NOTAS INICIAIS:
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O carro muito acima da velocidade permitida ganhava a noite. As luzes nos postes da rua passavam por eles e o infinito à frente, com a escuridão engolindo tudo, era assustador. Foi como entrar em um pesadelo, vivendo uma exata reprise do inferno do qual demorou pra sair. De repente Sasuke se sentiu com oito anos de novo: pode escutar com quase perfeição os gritos da sua mãe pedindo para Itachi colocar o cinto nele e o proteger
“Segura seu irmão, Itachi, segura ele com força! Não solte de forma alguma!” era o que ela dizia aos berros, seu corpo de perfil e os olhos esbugalhados encarando assustados os bancos de trás onde ele e o irmão estavam. Ouviu seus próprios gritos, sentiu a garganta queimar, com os olhos cheios de lágrimas, as sentiu escorrerem quentes pelo rosto com o choro desesperado.
O medo que Sasuke sentiu sempre que o pai dirigia insanamente com todos dentro do carro era uma lembrança marcada a fogo e ferro em sua mente, o terror o fazendo tremer; Sasuke não se lembrava muito da infância, mas lembrava como se fosse hoje os dias de angústia e aflições infindáveis que a família Uchiha era submetida graças ao pai alcoólatra.
— Que isso Teme, vai chorar como uma criancinha? — escutou ao longe a chacota do namorado.
Despertou das lembranças como quem acorda de um pesadelo, mas apenas para ver que, na verdade, tudo era bem real. Estava no carro do Uzumaki, seu namorado, e o idiota decidira dirigir depois de ter bebido muito além da conta. Olhou para o companheiro com os olhos vermelhos, sentia o corpo tremer tanto que temeu ter uma hiperventilação bem ali, no meio do nada e com a companhia de um inconsequente. Ele sabia o quanto Sasuke odiava estar em um carro em movimento quando Naruto bebia e mesmo assim teimava em dirigir com o álcool no organismo. Sasuke fez sua melhor careta de desagrado.
— Diminui a velocidade agora, Dobe. — falou entre dentes.
Naruto riu da sua exigência como se tudo aquilo fosse muito divertido, ele sempre perdia a noção quando bebia, não levando nada a sério e o Uchiha odiava esse tipo de comportamento, ele andava se esforçando bastante para não apenas virar as costas e ir embora de uma vez; como normalmente faria com qualquer outro. Mas Naruto, mesmo com seu vício horrível e seu descontrole, ainda era muito importante para o moreno.
— Relaxa, Teme, tenho tudo sobre controle. — foi o que disse, a língua enrolada e fala mole.
Não, Naruto não tinha.
Em um certo momento Sasuke se viu obrigado a pegar o volante, o puxando em sua direção para desviar por pouco do meio fio que os levaria a bater contra um poste. O carro deu uma virada brusca depois que ele soltou o volante e girou na pista, o veículo não capotando por pouco. O moreno sentiu seu estômago contrair com o pavor e o ar dos seus pulmões praticamente desapareceu; seu coração batia tão rápido que Sasuke podia escutar as pulsações dele. Por um pequeno instante acreditou que desmaiaria.
— Para a porra do carro agora seu filho da puta!
O sorriso de Naruto, que ainda estava largo mesmo depois da quase batida seguida do quase capotamento, morreu. Sasuke nunca falou com ele daquela forma. Achou estranho o quanto a mão que segurou seu braço tremia. Reparando bem, os olhos negros estavam grandes demais, parecendo duas bolas prestes a pular pra fora das órbitas – e isso era inacreditável já que Sasuke era um descendente de japoneses. Pisou no freio de uma vez, sem pensar direito, e o carro deu um solavanco, os jogando para frente antes de derrapar na pista mais uma vez. O atrito das rodas com a estrada deixando marcas negras e um cheiro enjoativo de borracha queimada.
Assim que o carro parou, Sasuke abriu a porta e se debruçou. Naruto ouviu o som claro de alguém vomitando e em seu torpor ficou preocupado.
— Hey, Teme, você está bem? — perguntou, tocando o ombro trêmulo do moreno, mas Sasuke repeliu o contato, retirou o cinto com pressa e saiu do carro.
Naruto assistiu pela porta aberta o moreno andar de um lado para o outro, os olhos negros vidrados em um ponto na rua; o queixo batia como se ele estivesse com muito frio – mas isso não era possível já que estavam no verão, Naruto tinha quase certeza – o rosto mais pálido do que o normal e a testa cheia de suor, algumas gotas até mesmo pingando da ponta do nariz arrebitado do Uchiha.
O que estava acontecendo? Naruto se perguntou, as palavras chegando devagar na mente nublada, aquela pessoa não podia ser seu namorado de pose sempre séria e arrogante. O loiro abriu a porta e saiu, cambaleando um pouco, logo alcançando o outro homem, então segurou o rosto fino, o obrigando a parar de andar.
Sasuke o olhou, mas não parecia o ver e Naruto se sentiu sóbrio, entendendo que, daquela vez, havia pegado pesado com o namorado. Imediatamente se arrependeu por ter pensado que Sasuke só estava sendo rabugento como sempre.
— Ei, amor, eu prometo que vou dirigir com calma e cuidado. Até coloco o cinto. Entra no carro sim?
Por mais que sua voz tenha sido amável, Sasuke entrou em pânico, o corpo tremendo violentamente e ele se agarrou no paletó do loiro, o qual usava na festa de final de ano na empresa onde trabalha, temendo não conseguir se manter em pé. Naruto rapidamente entendeu que o namorado estava tendo uma crise de pânico – ou era ansiedade? Não sabia bem dizer – pegou o corpo esguio nos braços e o colocou deitado no banco traseiro. Sasuke não pesava muito e isso era algo que incomodou o loiro, mas não disse nada.
Durante o resto do caminho, Naruto dirigiu tão lentamente que alguns carros passavam buzinando, os motoristas xingando sua lentidão. Suspirou aliviado assim que adentrou na área principal da cidade porque a única coisa que quebrava o silêncio desconfortável no veículo eram os soluços e murmúrios do moreno no banco de trás.
Sasuke precisou de um tempo depois do terrível episódio do carro.
Usou os dias em que ficou em sua casa para pensar e espairecer, o ambiente quase estranho já que passava mais tempo na casa do namorado do que na sua. Durante esse tempo se perguntou se deveria insistir naquele relacionamento. A resposta havia sido sim. Sasuke realmente nunca sentiu por ninguém o que sentia por Naruto, era algo tão forte e intenso que fazia suas pernas ficarem bambas, seu coração perder o compasso e sentir o famoso frio na barriga. Sasuke se sentia inabalável quando Naruto o abraçava, beijava, amava seu corpo na mesma proporção em que tocava a sua alma com palavras doces e sinceras. Aqueles olhos azuis, o sorriso aberto e o jeito gentil e brincalhão, tudo em Naruto o atraia, o hipnotizava e Sasuke só estava com ele até agora porque acreditava fervorosamente que ele, que a relação deles, valia a pena.
Agora já não tinha tanta certeza.
Quando o conheceu, tudo o que viu foi um adulto que se comportava como uma criança, mas aprendeu logo que aquilo era apenas o jeito do loiro de deixar as pessoas ao seu redor a vontade, uma forma de criar intimidade e confiança. O loiro jamais o machucaria deliberadamente, sabia bem que Naruto continuou com a brincadeira na noite da festa por achar que Sasuke estava agindo como “um velho de oitenta anos” como o Uzumaki costuma dizer. Mas não era bem assim.
Como o bom cabeça oca que Naruto é, ele não guarda muitas informações e até do próprio aniversário o loiro já esqueceu naqueles seis meses que estavam junto, então Sasuke não ficou surpreso por ele esquecer dos seus traumas também. Normalmente o alertava dizendo algo como “você está fazendo aquilo de novo”, mas dessa vez estava tão mergulhado nas lembranças que o assombram que não disse nada além da exigência para o namorado parar. E, bem, ele mandava Naruto parar até de andar pela casa quando tava de mal humor então o Uzumaki não percebeu que colocou Sasuke em um loop infinito na pior parte da infância dele naquela noite, sendo a causa da crise que teve e acabando por assistir o moreno chorar na sua frente. Sasuke nunca chorava na frente de ninguém e se odiou por aquilo.
Mas não havia mais tempo para essa bobagem, Sasuke já havia ligado para Naruto o chamando para que pudessem conversar. Era covardia usar a culpa que o loiro com certeza estava sentindo para dar um ultimato, porém se não fosse assim, Naruto jamais sairia daquele vício que nem ao menos percebeu que tinha. Aquela negação não era novidade para Sasuke também, ele viu aquela cena tantas vezes, com basicamente as mesmas desculpas, que já sabia o discurso de cor.
A campainha tocou e Sasuke abriu a porta para o namorado.
Naruto entrou arredio, olhou ao redor antes de encarar com atenção o moreno; ele sabia que tinha vacilado muito, contudo não queria perdê-lo. Sasuke era tudo para ele.
— Você está melhor? — o loiro perguntou, uma questão delicada diante de tudo. Sasuke duvidou um pouco que Naruto soubesse o que o questionamento implicaria, mas os olhos azuis aflitos o convenceram que o loiro entendia e que queria sinceridade por parte de Sasuke. Desviou o olhar pensando no que deveria falar primeiro. Sendo realista, o moreno duvidava muito que Naruto concordasse com sua decisão, mas não conseguiria prosseguir com o relacionamento se o loiro não o fizesse.
— Eu sei que agora que você não está mais sob efeito do álcool, você sabe perfeitamente o que fez e o porquê do meu ataque de pânico. — Sasuke disse e Naruto assentiu, quieto. O moreno reparou nas mãos do loiro entrelaçadas em cima do colo. Cruzou os braços sentindo-se exposto com o teor da conversa. — Preciso que você me responda uma coisa antes de conversarmos, — orbes obsidianas encararam diretamente os olhos azuis — Você está disposto a parar de beber?
O silêncio que se seguiu foi desconfortável. Naruto se mexeu na poltrona onde estava sentado, ele focou nos seus dedos brincando um contra o outro e mordeu os lábios. Naruto gostava de beber. Gostava do sabor forte do álcool e a sensação de liberdade que lhe dava e era como se, sem aquilo, estivesse preso em amarras invisíveis. Mas não importava, certo? O álcool não valia perder Sasuke. Seu namorado sempre seria mais importante.
Voltou a olhar para o moreno notando a apreensão nos olhos negros. Naruto pode lê-lo com clareza – algo extremamente raro para um Uchiha – e sorriu tentando ser reconfortante para afastar a tensão dos ombros do seu namorado.
— Se você se sente mais confortável e seguro assim, não vejo problema nenhum em ficar sem beber.
E parecia uma promessa de um futuro melhor, mas aquela tranquilidade não duraria muito porque Sasuke sabia que Naruto ainda não tinha noção do seu vício, assim como seu pai não teve, e que agora ele julgava fácil deixar a bebida de lado, porém isso seria o início do inferno que o loiro passaria para se desintoxicar e até a abstinência passar. Por outro lado ficou feliz pelo loiro ter aceito sua “condição”. Esse era somente o primeiro passo para a liberdade de ambos, mas assim que Naruto estivesse limpo da adicção, eles poderiam ficar juntos sem as crises de pânico e ansiedade de Sasuke e sem as brigas que, nos últimos meses, eram mais presentes do que os beijos.
Pela primeira vez depois do incidente do carro, o Uchiha sorriu.
— Já que você está disposto a passar por isso, vou te explicar algumas coisas, — voltou a falar. Estava tão aliviado que podia flutuar pela sala. — Primeiro; as coisas vão ser difíceis para você. Ficar sem o álcool vai te deixar nervoso, agitado e até agressivo. Quando se sentir assim, se isola no quarto até passar, ok?
Naruto ficou confuso. Do que Sasuke estava falando? Por que ficaria desse jeito só por parar de beber? Não entendeu, mas assentiu. Seu namorado com certeza ainda estava preso nas lembranças ruins do passado e já que a culpa era sua por trazê-las, o loiro se limitou a concordar com tudo o que Sasuke dizia.
— Vamos fazer um teste de um mês. Se você conseguir se manter limpo por esse tempo, não é preciso intervenção. Caso não consiga... — viu o lampejo de medo nos olhos azuis e decidiu não tocar naquele assunto ainda. — ... bom, vamos falar disso se for preciso.
Ambos ficaram se encarando na sala. Naruto tentava entender do que Sasuke estava falando ao mesmo tempo em que sentia feliz por ver o namorado com aquele semblante radiante. Nos últimos meses Sasuke andou abatido; gritando no meio da noite – quando conseguia, de fato dormir, e sem comer direito por dias, vomitando o pouco que chegava ao estômago. Então, se para deixar o moreno com aquele aspecto feliz e saudável só precisava parar de beber, Naruto decidiu que nunca mais colocaria álcool na boca.
Uma semana depois, Naruto entendeu o que Sasuke quis dizer.
Nos primeiros dias foi tranquilo, às vezes sentia uma tremedeira estranha, a garganta seca e parecia que nenhum líquido, desde água a refrigerante, o saciava. Durante a noite tremia de frio e suava de calor. Subitamente uma vontade de gritar vinha e do nada se sentia furioso, mas tirando esses comportamentos estranhos, Naruto era o que sempre fora.
Mas essa calmaria não durou muito e no oitavo dia sem beber o Uzumaki já achava que enlouqueceria. Sentia uma forte queimação no estômago e agora mesmo quando estava com frio ele suava, não existia uma hora em que se sentisse bem.
Naruto estava sempre instável, o humor oscilando entre furioso e deprimido. A raiva não desaparecia e o loiro chegou a ligar gritando para Sasuke, dizendo coisas tão pesadas que estava surpreso por ele não terminar o namoro. Pelo contrário, Sasuke estava sempre ao seu lado, dando colo para que Naruto pudesse chorar quando a fúria cessava, dizendo coisas carinhosas como nunca fez antes e para o Uzumaki era um absurdo ver os olhos negros o fitarem com extremo amor e felicidade quando Naruto se sentia no inferno. E mesmo percebendo que o Uchiha estava certo sobre como seria aquele tempo, Naruto ainda não entendia o porquê de se sentir assim, porque pensar no álcool lhe dava tanta sede e no quão irresistível era a vontade de comprar, pelo menos, uma cerveja.
Era difícil, difícil demais, não escutar aquela voz e foi isso que ele fez.
Comprou uma latinha assim que saiu do escritório, as cobranças administrativa que fazia durante todo o dia deixavam sua cabeça pulsando – ela doía a todo instante nos últimos dias e Naruto associou ao trabalho que estava mais pesado este ano – e o loiro sentiu que precisava relaxar. Bebeu tranquilo, sentado no sofá, assistindo um filme qualquer tendo totalmente esquecido que Sasuke chegaria em poucos minutos, só lembrando da promessa de não beber quando escutou o portão da casa abrindo. Ele correu para o banheiro, trancou a porta e tirou a roupa, pegando as escovas de dente e usando a tesoura para picotar a lata, a escondendo no meio do lixo do banheiro, muito bem camuflada em papel higiênico. Usou o bom ar, ligou o chuveiro e tomou; esfregando com força e repetitivamente a bucha a ponto de deixar a pele bronzeada vermelha.
Sasuke, que entrou em casa e viu a televisão ligada, estranhou que o namorado não estivesse o esperando. Foi no quarto ver se ele não estava escondido lá; algo que sempre fazia quando se sentia ansioso e nervoso pela falta da bebida, porém não o achou. Franziu o cenho, mas relaxou assim que escutou o barulho do chuveiro. Deu um sorriso malicioso pelo claro convite de sexo molhado que os dois adoravam e abriu a porta. Ou tentou.
O sorriso em seu rosto morreu e ele tentou abrir a porta novamente, mas estava trancada. Ficou preocupado, pois Naruto nunca trancava a porta do banheiro, normalmente sempre a deixando aberta até mesmo quando ia cagar. Ele bateu na porta com certa força e escutou a voz abafada do loiro então perguntou:
— O que houve? Por que trancou a porta?
Naruto disse algo, mas Sasuke não entendeu, mas estava tranquilo já que o loiro estava vivo, então apenas avisou que o esperaria na sala e foi se trocar. O dia foi corrido no plantão. Sasuke gostava mais de trabalhar de noite e madrugada adentro, mas desde que começou a namorar o loiro, preferiu se transferir para o plantão diurno querendo dormir com o namorado.
Quando Naruto saiu do banho, foi direto para o quarto e Sasuke franziu o cenho. Cada vez mais o comportamento dele estava estranho, o Uzumaki sempre o beijava, com muito fervor, antes de trocar de roupa, isso quando raramente ele tomava banho sem Sasuke, mas o moreno deu de ombros, caminhando tranquilo pro banheiro; o loiro provavelmente teve alguma crise de abstinência e tava escondendo a vergonha. Naquela altura ele já deveria ter ciência da sua adicção e aquele breve isolamento era completamente compreensível. Notou então que o banheiro estava com cheiro do bom ar. Naruto nunca usava bom ar e Sasuke reclamava porque ele sempre deixava o banheiro fedendo. Fez um lembrete mental de perguntar o que estava acontecendo.
Durante o jantar, Naruto explicou que havia passado mal de novo e vomitou. Sasuke não ficou convencido já que não havia nada que mostrasse que o loiro comeu algo, ou sinais de vômito no banheiro, mas ficou quieto. O loiro era um livro aberto, cedo ou tarde Sasuke descobriria.
E estava correto.
Demorou apenas uma semana pro moreno descobrir o porquê das desculpas: Naruto tinha recaído e feio. Na terça-feira, exatos cinco dias depois do comportamento estranho do loiro, Sasuke ligou avisando que teria que cobrir o enfermeiro chefe do seu setor que era plantonista na parte da noite, mas aconteceu que ele precisava ficar só até Suigetsu chegar e Naruto entendeu que ele faria mais um plantão. Quando Sasuke chegou às dez horas da noite, ele encontrou Naruto desmaiado no sofá em meio a tanta garrafa de álcool destilado – vodka, tequila, whisky entre outras que Sasuke não conhecia – que Sasuke se viu soluçando enquanto tentava reanimar o namorado do que provavelmente era o início de um coma alcoólico.
Depois do susto que Sasuke passou onde precisou forçar Naruto a vomitar para conseguir, pelo menos, uma piscada antes dele apagar de novo, ficando sentado ao lado dele na cama e o abraçando com tanta força que poderia ter o sufocado, ele sentiu a adrenalina diminuir e se permitiu desabar ali mesmo, com Naruto desmaiado em seu peito. Soluçou sentindo cada fibra do seu corpo tremer, uma sensação gelada o dominar e a falta de ar. Não dormiu naquela noite e precisou ligar para o irmão às duas da manhã implorando que fosse para lá, consolá-lo.
Itachi passou a noite toda tentando o distrair, mas no fim só pode se calar e escutar todas as lamúrias de Sasuke, que cada vez mais se via na ponta de um precipício no qual ele se recusava cair. Teve uma conversa séria com o irmão, o aconselhou a fazer uma intervenção com Naruto, mas Sasuke se negou – haviam feito o mesmo com Fugaku depois dele quebrar toda a casa e não adiantou nada. Ele fugiu e só apareceu depois de um ano. Inclusive todos acharam que ele estava morto em um lugar qualquer.
— Então tudo o que te resta é o convencer a se internar.
Isso, no entanto, não foi possível. Naruto bateu o pé dizendo que era um exagero e que não estava doente. Sasuke tentou explicar a situação, mas o Uzumaki não quis ouvir e praticamente ameaçou terminar com ele.
— Pode tentar ficar longe da bebida? Por mim? — murmurou derrotado.
Naruto, que até então transpirava raiva, suavizou a expressão e abraçou o moreno.
— Foi estupidez e reconheço que te preocupei. Não vou beber mais.
Mas era outra mentira. Sasuke sabia disso, sentindo que a cada dia que passava seu namoro chegava mais perto do fim e isso o destruía.
Por mais que amasse Naruto, por mais que ele fosse tudo para ele, jamais deixaria que ele entrasse mais na sua vida, não quando era uma ameaça para sua sanidade. Uma ameaça para sua paz exatamente como Fugaku, que destruiu sua infância por ser um maldito alcoólatra violento que quebrava a casa e dirigia bêbado.
Sasuke não ficou surpreso quando chegou em casa e encontrou o loiro desmaiado no próprio vômito, apenas o deitou de lado e ajudou a se levantar quando as ânsias pararam, dando banho e limpando onde estava sujo então organizou a casa. Fez tudo isso em um silêncio mórbido.
Buscou então as malas guardadas na dispensa e juntou tudo o que era seu. Quando terminou, pareceu finalmente acordar de um transe, suas pernas cederam e Sasuke caiu no chão, batendo os punhos contra o piso de madeira gritando com raiva. Não era justo! Esteve a vida toda fugindo de relacionamentos assim, sendo fácil quando nunca realmente deixou alguém entrar, entretanto Naruto apareceu sem ser convidado, entrou sem que ele percebesse e agora o deixar fez Sasuke sangrar.
Três da manhã.
Naruto acordou e sentou no sofá, o rosto dele o lembrou um cachorrinho que caiu do caminhão da mudança. Sasuke sentiu o coração partir. Realmente o mundo não era justo.
— Olha, sei que quebrei sua confiança de novo, mas prometo que não vou botar nenhum pingo de bebida na boca a partir de agora já que isso te incomoda tanto.
— Esse é o problema. — Sasuke murmurou.
Ficaram em silêncio.
Sasuke respirou fundo e encarou Naruto com frieza. Naruto ficou surpreso.
— Você sabe que eu não dirijo por causa do meu trauma de quando meu pai andava a 100 por hora com todo mundo no carro por estar bêbado. E o que você faz? Você dirige alcoolizado. — levantou a mão quando Naruto abriu a boca para rebater. — Você sabe que não gosto de barulho de vidro quebrando porque meu pai costumava quebrar tudo em casa. O que você faz? Anda bêbado pela casa e quebra as coisas, mesmo que por acidente, ainda me assusta. — apertou sua calça para não desmoronar. — Você sabe que eu terminei todos os meus relacionamentos por causa do álcool. O que você faz? Continua teimando que não é um maldito viciado!
— EU NÃO SOU DOENTE! — Naruto gritou furioso.
Sasuke negou com a cabeça.
— Você acha que é a primeira vez que eu vejo um comportamento como o seu? Que eu sou estúpido o suficiente para não perceber os sintomas? — riu sem vontade. — Eu já vi essa mesma cena tantas vezes, Naruto. — ele então levantou, pegando as malas.
Naruto, que só entendeu o que acontecia naquele instante, se apressou e segurou o braço do namorado.
— Não vá. — implorou.
Sasuke poderia sangrar.
— Eu tentei, tentei te ajudar e até mesmo conviver com esse maldito vício, mas não posso. Não consigo. Por mais que eu te ame, por mais que você seja importante, eu sempre vou preferir proteger a mim. Não podemos ficar juntos, Naruto. — declarou e puxou seu braço, voltando a caminhar para a saída. — Adeus.
— Você é um maldito sem coração! Um covarde, um arrogante frio que está desistindo da gente por nada! — escutou Naruto dizer antes da porta fechar.
O táxi o esperava na entrada e Sasuke ainda ouvia Naruto esbravejando. Entrou no carro, informou seu endereço e não olhou para trás. Nem mesmo quando deitou o rosto no encosto do banco e chorou.
No fim, Sasuke era bom até demais com despedidas.
Gracias por leer!
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