Atravessando o morro do Pão de Açúcar, eis a cidade maravilhosa. É pau, é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho, é um caco de vidro, é a vida, é o sol, é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol, é peroba no campo, é o nó da madeira, Caingá Candeia, é o matita Pereira. Os quiosques nas praias começam ser abertos, os primeiros raios do sol despontam no oceano. Coqueiros provocam as primeiras sombras pela caçada. Na avenida Atlântica, algumas pessoas e casais aproveitam a aurora para caminhar, outros preferem a bicicleta. É madeira de vento, tombo da ribanceira, é o mistério profundo, é o queira ou não queira, é o vento ventando, é o fim da ladeira. É a viga, é o vão, festa da ciumeira, é a chuva chovendo, é a conversa ribeira. Gaivotas caçam mariscos onde as ondas caem. Pegadas dos apaixonados formam uma fileira pela sílica. O cheiro molhado e salgado de maresia invade a esquina da Rua Anchieta, onde no Edifício Mascarenhas, é possível na varanda de um apartamento do sétimo andar, escutar a doce composição de Tom Jobim e Elis Regina no rodar de um disco de vinil. Ao lado, é possível se notar uma espreguiçadeira com um cinzeiro. Nele, ainda sobre sua roupa de banho, Marina acaba de deixar a última bituca de seu Marlboro. Finalmente terminara de rascunhar o desfecho de sua trama folhetinesca. Passarinho na mão, pedra de atiradeira. Uma ave no céu, uma ave no chão, é um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão. Retirou a agulha e a vitrola desligou. Despiu-se a caminho do banheiro e ligando o gás, abriu o registro do chuveiro, deixando a água cair sobre seu corpo moreno.
***
Marina já sobre seu jaleco branco, achou graça daquele comentário em relação ao adesivo fosforescente no alto da parede. Era seu décimo paciente aquele dia. Ela era pediatra e simplesmente era apaixonada pela sua profissão. Entrou na curiosidade do menino.
Ele a surpreendeu com a réplica
Marina se encantou com aquela manifestação pró-diversidade, mas resolveu não apoiar, porque a mãe do menino que o acompanhava fez uma cara de desgosto e logo interveio.
Ela fez uma anamnese bem detalhada e mesmo concluindo ser uma amigdalite rotineira e tomando cuidado para não passar benzetacil afinal poderia traumatizar a criança, encaminhou para um otorrinolaringologista já que dada a frequência dos episódios de infecção, talvez fosse necessário retirar as tonsilas.
***
Terminou de pesar seu prato no self-services do hospital e foi até a mesa, em que sua amiga e colega de trabalho, pediatra também, Letícia a aguardava.
Letícia discorda.
Marina confirma.
Letícia é conclusiva
***
Hector chega de seu escritório de advocacia, deixando sua pasta em cima do sofá. Ele afrouxa a gravata e retira os sapatos, pegando-o nas mãos e caminhando até o quarto, onde Marina o aguardava fumando. Ele sobe na cama e a rouba um beijo. No entanto, os olhos da mulher não conseguem se entregar ao sentimento como de costume. Quando ele vai ao banheiro, ela dispara.
Ele se volta curioso.
Ela não se aguenta e começa a chorar.
Ele se aproxima preocupado e limpa suas lágrimas.
Hector se preocupa.
Marina se levanta, não conseguindo encará-lo.
Hector estranha.
Marina abaixando a cabeça revela.
Hector não entende nada e a abraça por trás.
Marina fecha os lábios dele com seus dedos.
Ele cai sentado na cama. Ela ainda de costas para ele se apoia num criado mudo, chorava desesperadamente. Ele a questiona.
Ela se vira tomando coragem e braveja.
Lágrimas começam a escorrer pelo canto dos olhos dele.
Ela senta ao lado dele na cama e pega suas mãos.
Ele se levanta transtornado, já desconfiava do que podia ser. Contemplou-a por um instante em silêncio.
Ela confirma. Entendeu que ele percebera.
A face do homem se desfalece. Continua
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