enandrade E. N. Andrade

Eden e Kurt, os irmãos Sherwood, são enviados por seus pais para o Instituto Militar de Isolamento Educacional, por conta de uma tradição familiar. Porém, algo não está certo. Ao ingressar no campus, Kurt é acometido por uma terrível dor de cabeça que nenhum remédio consegue curar, mas que inexplicavelmente desaparece quando um peculiar garoto está por perto. As notícias sobre vítimas de um assassino em série ficam cada vez mais frequentes, um terrível criminoso que ataca mulheres em estágio inicial de gravidez. E seus ataques estão cada vez mais próximos dos arredores do Instituto. Em uma noite tempestuosa, um poste é atingido por um raio, causando um grande apagão na comunidade de Wellington e consequentemente no campus. Com ele, uma nova vítima é feita, mas quem será o verdadeiro culpado?


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O ESTRANHO

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EDEN SHERWOOD


Pelo riacho do bosque, a água corria naturalmente. Calma, translúcida, doce e solitária. Eu estava sentado na pedra da margem com os pés imersos, uma leve brisa do anoitecer acariciava minha face e o único som era o dos pássaros cantado em algum lugar na floresta, mas logo a brisa se tornou agressiva, fazendo com que os galhos das árvores balançassem e os pássaros voassem para o céu.

Não sei se eram corvos ou urubus, nem tive tempo de pensar a respeito, pois um ruído ecoou de algum lugar acima de minha cabeça, olhei para o céu negro na tentativa e encontrar a origem do som estranho que se assemelhava a trovões e o bater de asas.

Finalmente encontrei. Ela estava vindo rápido como um míssil, eu queria fugir como os pássaros, mas eu não tinha asas e algo me prendeu. Nada físico, mas sim um medo instintivo. A criatura alada surgiu, me joguei para trás, mas ela avançou sobre mim, fazendo minhas costas ralarem contra a pedra com tamanha força que rasgou minha camisa.

Pisquei os olhos nervosamente, não havia o que fazer. Ela estava sobre mim com suas asas abertas sobre as costas, tinha os olhos vermelhos em fúria, pele escura e fria, ao perceber o meu medo, ela sorriu de uma forma diabólica.

— Está chegando — ela sussurrou num tom rouco com o sotaque estranho e um hálito que cheirava à morte.

Não entendi o que queria dizer e antes que pudesse pensar, senti suas garras sendo enterradas em meu abdômen. Uma dor insuportável me invadiu, ela moveu as garras para me torturar um pouco mais, mas não consegui gritar. Eu estava impotente e não conseguia desviar os meus olhos dos dela, eu apenas chorei em agonia.

***

Quando abri os olhos, eu estava na minha cama, são e salvo. Sentei assustado, já havia amanhecido.

— Que merda! — Falei ao perceber que tudo não havia passado de mais um pesadelo.

Olhei em volta, lá estava Kurt sentado em sua cama também. Tão magro que as costelas apareciam, ele me encarava como se eu fosse um louco, mas eu não podia culpá-lo. Ultimamente eu me sentia cada vez mais estranho.

— Foi só mais um pesadelo. — Me justifiquei antes que ele perguntasse.

— Eu sei — ele respondeu me analisando, Kurt sempre sabia das coisas.

O suor escorria por sua testa, cheguei à conclusão de que ele também não teve uma boa noite de sono.

— Noite ruim?

— Não consegui dormir, eu não queria ir com você. Não me leve a mal, é só que... eu estudei a minha vida inteira aqui e agora tenho que ir àquele presídio no meio do nada que você chama de escola. — Ele disse num tom triste, era um dos seus momentos dramaqueen, como os amigos dele gostavam de dizer.

Eu queria fazer algo por ele, mas não havia nada que pudesse ser feito.

— Pare de ser covarde. Todos os homens de nossa família estudaram no instituto, agora chegou sua vez. Você tem sorte por eu ainda estar lá. No meu primeiro ano eu não tinha ninguém, foi bem pior. — O consolei.

Ele assentiu.

Ouvimos batidas na porta.

— Queridos, se apressem! Emanuel precisa sair às nove horas. Vocês têm quarenta minutos para se arrumar e tomar café da manhã. — Hanna gritou do corredor.

Hanna é a nossa mãe, ela pareceu estranhamente feliz nessa manhã. Felicidade não é um sentimento comum naquele coração frio.

— Estamos indo.

Foi Kurt quem respondeu. Ele sabia que se dependesse de mim, eu responderia algo do tipo “ele não precisaria nos levar se me deixasse dirigir o maldito carro”, mas aí eu estaria sendo um pouco ingrato, para um filho adotivo.

— Vamos lá — falei ao levantar da cama.

Prendi o cabelo e fui para o banheiro com Kurt, enquanto eu tomava banho ele escovou os dentes, depois trocamos as posições. Nos vestimos e descemos com as malas que havíamos feito na noite anterior.

— É uma pena que não vou poder levar Nigel comigo. — Kurt disse ao encontrar seu siamês obeso deitado sobre o tapete do hall.

Deixamos as malas lá e fomos para a sala de jantar; lá estava o banquete nos esperando. Hanna e papai sentados cada um em uma ponta da longa mesa de vidro. Eu e Kurt nos sentamos lado a lado.

— Bom dia, estão animados? — Papai perguntou, tirando nossa atenção da comida.

— Nem um pouco — Kurt respondeu.

Eu apenas dei de ombros e lancei para papai aquele olhar de “não se preocupe, eu vou cuidar dele”.

— Vocês precisam comer bem, vai ser uma viagem longa — Hanna falou e tomou um grande gole do seu suco verde.

Sua fala atraiu a atenção de nós três. Não soou natural como deveria. Ela não é o tipo de mãe preocupada ou protetora. Havia um brilho diferente que eu não consegui identificar de onde vinha, mas estava lá.

Depois de comer, levamos nossas malas para o carro. Quase não couberam, mas papai fez sua mágica.

— Venham aqui. — Hanna falou, nos puxando para um abraço embaraçado. — Kurt, você vai acabar gostando de lá e Eden, cuide bem do seu irmão, ok? — Quando ela disse a última frase eu sabia que ela estava sendo sincera.

Papai buzinou antes que eu pudesse respondê-la, deixamos Hanna com um sorriso no rosto e entramos no carro, papai deu a partida no seu clássico Porsche Panamera branco e em alguns minutos já estávamos fora da cidade numa bela manhã no preâmbulo do outono.

— Espero que o tráfego esteja tranquilo, preciso deixá-los lá e voltar a tempo para uma reunião com os diretores financeiros — Papai disse sem tirar os olhos da estrada.

Kurt me conhecia bem o suficiente, me olhou já tentando impedir que eu fizesse algum comentário ácido, mas – pelo menos dessa vez – isso não me impediu.

— Você não precisaria estar aqui agora se deixasse eu dirigir meu próprio carro.

Senti a tensão no ar no momento em que calei a boca.

— Nós não vamos ter essa conversa outra vez, Eden. — Papai falou com paciência que sempre me deixou irritado. Era quase impossível tirá-lo do sério.

— Mas eu quero ter essa conversa quantas vezes for preciso, até que você me deixe dirigir. Eu já tenho dezessete anos pai, sou perfeitamente capaz de viajar por toda a América sem você. — Insisti.

Papai riu e Kurt se juntou a ele, me traindo.

— Filho, talvez tenhamos essa conversa quando você estiver na faculdade, ok?

Me calei, frustrado. Lancei um olhar ameaçador para Kurt, que o fez engolir seu risinho, mas o silêncio foi cortado pelo rádio, papai o ligou e – ironicamente – estava tocando uma música do The Fray, seu nome era Heartless e o verso não poderia ser mais cabível ao momento: Eu sou um nada sob seus olhos, e isso nunca irá mudar.

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KURT SHERWOOD


Após algumas horas – que pareceram infinitas para mim – na estrada, chegamos à pequena comunidade de Wellington. Eden não disse mais nada, assim como papai. Eu apenas encarei a paisagem por todo o trajeto e ouvi as músicas ruins que tocavam na rádio local.

A pequena comunidade parecia pacata, era até bonitinha com suas casinhas, algumas simples, outras até sofisticadas, um ou outro armazém e uma pequena praça com uma fonte no centro. Passamos direto pela comunidade e entramos mais fundo no coração da floresta. Cerca de vinte minutos depois, avistamos o prédio negro do campus, rodeado por um muro com grades também negras. No grande portão enferrujado, dois guardas estavam a postos. Um deles pediu a identificação, meu pai mostrou os passes e nós entramos.


INSTITUTO MILITAR DE ISOLAMENTO EDUCACIONAL

Havia algo sobre esse lugar que me causou um desconforto no estômago. Não era por sua aura que implicava em melancolia e abandono, nem pelo cemitério militar ao lado do prédio ou a floresta que parecia engolir tudo à sua volta. Soava mais como um pressentimento ruim, mas ninguém acreditaria se eu dissesse.

Papai passou pela entrada em forma de “D” maiúsculo e parou. Notei que alguns alunos se abraçavam ao reencontrar-se como se fossem velhos amigos e, de fato, deveriam ser. Saímos do carro, olhei para baixo, usando o truque de esconder um olho com a franja loira. Eu não precisava de ninguém me encarando logo de cara.


Papai tirou nossas malas.

— Se cuidem, vou sentir falta de acordar com os dois brigando. — Disse levemente comovido e nos abraçou calorosamente.

Meu pai cheirava a conforto, a lar. Quando ele me soltou, eu logo percebi que não encontraria nenhuma dessas coisas nesse lugar.

— Pai, por favor, cuida do Nigel? — Foi meu último pedido, não conseguia pensar naquela bolinha de pelos sozinha, zanzando por aquela casa tão grande.

— É claro filho, não se preocupe. Até mais crianças, não se metam em encrenca.

Ele sorriu antes de entrar no carro, então se foi.

Acho que nunca me senti tão só. Olhei para Eden, mas ele estava encarando um garoto do outro lado do gramado, ele tinha traços asiáticos, estava de pé com uma pequena mala na mão, usava um sobretudo que parecia ser caríssimo.

— É seu amigo? — Perguntei curioso. Se fosse, eu ia querer conhecê-lo.

— Não, na verdade eu nunca o vi por aqui. Acho que ele gostou de você. Está nos encarando desde que descemos do carro. — Eden disse ainda sem tirar os olhos dele.

— Eu que não queria vir e é você quem fica paranoico? Vamos entrar irmãozinho. Isso não é nada.

Dei uma última olhada no garoto, parecia ter quase dois metros de altura, tinha um corpo esguio e a pele clara. Ele estava me olhando de volta, e se eu não fosse muito louco, podia jurar que ele até me lançou um meio-sorriso.

— Vamos! — Eden me puxou para dentro do prédio.

Mal entramos, fui atingido por uma dor de cabeça muito forte. Foi como um golpe, cheguei a parar de andar para checar se aquilo era real.

Definitivamente era.

— Você está bem? — Eden perguntou.

— Sim, é só uma dor de cabeça. — Falei, então percebi que eu havia jogado as malas no chão. — Estranho, eu não lembro de estar com dor de cabeça antes de entrar aqui.

— Distraído como você é, isso não é lá grande mistério. Vamos! — Eden disparou seu humor negro e me puxou outra vez.

Assim que botei os pés no campus, me arrependi de ter vindo.

Passamos pelo balcão de atendimento aos alunos, Eden me disse que estava ali para atender aos novatos, mas não parecia haver muitos nesse ano. O atendente, assim como as dezenas de inspetores, parecia despreocupado. Eden me explicou que nossos pais tinham dado um jeito (esse tipo de jeito = U$$) de nos colocar no mesmo dormitório, então apenas pegamos as chaves e os horários das aulas que começariam no dia seguinte.

Andamos por algumas grandes alas do prédio até chegar em uma das cinco subdivisões, o prédio dos dormitórios masculinos. Era tudo muito antiquado e vazio, como uma mansão assombrada que vi no Paranormal Witness. Subimos a escada de madeira até o quarto andar e entramos no dormitório 94: um cubículo que devia ter no máximo uns cinco metros quadrados, sem contar o pequeno banheiro. Havia duas camas, dois armários e uma escrivaninha. A janela era imensa, ia do chão ao teto, mas meu encanto por ela acabou num sobressalto quando ao abrir as cortinas percebi que o cemitério ficava bem à nossa frente.

— Não me diga que tem medo de fantasmas... — Eden disse sorrindo, estava sentado na cama tirando os sapatos.

— Você não acha estranho morar ao lado de um cemitério?

— Não é dos mortos que devemos ter medo, Kurt.

Abri minhas malas e encontrei a nécessaire com remédios, peguei um tylenol e o engoli sem água. Tomei um banho gelado para ajudar a dor a passar, mas não houve efeito. Arrumamos nossas coisas durante a tarde e pegamos nossos uniformes. A noite logo chegou e um sinal esquisito ecoou por todos os lugares, o que depois Eden me explicou ser o sinal de jantar.

Descemos até o refeitório, outra subdivisão do campus.

O prédio parecia uma estufa gigante, todo feito numa estrutura de vidro e metal. Talvez fosse a única parte que não tinha nada de gótico ou retrô. Uma turma de quatro pessoas acenou para Eden e ele retribuiu o aceno, eu nem imaginava que ele tivesse amigos.

Passamos pela fila do refeitório, coloquei pouca comida e quase derrubei quando olhei para trás e percebi que o garoto asiático estava bem atrás de mim.

— Desculpe, não tive a intenção de assustá-lo — ele disse com um sotaque indecifrável, a voz cálida me fez lembrar de pássaros cantando.

— Tudo bem, eu é que sou desastrado. Kurt Sherwood.

— Yun Sang. — Ele estendeu a mão, carregando no rosto um sorriso encantador.

Eu a apertei e no mesmo instante fui inundado por um sentimento bom, algo como contentamento, felicidade e paz. Ele a soltou e toda a sensação foi embora, deixando em seu lugar a tranquilidade habitual.

— De onde você é? Não consigo identificar o seu sotaque. Japão, China, Coréia? — Perguntei por impulso.

Seu sorriso sumiu no mesmo instante, dando lugar a uma expressão séria, mas ainda munida de certo charme.

— Descubra.

Ele piscou para mim e se afastou. Eden pigarreou ao meu lado, visivelmente irritado. Acho que pelo fato de eu ter acabado de flertar com um estranho. Embora ele tivesse me aceitado desde que soube que eu sou gay, isso sempre acontecia, não sei se por raiva ou ciúme.

— Você vai ficar longe dele. Você nem o conhece.

— E você conhece? Não! Então deixe eu tirar proveito de alguma coisa boa nesse lugar. Senti boas vibrações. — Falei animado enquanto andávamos na direção dos amigos dele.

Eden me encarou com desdém.

— Imagino onde... — especulou, me deixando sem graça, lhe dei um leve soco no ombro e nós rimos.

Chegamos finalmente à mesa, havia dois lugares reservados a nós. Olhei em volta e constatei que o refeitório era o ambiente mais cheio, mesmo não tendo mais que duzentas pessoas. Havia até mesas completamente vazias. Ignorei o burburinho e me voltei para as pessoas na mesa.

— Ei pessoal, esse aqui é meu irmão, o Kurt. Ele está no primeiro ano. Kurt, estes são Justin, Darren, Bettanny e Marcie, meus amigos. — Eden nos apresentou.

Sorrio para eles em resposta, nos sentamos. Estava um pouco embaraçado por não os conhecer, então fiquei quieto encarando apenas a comida no meu prato. Eles tagarelaram sobre estar de volta, sobre não sentir falta de alguns professores ranzinzas e coisas do tipo. Fingi prestar atenção, mas ao erguer os olhos vi Yun ao longe me encarando.

Havia um tom estranho nos seus olhos, então lembrei dos meus e me escondi sob a franja. Eden percebeu que o que estava acontecendo.

— Alguém conhece aquele japa? Ele não para de nos encarar desde que chegamos aqui. — Eden perguntou olhando para o rapaz, que olhava apenas para sua comida no momento, mesmo não parecendo estar com apetite.

Os dois garotos deram de ombro, Bettanny parecia estar vasculhando em sua mente por algo, mas não encontrou nada. Fingi não perceber que eles temiam tocar no assunto delicado, mas ao mesmo tempo eu tive esperanças de que o garoto não estivesse olhando para mim apenas por eu ter heterocromia.

— Ele é novo aqui, também do primeiro ano. O vi discutindo com um dos secretários sobre não ter gostado da localização de seu dormitório. Queria estar no quarto andar. — Marcie contou como se compartilhasse um segredo de Estado.

— É o nosso andar! Estranho... — Eden ficou pensativo de repente.

Eu queria dizer que ele era um garoto – aparentemente – legal, que até me cumprimentou com cortesia, mas me contive e apenas olhei para Yun outra vez.

Surpreendi-me ao ver que ele não estava mais lá, olhei em volta e ele não estava em lugar algum. Como ele pode ter sumido em tão pouco tempo? Outra surpresa é voltar a sentir o velho sentimento de abandono. Minha cabeça voltou a doer sem aviso prévio.

O que quer que fosse isso, ficava bem melhor quando Yun Sang estava por perto, mas quem realmente era ele?

Continua...

12 de Julio de 2019 a las 10:25 0 Reporte Insertar Seguir historia
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