Cuento corto
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O Menino e o Gato

Xiumin estava aproveitando sua soneca no sofá da sala, onde uma brisa gostosa passava, vindo da janela aberta. Esticando suas patinhas, ele arranhou o sofá com suas garras afiadas sem se importar com as reclamações que seu humano faria depois.

O chorinho irritante recomeçou. Fazia duas horas que Xiumin tinha escutado o filhote de seu humano chorar. Parecia que seu humano desnaturado havia esquecido como se cuidar de filhotes. O guri devia estar morrendo de fome. O som era sofrido e cheio de manha, já estava fazendo as orelhas de Xiumin doerem.

Irritado, o bichano saiu de seu conforto no sofá e subiu até o segundo andar, onde estava o quarto do filhote de humano. No caminho, xingou seu humano com todos os nomes mais feios que um gato poderia conhecer.

O quarto do filhote era todo azul, com aviões desenhados no teto e um céu cheio de estrelas e passarinhos. Xiumin havia odiado o cheiro de tinta que tinha ficado impregnado na casa, mas ao ver o sorriso satisfeito no rosto de seu humano após ver o trabalho de sua fêmea completo, tentou esquecer a irritação.

Aliás, por onde anda a fêmea de seu humano? Faz semanas que ela não aparece na casa. Justo ela que sempre estava com o filhote para cima e para baixo, fazendo biscoitos e levando para passeios no parque. Xiumin bufou contrariado ainda pensando no que devia ter acontecido com seus humanos.

O quarto estava com os móveis revirados e a colcha da cama estava rasgada. Será que o filhote tinha feito tudo isso e irritado o pai? Por isso estava chorando? Estava de castigo?

Driblando a bagunça, Xiumin encontrou o filhote encolhido em um canto do quarto, chorando com as bochechas vermelhas e fungando desesperadamente. O gato olhou compadecido para o pequeno humano e esfregou seu pelo macio nos joelhos do garoto. Aos poucos, o filhote foi parando de chorar e seus dedinhos começaram a acariciar as orelhas de Xiumin com delicadeza.

O filhote sempre foi delicado com Xiumin e isso era o que ele mais gostava no garoto.

Quando Xiumin soube que a fêmea de seu humano teria um filhote, ele ficou extremamente contrariado, pois tinha ouvido dos amigos como filhotes de humanos podiam ser desagradáveis e barulhentos, puxando sua cauda e berrando em suas orelhas sensíveis. No entanto, quando o filhote chegou ele era nada mais do que carinhoso e atencioso com Xiumin, sempre sabendo a hora de parar as carícias e o ponto certo atrás da orelha que fazia o gato ronronar como uma britadeira.

A partir daí o gato passou a mimar o filhote de humano, sempre o acariciando com seu pelo e deitando em seu colo com frequência. Ele ouvia seu humano rindo com a fêmea e apontando o quão rapidamente Xiumin havia se apegado a “Baekhyun”. Esse era o nome dele, mas Min gostava de chama-lo de filhote. Para ele, Baekhyun era tão seu filhote como de seus humanos.

O garoto parecia mais calmo e concentrado ao fazer carinho no pelo de Xiumin. Quando ele adormeceu, Min lambeu seus dedos e decidiu procurar por seu humano irresponsável.

Seu humano se chamava Kyungsoo. Ele estava deitado no carpete do quarto do casal, com várias garrafas com cheiro ruim em volta dele. Xiumin lambeu o conteúdo do gargalo de uma, mas o gosto era ruim demais para seu paladar felino. Ele andou em volta do humano e depois pulou em cima dele, observando seu rosto embriagado. Deitado em cima do peito de Kyungsoo, Xiumin ponderou sobre o que poderia estar acontecendo com essa família. Seu humano, dormindo durante o dia quando este era seu trabalho, deixando a cria sozinha e com fome e com a fêmea sumida de casa. Ele não lembrava de que Kyungoo era tão irresponsável assim.

Contrariado, o gato saiu do quarto a procura do garoto e o encontrou remexendo o pote de biscoitos. Xiumin miou, pedindo um para si e Baekhyun dividiu seus doces com o amigo bichano.

- Sabe Min, eu não imaginava que ele fosse sentir tanto a minha falta assim. – Baekhyun se encolheu abraçando as pernas e apoiando o queixo nos joelhos. – Ninguém nunca tinha se importado tanto assim comigo. – Xiumin miou em protesto. – Claro que você também se importa comigo. – Baek riu acariciando o amigo. – Sinto falta da Omma, mas sei que ela está descansando agora. Eu queria poder descansar também. – Ele tentou engolir o choro como muitas vezes as preceptoras no orfanato lhe diziam.

“Você é um homem Baekhyun”

“Homens não choram”

Mas ele tinha visto seu pai Soo chorar por sua causa, destruir a mobília do quarto em meio a dor, gritar por respostas quando não receberia nenhuma. Não de quem estava perguntando. E quando Baekhyun tentou conversar com ele, Kyungsoo apenas enlouqueceu mais e bebeu a madrugada toda.

Ouvir seu pai Soo chorar fazia seu coração sangrar mais do que imaginava.

Os passos pesados de Kyungsoo descendo a escada fizeram Baekhyun ficar todo tenso. Desceu da cadeira com dificuldade, ele sempre foi pequeno demais para a idade. O homem entrou na cozinha e fitou o garoto com o rosto sujo de biscoito e com o gato aos seus pés como muitas vezes antes.

Mas agora não podia...

Não podia...

Estava ficando louco. Era a única explicação.

- Appa. – A voz doce do menino encheu o ar, fazendo o homem entrar em pânico. Kyungsoo colocou as mãos nos ouvidos correndo para sala. Para longe do garoto que perturbava seus sonhos mais tristes. Céus! Ele queria que fosse real! Que a voz dele fosse real e que seu bebe estivesse ali. Que seu pequeno Baek estivesse ali realmente.

Foi quando ele ouviu o chiado de Xiumin. O gato parecia muito irritado com ele. Mostrando os dentes e com as garras de fora. O mini tigre de Kyungsoo miou com raiva do humano. Com raiva por ele fazer seu filhote chorar. Ouviu as fungadas de Baekhyun da cozinha fazendo seu peito doer mais do que imaginou algum dia ser possível.

O gato podia vê-lo, não era?

Não era coisa da sua cabeça.

Talvez... talvez pudesse abraçar Baekhyun novamente.

Ele sentiu a aproximação do menino. Seus passos não podiam ser ouvidos. Não como antes. Seu garoto estava com o rosto vermelho e os olhos pequeno inchados. Mesmo hesitante e sem saber o que realmente fazer seguiu seu coração e abriu os braços, dando bandeira branca para o filho. E como um foguete, Baek foi até ele e grudou no pai como o pequeno carrapatinho carente que era.

Kyungsoo não sabe quanto tempo ficaram daquela maneira.

Até que Xiumin miou novamente.

- Ele está com fome. – Baekhyun se virou pegando o bichano no colo, este se alojou nos braços de seu filhote observando o rosto ainda abatido do humano. Se o filhote estava ali, era para o humano estar feliz, não era? O gato nunca entenderia os humanos. – Vamos colocar comida para ele, Appa. – Baekhyun puxou o braço de Kyungsoo, obrigando ele a se levantar. O homem andou até a cozinha, com o garoto em seu encalco e o bichano nos seus pés. Xiumin miava insistente pela comida.

Depois de alimentado o gato voltou para a sala, sendo seguido pelos passos pequenos de Baekhyun e um Kyungsoo que não tirava os olhos do garoto por um segundo. Era a miragem mais linda que ele já havia visto. Os cabelos escuros do garoto já estavam grandes demais e caiam por cima dos olhos. Do queria ter tido tempo de cortar. Os olhos de seu menino eram pequeninhos e caídos deixando-o com o rosto fofo e adorável como um filhotinho. Kyungsoo riu, pensando se não foi por isso que Xiumin acabou ficando tão próximo de Baekhyun.

- Appa. Tem uma coisa que eu preciso te dizer. – Kyungsoo pegou o filho no colo novamente e sentou no sofá com o gato ronronando em seus pés.

- Claro bebê. Tudo que quiser. – O humano sentiu Baekhyun se mover em seu colo. Suas mãozinhas pequenas seguraram o rosto do pai com delicadeza. Os olhos castanhos e tristes do garoto analisaram as feições do homem que aprendeu a amar como pai e uma vontade imensa de fazê-lo entender se apossou de Baekhyun.

- Não foi sua culpa. – Ele disse baixinho.

- Baek... – Kyungsoo tentou engolir o bolo de lágrimas que se formava em sua garganta. Acariciou os cabelos do filho tentando encontrar as palavras certas.

- Não foi sua culpa. – O garoto repetiu. – Não foi culpa de ninguém, Appa.

O homem abraçou o filho com toda a sua forca derramando toda sua dor naquele momento. Tudo que ainda estava dentro de si. Tudo que ele tentava esconder dos amigos e da família. Perder a esposa e o filho em um mesmo dia marcou o coração de Kyungsoo para sempre. Ele se sentia tão culpado, tão ferido. E agora seu Baekhyun estava ali para tirar o fardo da culpa que ele impôs a si mesmo e para dizer...

- Eu te amo, Appa.– Baekhyun escondeu o rosto no pescoço do pai fungando e os olhos rasos de lágrimas cintilantes. – Odeio te ver chorar. Você me promete que vai ser feliz? Promete, Appa?

Kyungsoo balançou a cabeça afirmativamente. Não conseguia pronunciar mais nada. Se levantou enquanto seu menino saia de seu colo e engatinhava até o gato. Ele não sabia como, apenas sentia que seu tempo com ele era tão curto. Tão curto que a saudade voltou como uma avalanche sobre si.

- Vamos, Minnie. Está na hora. – Xiumin se esticou novamente bocejando com vontade. Ele observou seu humano e se esfregou em suas pernas como um adeus. Pulou no colo de Baekhyun rapidamente enquanto Kyungsoo observava os dois de maneira melancólica. – Sinto muito, Appa. O Min vai ter que ir comigo.

- Certo. – Kyungsoo esfregou os olhos tentando não chorar novamente. Baekhyun ficou na ponta dos pés e beijou o nariz e a bochecha do pai como sempre fazia para fazê-lo sorrir. E mesmo que fosse o sorriso mais triste do mundo Kyungsoo sorriu para seu menino. Observou o filho andar com o gato no colo até a sacada. Xiumin miou como se disse tchau, enquanto Baekhyun, dava um último adeus.

O humano se sentiu tonto e a visão embaçando aos poucos. Não conseguia mais ouvir nada, muito menos as batidas insistentes na porta.

E desmaiou ao lado do sofá.


Epílogo


Kyungsoo desceu os três degraus que o levavam até o pequeno jardim atrás da casa. O sol estava mais ameno e uma brisa fresca passava, trazendo o cheiro das flores do jardim de sua falecida esposa. Parecia tudo tão calmo. Como se naquele lugar tivesse a paz que Xiumin e Baekhyun tanto almejavam. Ele entendia agora porque a esposa, o filho e o gato adoravam aquele lugar.

Chanyeol estava sem camisa, terminando o pequeno buraco entre as rosas onde Xiumin seria enterrado. Junto da caixa onde o corpo do gato estava, ele levava uma foto pequena de Baekhyun e Xiumin. Nada mais justo que os dois permanecessem juntos.

Ele abriu a caixa sobre os olhos de Chanyeol e observou o pelo macio e brilhoso de Xiumin. Acariciou o gato lembrando de todas as suas traquinagens e sua altivez. Lembrou de como se apegou tão rapidamente a Baekhyun e dos momentos mais engraçados e bizarros que havia pegado o gato e o filho pela casa.

Com um sorriso triste, Kyungsoo fechou a caixa com a foto dentro e a colocou no buraco. Chanyeol jogou a terra no lugar novamente e depois passaram a tarde recolocando as delicadas rosas nos seus devidos lugares.

Sentados no chão e sujos de terra Kyungsoo lembrou da promessa que fez a Baekhyun, mesmo que ninguém creditasse nele, ele sabia que havia sido real. Se fechasse os olhos ele ainda poderia ouvir a risada do seu garoto, o ronronar de Xiumin em seu colo perto do aquecedor nos dias de frio e a risada da esposa depois de queimar os biscoitos.

Ele podia rememorar tudo e tinha medo de algum dia esquecer.

Sentiu o abraço reconfortante de Chanyeol e tentou transformar as lembranças tristes em felizes. Sorriu para o amigo e se levantou do chão húmido.

- Vamos, Park. Você deve estar morrendo de fome. – Falou, limpando as mãos sujas no jeans velho.

- Você nem imagina. – Ele se levantou com seu sorriso de menino no rosto e saiu correndo atrás de Kyungsoo.


3 de Julio de 2018 a las 16:46 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

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Yume -ni Eu estou atualmente focada na minha produção acadêmica e TCC.

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