zephirat Andre Tornado

A poucos dias do fim do ano, Vegeta cansa-se dos gritos de Bulma e sai de casa... Irá ele regressar a tempo de lhe desejar um feliz ano novo?


Fanfiction Anime/Manga Sólo para mayores de 18. © Dragon Ball não me pertence. História escrita de fã para fã.

#dragon-ball #vegeta #bulma #ano-novo #festa #Discussão #reconciliação
Cuento corto
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Capítulo Único


Dia zero – 29 de dezembro.

 

Fechei os olhos. Dentro do cérebro tinha um badalo a bater loucamente contra as paredes do meu crânio que pareciam revestidas de bronze, como um sino numa torre alta, cada badalada ressoando nos píncaros do insuportável, o eco deixando-me à beira de um ataque de nervos dos antigos, em que depois gritava mais alto, subia o ki e destruía tudo em redor só para ver um fogo-de-artifício bem sangrento!


Bulma gritava comigo como se estivesse possessa por um espírito das trevas, chamando-me de irresponsável, de egoísta, de estúpido, de raio de saiya-jin imprestável que não sabia fazer mais nada a não ser treinar dias a fio, de inútil, de projeto errado, de aberração. Bem, havia ali insultos novos, que ela nunca antes me tinha atirado à cara, pelo que estava mesmo zangada, acho que nunca tinha estado tão zangada comigo como naquele dia.


Entreabri uma pálpebra para espreitá-la, sem aguentar a dor de cabeça provocada pelos gritos dela. Mas eu só a tinha mandado passear, que não contasse comigo para preparar aquela maldita festa de fim do ano na Capsule Corporation. E ela desatara a berrar como um monstro desfigurado, a perguntar se havia algum problema com os amigos dela, com a festa dela, com Son-kun, se já não estava tudo esquecido depois de termos lutado um ao lado do outro contra Majin Bu, que eu era imprevisível, ingrato, insensível, insocial, animal, irresponsável, egoísta, malandro. Ah, mais insultos, cada um empurrando o badalo com mais força dentro do sino.


Son-kun? Mas que raio?... Ah, Kakaroto, lembrei-me entre uma badalada ensurdecedora e outra.


Aproveitei uma nesga de silêncio, em que ela tomava fôlego, para afirmar:


- Vou-me embora.


A boca dela abriu-se de uma forma tão redonda que quase me fez rir.


- Estou farto dos teus gritos. Se queres gritar… Fica aí a gritar sozinha, mulher irritante!


Voltei-lhe costas, afundando as mãos nos bolsos das calças de ganga. Ela protestou, numa berraria ainda mais escandalosa:


- Volta aqui, Vegeta! Ainda não acabei de dizer tudo o que precisas ouvir.


Errado. Eu não precisava de ouvir nada. Já tinha ouvido e aturado que chegasse por causa da porcaria da festa de fim do ano na qual eu me recusara a participar, nem na estúpida organização, nem na maldita festa propriamente dita e ela a gritar-me que precisava de ajuda, que se eu estava ao lado dela, como companheiro e, no fim de contas, como marido, que eu lhe devia apoio, compreensão. Ah, pois, e isso devia incluir gritos impossíveis de processar pelo meu sentido de audição demasiado apurado! Ela que fosse para o Inferno, juntamente com Freeza, Cell e Majin Bu! Estava farto dela até à raiz dos cabelos! O que queria ela mais de mim? Não estava ali, a ajudar a criar o pirralho dela, que também era meu filho, desde que nascera, maldição? E não tinha participado em todas as estúpidas festas de fim de ano desde essa data, durante dez longos anos? Ah, que fosse mesmo para o Inferno e disse-lho com todas as letras.


Depois, fui para o meu quarto – apesar de estarmos juntos, eu tinha o meu próprio quarto, gostava de ter um espaço só meu e quanto mais apertado melhor, pois passara grande parte da minha vida em naves espaciais minúsculas – fechei a porta com estrondo. Fumegava de tão irritado e tive de me controlar para não me transformar em super saiya-jin e rebentar com aquela parte da casa. Em vez disso, agarrei numa mochila, enfiei nesta algumas peças de roupa, a escova de dentes, corri o fecho, coloquei-a aos ombros. Agarrei no cartão de crédito e em alguns zeni que guardava dentro de um frasco de vidro numa prateleira. Abri a janela e voei dali para fora. Continuava a fumegar e devo ter deixado um rasto visível. Mas queria lá saber! Queria era distância daquela mulher e daquela vida que me estava a agoniar.


Aos poucos, o sino dentro da minha cabeça calava-se.


 

***


 

Podia ter continuado a voar, mas quis viajar como um normal terrestre. Comprei um bilhete de comboio, para um destino o mais longínquo possível de West City, frisei esse dado à mulherzinha que me atendeu na bilheteira. Dentro daquele meio de transporte ridículo e antiquado, atirei a mochila para a prateleira metálica que ficava por cima da fileira de cadeiras, ocupei o assento confortável, cruzando os braços, fechando os olhos. A cabeça ainda me doía.


Estava a fugir, a afastar-me. Estaria a abandoná-la? Não pensei muito nisso. Estava zangado e palpitava-me que iria ficar assim durante muito tempo. Provavelmente, até depois da infame festa de fim do ano. Não iria aparecer durante meses, durante anos!


O comboio iniciou a marcha.


Ah, que Bulma fosse mesmo para o Inferno!


Com esse pensamento azedo, deixei-me dormir.


 

***


 

Não fui até ao destino longínquo que me permitia o bilhete que tinha comprado. Quando anoitecia, desci na primeira estação que apareceu. Eu e uma família de campónios, com uma ninhada de cinco filhos barulhentos atrás.


Olhei em volta. Achei que estava no fim do mundo, mesmo sem ter chegado ao destino que me caberia quando a linha terminasse e o meu bilhete também. Era uma estação tosca de uma cidadezinha de província, com poucos habitantes que se deviam dedicar à agricultura ou algo semelhante, sem vestígios de tecnologia e da agitação cosmopolita à qual me habituara em West City. Estava morto de fome e procurei por um sítio para comer. Entrei numa taberna com aspeto envelhecido, pouco frequentada e sentei-me ao balcão, pousando a mochila a meus pés.


Comi uma panela inteira de feijoada com carnes e pedaços gordurentos de enchidos, para acalmar o estômago e a dor de cabeça. O taberneiro ofereceu-me uma garrafa de vinho tinto que bebi inteira a acompanhar o jantar rústico, pelo gargalo, sem usar copo. Até já estava a imaginar a Bulma a gritar-me aos ouvidos por estar a portar-me sem maneiras, quando uma mulher se sentou no banco alto ao meu lado direito, a puxar uma passa de um cigarro recentemente aceso. Espreitei-a pelo canto do olho, a mastigar a última porção de feijoada.


- Olá, forasteiro.


O que queria aquela intrometida?


Engoli o que mastigara com o último gole de vinho tinto. Não lhe respondi. Pousei a garrafa e empurrei o prato para fazer espaço, assentei os cotovelos no balcão, pressionando os dedos nas têmporas. A cabeça continuava a doer-me.


- Não me pagas uma bebida?


Suspirei.


- Pede o que quiseres – disse eu, sem largar as têmporas.


- Estás muito longe de casa, não estás?


Ela ia insistir naquela conversa. Mas não lhe podia dar um murro nos dentes, apesar de me estar a apetecer descarregar a tensão daquele dia demasiado longo naquela mulher intrometida. Espreitei-a outra vez. Sorria-me como uma idiota. Usava os cabelos vermelhos apanhados num carrapito, até que tinha uma cara aceitável, com grandes olhos castanhos, as bochechas sarapintadas de sardas e uma boca carnuda. Via-lhe os seios que espreitavam do decote do vestido tão curto que, se me inclinasse um nadinha para trás, conseguia ver-lhe a cor das cuecas.


Larguei as têmporas.


- Porque é que dizes isso, que estou longe de casa?


- Menino de cidade. As tuas roupas denunciam-te. Desgosto de amor, aposto.


Corei como um estúpido de um terrestre amansado, encolhendo-me todo. Precisava urgentemente de bater em alguém, mas iria substituir essa necessidade acompanhando a mulher atiradiça na bebida. Estalei os dedos e chamei o taberneiro. Ela pediu um whisky e eu pedi outro. Quando levantei o copo de vidro com um líquido amarelo com um cheiro intenso – acho que havia uma qualquer raça alienígena cujas tripas cheiravam da mesma maneira – ela chocou ao de leve com o copo dela no meu dizendo:


- Aos corações partidos.


- Cala-te! – Ordenei irritado e ela riu-se.


- Os homens são todos iguais… – murmurou.


- E as mulheres também – resmunguei.


Ela chamou pelo taberneiro e pediu a garrafa. Comecei a sentir-me encurralado. Ela queria ficar ali a noite toda, a beber aquele líquido amarelo com cheiro de tripas e que tinha um sabor forte que me ardia na boca e me desentupia as narinas.


Concordei. Estava demasiado irritado para me importar com o que quer que fosse. Ela manteve-se em silêncio acabando com o seu líquido amarelo, bebendo-o de um trago. Agarrou na garrafa, encheu o meu copo e voltou a encher o dela.


Nem olhei para a mulher. Não lhe iria ligar a mínima, para ver se ela desistia e se me deixava sozinho a curtir a minha irritação. Mas desconfiava que aquela noite iria ser muito longa e que ela não se iria embora assim tão facilmente e seguramente nunca antes de terminar primeiro o cigarro e, depois, o líquido amarelo da garrafa.

 

 

 

Primeiro dia – 30 de dezembro.

 

Despertei com um sabor amargo no fundo da garganta. Levantei-me tonto e atirei-me à sanita enfiando a cabeça lá dentro em desespero, despejando tudo o que tinha no estômago. Maldição! Nem tão cedo me metia noutra igual. Tudo por culpa daquele líquido amarelo pestilento!


Saí a cambalear da casa de banho daquele sítio que eu não reconheci de imediato. Era um quarto, com uma decoração pirosa, estreito, com cortinas grossas a combinar com coisa nenhuma a tapar a luz de uma magnífica manhã ou tarde – nem me conseguia situar temporalmente, maldito álcool terrestre – e havia um odor desconhecido. Farejei o ar como um cão, à procura de um indício odorífero que me resolvesse o mistério e descobri-a a olhar para mim com a cabeça assente numa mão, cotovelo apoiado na cama, de cabelos vermelhos desalinhados, sorrindo de maneira lasciva. Estava completamente nua debaixo do lençol que a cobria até ao peito, exibia as curvas do seu corpo cheio deitando-se de lado, meneando as ancas e as pernas, imitando uma serpente.


A mulher da noite passada!


Entrei em pânico.


- Por todos os demónios, o que raios significa isto?!! – Exclamei indignado.


Reparei que eu vestia apenas as calças de ganga com que saíra de casa, exibia o torso nu, os pés descalços e começava a sentir uma vergonha imensa por ter feito uma coisa daquelas.


Mas, ao certo, o que tinha feito?


- Oh, garanhão… Não te lembras de nada do que aconteceu na noite passada?


Corei como um adolescente, enredado numa teia imaginária que me apertava os membros e me tolhia os músculos. Eu tinha feito… Eu tinha traído Bulma? A minha honra desfazia-se em cacos a meus pés… Senti-me indigno e sujo.


- Não te lembras?


- O que é que fazes nessa cama, mulher? Dormiste aí?


Ela revirou os olhos, suspirando alto. Confessou, abandonando a pose sensual, atirando a cabeça para o travesseiro.


- Precisamente: dormi aqui. Não aconteceu nada entre nós, descansa. Ou melhor, tentei dormir aqui, porque tu levaste a noite inteira a ressonar como uma locomotiva. Se queres beber para ficar mais… desinibido, tens de aprender a controlar primeiro o álcool que ingeres, lindo. Foi demasiado. Apanhaste uma bebedeira que te deixou inconsciente. Assim que chegámos ao quarto, ainda me deste um sorriso quando despi a minha roupa. Arranquei-te a blusa, tu descalçaste as botas e tiraste as meias. Depois… Puf! Caíste para trás, para a cama e adormeceste como se te tivessem dado um murro no alto da cabeça. É que nem sequer um beijo, lindo!


Senti-me aliviado. Não tinha acontecido nada de que me pudesse envergonhar. A honra continuava intacta. Reparei na blusa sobre a cómoda, para onde tinha sido atirada por aquela maluca. Ela voltava a sorrir-me.


- Mas agora já estás mais desperto… E com o estômago menos pesado, pelo que consegui ouvir. Podemos recomeçar e fazer de conta que não caíste para trás. Vem, entra aqui na cama e podemos divertir-nos. Aliás, até gosto mais de fazê-lo de manhã, pela fresquinha, do que à noite.


- Não deves estar boa da cabeça – cortei ríspido. – Veste-te e some-te daqui. Quando voltar, não te quero ver na minha cama.


Entrei na cabina de duche e abri o chuveiro. Apoiei as mãos na parede de azulejos, deixando a água a ferver cair-me na nuca e escorrer-me pelas costas, queimando todos os restos da noite passada, limpando-me de memórias humilhantes e desnecessárias.


Estava a ser um idiota e tinha quase deitado tudo a perder.


O que fazia eu tão longe de casa?

 

 

 

Último dia – 31 de dezembro.

 

O meu orgulho impediu-me de fazer a viagem de volta no dia em que despertei num quarto reles de um motel decrépito na companhia de uma maluca qualquer de cabelos vermelhos e sardas nas bochechas. Vagueei ainda algumas horas pela cidadezinha, comi qualquer coisa num botequim acanhado, andei pelas redondezas e descobri uma paisagem agradável – um grande lago rodeado por um bosque, relativamente sossegado e longe o suficiente da civilização para que eu me exercitasse. A sessão de treinos ocupou-me o resto do dia, distraí-me no egoísmo do meu mundo de guerreiro e, quando me apercebi, anoitecia.


Regressei ao motel decrépito, pois não sabia de outro sítio para passar a noite e, dessa vez, dormi sozinho, sem malucas ao lado. A televisão fez-me companhia e fiquei a assistir, em modo sonâmbulo, aos programas imbecis para gente imbecil que anunciavam os preparativos para a festa do final do ano.


Tive um rebate de consciência, uma impressão no peito. Eu devia regressar a casa para essa maldita festa, mas não sabia muito bem como iria Bulma reagir depois do que eu lhe tinha dito. Tinha-a mandado para o Inferno, acrescentando que ela merecia estar com Freeza, Cell e com Majin Bu, mas estava furioso quando o tinha dito, com a cabeça a rebentar por causa dos gritos dela.


Na manhã seguinte comprei um bilhete de comboio para West City. Quase que desfiz a casota espécie de bilheteira quando o infeliz que estava lá dentro me disse para dar um passeiozinho pela cidade – foram essas as exatas palavras que empregou, “passeiozinho pela cidade” – pois o comboio só partiria depois do almoço. A viagem ainda demoraria umas boas nove horas e eu comecei a fazer contas de cabeça e assustei-me. Poderia não chegar antes da meia-noite e se eu falhasse a maldita da festa do fim do ano, Bulma nunca mais me iria perdoar por tê-la mandado para o Inferno.


Iria a voar!


Mas o meu orgulho deu-me uma alfinetada.


Não, iria de comboio. E se chegasse atrasado, paciência. Ela não era dona da minha vida e não tinha de lhe dar satisfações, apesar de estar com ela havia mais de dez anos e de ela ser uma mulher fantástica e insubstituível, que me dava completamente a volta à cabeça. E eu continuava zangado, era bom não esquecer, e os meus rancores nunca foram muito fáceis de curar. O tempo enfiado dentro do meio de transporte ridículo e antiquado poderia ajudar-me.


 

***


 

Cheguei à estação de West City às onze e cinquenta e dois da noite. Faltavam oito minutos para a chegada do novo ano. Continuava zangado, aborrecido, mas agora comigo mesmo por me sentir sozinho, amputado de uma parte fundamental da minha pessoa que eu, inadvertidamente, tinha doado àquela mulher irritante que eu adorava chamada Bulma e que haveria de ser a minha outra metade para sempre. A viagem servira para descobrir essa pequena verdade que me irritava, mais do que qualquer outra coisa no mundo.


Mas, curiosamente, sentia-me bem. E sorri.


Voei até à Capsule Corporation e demorei menos de cinco minutos até chegar ao local que se enfeitava como um antro de diversão para gente desmiolada. Havia música alta, grinaldas de luzes, enfeites de papel, coisas brilhantes penduradas, devia haver comida a rodos e bebida também. Ao lembrar-me do tal líquido amarelo, fiz uma careta. Nem tão cedo iria beber alguma coisa que tivesse o leve odor do álcool!


Respirei fundo, sentindo o coração a bater. Sabia que a reação de Bulma não seria das melhores, afinal abandonara-a quando ela precisava de mim para montar aquele espetáculo decadente para os seus amiguinhos e tinha-a mandado para o Inferno.


Mas eu nunca tinha recuado perante nenhum desafio, nem mesmo quando sabia que as minhas possibilidades seriam nulas contra um inimigo que superava imensamente as minhas forças, e entrei decidido, dirigindo-me aos jardins das traseiras.


Quando apareci, todas as vozes se calaram e todos os pares de olhos estupidamente brilhantes se voltaram para mim. Havia euforia pois a meia-noite estava quase a chegar e muitos agarravam em garrafas de champagne, prontos para batizarem o novo ano com a bebida adequada à ocasião. Reparei em Kakaroto, como sempre o primeiro a me dar as boas-vindas com aquela sua vozita mais irritante que passar uma lixa numa ardósia:


- Yo, Vegeta! Só faltavas tu!


Como se eu me tivesse ausentado para ir à casa de banho ou coisa parecida.


Deu-me vontade de lhe arrebentar os dentes!


Sabia que tinha uma das minhas habituais carrancas, sobrancelhas bem carregadas e um olhar bem negro, pois a moldura humana que me fitava estava receosa e muda como um bando de fantasmas.


Estavam lá todos. O velho tarado com o porco falante, a tartaruga marinha e a louca que mudava de personalidade quando espirrava; a família completa de Kakaroto incluindo o reles campeão Mr. Satan, a filha, o boneco cor-de-rosa e o cão; a raça inteira dos namekusei-jin que afinal eram só dois, com aquele guardião escuro como breu; o baixinho que tinha ficado com a humana artificial; o tipo dos três olhos com o bonequinho de porcelana; o meu filho de dez anos ao lado do filho de nove anos de Kakaroto, acompanhados da fedelha filha do baixinho e da humana artificial. 


Encontrei Bulma. O inútil do antigo namorado dela, o ladrãozeco do deserto, com o gato azul a flutuar por perto, passava-lhe um braço pelos ombros, enquanto segurava a sua garrafa de champagne, com uma cara debochada de bêbado, sorrindo como um pateta. Depois, ficou cinzento por eu estar a vê-lo agarrado à minha mulher.


A minha mulher e ia morrer ali, despedaçado pelas minhas mãos, se ela não se tivesse desembaraçado daquele braço culpado e pesadão como quem enxota um inseto incómodo e eu gostei da atitude dela.


Kakaroto soltou um brado inocente:


- Miná… Está quase!


Ouvia um relógio longínquo a marcar os últimos segundos do ano velho, a enterrar, por cada movimentação dos ponteiros, o que se tinha passado antes daquele momento.


Bulma estava deslumbrante, com um vestido negro discreto, sapatos de saltos altos que a faziam alguns dedos maior que eu. Tinha os lábios pintados de um vermelho tão sedutor que imaginei o sabor a morango e usava purpurinas na cara. Aproximou-se de mim.


- Feliz ano novo… Vegeta.


Eu respondi-lhe:


- Feliz ano novo, Bulma.


Ela entreabriu os lábios vermelhos sinal de que eu tinha tocado algures num ponto vital, mais precisamente naquele coração de mulher romântica que existia debaixo da máscara de cientista sabichona, ultra controladora de todas as situações, gritadora profissional e azucrinadora de saiya-jin. Simplesmente, porque a tinha chamado pelo nome e não o fazia amiúde, detestava dar essa importância a quem era inferior a mim, pois claro. E de cada vez que a chamava pelo nome, ela derretia-se, a começar por entreabrir os lábios.


Haveria de me cobrar por aqueles dias de ausência, haveria de reatar a discussão e os insultos, mas ali, nos jardins das traseiras da Capsule Corporation, tínhamos acabado de assinar uma trégua e o pacto silencioso de uma paz tão frágil como o perfume dela fazia-nos mais próximos que nunca.


Eu amava aquela mulher e não me importava nada que ela percebesse.


Aqueles lábios vermelhos eram irresistíveis. Serviam para me gritar, para me insultar ou para me aborrecer, mas também serviam para que fossem beijados. Por mim!


Inclinei-me, uni a minha boca à dela.


No céu rebentava o fogo-de-artifício anunciando a meia-noite.


As rolhas das garrafas de champagne saltaram e ouvi o grito eufórico e imbecil do Kakaroto:


- Eh! Feliz ano novo!!!


Devia estar a dançar com a garrafa na mão, o líquido a verter-se numa onda de espuma branca, rodopiando entre os outros imbecis, que berravam e urravam como uma trupe de palhaços alucinados.


E eu beijava aquela mulher que era a pessoa mais importante da minha vida, iluminados pelo brilho colorido do fogo-de-artifício. E apesar de o cenário não ser perfeito, a algazarra em pano de fundo estava a complicar-me com os nervos, naquele instante era ali que eu queria estar, a passar mais um ano, na minha casa, nos braços dela e ela, nos meus.

26 de Diciembre de 2018 a las 17:11 0 Reporte Insertar Seguir historia
3
Fin

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Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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