente fazer isso, Scully. Por isso mesmo é um Arquivo X.

Batidas na porta. Mulder abre. Skinner entra ensopado, secando os óculos com um lenço.

SKINNER: - Temos um chamado de vandalismo. Mulder, venha comigo. Scully, se puder ajudar no hospital...

MULDER: - Sabe o cara que encontramos, Skinner?

SKINNER: - Descobriu quem era?

MULDER: - É um anjo.

Skinner coloca os óculos e olha pra Mulder debochado.

SKINNER: - Por acaso, ele se parecia com o Nicholas Cage?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ele faz seu tipo, não é?

SKINNER: - (DEBOCHADO) Não, você é quem disse que era apaixonado pelo Nicholas Cage. Estamos em Los Angeles, talvez te consiga um autógrafo. Se ele voar bem baixinho.

Scully olha para os dois indignada.

SCULLY: - Como podem fazer piadas numa hora dessas?

MULDER: - Skinner, vamos cuidar dos vândalos mortais. Divindades são departamento da Scully. Ela entende bem disso.

Os dois saem. Scully está nervosa, incrédula. Caminha até sua bolsa. Retira o crucifixo. Coloca-o pescoço. Fecha os olhos.


Los Angeles – New Chinatown – 3:21 P.M.

Um policial sobre um carro da polícia gritando num megafone para o povo se dispersar. A rua está congestionada de pessoas. O tumulto é enorme, saques, vandalismo, pedras contra a polícia. Emissoras de TV. As pessoas estão quebrando tudo. A polícia de choque intervém. O corre-corre começa. Gabriel assiste de cima de um prédio, comendo pipoca caramelada.

GABRIEL: - Aposto 20 na polícia...

Ouve-se tiros. Bombas de gás e balas de borracha começam a ser disparadas. As pessoas correm. Gabriel ergue as sobrancelhas, observando tudo, calmamente. A agitação lá embaixo é enorme. Policiais de todos os tipos começam a dispersar a multidão. Alguns são presos.

Corta pra Mulder, algemando um rapaz.

GAROTO: - Legal, maninho. Eu nem fiz nada, eu tava aqui só pra ver a coisa rolar...

Mulder coloca a mão no bolso dele. Tira um monte de jóias.

MULDER: - Legal, maninho. Eu também poderia estar em casa assistindo TV com a minha mulher, mas estou aqui, arriscando minha vida pra pegar safados como você.

O cara tenta reagir a pontapés. Policiais se aproximam e metem o cara a socos pra dentro da viatura.

MULDER: - Nada como a polícia de Los Angeles, ‘maninho’.

Mulder tira o suor do rosto. Skinner aproxima-se, tossindo e segurando a arma.

SKINNER: - Acho que está tudo sob controle... Maldita cidade, eu odeio a poluição desse lugar!

MULDER: - Por que ainda não presenciou um terremoto. Aí vai ver o que é poeira.

SKINNER: - Mulder, pelo amor de Deus, é impressão minha ou o Apocalipse chegou?

MULDER: - Chegou. Só que esqueceram de colocar uma nota de rodapé na Bíblia dizendo: Ai daqueles que forem policiais nesses dias...

Os dois saem caminhando. Vidros quebrados por toda a parte.

SKINNER: - Dez mortos e 45 feridos... O saldo dessa loucura toda.

MULDER: - A Scully disse que o governo vai ter de mandar ajuda. Os hospitais já estão sem estoque de medicamentos e primeiros socorros.

Mulder pára. Olha pra placa pendurada na marquise.

SKINNER: - O que foi, Mulder?

MULDER: - Skinner, vá pro motel. Tenho umas coisas pra resolver.

Mulder bate na porta com um cartaz: “Cuervita – Angelologia”. Uma mulher de feições latinas, morena, muito bonita, o atende.

CUERVITA: - Que quieres?

Mulder mostra a credencial.

MULDER: - Agente Mulder. Gostaria de informações.

CUERVITA: - Não vi o que se passou.

MULDER: - (SORRI) Não, eu quero saber sobre anjos.

A mulher sorri.

CUERVITA: - Entre, por favor. Não sabia que o FBI se interessava por anjos.

MULDER: - Porque estamos cansados de pegar os demônios.

Ela sorri. Mulder entra. O apartamento é todo místico, decorado com figuras, quadros e esculturas de anjos. Há um tapete no chão, onde se vê bordado a órbita dos planetas. Há duas almofadas sobre o tapete.

CUERVITA: - Sente-se, agente Mulder.

Mulder senta-se numa das almofadas. Cuervita senta-se em outra, olhando pra ele.

CUERVITA: - O que quer saber sobre anjos?

MULDER: - Anjos podem vir na Terra e assumir um corpo físico?

CUERVITA: - Anjos já estão na Terra, agente Mulder.

MULDER: - Pode me chamar de Mulder. Na verdade, não vim pelo FBI.

CUERVITA: - Gosta de anjos?

MULDER: - Não acredito neles. Não da forma como as pessoas acreditam.

CUERVITA: - E como acha que é um anjo?

MULDER: - Não tão celestial quanto pensam.

CUERVITA: - (SORRI) Qual o dia de seu nascimento?

MULDER: - Isso é relevante?

CUERVITA: - Muito. Preciso conhecer você. E só posso conhecer você sabendo o seu anjo de guarda.

MULDER: - Acho que não tenho nenhum.

CUERVITA: - Todos têm, com exceção dos que nasceram em 19/3, 31/5, 12/8, 05/1 e 24/10. São os Gênios da Humanidade, e eles já tem uma essência angelical.

MULDER: - Então eu sou humano mesmo... Nasci em 13 de Outubro.

CUERVITA: - Sexagésimo segundo anjo: IAH-HEL, que tem como Príncipe Miguel. Você tem um arcanjo como protetor.

MULDER: - E isso é ruim?

CUERVITA: - Não. Cada grupo de 8 anjos é liderado por um príncipe e tem uma missão específica. Arcanjos são responsáveis pela transmissão de mensagens recebidas. Miguel significa: Aquele que é como Deus.

MULDER: - E esse tal de IAH-HEL...

CUERVITA: - Seu anjo? A melhor hora pra falar com ele é quando ele passa na Terra. No caso do seu anjo, é das 8:20 às 8:40 da noite. O versículo preferido dele: “ As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio e cada um dos teus justos juízos dura para sempre.”

MULDER: - Fiquei curioso.

CUERVITA: - E não acredita em anjos?

Mulder sorri.

CUERVITA: - A melhor ancoragem pra ele são flores. Quer saber as características de quem tem por anjo IAH-HEL? São excelentes escritores e arquitetos. São religiosos, tem doçura de caráter. Adoram cuidar do corpo.

MULDER: - Tem certeza disso? Não sou muito religioso e sou policial.

CUERVITA: - Aposto que tem paixão por esculturas.

MULDER: - É, tenho.

CUERVITA: - E aposto que como um arquiteto, você calcula planos detalhados.

MULDER: - Tá, me convenceu.

CUERVITA: - Nem sempre as palavras são ao pé-da-letra, Mulder. O salmo do seu anjo é o 118. Seu planeta: Saturno. Este anjo ajuda a obter sabedoria, auxilia no aparecimento de idéias luminosas e a apaziguar a violência no mundo. Leva as pessoas a viverem de modo correto e honesto.

MULDER: - ...

CUERVITA: - Quando você cai pro outro lado, Mulder, quando não está bem, quem predomina é o Gênio Contrário, ou o anjo oposto. No seu caso, o anjo oposto tem por característica: futilidade, depravação, condutas escandalosas. Leva a inconstâncias nos relacionamentos e ao interesse exclusivo pelo dinheiro. Provoca brigas entre os casais, induzindo-os com maus conselhos.

MULDER: - (SORRI) Tá bom... Achei interessante saber o nome do meu anjo, mas... Eu queria saber mais sobre todos os anjos. O que você puder me falar.

CUERVITA: - Bom, a Angelologia é um tratado sobre anjos. Vem do grego daimones, que significa gênio, ser sobrenatural.


5:33 P.M.

Os dois ainda sentados no chão. Bebendo chá.

CUERVITA: - Os egípcios explicaram amplamente e com detalhes muitas coisas sobre os anjos, mas tudo foi perdido, queimado na época da ascensão do cristianismo primitivo do Ocidente. Hoje, o pouco que nos resta deriva dos estudos cabalísticos desenvolvidos pelos judeus.

MULDER: - Isso eu sei alguma coisa. O mundo cabalístico é divido em 4 hierarquias energéticas: Emanação, que é o centro de todas as energias. Criação, que é o tempo e o espaço. Formação que são as coisas concretas que tem forma definida ou o mundo das espécies, e Ação, a força pela qual cada individualidade criada age e manifesta vida.

CUERVITA: - Perfeito. Você é um bom judeu, garoto. São Thomás de Aquino, estudioso do assunto, dizia que anjos são seres cujos corpos e essências são formados de um tecido da chamada luz astral. Se comunicam com os homens através da egrégora, podendo assim assumir formas físicas. A auréola que circunda a cabeça é de origem oriental. Nimbo é o nome dado ao disco ou aura parcial que emana da cabeça das divindades... A tradição católica dividiu os 72 anjos em 9 hierarquias: Serafins: que personificam a caridade divina; Querubins: que refletem a sabedoria divina; Tronos: que proclamam a grandeza divina; Dominações: que tem o governo geral do universo; Potências: que protegem as leis do mundo físico e espiritual. Virtudes: que promovem prodígios; Principados: responsáveis pelos reinos, estados e países; Arcanjos: responsáveis pela transmissão de mensagens recebidas; Anjos: que cuidam da segurança dos indivíduos.

MULDER: - E como posso distinguir quem é quem nessa confusão toda?

CUERVITA: - Por quê? Já encontrou um anjo?

MULDER: - Pra dizer a verdade, tem um no necrotério da cidade. Se quisesse me acompanhar, acho que ia ficar estarrecida. Quem sabe vai poder me dizer quem ou o quê é aquilo.

Cuervita arregala os olhos. Levanta-se.

CUERVITA: - Vou buscar meu casaco.


Necrotério Municipal – 6:47 P.M.

Mulder entra, acompanhado de Cuervita. Gabriel passa por ele, encarando-o. Mulder pára, cismado.

CUERVITA: - O que foi?

MULDER: - Acho que já vi aquele sujeito antes...

Os dois seguem. Entram no necrotério. Há cinzas no chão, revelando um corpo cremado, estendido com os braços abertos. Mulder puxa a arma e sai correndo. Cuervita aproxima-se e observa as cinzas, curiosa.


7:37 P.M.

Scully sai do necrotério. Mulder e Cuervita olham pra ela.

SCULLY: - (NERVOSA) São cinzas do corpo daquele... daquele...

MULDER: - Do anjo?

SCULLY: - Mulder, pelo amor de Deus, o que está acontecendo aqui?

MULDER: - Foi aquele cara. Ele tá me seguindo, Scully.

SCULLY: - Cara? Mulder, do que está falando? Quem está te seguindo?

MULDER: - Um sujeito alto, meia idade... Usa roupas pretas, cabelos longos. Parece um maluco de alguma banda de rock. Não é um anjo.

CUERVITA: - Os anjos se apresentam pra você de acordo com a sua alma.

SCULLY: - (ENCIUMADA) E quem é ela?

MULDER: - Esta é Cuervita, uma especialista em Angelologia. Cuervita, esta é a Scully...

SCULLY: - (ENCIUMADA) Ah! Cuervita...

CUERVITA: - Muito prazer, agente Scully.

Scully puxa Mulder pelo braço pra um canto.

SCULLY: - (INDIGNADA) Mulder, pelo amor de Deus! Isso deveria ser mantido em sigilo absoluto, não sabemos se é um anjo ou não... As pessoas já estão assustadas com tudo isso, não precisam de uma notícia dessas, pode causar pânico generalizado! Não vai demorar e teremos uma confusão maior por aqui, com pessoas dizendo terem vistos cavalos e trombetas no céu e que isto é o Apocalipse!!!

MULDER: - Scully, por favor. Ela só quer ajudar.

SCULLY: - (EMBURRADA) E você? O que quer com ela?

Mulder suspira. Olha pra Scully, debochado.

MULDER: - Matar a curiosidade e verificar se as latinas são as mulheres mais quentes do planeta. Vou pedir pra ela dançar salsa na minha frente e pra dar uma mordida no meu ‘taco’.

Scully faz um beiço. Mulder afasta-se, irritado.


Motel Mônaco – 10:23 P.M.

Mulder, deitado na cama, sonolento. Scully batendo boca.

SCULLY: - (IRRITADA) Eu não acredito!

MULDER: - Scully, pára! Que droga de ciúme doentio você tem! Acha que se eu quisesse aprontar faria isso debaixo da sua cara?

SCULLY: - Faria. Porque trabalhamos juntos, onde eu vou, você vai.

MULDER: - (RI) Tá, Scully, chega! Tô cansado, tem essa agitação toda por aí, tem esse caso do anjo e você fica me perturbando por causa de uma mulher? Tô um bagaço! Hoje eu penso em tudo, menos em mulher!

Mulder vira-se na cama. Põe o travesseiro sobre o rosto. Scully entra no banheiro, batendo a porta.

Corta para fora do quarto. Gabriel, sentado sobre o carro de Mulder, sorri.

GABRIEL: - É... Maria e José eram mais comportadinhos... Bons tempos aqueles quando as mulheres não abriam a boca pra nada... Bem, só pra algumas coisas...


1:36 A.M.

Mulder e Scully estão dormindo. O telefone toca. Mulder atende.

MULDER: - Alô? ...... Onde?..... Tá, Skinner... Já estamos indo.

Scully abre os olhos.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Um terremoto em San Fernando Valley. Parece que a falha de Frew resolveu despertar de novo, numa escala maior, em 7.6. Precisam de você no hospital. Eu vou até lá.

Os dois levantam-se da cama. Scully fica tonta. Põe a mão na cabeça.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Nada. Me levantei rápido demais.

Os dois começam a se vestir. Scully está abatida.

SCULLY: - Mulder, me desculpe. É que estou com meus sentimentos aflorados ultimamente devido a essa confusão toda entre nós dois.

MULDER: - Tudo bem, Scully. Eu sei que é chato ser gostoso.

Scully olha debochada pra ele, enquanto fecha a blusa. Mulder aproxima-se dela, ajeitando a camisa pra dentro das calças.

MULDER: - Eu te amo, bobinha. Tenho olhos só pra você.

SCULLY: - Isso é bom, Mulder. Por que se não forem só pra mim, eu os arranco.

MULDER: - Uau! (imita um leão)

SCULLY: - Pára de besteiras!

Scully pega o sobretudo. Abre a porta.

SCULLY: - Ai, não! Droga! Está chovendo!

Mulder veste seu sobretudo. Pega o guarda-chuva.

MULDER: - Amar é... Dividir seu guarda-chuva.

SCULLY: - Ahá! Você também colecionava aquelas figurinhas!

MULDER: - Não. Minha mãe é que adorava aquelas coisas.

SCULLY: - Mulder, acho que tenho muitos segredos pra descobrir sobre você.

MULDER: - Com certeza. Quer que te explique como matei um gato com um vaso de avenca?

SCULLY: - Não!


BLOCO 3:

Northridge - San Fernando Valley - 3:23 A.M.

Geral do lugar. Prédios semidestruídos, agitação de pessoas gritando, feridas, tentando achar familiares. As emissoras de TV estão ali. Close do asfalto da rua, erguido a uns 6 metros do chão.

REPORTER: - (NERVOSA) Esse foi o pior terremoto desde 1971, onde a falha de Frew conseguiu erguer um imenso bloco de terra em um metro de altura. O terremoto de hoje alcançou 8.2 na escala Richter e destruiu, como podemos ver, grande parte de Northridge. Os geólogos alertam a população para abandonar imediatamente as áreas de risco. Foram constatados movimentos na placa do pacífico, e alguns tremores vindo da falha de San Andreas. Repetimos, as pessoas devem evacuar imediatamente as áreas de risco. O presidente decretou estado de emergência na Califórnia. A placa do pacífico está se movendo.

Close de um dos prédios destruídos. Escombros por todos os lados. Movimentos de bombeiros, policiais e pessoas que tentam ajudar. Há ambulâncias por todos os lados. Policiais carregam pessoas feridas e corpos em sacos plásticos. Os bombeiros tentam retirar as lajes. Há uma criança ali debaixo, que chora muito. Mulder tenta retirar a criança dos escombros. A criança grita sem parar. Mulder está nervoso. Os bombeiros conseguem erguer a laje, com as mãos. Um deles chega a sangrar as mãos. Mas há outra laje sobre a criança. Mulder tenta erguer a outra laje. Gabriel observa de longe. Mulder percebe.

MULDER: - (GRITA) Ei, nos ajude!

Gabriel fica parado, observando, indiferente.

MULDER: - Me ajuda, seu desgraçado! O menino vai morrer!

Gabriel aproxima-se do menino. Aponta pra ele. O menino morre. Mulder arregala os olhos. Gabriel assopra o dedo como se fosse uma arma, olhando debochado pra Mulder.

GABRIEL: - Ele já estava morto.

Mulder olha pra criança. Olha pra Gabriel. Está catatônico. Um dos bombeiros mede o pulso do menino.

BOMBEIRO: - Esqueçam. Vamos procurar mais sobreviventes.

Eles largam a laje com cuidado. Mulder fica parado, olhado pra Gabriel. Gabriel faz um gesto com a mão como quem diz: ‘Ei, está dormindo?’. Mulder se irrita e vai até ele.

MULDER: - ... Quem é você, seu desgraçado? E por que está me seguindo? Por que queimou o corpo no necrotério?

GABRIEL: - Ora, você mesmo disse que sou um desgraçado. Então realmente não sabe quem eu sou.

MULDER: - Ou melhor, o que é você?

GABRIEL: - Bom, na cultura primitiva de vocês eu seria o que chamam de anjo.

MULDER: - (RI DEBOCHADO) Anjo? Pelo que eu saiba, anjos têm asas e não matam criancinhas.

GABRIEL: - Como eu disse, na cultura de vocês.

MULDER: - ...

GABRIEL: - Ou esperava que eu tivesse uma túnica branca e longas asas? Isso está fora de moda!

MULDER: - (INCRÉDULO) Não acredito. Você deve estar brincando.

GABRIEL: - Nunca brinco, Mulder.

MULDER: - Como sabe meu nome?

GABRIEL: - Conheço você há muito, muito tempo...

Gabriel aproxima-se de Mulder. Coloca o braço sobre ele.

GABRIEL: - Precisamos conversar. Não estou aqui porque gostaria de estar, mas faz parte do trabalho e... você sabe como são essas coisas.

MULDER: - Anjo... (RI) Você é maluco!

Mulder se afasta dele.

GABRIEL: - Por que sou maluco?

MULDER: - Anjos de sobretudos, cabelos longos, botas de roqueiro e ... (ESPANTADO) unhas pintadas?

GABRIEL: - Ah, por favor. Cada um vê o anjo de acordo com sua alma. Por exemplo, se eu aparecesse pra sua ‘coleguinha de cama’, ela me veria como um ser divino, com asas, auréolas e sabe Ele o que mais!

MULDER: - Se é um anjo, o que quer comigo?

GABRIEL: - Negócios.

MULDER: - (RINDO) Eu não acredito em Deus! Por que veio me procurar? Vá falar com a Scully!

GABRIEL: - Não acredita em Deus ou não acredita no Deus criado pelas religiões?

MULDER: - ...

GABRIEL: - Existem várias idéias de Deus... Isso não significa não acreditar Nele... Mas vamos ao que interessa. Que tal tomarmos um café e conversarmos? Hum?

MULDER: - Cara, você é doente! Qual é a sua?

GABRIEL: - Não se preocupe, anjos não têm sexo...

MULDER: - ... Mas que raios você tá falando?

GABRIEL: - Da rosa. Não estou interessado em você.

Mulder olha pra ele incrédulo. Gabriel retribui um sorriso.

GABRIEL: - Vamos, Mulder, relaxa. Preciso falar com você. Poderemos ser grandes amigos.

MULDER: - Por acaso você é Lúcifer?

GABRIEL: - Não me confunda com o orgulhoso bonitão.

MULDER: - Então quem é você?

GABRIEL: - (SÉRIO) Gabriel. O mensageiro da Anunciação.

Mulder fica estático. Sente o corpo amolecer. Fecha os olhos. Gabriel olha pra ele.

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Sei o que está pensando, mas não vou dizer: bendito és tu entre os homens, e bendito é o fruto do... Você sabe. Essas coisas romantizadas que os profetas escreviam... Literatura barata... Eu não compraria... Não mesmo. Não havia bons escritores naquela época. Eles não entendiam nada, distorciam tudo o que viam.

Mulder continua de olhos fechados, nervoso.

GABRIEL: - Ou preferia que eu aparecesse como um ET?

MULDER: - Você é um ET?

GABRIEL: - (PENSATIVO/ DEBOCHADO) Bom, admitindo que sou de fora da Terra, visto por essa perspectiva analítica, eu diria: Sou um ET. Você tem cerveja?

MULDER: - Mas que raio de anjo é você?

GABRIEL: - Só porque sou anjo não posso ter prazeres terrestres enquanto estou aqui, preso nesse corpo? Venha, vamos comer um donuts, tomar um café... O que acha, hein?

Mulder puxa a arma.

GABRIEL: - Ah, pára com isso. Essa droga não adianta. Vamos conversar como dois adultos. Se não gostar do que tenho pra dizer, pode ir embora. Então? Podemos conversar?

MULDER: - ...

GABRIEL: - Eu menti.

MULDER: - Mentiu sobre o quê?

GABRIEL: - Anjos têm sexo.


Hospital Geral de Los Angeles – 3:42 A.M.

Scully está na emergência, sentada, terminando de fazer curativos num homem. Cuervita entra, toda machucada. Scully olha pra ela.

SCULLY: - O que houve com você?

CUERVITA: - Entraram na minha casa, levaram o que eu tinha e me empurraram da escada.

Scully levanta-se e vai até ela. Observa seus ferimentos.

SCULLY: - Vou pedir uma tomografia. Pode ter lesões internas.

Scully puxa uma cadeira.

SCULLY: - Sente-se. Vou dar um jeito nisso.

Scully troca as luvas. Senta-se de frente pra ela, puxando uma mesinha com alguns utensílios.

SCULLY: - Desculpe pela minha grosseria no necrotério.

CUERVITA: - Ah, tudo bem. Ele é bonito mesmo.

Scully sorri. Cuervita olha pra ela.

CUERVITA: - Já tive um namorado assim. Tome cuidado. Nosso relacionamento terminou porque eu tinha ciúmes até do sol que brilhava no rosto dele.

Scully limpa os ferimentos dela.

SCULLY: - Hum, não está tão feio assim. Vai se recuperar.

CUERVITA: - Começou, não é?

SCULLY: - Começou o quê?

CUERVITA: - O Apocalipse.

SCULLY: - Acha mesmo?

CUERVITA: - Acho... Pela cruz que carrega em seu pescoço, vejo que é católica.

SCULLY: - É.

CUERVITA: - Também sou, mas não frequento muito a igreja... Que dia você nasceu?

SCULLY: - 23 de fevereiro.

CUERVITA: - Pisciana? Hum, pisciana e libriano dá uma ótima dupla.

SCULLY: - (SORRI) Já li o contrário.

CUERVITA: - Você tem capacidade de percepção e um toque místico, sabia? Entre vocês o comum é o romantismo, a sedução e o companheirismo... As maiores qualidades de Libra são alegria, harmonia, justiça, sensibilidade e simpatia. Maiores defeitos: Ingenuidade, insegurança, dependência, pessimismo e indecisão. Cuidado com ele.

SCULLY: - Acho que acredito mais em você do que naquela revista do Mulder.

CUERVITA: - Tem um anjo muito bonito, sabia?

SCULLY: - É?

CUERVITA: - Ele chama-se Vehuel, passa na Terra das 4 às 4:20 da tarde. Ele é da categoria dos Principados, seu Príncipe é Haniel. Haniel resolve problemas de amor e é o chefe dos cupidos.

SCULLY: - (RINDO) Sério?

CUERVITA: - Era mestre do Rei David. Protege o mundo mineral, fauna e flora, e é responsável por países, estados e reinos. Também pode invocá-lo contra as forças do mal.

SCULLY: - (CURIOSA) E isso significa que...?

CUERVITA: - O Salmo de Vehuel é o 144. Seu versículo preferido: “Bendito seja o senhor, rocha minha, que é meu escudo e aquele em quem confio. Bem aventurado é o povo, cujo Deus é o Senhor.”

SCULLY: - ...

CUERVITA: - Você é uma pessoa com muita sorte no trabalho. Se livra fácil de situações embaraçosas. A ancoragem de seu anjo são os cristais. Ele ajuda na elevação a Deus, para todas as manifestações benéficas, colabora para a glorificação de todas as pessoas e para a admiração do reino celestial. Mas seu Gênio Contrário domina o egoísmo, a hipocrisia e a vingança. As pessoas sob sua influência apresentam tendência à infidelidade, paixões repentinas, presunção e prática de magia negra.

SCULLY: - Devo acreditar nisso?

CUERVITA: - Quando cair e o Gênio Contrário te dominar, vai lembrar do que eu disse.

Scully olha pra ela.

SCULLY: - Eu... Eu sei pouco sobre anjos, o que sei é mais na visão católica... Mas tem algo me incomodando. O que Gabriel e Miguel significam?

CUERVITA: - Gabriel e Miguel? Anjo e Arcanjo? Por que pergunta?

SCULLY: - Eu... Eu não sei, mas os nomes vieram na minha cabeça. Como se algo tivesse assoprado no meu ouvido.

CUERVITA: - No apócrifo do Evangelho de São Bartolomeu, Deus criou o homem à sua imagem, utilizando o barro que o Príncipe Miguel retirou dos quatro cantos da Terra. Miguel foi prestar homenagem à primeira criação de Deus, junto com Lúcifer. Foi onde Lúcifer se recusou a prestar homenagem a um punhado de barro e onde o mal teve início. Gabriel era o mensageiro de Deus, foi ele quem explicou as visões à Daniel.

SCULLY: - Mas o que os dois têm em comum?

CUERVITA: - ... Ambos estão ligados ao nascimento de Jesus. Gabriel fez a anunciação. Miguel apareceu aos Reis Magos. Alguns dizem que Miguel defendeu Jesus, alertando José da perseguição que viria. São os dois protetores do filho de Deus.

Scully fica pensativa.

SCULLY: - Sei lá por que isso veio na minha cabeça... Deixa pra lá.


Cafeteria San Gabriel – Los Angeles – 4:21 A.M.

Mulder e Gabriel sentados à mesa. Gabriel reclina-se na cadeira. Sempre com ar de deboche.

GABRIEL: - Ah! Me sinto como dono desse lugar... Posso ver o Monte San Gabriel daqui. Acho que também é meu.

MULDER: - (IRRITADO) O que tem pra me dizer?

GABRIEL: - Bom, você sabe o que vim fazer. Já fiz isso há... (PENSATIVO, COM O INDICADOR NO LADO DO ROSTO) Calculando pelo tempo terrestre... mais de 2 mil anos. Mas não se preocupe, seu filho não é Ele.

MULDER: - ...

GABRIEL: - O que me traz aqui é que... esta situação me preocupa, sabe? Você é metade humano e metade Deus.

MULDER: - Deus?

Mulder está atordoado, só escuta e mal consegue se mexer.

GABRIEL: - Alienígena, se prefere a palavra. O que significa que seu filho possuirá genes que ajudarão a humanidade a sobreviver ao caos. Na verdade, meu querido, seu filho será a matriz... (PENSATIVO) Não, não seria isso... Ele vai ser a matéria prima pra salvar a humanidade do que chamamos Armagedom.

MULDER: - ... (PÂNICO)

GABRIEL: - Não, não fique catatônico deste jeito... Essas coisas acontecem.

MULDER: - (AMEAÇADOR) E se não acontecerem?

GABRIEL: - Acontecerão. Precisam acontecer. Acha que dormir algemado a sua ruivinha vai ajudar em alguma coisa?

MULDER: - ... Como sabe disso?

GABRIEL: - (PISCA O OLHO) Eu sou voyeur.

Mulder fecha os olhos.

GABRIEL: - Acontece porém, meu caro macaco-deus, que os planos lá em cima estão meio confusos, sabe? Há dissidência... Probleminhas internos que toda grande empresa têm. Há alguns sujeitos metendo o nariz onde não são chamados, outros querendo coisas que não podem ter... Uns querem esse planeta, porque querem levar vocês pro quinto dos infernos, transformar o céu no segundo inferno, querem concorrência e nem abrem licitação com O Cara... Me desculpe, Lúcifer, nada contra sua pessoa. Sou anjo também... Mas isso não vem ao fato. O que precisa saber é que tudo foi planejado e está sendo executado sob a supervisão do ‘Senhor Deus’... Até tudo acontecer, terei de esperar pra descer aqui de novo, tocando minha trombeta e carregando os desgraçados que me pertencem.

MULDER: - ... (PÂNICO)

GABRIEL: - Não, você não é um deles, embora eu venha te buscar daqui mais alguns anos.

MULDER: - ... (PÂNICO)

GABRIEL: - Impressão minha ou minha conversa está te assustando?

MULDER: - ... (PÂNICO)

GABRIEL: - Bom, vou ser sintético. Preciso que fique do lado dela e a ajude.

MULDER: - E a criança?

GABRIEL: - Isso é outra história. Você deve cuidar da sua mulher. O resto já está traçado.

Mulder, enfurecido o segura pela camisa. Gabriel olha pra ele.

MULDER: - Seu maldito desgraçado!

GABRIEL: - Ei, não me toque por favor.

MULDER: - Seu miserável...

Gabriel assopra e Mulder voa dois metros de distância, caindo por sobre uma mesa. Gabriel limpa a roupa.

GABRIEL: - Você é muito petulante, sabia?

Mulder levanta-se.

MULDER: - Vai ter de me matar antes que eu deixe levar o nosso filho.

GABRIEL: - Senta aí, rapaz, acalme-se. Coma mais açúcar, vai te fazer bem.

MULDER: - Você conseguiu ser mais irônico e mórbido do que eu!

GABRIEL: - Aliás, isso é o que gosto em você. Você e eu combinamos muito.

MULDER: - Por quê? Por que eu?

GABRIEL: - Bem, há uma batalha muito maior lá em cima, pior do que a que você está travando. Estou anunciando que será pai.

MULDER: - E de pensar que me diziam que Gabriel era a Palavra de Deus.

GABRIEL: - Mensageiro da Palavra. Mas alguns anjos, falam que a Palavra anda muito mais preocupada com fétidos asquerosos como vocês do que conosco, as criaturas que Ele mais amava. Por causa de vocês quando a Palavra encarnou e morreu, vocês passaram a ter o Espírito Santo, foram elevados a imortalidade. E passaram a ser o centro das atenções. E nós, anjos, ficamos como babás dessa raça idiota que se mata por si própria e que se prolifera mais que ratos em esgotos.

MULDER: - ...

GABRIEL: - O sujeito que viu no necrotério estava por aqui dando uma espionada. Eles desconfiam do seu filho. Mas quando souberem, vão querer matá-lo. Ele representa a resistência rebelde ao que chama de invasão. Mas eu posso evitar que isso aconteça. Posso salvar seu filho.

MULDER: - Você é um desgraçado, sabia? Você é um anjo caído!

GABRIEL: - (DEBOCHADO) É, eu caí, mas levantei e agora estou sentado aqui tomando café com rosquinhas. Se não aceitar minha ajuda, os homens e aqueles dissidentes dos planos divinos, tomarão seu filho de você.

MULDER: - Que alternativa tenho eu nisso?

GABRIEL: - Nenhuma.

MULDER: - Vi você matar aquela criança, como acha que vou acreditar em você?

GABRIEL: - Mulder, não tem outra alternativa.

MULDER: - Pra onde vão levá-lo?

GABRIEL: - Pros céus.

MULDER: - Vai matá-lo?

GABRIEL: - Ora, Mulder, há muitas maneiras de se levar alguém pro céu sem matar essa pessoa. Maria foi uma delas.

Gabriel levanta-se. Mulder abaixa a cabeça. Gabriel volta.

GABRIEL: - Ah, quer saber quem são os 7 anjos do Apocalipse?

Mulder olha pra ele, sentindo-se impotente.

GABRIEL: - Rafael, Miguel, Uriel, Ragüel, Sariel, Remiel e... Claro, eu. Os sete espíritos que estão na presença de Deus. Ah, só pra saber: Minha cor preferida é o violeta. E pode me chamar de Azrael, é Gabriel em hebraico... Minha hierarquia é Teth, a dos anjos, e eu sou o Príncipe dos Anjos.

Gabriel materializa a trombeta nas mãos. Sai assoviando. Mulder abaixa a cabeça.

GABRIEL: - Não entendo os homens... Acho que o problema deles é a dualidade das coisas... Também pudera, não existem palavras em sua língua pra explicar isso pra eles!

Gabriel sai caminhando pela rua. Pára. Começa a cheirar o ar. Vira-se rapidamente. Um homem, de sobretudo, semelhante a ele, o observa.

MIGUEL: - Seus métodos são chocantes, Gabriel. Não pode ser um pouco menos cruel? Eles são dotados de sentimentos, não sabia disso?

Os dois se aproximam. Trocam beijos em suas testas.

GABRIEL: - Se visse o que eu vi, do outro lado do muro, também aprenderia a falar desse jeito.

MIGUEL: -... Não, eu tenho outros métodos.

GABRIEL: - É porque o pior fica pra mim. Eles nunca entendem o que eu falo! ...Odeio quando me deixam com céticos como ele. Os crédulos ficam pra você. Por falar nisso, já resolveu seus problemas?

MIGUEL: - Cheguei agora.

GABRIEL: - Ah! Então boa sorte. Não sabe o caus que isso aqui está.

Gabriel vai afastando-se.

MIGUEL: - (GRITA) Ei, prazer em trabalhar com você de novo!

Gabriel ergue a mão fazendo um gesto de ‘quem se importa’. Continua caminhando.


BLOCO 4:

Hospital Geral de Los Angeles – 6:22 A.M.

Scully sai de uma sala, vestindo um jaleco. Miguel, escorado na parede, bebe um café. Scully olha pra ele. Miguel sorri.

MIGUEL: - Oi! Cansada, Dra?

SCULLY: - É médico também?

MIGUEL: - Não, sou médico espiritual.

SCULLY: - Ah!

Scully senta-se. Miguel senta-se ao lado dela.

MIGUEL: - Só vim ver alguém. Por isso estou aqui. Quer um café?

SCULLY: - Não, obrigado. Vou respirar um pouco e voltar pro meu quarto... Dormir como um anjinho!

MIGUEL: - Tenho certeza disso.

Scully fecha os olhos. A presença dele a perturba.

SCULLY: - Eu...

MIGUEL: - Não diga nada, Dana.

Scully olha pra ele. Miguel olha pra ela. Scully fica perplexa, como que hipnotizada.

MIGUEL: - Sei que Gabriel só fala, fala e acaba deixando todo mundo louco e mais assustado. Eu sou Miguel, e vou defendê-la. Eles não podem vencer Deus.

SCULLY: - ...

MIGUEL: - Agora vá pro motel, durma e relaxe. Estarei sempre do seu lado, mas não vai lembrar do que conversamos aqui hoje.

Scully levanta-se. Sai pelo corredor. Miguel olha pra ela, sorrindo. Vira o rosto, erguendo o nariz, pressentindo algo. Gabriel aproxima-se.

MIGUEL: - Ah, é você.

GABRIEL: - Acha que seus métodos são menos assustadores do que os meus? Você me dá medo! Só porque Ele te deu a missão de proteger o mundo quando este corre perigo... Sei não. Você é assustador.

MIGUEL: - O que faz aqui?

GABRIEL: - Vim pegar uma remessa fresquinha.

MIGUEL: - Ah! E eu sou o assustador!

GABRIEL: - Olha aqui, eu sou a voz de Deus, você é o guerreiro de Deus. Portanto, pegue sua espada, vá pra Washington, que vou pegar minha trombeta e fazer o mesmo. A Babilônia começou a cair e quero terminar isso logo e voltar pro meu canto lá em cima. Vou assistir tudo de longe. Boa sorte.

Gabriel vai caminhando pelo corredor. Miguel levanta-se.

MIGUEL: - Ei, que tal algumas rosquinhas?

GABRIEL: - Já comi muito açúcar por hoje!

MIGUEL: - Você é o pior Relações Públicas do Universo, Gabriel! Eu não te contrataria!

GABRIEL: - Mas até hoje meus métodos sempre funcionaram, não? Pergunte a Cristo! Se eu não tivesse falado, ele nunca teria vindo!

Miguel abaixa a cabeça e ri.

MIGUEL: - Ah, Gabriel. Deus esteja sempre contigo.

Gabriel já longe, grita.

GABRIEL: - Eu ouvi isso! Como você é romântico. Igual aqueles profetas!


Motel Mônaco – 10:31 P.M.

Scully e Mulder entram no quarto. Se arrastando. Scully senta-se na cama. Mulder tenta tirar o sobretudo, mas mal consegue fazer força.

MULDER: - Acha que vou precisar usar o pé pra espremer o creme dental?

Scully sorri cansada.

SCULLY: - Banho! Eu quero um chuveiro em cima de mim! O banheiro tá longe demais.

Trovoadas. A chuva começa. Mulder tira a camisa.

SCULLY: - Mulder.

MULDER: - O que é?

Mulder olha pra Scully. Há uma goteira no teto, caindo em cima dela.

MULDER: - Puxa, Scully... Você pede, você ganha.

SCULLY: - Me ajuda a empurrar a cama!

Os dois empurram a cama, caindo de bruços sobre ela. Olham um pro outro, cansados.

MULDER: - Scully?

SCULLY: - ... Que é?

MULDER: - Acho que não consigo levantar mais daqui.

SCULLY: - Mulder... Estamos há 48 horas sem dormir... Esqueça o banho.

Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Tá frio.

Mulder pega a algema do bolso. Ele se arrasta até ela e coloca seu braço por cima dela. Se algema nela. Scully olha pra ele. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - (MURMURA, CANSADO) Nem Deus vai tirar você de mim, Scully.


9:47 A.M.

Mulder acorda-se. Ouvindo o celular. Estende o braço e o atende.

MULDER: - ... Mulder...

Mulder ergue-se da cama, levando o braço de Scully e ela junto. Ela se acorda assustada.

MULDER: - (GRITA) Não, eu não vou!

Scully, com o braço algemado e estendido arregala os olhos.

MULDER: - Não quero saber. Eu não vou, Skinner. Não!

Mulder desliga. Scully olha pra ele.

SCULLY: - O que foi?

Mulder senta-se na cama. Põe as mãos no rosto. Percebe que ainda está algemado a ela. Olha pra ela.

MULDER: - Desculpe.

Mulder tira as algemas.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Querem que eu volte pra Washington. Você fica... Eu não vou. Não me pegam mais nessa.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (IRRITADO) Não. E não discuta comigo porque vamos brigar. Eu não vou e tô pouco me lixando pra ordens. Que venham me prender!

SCULLY: - ...

MULDER: - Tem certeza que não quer ir pra La Macella? Vamos fugir daqui, esquecer tudo... Eu vou lecionar, você pode trabalhar no hospital...

SCULLY: - Mulder...

Mulder levanta-se. Começa a chutar os móveis. Scully suspira.

SCULLY: - Mulder, se acalme!

MULDER: - Diabos! Diabos!

Gabriel entra no quarto. Mulder olha pra ele. Scully não vê Gabriel. Gabriel aproxima-se dela e sopra em seu ouvido. Scully levanta-se e coloca um casaco.

SCULLY: - Vou pegar café pra nós dois, Mulder.

Scully sai. Mulder olha pra ele, incrédulo.

MULDER: - (IRRITADO) O que faz aqui?

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Vim ver por que está chamando Lúcifer... Prefere os serviços dele? Ele está mais próximo de você do que pensa.

Gabriel revira os bolsos.

GABRIEL: - Acho que tenho um cartão com o telefone dele por aqui... Mas precisa marcar hora primeiro. Ele anda muito atarefado.

MULDER: - (IRRITADO) Olha aqui, você está me irritando! Está por trás disso também?

GABRIEL: - Não vá pra Washington sem ela. Pode fazer isso por nós dois?

MULDER: - ?

GABRIEL: - Agora pegue suas coisas e as dela e sumam daqui.

MULDER: - Por quê?

GABRIEL: - Por que... Ah, eu não preciso te dar explicações. Por que sempre quer saber os porquês? Cai fora! Agora.

Mulder aproxima-se de Gabriel.

MULDER: - Olha aqui, desgraçado.

Gabriel segura Mulder pelos braços.

GABRIEL: - Tem certeza de que quer que eu olhe?

Mulder olha nos olhos dele. Imagens de um inferno, com pessoas agonizando, implorando ajuda. Mulder afasta-se.

GABRIEL: - (FERINO) Saia agora daqui. Vou tocar um jazz. E estou inspirado.

Gabriel dá as costas. Mulder percebe o que vai acontecer e começa a atirar as roupas na mala, desesperado. Scully entra no quarto.

SCULLY: - Esqueci a carteira. Não sei o que deu em mim...

MULDER: - (NERVOSO) Scully, esqueça do café. Pegue suas coisas e vamos embora.

SCULLY: - Pra onde?

MULDER: - Pra bem longe daqui.

SCULLY: - Mulder, o que houve? Pra onde vamos?

MULDER: - Vamos pro Egito, Scully.

SCULLY: - (INCRÉDULA) O quê?

MULDER: - (PÂNICO) Ah, meu Deus! Acho que aquele anjo me contaminou com aquele sarcasmo ferino!


Apartamento de Mulder – 10:13 P.M. - Um dia depois.

Mulder, deitado no sofá, assiste TV.

TV (OFF): - As pessoas estão assustadas. A falha de San Andreas está aumentando e já causou vários terremotos por Los Angeles. O presidente decretou estado de emergência e pediu evacuação total das regiões próximas. O centro de meteorologia avisa que haverá mais terremotos e a chuva, que já causou muitos estragos, durará até final do mês... O Centro de Controle de Moléstias informa que novas pesquisas sobre a gripe que está matando milhares de pessoas no mundo todo...

Mulder desliga a TV. Senta-se no sofá. Põe as mãos no rosto.

MULDER: - Vou enlouquecer... Eu vou enlouquecer...

O telefone toca. Mulder atende.

MULDER: - Mulder.

MARGARET: - Fox... É Meg.

MULDER: - Meg... Aconteceu alguma coisa?

MARGARET: - Dana... Fox, ela está no hospital.

MULDER: - O que houve?

MARGARET: - Ela não quis contar a você, mas nos últimos meses tem se sentido muito doente. Acha que o câncer voltou.

Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Tá, Meg, já tô indo.

Mulder levanta-se. Pega o casaco e as chaves do carro. Sai depressa.


Hospital Trinity – 10:59 P.M.

Mulder entra no corredor. Vê Meg. Mulder caminha, quase empacando, tremendo de nervosismo.

MULDER: - Onde ela está?

MARGARET: - (NERVOSA) No quarto.

MULDER: - ... Meg, eu... Eu não sei se prefiro que isto seja o que penso que é, ou que eu tenha tirado o chip errado.

Meg fecha os olhos. As lágrimas correm.

MARGARET: - Ela não quer falar comigo. Quer falar com você.

Mulder empurra a porta, bem devagar. Olha pra ela, que está sentada na cama, chorando, cabisbaixa. Mulder entra. Enche os olhos de lágrimas.

MULDER: - Eu...

Scully ergue a cabeça, chorando de felicidade. Mulder aproxima-se. Senta-se na cama.

SCULLY: - ... Mulder...

MULDER: - (CAI NO CHORO) Me perdoa! Eu só quis te ajudar!

Scully o abraça. Mulder continua chorando, Scully afaga seus cabelos. Mulder afasta-se dela.

MULDER: - Me perdoa! Eu deveria ter desconfiado do seu nariz sangrando...

SCULLY: - Mulder... Fiz uma radiografia. Tem um objeto de metal alojado em meu nariz. Por isso estou sangrando.

MULDER: - Mas Scully, não tinha nada aí, eu mesmo vi os resultados... Deus! Te abduziram de novo!

SCULLY: - Não vou tirar esse chip, Mulder. Tenho medo. Não sei pra que serve, mas eu tenho medo. Mulder... Não estou com câncer.

Mulder fecha os olhos e as lembranças do sonho voltam em sua cabeça.

SCULLY: - Mulder, eu... (EMOCIONADA) Eu estou grávida!

Scully o abraça com força. Mulder fica com o olhar perdido, derrubando lágrimas, não consegue abraçá-la.

MULDER: - Há quanto tempo, Scully?

SCULLY: - (CHORANDO DE FELICIDADE) Quase três meses!

Mulder parece que vai desmaiar. Apenas um nome vem em sua cabeça: Knoxville. A abdução em Knoxville. Ele lutou todo esse tempo contra o que já estava feito.


Rua 46 Oeste – Nova Iorque – 11:11 P.M.

O Canceroso observa os homens do Sindicato. Fuma, segurando o nervosismo.

HOMEM 1: - O Projeto Messias já está em andamento. Terminamos a fase I.

CANCEROSO: - ...

HOMEM 1: - Os escritos de Bill Mulder que o russo nos entregou, nos deram a nossa salvação. Então poderemos dar início à fase II. Já que não temos os genes, precisamos de Mulder.

CANCEROSO: - ... Bando de imbecis!

O Canceroso esmurra a mesa.

CANCEROSO: - E espero que os alienígenas não saibam do projeto! Sei que o russo entregou isso, mas não devem alertá-lo sobre o que faremos.

HOMEM 1: - O russo sabe do projeto. Ele vai nos ajudar muito.

O Canceroso levanta-se, incrédulo.

CANCEROSO: - Como Alex Krycek sabe disso?

HOMEM 1: - Ele trabalha conosco. Não podemos criar confusão com os russos. O momento é de aliança se quisermos descobrir a nova vacina.

O Canceroso fecha os olhos.

CANCEROSO: - Estão vendo? Percebem por que eu precisei esconder isso de vocês? Perdemos todas as mulheres! Mas ainda temos uma delas viva. Agradeçam à mim! Agora entendem por que eu disse que matá-la seria uma imbecilidade? Teríamos perdido uma cobaia. A cobaia certa.

HOMEM 1: - Já arranjamos novas mulheres pra isso. Pensem na perfeição. Vamos ter um legítimo exemplar genético que sobreviverá ao caus. Agora somos Deus, senhores.

O Canceroso apaga o cigarro. Acende outro.

CANCEROSO: - Prossigam com o plano. Talvez nos reste pouco tempo. Eles estão largando sua peste entre nós. Precisamos descobrir a vacina logo. Eu me encarrego da agente Scully.

O Canceroso sai da sala. Os homens se entreolham. Krycek sai de uma porta. Olha pra eles, sério.

KRYCEK: - Eu não disse à vocês? Ele começou o Projeto sozinho. Nos passou a perna.

HOMEM 2: - Não temos provas disso.

KRYCEK: - Será? Por que acham que ele quer se encarregar da agente Scully? Ela já está grávida!

HOMEM 1: - Talvez Alex tenha razão. Melhor ficarmos de olho nela.

KRYCEK: - Ele forjou tudo. Por isso não queria matá-la. Ele começou isso sem nós.

HOMEM 1: - Acha que está nos mentindo? Ele usou os genes que roubou de Mulder?

KRYCEK: - Não. Ele usou genes do Mulder mesmo. Ele não teve sucesso com o transplante. Com certeza, Mulder foi abduzido também.

HOMEM 2: - Como pode ter certeza de que ela foi inseminada?

KRYCEK: - Por que não seria? Não está tão perto de Mulder? Quem desconfiaria? Foi o meio ideal que ele achou pra não levantar suspeitas aqui dentro.

HOMEM 1: - Isso é uma imbecilidade! Nós sabíamos que ela era estéril! Ele pensou que não ficaríamos desconfiados?

KRYCEK: - E ele contava que vocês ficariam desconfiados da gravidez dela. Por isso sugeriu que a usassem. Vocês nunca desconfiariam que ele começou o projeto antes.

HOMEM 2: - Ela sabe que é estéril, vai descobrir logo! Vai matar o feto!

KRYCEK: - Acho que não. Ela é a mãezinha ideal. Ela quer um filho. Temos isso a nosso favor.

HOMEM 1: - Mas mesmo que ela esteja pronta, não podemos arriscar uma única matriz. Os planos permanecem.

KRYCEK: - Mas eu quero aquele feto. Acho que ele vai ser o escolhido. Ela vai cuidar muito bem dele, nós sabemos disso. Ela é a ideal.

HOMEM 2: - Por que quer aquele feto?

KRYCEK: - Porque não vou dar o gosto da vitória pro Mulder e nem pro paizinho dele. Ou acham que ele não vai proteger o neto? Agora que sabem da verdade, sabem que ele protegeu Mulder durante todo esse tempo e enganou vocês.

HOMEM 1: - Besteira, Alex. Ele nos deu o filho, por que não daria o neto? Ele talvez tenha escondido a verdade pra entregá-la aos homens certos aqui, não pra aquela velharada tola.

KRYCEK: - Não confiem nele.

HOMEM 2: - Mantenha vigilância.

KRYCEK: - Com toda a certeza.

HOMEM 2: - Vamos ficar de olho no velho. Não sabemos o que está aprontando.

Corta para o hotel em frente. O Canceroso entra num quarto. Aproxima-se de um gravador de rolo que está gravando. Escuta a conversa do Sindicato. Acende um cigarro. Dá um sorriso com o canto da boca.

CANCEROSO: - Desista, Krycek. Essa criança é minha.

TO BE CONTINUED


06/05/2000

5 de Agosto de 2019 a las 00:03 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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