Minseok abre os olhos pesados e a primeira coisa que consegue ver é um clarão vindo do teto. É tudo tão estupidamente branco em seus olhos que ele pensa não estar em casa, mas infelizmente está. É apenas mais um dia normal. Portanto, decide se levantar, pois pássaros cantam lá fora e aparentemente o dia está nascendo. E provavelmente está de ressaca, porque a sua cabeça dói e a sua visão está embaçada. Seria conveniente, dado que ele tem sido um homem perdido em si mesmo ultimamente.
Quando a sua vista clareia, constata que realmente é o seu quarto. Está um tanto quanto bagunçado, várias garrafas de vodca espalhadas pelo chão, roupas amontoadas sobre uma cadeira de madeira velha e a luz estranhamente acesa. Nada que não possa ser resolvido, ele pensa, mas a sua cabeça está fodidamente dolorida. Maldita seja a noite passada — ele não se lembra dela [recordações escassas].
Minseok escova os dentes, penteia o cabelo e se olha no espelho. Não gosta da imagem que vê: olheiras profundas, boca seca e rosto magro. A depressão está o engolindo aos poucos, mas ele não se importa. Na verdade, há tempos que ele não se importa com mais nada. A sua perspectiva de vida é nula, e tudo que há dentro de si é um vazio crescente. É como se pudesse enxergar um espectro negro atrás de si no seu reflexo e nada pudesse fazer para se livrar dele.
Seu pai dizia a verdade, afinal — você é apenas um fracassado frustrado vagando no mundo à espera do castigo eterno, pois não é merecedor das coisas boas que o Universo há de oferecer.
Um merda. Ele caminha dolorido para a cozinha, pegando do armário a única coisa que ainda havia naquela casa: miojo vencido. Talvez estivesse cada vez mais doente por conta da sua má alimentação — baseada em café, água, macarrão instantâneo e ovo mexido, além das inúmeras garrafas de bebida —, mas ele realmente não liga. Espera que assim, pelo amor de Deus, morra mais rápido e que não tenha que suportar mais a própria existência podre. Patético. A sua mãe brigaria consigo, com certeza.
A televisão está queimada, o vídeo-game quebrou e o cristal líquido de seu celular vazou há alguns meses atrás [ataques de pânico]. Minseok não tem mais dinheiro, e muito menos se interessa em consertar o que seja. Não há mais meios de se divertir, e nem conseguiria se houvesse. O cheiro do corpo morto do seu pai ainda era fresco em sua mente. As coisas têm andado cada vez mais vagas, e há quem afirme que ele está conhecendo o verdadeiro inferno, mas ele sabe que está apenas mergulhado na parte mais profunda de si mesmo.
Quando termina o seu miojo, já frio por tanto tempo largado na mesinha ao lado do sofá todo rasgado, ele sente o estômago revirar. Faz muito tempo que o organismo de Minseok não aceita o que ele ingere, mas tudo que faz agora é no automático. Não se importa se, no final de cada refeição, vomitará até sair sangue de sua garganta machucada. Para ser sincero, ele quer sangrar até morrer — os cortes profundos em todo o seu corpo não contestam esse fato.
Ao jogar a cabeça para trás e encarar o teto encardido, ele suspira em desistência. Não sabe quanto tempo faz desde que acordou, mas sabe que não é muito e que quer voltar ao seu sono — e dormir para sempre [morrer]. É inevitável ser tomado pelo seu subconsciente. O espectro negro o enforca e toma os resquícios de sua alma para si. Ele definitivamente desistiu de tudo.
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