zephirat Andre Tornado

Após uma das suas habituas viagens de recolhimento, Tenshinhan regressa a casa numa data especial...


Fanfiction Anime/Manga Sólo para mayores de 18. © Dragon Ball não me pertence. História escrita de fã para fã.

#dragon-ball #Tenshinhan #Lunch #Chaozu #ano-novo #neve #solidão #festa #amizade
Cuento corto
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Capítulo Único


Os seus passos afundavam-se na neve que tinha caído havia pouco tempo. Estava fofa e gelada, mas chegava a ser reconfortante reconhecer essa sensação de frio como coisa familiar, uma certeza do inverno escuro daquelas montanhas entranhadas nos confins do planeta, um lugar remoto e impossível.


Ele apreciava lugares assim, longínquos, tão afastados de tudo que se mencionados havia sempre quem franzisse a sobrancelha, descrente de que realmente existiria, sítios de quem nunca ninguém tinha ouvido falar, que nem sequer eram cenário de lendas antigas contadas pelos velhos. Santuários inacessíveis, apartados da civilização, nichos de solidão.


Os seus passos eram lentos. Não era cansaço, nem uma espécie de preguiça. Era uma forma de caminhar que fazia-o sentir cada passada, cada movimento, cada centímetro de neve esmagado. Aquele frio que ele tão bem conhecia. Eram diferentes os passos quando se aproximava de casa, daqueles que o levavam para longe de onde morava. Pareciam mais longos, iam definitivamente mais fundo, esfriavam-lhe as pernas de uma maneira peculiar que ele quase que jurava que podia significar calor.


Subia a ladeira branca, morosamente, sem pressas, o corpo a começar a aliviar-se enquanto se acercava cada vez mais do seu destino. Estava cansado, mas a fadiga daqueles meses de reclusão, de meditação e de treino não o incomodavam, pois no fim do caminho teria alguém à sua espera.


O sorriso desmaiado que lhe enfeitava o rosto coberto com um grosso cachecol de lã puída de tão usado esfumou-se e a sua expressão pétrea tornou-se ainda mais sisuda. Contava mesmo que teria alguém à sua espera. No entanto também podia suceder que tudo já tivesse morrido, que já se tivessem fartado das suas prolongadas ausências e dos seus silêncios interiores, sem responder às manifestações de carinho e de amizade que sempre recebia sem nunca agradecer, ou sequer responder com algo que indicasse que ele adorava aquelas atenções mínimas e todas aqueles pormenores insignificantes e invisíveis que são dispensados entre pessoas que se amam.


Fechou os olhos por uns momentos, acalmando-se, vazando a mente de pensamentos ruins, que aquele tempo em que tinha, mais uma vez, estado afastado do mundo, tinha também como fito, para além de melhorar as suas aptidões físicas, deixá-lo mais desligado do que era mundano, do que era mesquinho, dos sentimentos maus que tingiam tantas vezes as relações entre os homens e o Universo.


Os seus passos que marcavam a neve com a forma da sola das suas botas que se ensopavam à medida que caminhava e vencia o caminho não abrandaram, nem se apressaram com aquele percalço de dúvida que fê-lo vacilar durante um suspiro. Continuou a andar no mesmo ritmo, o seu ritmo. Dentro do peito, o seu coração estava calmo.


A ladeira terminou e depois da curva para a esquerda, na estrada que as árvores raquíticas despidas pelo inverno bordejavam, como esqueletos imóveis, estava a cabana. Havia luz no interior, claridade benfazeja que se derramava da pequena janela junto à porta, o brilho trémulo de uma vela, da lareira acesa, do calor de um lar.


O seu sorriso desmaiado regressou. Tinha mesmo alguém à sua espera.


Os joelhos dobraram-se com outra alegria, os passos, porém, mantiveram a mesma lentidão. O corpo, que não se permitia a fraquezas nem a emoções, quis reagir à proximidade da cabana, mas ele refreou esses instintos. Gostava de colocar essas provas a si próprio, perceber os mecanismos orgânicos que influenciavam não só o metabolismo, como as perceções que o cérebro recolhia do meio que o rodeava e as transformava em impulsos elétricos que, por sua vez, transtornavam a harmonia do ser. Era interessante dominar essas noções, vê-las de um plano superior e conseguir pegar-lhes como se fosse alguém de fora, um cientista a examinar a sua experiência com um desapego clínico. Era muito interessante compreender o seu funcionamento e manobrá-lo para se tornar mais forte, insensível, livre das amarras que prendem um corpo perecível a uma existência que, um dia, terminará. E depois de sermos todos feitos de luz, os verdadeiramente iluminados ascenderão a outros patamares de conhecimento, de experimentação, de fortaleza.


Abriu a porta da cabana, pressionando ligeiramente a madeira com a mão junto à maçaneta. Nunca estava trancada, nunca tinham visitas e não havia quem se atrevesse a viajar até um sítio tão inóspito, para além de que ninguém conhecia aquelas paragens, aqueles recessos gelados, tanto de inverno como de verão, de umas montanhas que não se exibiam convidativas.


Entrou na cabana e fechou a porta atrás de si. No mesmo movimento, retirou o cachecol para destapar o rosto e fazer-se anunciar, como se o precisasse de o fazer, como se não bastasse o seu terceiro olho, implantado na testa, para ser imediatamente reconhecível.


A voz do amigo foi musical.


- Ten, chegaste mesmo a tempo!


Sim, música. Havia alegria naquelas palavras que Chaozu pronunciara com um ligeiro tremor.


- Cheguei a tempo de quê?


- Da festa!


Ele experimentou um frémito, mínimo e controlado. Ainda não estava há tempo suficiente em casa para se relaxar totalmente e abandonar-se, aos poucos, às emoções que ele sepultara durante a sua peregrinação.


Chaozu apareceu com um bolo decorado com fitas douradas que colocou no centro da mesa que ornamentava aquele compartimento. Foi só então que reparou que na mesa havia outros bolos salgados e arroz fumegante numa tigela, para além de um bule cheio de chá rodeado por três copos.


A porta abriu-se de rompante e fechou-se com um estrondo que o fez sobressaltar-se. Olhou por cima do ombro, agastado com aquela perturbação no cálido ambiente da cabana. Lanch sacudiu a sua cabeleira loira ao arrancar o gorro e protestou:


- Raios! Faz demasiado frio por estas bandas. Já me tinha esquecido de como este fim do mundo parece um congelador.


A mulher olhou para ele e sorriu de viés. Tirou as luvas e cumprimentou-o:


- Bem, parece que chegaste a tempo. O pequenote, Chaozu, dizia que não, mas eu sempre soube que não irias faltar a esta pequena celebração.


Atirou com o gorro e as luvas para o sofá velho que se encostava à parede onde estava a janela, sentou-se numa das cadeiras sem qualquer cerimónia e serviu-se de um copo de chá.


Ele franziu a testa, o seu terceiro olho semicerrou-se.


Que festa?!


Chaozu estendeu-lhe um copo de chá que acabava de encher. Cheirava a verde, a conforto, a amizade, a tudo o que ele buscava naquela cabana e esse odor arrancou-o às suas congeminações. O seu pequeno amigo sorria-lhe. Ele aceitou o copo e sentou-se à mesa, ao lado da cadeira de Lanch. Ela chocou com o seu copo no dele.


- Feliz ano novo, Tenshinhan.


Ah, lembrou-se ele de repente, a recuperar o calendário que tinha perdido enquanto viajava pelas montanhas em busca de iluminação e de um espaço onde pudesse crescer como ser humano e como guerreiro. Claro, estamos no fim do ano.


Ele respondeu-lhe:


- Feliz ano novo.


Um ligeiro estoiro surgiu no ar por cima da mesa e caiu uma chuva de pétalas de rosa, perfumadas e frescas, guardadas com esmero por Chaozu desde o fim do verão que segurava no canudo que fizera explodir para provocar aquela maravilha.


- Feliz ano novo! – exclamou o pequeno.


Ele sorriu abertamente. A capa inatingível que ele cultivara naqueles dias sozinhos derreteu-se como a neve das suas botas e permitiu-se a celebrar o novo ano que chegava. Reconheceu a sensação do recomeço nos ossos, um tipo de arrepio saudável, quente como o chá que lhe assentava no estômago.


Não pedia nada mais do que aquilo. Era feliz.


Ele, Chaozu e Lanch, na cabana das montanhas nevadas do fim do mundo, a lareira acesa, uma mesa farta, promessas de calor e de amor infindo, enquanto a neve caía lá fora.

29 de Diciembre de 2018 a las 00:01 0 Reporte Insertar Seguir historia
3
Fin

Conoce al autor

Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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