luneler Lunéler Elias

Um paciente psiquiátrico é levado novamente para o hospício de onde fugiu. Porém, tudo lá dentro causa inquietação e medo. As atenções parecem se voltar para o tão conhecido paciente 141, pois ele sabe coisas que podem afetar os interesses da indústria farmacêutica, dos hospitais psiquiátricos e dos políticos. Viva cada aflição deste teatro de tortura!


Cuento Sólo para mayores de 18.

#seringa #hospício #tortura #paciente #manicômio #conspiração #agulha
Cuento corto
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Paciente 141

Há algo mais traumático que o silêncio? O silêncio nunca é absoluto... é como um inseto na cabeça que se alimenta de pedaços do seu cérebro. Com o passar do tempo, ele engorda e ocupa cada vez mais espaço na caixa craniana, comprimindo o lóbulo frontal, dilatando-se sem mais espaço para crescer. Às vezes penso que o inseto cresce em uma proporção bem maior do que o que ele consome.

Já me acostumei com ele aqui dentro de mim. No início a convivência era forçada e custosa, mas o tempo me obrigou a aceitar. Acho que existem dois tipos de mundo: o de dentro e o de fora. Quanto mais o inseto está presente, mais calado me torno no mundo externo. Pessoas quietas possuem as mentes mais barulhentas, e eu me incluo nesse universo. É um zumbido persistente e perturbador.

Naquele fim de tarde vertiginoso que se seguia, somente uma palavra poderia me definir: inerte! Colocaram-me uma camisa de força e um suporte bucal para que eu não mordesse minha própria língua. Havia uma fresta na janela da ambulância, que permitia a entrada de um fecho de luz, transpassando sobre meu rosto sucessivamente.

Não sabia para onde estavam me levando, mas sabia que meu destino estava mergulhado nas trevas, como sempre esteve. Por fim, o veículo parou e abriram-se as portas. O sol derramou-se em mim generosamente. Não me tiraram da maca, tampouco afrouxaram as amarras dos pés e das mãos, somente me conduziram como quem eu ironicamente era: um doente!

A frieza com que me transportavam revelava que eu não fazia mais parte da sociedade, era como despachar um saco de lixo nuclear, cuidadosamente armazenado. Colocar-me no meu lugar desde o princípio teria resolvido as coisas...

A maca firme, levada à entrada de um estabelecimento com o nome Hospital Vila Viva. Aquelas letras grandes e brilhantes, prateadas, escondiam toda a hipocrisia da humanidade. Jardins bem cuidados, porções verdejantes e belas, bosques longínquos, um chafariz de pedras... todo o conforto fazia parte da fachada criada para ocultar a imundice do ser humano, pois aquele lugar era o verdadeiro inferno!

Nos corredores as luzes perpassam meus olhos como se fossem grandes sóis. A cada novo eflúvio reluzente, pensava estar me aproximando da morte. Quando as coisas se repetem costumo me perturbar, pois me lembra o quanto sou um produto do Estado. Quando estou sobre a maca do hospital não consigo olhar para os lados nem reagir, me estatifico.

Depois de um tempo no zique-zague dos ambulatórios a gente perde o interesse por tentar mapear o caminho, ainda mais quando você já esteve ali antes. As coisas parecem propositalmente te confundir, levar-te ao engano, ao questionamento sobre suas convicções já consolidadas, para desenterra-las e trazer a dúvida à tona, pois, para eles, quanto mais você duvida de sua sanidade, melhor. No fim das contas, me perguntei até mesmo se fora este o hospital em que estive no passado.

O homem empurra minha maca e posso perceber seu descaso. E de repente me pego pensando sobre o nível de desprezo que o mundo chegou. A indiferença com que me conduz leva-me a questionar se um dia sentirá remorso no coração por um ato tão inusitado.

Aquele cheiro de éter ocupa os corredores e faz com que eu me acalme e, no fundo, aceite o destino. Então, ao invés de entrar em desespero, você se torna apenas um ser depressivo e apático, não reacionário, boicotado. Sinto-me como um boi seguindo para o abatedouro.

As paredes brancas e frias pareciam zombar de tudo e de todos. Um ambiente para deficientes de qualquer natureza acaba interagindo com eles. É incrível como as cores podem complicar seus níveis de serotonina, o ingrato hormônio do medo.

Paredes brancas, luzes brancas, jalecos brancos, luvas brancas, sapatos brancos, bebedouros brancos, chão branco e teto branco. Isso é algum tipo de brincadeira? Porque loucos devem viver em ambientes brancos? O que a cor branca pode trazer além de angústia?

Eu respondo! A cor branca acalma os nervos dos loucos, os fazem se esquecer de si mesmos, os colocam em um limbo infinito de rodeios e objeções. A cor branca controla, abobalha, dilata a imaginação e inibe a iniciativa, faz com que os ânimos se percam no nada. É como rebobinar aquela velha fita cassete, zerar tudo.

Havia muitos corredores para todos os lados, repletos de salas, leitos, máquinas, médicos e enfermeiros. Ao passarmos por uma porta veneziana, o homem que empurrava minha cama parou, pois outro lhe interrogava:

⸺ Pra onde vai este aí?

⸺ Este é o paciente 141, ala vermelha.

⸺ Sabe onde é?

⸺ Sei sim, depois da câmara de isolamento.

E ele seguia por mais alguns minutos até chegar à recepção. Balcão, papéis, computadores e um senhor simpático. A simpatia muitas vezes vem para tornar o ambiente familiar e amigável, para ludibriar os pacientes e deixa-los calmos. Um sorriso como aquele me enganaria a respeito do lugar se eu já não tivesse passado por ali. Mas porque ele insiste em manter a carapuça de bom moço, de sereno recepcionista? Ah sim... eles costumam fazer isto, ignoram os feitos passados, zeram os ocorridos, tudo para oportunamente ser empreendido o projeto. Isso soa um pouco sonso, não?!

⸺ Aí está ele então. Andou sumido né, amigão... - E seus olhos apertaram-se contra as bochechas num sorriso fraterno.

⸺ Aqui está a ficha. A encomenda está entregue. Até logo. - Disse o outro.

Houve um tempo de silêncio. Eu não podia ver o que ocorria, pois um cinto de couro passava por minha testa mantendo minha cabeça presa à maca. Acho que o recepcionista lia o papel.

Deixaram-me de molho na sala de espera. Eles também fazem isso! Você reduz drasticamente a liberação da adrenalina quando te fazem esperar. Você olha para a mesa e ela está calada. Você olha para os talheres e eles estão calados. O prato, em silêncio, a comida, te encarando, mas também em completo silêncio. Nestes momentos você passa a enojar aquele sonho de ser um astro de cinema e ser olhado por todos. Nesse lugar você só que se esconder, quer ser invisível, quer que ninguém mais te veja.

O médico chega e uma frase é empurrada para dentro da minha cabeça: Não se mexa! É só um cortezinho. A dor da tortura te leva a uma forma muito peculiar de tráfego. Você viaja por lugares inimagináveis e a linha da realidade parece apresentar algumas falhas, partes faltantes que somem da mesma forma da luz intermitente da lâmpada em mau funcionamento da sala.

⸺ Você esteve bastante tempo longe, 141! Vamos dormir um pouco?

Antes de prepararem a seringa sempre sobra tempo para um coquetel de desespero, porque os nervos tendem a questionar os limites da crueldade humana. Não é apenas um medicamento... quando o doutor pressiona o embolo para tirar o ar da seringa e parte do líquido azul esguicha para o alto, o coração descompensa suas batidas, a saliva trava na garganta e os olhos arregalam de pavor.

O efeito da droga é muito intrusivo. Sinto minhas pupilas dilatarem exageradamente, fazendo com que a mínima luminosidade das lâmpadas brancas se torne violenta. O suor frio sobrepõe os pelos dos braços e começa a escorrer da testa por todo rosto. Contrações involuntárias são arrancadas das descargas elétricas. O movimento sinuoso dos objetos a minha volta lembram os ferros derretendo sobre o calor das caldeiras em que trabalhei quando era pequeno. Minhas mãos tremem como um terremoto. A lucidez se acumula para que você possa gritar, mas logo se dilui. É sempre assim, um gráfico crescente que drasticamente se torna decrescente.

Os sons ficam abafados. Ah... aquele barulho! Que barulho! Zumbido metálico... talvez seja do bater de asas de pequenos mosquitos chocando-se incessantemente contra a janela, ou não. Este é o momento em que você sabe que na sala ao lado há uma serra elétrica cirúrgica, daquelas que usam para amputamentos. O barulho do motor é ruidoso suficiente pra te levar à loucura, se você já não estiver nesse estágio como eu.

O que me sobrou na cabeça antes de apagar foram as inúmeras verdades que eu carrego. Eles podem me tirar tudo, até mesmo minha sanidade. Mas nunca vão tirar o pacote de informações que guardo aqui dentro. Eles fazem isso comigo porque sabem que eu descobri. Existe um grande acordo entre as indústrias farmacêuticas, os grandes hospícios e os políticos. O medicamento que eles estão produzindo em larga escala, com rótulo de vacina, distribuído gratuitamente para população carente, provocará demência à longo prazo. Mais pacientes, mais remédios, mais dinheiro, mais votos, mais dinheiro! Todos saem ganhando, menos o pobre!

5 de Mayo de 2019 a las 16:07 4 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

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Ammi Pierre Ammi Pierre
Gostei da forma que foi escrito e achei interessante.
July 30, 2019, 22:51

  • Lunéler Elias Lunéler Elias
    Obrigado. ^^ Se quiser conhecer um pouco mais do meu trabalho só me dizer ;D August 04, 2019, 02:18
Ammi Pierre Ammi Pierre
Gostei da forma que foi escrito e achei interessante. Muito bem!
July 30, 2019, 22:51

  • Lunéler Elias Lunéler Elias
    Obrigado! Fico feliz que tenha gostado. :) August 04, 2019, 02:17
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