tamaracarolina Tamara Carolina

Raoni vai mostrar como o mundo que você vê, não mostra a realidade.


Fantasía Sólo para mayores de 18.

#mitologiaindigena #metamorfos #fantasianacional #romancesensual
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Viajando

A vida é como ela deveria ser.

Pode parecer injusta em muitos momentos, mas você só consegue entender que precisava viver tudo o que viveu quando chega ao final da jornada.

É o que Armando Kauê Figueiredo sempre diz a sua filha, Bianca Raoni Figueiredo.

Difícil de acreditar, fato, mas ele é o velho indígena mais sábio que ela conhece.

E Armando Figueiredo não costuma mentir.

- Atrasada outra vez, ohaquiê. Fátimacansou de esperar! - o velho indígena recebe a filha com um sermão e um abraço apertado.

Armando, alto e esguio, ainda era um indígena forte, de pele cor caramelada. Bianca puxou muito a ele, exceto pelos cabelos. Os de Armando eram bem lisos. Bianca tinha longos cachos negros.

- Ela nunca tem paciência comigo, uievô. Aic otã erecoçá? - a jovem perguntou como o pai se sentia.

- Ahaivô. Por isso que te chamo, Raoni.

Armando estava reclamado da idade com muita frequência, mas ele não era tão velho. Só trabalhava muito e queria que sua filha assumisse o que para ela seria quase como um fardo: o trabalho no restaurante.

- Aica ivat Tupana!Não me diz que me quer em São Paulo de novo, uievô?!

- O quanto antes, Raoni. As empresas estão no seu nome. Não precisa mais esperar.

Há pelo menos dois anos, Armando vinha insistindo que Bianca administrasse suas empresas, mas era difícil para ela se afastar do trabalho em São Sebastião e se fixar no restaurante.

O fato era que Armando Figueiredo sempre fazia as vontades de sua filha. E apesar da jovem dizer que não suportaria viver na mesma casa que a mãe adotiva, não relutou em ceder a vontade de seu pai.

- Há um jovem que quero entrevistar. Ele está em intercâmbio, estou esperando que volte. Foi bem recomendado. Quero que esteja presente quando ele vier, porque vai te ajudar com tudo. Preciso que assuma isso, que cuide do que é seu, Raoni.

- Tá. Assumo o que quiser quando voltar de viagem. Vai cuidar de Tatauí e de Jaci?

O velho sorriu ao ouvir os nomes dos bichos de estimação da filha.

- Claro, Raoni. Se Tatauí não for com você até o Havaí, na mala.

Bianca havia se esquecido desse detalhe.

Jaci era o nome de sua gata, branca como a Lua. Tatauí era o nome que ela deu a uma cutia que a seguiu na última viajem que fez ao Maranhão.

A cutia encontrou com a garota na mata e simplesmente se afeiçoou a ela, seguindo-a até o hotel. Mas Bianca só se deu conta de sua presença no caminho para casa, quando ouviu a cutia piando no porta-malas do carro.

Armando Figueiredo desembolsou uma quantia absurda para que a filha pudesse ter o animal em casa. Era costume dele fazer coisas do tipo para agradar Bianca.

Bianca abriu a mala, só para confirmar que ela estava lá. Piando, enrolada em uma canga. Tatauí subiu no ombro da dona e piou novamente, se esfregando em seu pescoço.

- Você não tem jeito! - ela disse, entregando a cutia a seu pai. - Dessa vez vai ter que ficar em casa, Tatauí!

Eles se despediram de forma afetuosa e Bianca entrou em seu carro, seguindo para o aeroporto, ansiosa por retornar ao Havaí.


O hotel Tikanawa na ilha Maui, não era dos mais simples.

Bianca estava satisfeita com o ótimo atendimento e as instalações mais do que confortáveis.

Depois de tomar um banho de chuveiro rápido, ela vestiu um biquíni azul e uma canga colorida. Passou protetor solar fator 35 e correu para areia quente e o sol escaldante do Havaí.
Ficou próxima a um quiosque, o de sempre, onde um bebida vermelha lhe foi servida.

- Sua bebida, senhorita.

A jovem indígena olhou por cima dos óculos escuros e viu o que para ela era a definição de um deus. De bermuda, com o peitoral bronzeado e definido, Bianca só podia pensar que aquele homem fora esculpido a mão pela própria deusa.

- Obrigada. Brasileiro?

O rapaz sorri, seu pensamento meio embaralhado com o que seus olhos admiravam: as curvas da bela índia a sua frente.

- Sim. De São Paulo. Me chamo Leonardo. Meus amigos me chamam de Léo.

Rapaz falante, pensou ela.

- Bianca. Também de São Paulo.

Bianca só sabia admirar o belo conjunto a sua frente. O rapaz tinha cabelos escuros bem curtos, um rosto marcante e extremamente jovem, lindos olhos castanhos.

- Me dê licença. Bom conhecer você. - ele disse, com um largo sorriso.

Assim que ele saiu do campo de visão da Índia, ela deixou a bebida de lado e seguiu para a água, disposta a esfriar a libido pulsante. Bianca não conseguia deixar de pensar em como ficaria em cima, dominando aquele corpo.

Claro. Leonardo não era nem de longe o homem que Armando Figueiredo aprovaria, mas seu pai não precisava saber de suas aventuras. Ou pelo menos da maioria delas.

Então era hora de investir.

Leonardo servia mesas com outras moças, casais e crianças. Bianca se aproximou do quiosque e esperou, observando todos os gestos e ações do rapaz.

Leonardo, simpático de uma forma muito natural, se dedicava a sua função, bem ciente de que a Índia linda que acabara de conhecer o observava, então caprichou ainda mais em seu sorriso, sua marca registrada.

Quando finalmente uma pausa surgiu, eles se olharam e sorriram um para o outro. Bianca se sentia radiante pela forma natural com que Leonardo conduzia seu trabalho. Ele era feliz, provavelmente gostava do que fazia.

Sem querer atrapalhar o garoto, Bianca esperou sua aproximação.

- Léo, certo?

- Sim! É como me chamam. Você é Bianca.

- Sim. Bianca Raoni Figueiredo. - ela sorriu e ele sentou-se na banqueta ao seu lado.

- Seu nome é lindo. Raoni é indígena, né?

Ele sorria, exalando simpatia e charme masculino.

- Obrigada. Sim, é Tupi-Guarani. Quer dizer guerreiro.

Ele permaneceu intercalando o olhar entre seus olhos e sua boca, o que faz Bianca corar levemente, desacostumada a receber atenção daquela forma.

- Esse não é o nome do indígena responsável pela criação da reserva do Xingu? - ele pergunta, pouco familiarizado com a história indígena de seu país.

- Sim. Eu deveria ter morrido com minha mãe, mas escapei. Então recebi esse nome de meu pai.

- Sinto muito por sua mãe.

- Obrigada.

Leonardo se interessou ainda mais por Bianca, mas um chamado de dentro do quiosque o fez voltar a realidade que também parecia um sonho. Estar no Havaí era tudo o que ele desejou por muito tempo.

- Posso levar você para beber alguma coisa, mais tarde? - ele ofereceu.

Mas o que Bianca gostaria mesmo era de levá-lo até sua suite.

- Pode sim! Só preciso dormir um pouco. Acabei de chegar.

Eles trocaram olhares, Leonardo desejando a visão de Bianca dormindo em uma cama confortável, completamente nua.

- Termino aqui a meia noite. Você terá tempo para descansar. - ele disse.

Meia noite, Bianca imaginou que o trabalho devia ser exaustivo, mas não era isso que Leonardo sentia, depois de anos juntando dinheiro para fazer aquela viajem, um intercâmbio que ele estendeu por alguns dias.

- Tudo bem. Aqui mesmo?

- Sim. Nos encontramos aqui!

- Combinado!

Ele sorriu mais largo. Dentes brancos lindos e uma boca que fez Bianca ter pensamentos ardentes.

O chamado atrás do balcão ficou insistente. Os dois trocaram beijos tipicamente paulistanos no rosto e seguiram seus caminhos.

Já no hotel, depois de um banho, Bianca ligou para o pai, enquanto se preparava para dormir. Mas quem atendeu foi Fátima, sua mãe adotiva.

- Oi, mãe! - Bianca sempre se lembrava que Fátima não gostava de ser chamada por nomes indígenas.

- Bianca! Chegou bem, filha?

Ela parecia calma, mas Bianca a conhecia bem. Fátima detestava atrasos e muitas outras coisas que Bianca costumava fazer, como viajar com frequência, por exemplo.

- Sim! Liguei para avisar! Uievô está por perto?

Nesse momento, ela ouviu o pio de Tatauí, que lhe pareceu mais um lamento, como se a cutia estivesse chorando.

- Quando você volta? Quero conversar sério com você! Detesto esse bicho! - Fátima ignorou a pergunta da jovem.

- Volto na segunda. Tatauí chora? Deixa eu falar com Uievô!

- Passe em casa. - foi só o que Fátima disse, antes de entregar o telefone a Armando.

- Uievô! Já estou com saudade! Tatauí chora?

O pio da cutia cessou, como se o animal pudesse ouvir a voz de Bianca.

- Chora, Raoni. Como um bebê. Chegou bem aí?

- Sim, Uievô. O hotel é o de sempre! Eu vi o mar, agora vou dormir um pouco. E mãe, está mais calma?

- Sabe que ela não suporta seus atrasos, mas não ligue para ela, Fátima é só... você sabe. Difícil.

A cutia voltou a piar alto, fazendo Bianca rir, mas seu peito apertava de saudade.

- Só alguns dias, Tatauí. Eu volto, prometo. Uievô, manda buscar Jaci. Ela não gosta de ficar sozinha.

Jaci era a gata, o bichano de Bianca. Um bicho pouco domesticado, branca como a flor da Vitória Régia, branca como a própria Lua cheia. A gata recebeu o nome de Jaci em homenagem a deusa que Bianca tanto admirava.

- Vou buscar daqui a pouco. O caseiro não consegue, você sabe.

- Sei, Jaci só respeita você e eu.

- Vai ficar aqui? Em casa, quando voltar?

Viver novamente sob o mesmo teto que Fátima. Definitivamente, não era o que Bianca desejava.

- Quero ficar no apartamento. Jaci não gosta de Fátima, que não gosta de Tatauí. Melhor evitar.

- Viver com Fátima não é fácil. Melhor mesmo, Raoni.

- Eu amo você, Uievô! Você também, Tatauí!

- Amo você, Raoni.

Bianca deitou para dormir, pensando em como sua vida iria mudar depois daquela viajem.
Iria frequentar o restaurante que era seu por herança, trabalharia com dinheiro, reformas, orçamentos, pessoas desagradáveis. Viver na cidade mais barulhenta que ela conhecia. Mas o pedido de seu pai por descanso era constante. E por ele, ela faria qualquer coisa. Ele era quem ela tinha de mais precioso na vida.





*Glossário

ohaquiê - Do Tupi-Guarani. Significa Filha

uievô - Do Tupi-Guarani. Significa Pai

Aic otãerecoçá - Do Tupi-Guarani. Pergunta "como vai?" ou "como está?"

Ahaivô - Do Tupi-Guarani. significa Velho, Idoso ou Cansado

Aica ivat Tupana -Do Tupi-Guarani. significa "pela deusa"

Tikanawa - nomefictício

5 de Mayo de 2019 a las 17:39 0 Reporte Insertar Seguir historia
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