hyogie Hyogie Han

[vmin | threeshot | powers!au | chubby!jimin] Park Jimin era um adolescente comum, como qualquer outro; sua rotina era repetitiva e envolta em uma cortina de monotonia. Até que, em seu décimo sexto aniversário, uma brusca mudança apossou-se de sua vida; após um sonho inusitado, seu corpo despertou a capacidade de mover objetos com o poder da mente. E para completar, Kim Taehyung, sua pseudo-paixão, estava envolvido naquela loucura.


Fanfiction Sólo para mayores de 18.

#vmin #bts #powersau
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A Pattern to Pattern

“A estática em seus braços, isso é o catalizador
Você é uma substância que queima
Não há nada igual a isso

É o elemento mais puro, mas é tão volátil
Uma equação que o paraíso enviou
Uma droga para anjos”

Florence + The Machine — Strangeness And Charm

Estava caindo céu abaixo.

Naquela manhã de céus límpidos, Jimin caía lentamente do céu.

Não estava com medo. Estava caindo tão devagar quando uma pena. Em toda a sua vida, Park Jimin nunca havia se sentindo tão leve como naquele momento.

Era como se sua mente estivesse completamente vazia; as preocupações eram carregadas para fora com o vento, deixando que uma estranha sensação de relaxamento atravessasse seu corpo.

E então, seu corpo foi depositado delicadamente sobre a grama macia daquele campo verdejante. No exato instante em que as folhas entraram em contato com sua pele, várias flores de tons de vermelho e rosa floresceram, preenchendo completamente o solo e deixando que um perfume acalentador se espalhasse pelo ar.

Passou alguns minutos apenas olhando para o céu sem nuvem alguma; apenas aquela vastidão azul acima de sua cabeça. Logo, o vento soprou pela grama, fazendo com que várias folhas extremamente verdes e pétalas coloridas voassem em todas as direções.

Sentou-se na grama, observando calmamente aquele local tão sereno. Os ventos bagunçavam seus cabelos loiros que vez ou outra tapavam sua visão de algo relativamente próximo ao que chamavam de paraíso.

Involuntariamente, seus olhos fecharam-se por alguns segundos, deixando-o mergulhado na escuridão. Apenas abriu-os novamente quando sentiu um peso sobre seu corpo, como se algo estivesse sentado sobre si.

Deparou-se com um homem não muito mais velho. Sua pele era amorenada, de aparência lisa e macia. Os olhos pareciam tão escuros e profundos quanto a noite, penetrantes de maneira avassaladora, quase como pudessem enxergar através da alma de alguém. Os cabelos negros como piche cobriam boa parte de sua testa, deixando as sobrancelhas escuras quase inteiramente ocultadas. O nariz delicado e não muito longo acima dos lábios bem desenhados dava ao seu rosto um toque de suavidade, fazendo-o aparentar ser mais novo do que realmente era.

Sua beleza era imensurável, quase indescritível. Ele parecia um ser etéreo, como se não existisse de verdade.

Estava sentado sob sua cintura, sem demonstrar qualquer tipo de expressão.

Naquele momento, o silêncio pareceu tomar conta do local. Até mesmo o vento parecia ter parado de soprar apenas por causa da presença assoladora daquele homem.

Olhava de maneira impassível nos olhos de Jimin, que sentia-se minúsculo diante de sua presença. Apesar das feições delicadas, havia algo em si que parecia, de certa forma, imponente, impedindo o Park de levantar por livre e espontânea vontade. Não era o seu peso sobre o menor que mantinha-o no chão; a sua existência por si só já era o suficiente para fazer com que Jimin se submetesse às suas vontades.

Quem é você? — foi o primeiro pensamento que conseguiu formular.

E então, uma voz ecoou em sua cabeça:

Hakyeon.

Cha Hakyeon.

O homem não havia mexido a boca. Seus olhos permaneciam focados nos de Jimin.

Uma de suas mãos delicadas lentamente acariciou seu rosto, causando um arrepio no Park, que não conseguia entender o que estava acontecendo.

E antes que pudesse perceber, os lábios daquele homem estavam encostados aos seus, em um casto beijo.

Jimin abriu os olhos rapidamente no exato momento em que o som irritantemente alto do despertador de seu celular reverberou em seus ouvidos em uma frequência forte o suficiente para fazê-los doer. Poderia ter sido violento para apertar o botão que finalmente faria com que aquele som dos infernos parasse, porém os resquícios de sono e preguiça em seu organismo o impediram de realizar tal ato.

Assim que o barulho cessou, Jimin soltou o ar com força. Para sua infelicidade, ainda era segunda-feira. O fato de ser seu décimo sexto aniversário não contribuía para aumentar sua motivação para levantar da cama.

Mais um sonho bizarro para colocar na lista... — pensou, já começando a esquecer dos detalhes mais irrelevantes daquele sonho.

Virou-se de bruços, deixando que seu rosto afundasse no macio travesseiro da cama. Em seguida, abafou um grito de desgosto, de alguma forma tentando reunir forças para sair.

Finalmente, sentou-se na cama, espreguiçando-se preguiçosamente. Pegou o par de óculos em cima do criado-mudo e colocou-os em seu rosto, agora podendo enxergar com foco as paredes de seu quarto, repletas de pôsteres de bandas de rock e de algumas séries, como por exemplo, o polêmico pôster escrito “Eu quero acreditar” do Arquivo X.

Enquanto observava aquelas paredes que já lhe eram tão comuns, um estranho zumbido ressoou em seus ouvidos, coisa que não era relativamente comum acontecer de manhã ou em qualquer outra hora do dia.

Jimin nunca foi alguém propenso a problemas auditivos, fato que deixava-o ainda mais preocupado em relação àquele estranho som soando constantemente em seus ouvidos.

Olhou ao redor, à procura de algo que fosse a fonte de tal barulho, porém aquele quarto parecia estar exatamente do mesmo jeito que havia deixado na noite anterior, antes de ter caído no sono; algumas peças de roupas aleatórias espalhadas pelo chão, a escrivaninha completamente desorganizada e as prateleiras repletas de livros dos mais diversos gêneros e autores.

Com uma das mãos, deu leves batidinhas em sua orelha, tentando fazer com que o zumbido parasse, porém aquilo de nada lhe serviu.

Logo, balançou a cabeça de um lado para o outro por alguns minutos, mas ainda assim, o zumbido persistiu.

Isso deve passar com o tempo... — pensou, tentando ignorar sua condição e levantando-se da cama, visto que caso continuasse ali, acabaria atrasando-se para a escola.

Jimin desceu as escadas de sua casa logo após tomar banho e vestir-se. Estava tudo extremamente silencioso, o que indicava que seus pais já haviam saído. O zumbido ainda permanecia ressoando em seus ouvidos, porém àquele ponto, já não era algo que realmente lhe incomodava.

Ao entrar na cozinha, deparou-se com um bilhete na porta da geladeira, sendo mantido ali com um ímã em formato de coração. Assim que bateu os olhos no pedaço de papel, pôde reconhecer logo de cara a letra cursiva e simetricamente perfeita de sua mãe.

Feliz aniversário, Jimin!!

Seu pai e eu tivemos de sair mais cedo por causa do trabalho. Nos desculpe por não ter conseguido ficar mais um pouco para te dar os parabéns pessoalmente agora de manhã.

Nós te amamos <3

Um longo suspiro escapou por seus lábios. Se aquilo estivesse acontecendo há alguns anos, provavelmente já estaria sentado no chão, chorando em posição fetal. Todavia, já havia acostumado-se com aquela condição. Na verdade, isso não significava que não se importava; de fato, a solidão nas manhãs antecedentes às aulas machucava. Entretanto, o tempo fez com que aquele sentimento já lhe fosse comum. Era algo relativamente triste para alguém tão jovem, mas não havia nada que pudesse fazer; Jimin simplesmente aceitara aquilo.

Seus pais eram médicos. Trabalhavam praticamente o dia inteiro e normalmente voltavam tarde da noite.

Desde bem pequeno, Jimin estava acostumado a ficar sozinho em casa, apenas esperando-os chegar. Em seus primeiros anos de vida, uma babá normalmente cuidava de si. Entretanto, assim que seus pais começaram a considerá-lo maturo o suficiente para se virar, seus dias passaram a se resumir em: acordar sozinho, ir para a escola sozinho, voltar para a escola sozinho e ficar em casa, sozinho. Inicialmente, fora algo duro de lidar. Porém, aos poucos Jimin foi se acostumando ao que estava acontecendo. Seus aniversários transformaram-se em apenas em datas as quais Jimin não se importava mais em comemorar ou não.

Se não fosse pelo zumbido em seus ouvidos, aquele local estaria completamente imerso no silêncio.

Nada diferente do normal.

Sem estar realmente com fome, Jimin pegou uma maçã da fruteira cheia e cortou-a ao meio. Levou apenas uma metade à boca, comendo-a sem muita cerimônia. Assim que terminou, dirigiu-se à sala e pegou sua mochila, posteriormente deixando a casa.

Jimin respirou fundo ao finalmente chegar à entrada do colégio. Segunda-feira definitivamente era o pior dia de toda a semana. Ninguém merecia ter educação física como primeira aula logo na manhã de segunda.

Já estava preparando-se psicologicamente para a dor e a humilhação usuais daquela aula. Provavelmente, acabaria com sua cabeça no vaso sanitário ao fim do dia. Ou apenas um olho roxo, caso Jungkook e seus amigos decidissem ser um pouco mais gentis por ser seu aniversário.

Na verdade, eles nunca eram, independente do dia ou da ocasião. Mas quem sabe naquele ano as coisas fossem diferentes?

— Hey, Jimin!

Não pôde evitar sorrir ao ouvir aquela voz tão conhecida em meio a tantas outras. Sem falar do zumbido ainda soando levemente em seus ouvidos.

Virou-se, se deparando com o sorriso maravilhosamente belo pertencente à Kim Taehyung, a única pessoa que Jimin poderia considerar como amigo naquele presídio comumente conhecido como escola.

Na verdade, eram mais colegas do que amigos. Taehyung era um dos poucos que se lembrava de sua existência e o cumprimentava de manhã, mesmo que não fossem da mesma sala. Além de tudo, as vezes sentava com Jimin no almoço, levando em consideração o fato de que normalmente o Park passava-o sozinho. Quando podia, também defendia Jimin de Jungkook e seu grupinho tóxico, usualmente impedindo que fizessem algo realmente grave.

Não que o que fizessem com Jimin não fosse grave o bastante, porém Taehyung sabia que Jungkook era capaz de muito além do que dar apenas alguns socos. Afinal, Jungkook fora o responsável pela saída do único amigo de Jimin, Hoseok, tanto da escola quanto da cidade.

No ano passado, em uma festa, conseguiu fotografar Hoseok fazendo sexo com outro aluno. Sem hesitar, vazou para toda a escola as fotos polêmicas, assim levando o Jung a tornar-se um alvo ainda maior da homofobia presente naquele ambiente. Diante de tal situação, seus pais o tiraram da escola e resolveram mudar até mesmo de cidade para evitar maiores humilhações vindas de uma sociedade preconceituosa.

Como Jungkook vinha de família rica e influente, havia conseguido livrar-se facilmente das acusações de que fora ele a vazar as fotos, logo evitando futuros processos.

Desde então, havia Jimin se tornara ainda mais solitário que o habitual. A companhia de Taehyung não era ruim, mas não se comparava à companhia de Hoseok. O Park sentia sua falta. Sentia falta de poder ter alguém que sempre estava ali para lhe dar apoio, alguém para ter conversas mais íntimas e alguém com quem pudesse simplesmente sair e esquecer da vida por algumas horas.

Na verdade, os dois ainda se falavam por chamada de vídeo, mas ainda assim, não era o suficiente para suprir a falta que Hoseok fazia.

Jimin e Taehyung falavam-se apenas na entrada e as vezes no intervalo por causa de Jungkook, que parecia não tolerar o fato do Kim andar e simpatizar com “alguém como Jimin”, assim tornando suas interações com Taehyung mais um motivo para agressões, além de sua existência por si só. E sabendo disso, Taehyung evitava interagir com Jimin quando sabia que Jungkook estava por perto. Mas de qualquer forma, Taehyung gostava de Jimin, e Jimin gostava de Taehyung.

Na verdade, as vezes o Park pegava-se pensando no outro até demais. Não era à toa; Taehyung era bonito e, quando podia, tentava chamar sua atenção. Mal sabia ele que não preciso de esforços para atrair a atenção de Jimin. Seu magnetismo era forte; era como se as pessoas fossem naturalmente atraídas por seu jeito único e aparência divina.

Todavia era claro: Jimin nunca falaria sobre aquilo com o maior. Não se conheciam bem o suficiente para conversarem sobre sentimentos ou orientações.

Naquele momento, tendo ciência de que o Jeon sequer havia chego à escola, Taehyung abraçou-o com força suficiente para fazer suas costas estalarem. Os braços do Kim envolveram sua cintura, trazendo-o para perto, enquanto sua cabeça estava encostada em um dos ombros de Jimin. Para fazer aquilo, Taehyung precisou se abaixar um pouco, levando em consideração a diferença de altura entre os dois.

Algumas pessoas que passavam olhavam torto, mas não era como se Jimin realmente se importasse; já estava acostumado a ser olhado daquele jeito, como se fosse algo totalmente diferente e estranho aos olhos dos outros.

— Feliz aniversário. — ele parabenizou, afastando-se de um Jimin desnorteado e sem fôlego pelo abraço para poder bagunçar os cabelos loiros entre os dedos longos. Não poupava contato físico quando o assunto era o Park; sempre que podia estava abraçando-o ou fazendo carinho em seus cabelos.

— Ah, obrigado. — agradeceu, tentando colocar as madeixas de volta no lugar — Eu... não acredito que você lembrou.

Um sorriso tímido escapou pelos lábios de Jimin, fazendo com que virasse a cabeça um pouco para o lado.

— É claro que eu lembrei! É o seu aniversário... como eu poderia esquecer?

Taehyung fazia parte do pequeno grupo de pessoas que ainda lembrava de seu aniversário. Apesar de ser uma data que realmente não importava à Jimin, era bom saber que ainda não havia sido completamente esquecido pelos outros.

— Aah você sabe. Não é como se fosse algo que realmente valesse à pena ser lembrado. — sua autoestima era tão inconstante quanto a fumaça em uma sauna, devido à anos de bullying vindos de Jungkook — Mas… obrigado mesmo assim.

As vezes, Jimin perguntava-se como alguém como Taehyung tinha coragem de interagir consigo. Afinal, o Kim tinha uma boa reputação, era inteligente, bom em quase tudo o que fazia e ainda por cima possuía uma índole tão invejável quanto seu rosto e corpo, aparentemente esculpidos meticulosamente por deuses. Sua silhueta era sempre elegante sem que precisasse se esforçar, quase como se fosse um modelo exótico, principalmente pelo fato de que sempre usava cachecóis e blusas de gola alta, independente de estar calor o não. Mas aquilo não o tornava estranho; na verdade, tornava-o ainda mais interessante.

Basicamente, Taehyung era tudo o que Jimin não era.

Ou melhor, Taehyung era tudo o que Jimin pensava não ser.

— Hey, não fale assim! — Taehyung passou um dos braços ao redor dos ombros do menor, voltando a trazê-lo para perto — É claro que você vale a pena.

Tanto pela fala do Kim quanto pelo contato físico inesperado, as bochechas de Jimin adquiriram um leve tom de vermelho. Não estava muito acostumado com toques, principalmente vindos de outros meninos. Por ser tímido e mais inclinado para o tipo “introvertido” de pessoa, normalmente as pessoas ao redor ficavam mais reclusas quando o assunto era tocá-lo pelo simples fato de que parecia estar desconfortável com tudo vinte e quatro horas por dia.

Não que não estivesse.

— A-Ahn… — travou completamente, sem saber ao certo o que dizer — Obrigado… e-eu acho.

Taehyung riu baixo perante a sua timidez, dando um leve apertão no braço de Jimin.

— Você é uma gracinha. — comentou ele, soltando-o ao vê-lo ruborizar ainda mais. Como se pudesse prever o que estava prestes a acontecer, virou a cabeça um pouco para trás, podendo ver Jungkook saindo do carro. Ciente do que poderia acontecer caso o Jeon os visse juntos, afastou-se casualmente — A gente se vê depois…

Jimin olhou na mesma direção, logo entendendo o motivo da distância de Taehyung. Já havia perdido a conta de quantas vezes já havia soltado o ar entre os lábios naquele dia como maneira de expressar sua decepção e descontentamento com o mundo.

E ainda havia aquele maldito zumbido ressoando em seus ouvidos.

— Ah, claro. Até depois…

E bem diante de seus olhos, Taehyung desapareceu em meio à multidão de alunos.

Jimin pensou que o dia não podia piorar.

Mas ah, como havia piorado.

Se já não bastasse a educação física logo na primeira aula e aqueles uniformes que ficavam desconfortavelmente apertados em suas pernas e o deixavam vezes mais inseguro com seu corpo, o professor ainda havia decidido dar basquete naquela aula.

Deus, por que justo basquete?

De todos os esportes existentes, basquete definitivamente era o que Jimin mais odiava pelo simples fato de não conseguir acertar a cesta de jeito nenhum por causa de sua altura relativamente abaixo da média. Além de tudo, aquele esporte em especial tornava ainda mais evidente sua falta de jeito para qualquer coisa, assim criando situações cômicas para os alunos, mas constrangedoras para si, que normalmente terminavam consigo trancado no banheiro e chorando compulsivamente. Geralmente eram momentos como aqueles em que Jungkook aparecia e ferrava ainda mais com sua autoestima, ridicularizando seus sentimentos e sua fragilidade.

Situações como esta já estavam começando a tornar-se parte de sua rotina.

Naquele momento, o professor pedira que os alunos fizessem uma fila na frente da cesta e treinassem arremesso. E para a desgraça do Park, Jungkook e seus amigos haviam ficado atrás de si.

Puta merda.

Mil vezes puta merda.

Fechou os olhos, tentando conter as lágrimas em antecipação à futura humilhação.

Para seu desespero, a fila estava andando rápido, fazendo com que sua vez estivesse cada vez mais próxima.

E finalmente, Jimin tornou-se o primeiro da fila. A pessoa que estava na sua frente jogou a bola para si, que por muito pouco não conseguiu pegar.

Naquele momento, foi como se todos os alunos tivessem parado o que estava fazendo para observar o que estava prestes a acontecer, fazendo com se sentisse cada vez mais julgado. Céus, como Jimin odiava ser o centro das atenções. A única coisa que queria fazer na atual situação era se esconder em algum lugar e chorar até seus olhos arderem e depois agir como se nada tivesse acontecido.

— O que você está esperando? — Jungkook perguntou — Vai logo, ninguém aqui tem o dia inteiro.

O maior deu-lhe um empurrão, quase lhe fazendo cair e arrancando alguns risos das pessoas que estavam atrás. Seu coração acelerou e a ponta de seus dedos tremeu, em uma pequena reação de medo.

Seu polegar adentrou seu short pela barra, puxando-o para baixo. Sabia que estavam olhando a pele exposta de suas pernas grossas e flácidas, as quais se envergonhava imensamente.

Sempre olhavam.

Vamos acabar logo com isso… — pensou, engolindo em seco e flexionando as pernas, preparando-se para jogar.

— Cara, se ele conseguir acertar eu entro em depressão. — ouviu Jungkook dizer e rir logo em seguida.

E pela milésima vez naquele dia, Jimin puxou o ar e soltou-o por entre os lábios.

— Anda logo, seu gordo escroto!

Seu coração acelerou-se. Como odiava quando usavam seu físico como motivo de chacota. De fato, era alguns quilos acima do peso adequado para sua altura, mas ainda assim era uma pessoa com um quadro de saúde estável. Jimin era o que podia chamar-se de chubby.

E odiava-se por isso.

Afinal, aquele era um dos maiores motivos para as pessoas o desprezarem; era diferente dos outros. Não conseguia seguir o padrão de “perfeição” imposto pela sociedade e aparentemente um requisito para ser socialmente aceito por grupos.

Praticamente todos os dias, olhava-se no espelho repudiando-se completamente. Constantemente apertava o excesso de pele em sua barriga e braços, mentalmente rezando para que sumissem e todos os seus problemas acabassem.

Ou pelo menos parte deles.

Mas infelizmente, a ansiedade fazia com que comesse mais do que devia, impedindo-o de emagrecer como queria.

Sem muita vontade, Jimin jogou a bola na direção da cesta, observando-a passar ao seu lado, muito longe de acertar. Algumas pessoas atrás de si, principalmente Jungkook, riram baixa e soltaram alguns comentários não muito educados, mas nada que já não estivesse acostumado. O Park saiu da frente da fila e começou a dar lentos passos em direção ao final, ainda ouvindo as risadinhas cruéis dos outros alunos.

Jimin não sabia se era impressão sua, mas o zumbido pareceu tornar-se um pouco mais alto.

— Viram só? Ele não faz nada direito. — no exato momento em que Jungkook proferiu tal frase, a bola bateu com força no chão e acertou com força seu rosto. Jimin precisou tapar a boca para não começar a rir assim como os outros estavam fazendo. Ele sequer havia jogado a bola com tanta força assim.

Todavia, as risadas logo cessaram assim que Jungkook virou-se para Jimin, ainda tentando segurar o riso, que morreu no exato momento em seu olhar cruzou-se com o do Jeon.

Jimin conhecia exatamente aquele olhar.

Estava fodido.

Estava completamente fodido.

Violentamente, Jimin foi jogado contra os armários do vestiário agora vazio após a aula com um estrondo avassalador. Mesmo que tivesse tentando sair de lá o mais rápido possível, Jungkook e seus amigos ainda assim haviam conseguido alcançá-lo.

O impacto fez com que uma forte dor se iniciasse na parte de trás de sua cabeça e se alastrasse por seu pescoço e coluna. Por um momento, não pôde ouvir mais nada além do zumbido irritante em seus ouvidos. Sua visão tornou-se turva, enquanto as pernas já trêmulas ameaçavam ceder. Assim que seu corpo ameaçou tombar para frente, Jungkook empurrou-o contra os armários mais uma vez, mantendo suas mãos em seus ombros e pressionando contra a superfície gélida de metal, impedindo-o de fugir.

— Quem você pensa que é pra rir de mim daquele jeito? — o maior desferiu um soco em seu rosto com força suficiente para quebrar a armação de seus óculos — Ponha-se no seu lugar, Park. Você não é nada além de um saco de merda igual aquele seu amigo viadinho.

Jimin conseguia enxergar apenas alguns borrões à sua frente. A voz de Jungkook parecia completamente distante, quase como se estivesse em outro plano terreno, encoberta pelo zumbido. Sabia que atrás do Jeon, estavam Namjoon e Yoongi, apenas assistindo e rindo de sua humilhação, como sempre faziam.

— Eu ficaria esperto se fosse você. — ele socou o outro lado de seu rosto — Afinal, não vai querer acabar sendo exposto que nem ele, não é mesmo?

Céus, como Jimin odiava quando tocavam naquele assunto.

Misteriosamente, as luzes começaram a piscar, fato que distraiu momentaneamente a atenção de Yoongi e Namjoon. Todavia, Jungkook permaneceu focado no Park.

— Responde, porra! — uma forte joelhada atingiu-lhe no estômago, fazendo-o cair no chão. Um filete de sangue escorreu por sua boca, enquanto segurava-se para não vomitar o seu café da manhã. Pôde ouvir a risada jocosa de Jungkook, mesmo que encoberta pelo zumbido que parecia cada vez mais insuportável.

Por que eu me submeto à isso? — pensou, sentindo o Jeon chutando-o no mesmo local que havia lhe dado uma joelhada — Por que eu deixo ele fazer isso comigo?

— Eu mandei você responder, seu merda! — ele levantou-o pela gola da camisa, voltando a deixá-lo contra o armário.

Pela primeira vez na vida, Jimin foi capaz de sentir ódio de alguém.

Por algum motivo, naquele momento todas as humilhações que havia sido obrigado a sucumbir por causa de Jungkook passaram diante de seus olhos, fazendo seu sangue ferver. O ódio suprido em seu coração conseguiu sobrepor o medo e a covardia de revidar. Sua cabeça estava fervendo como o inferno, enquanto paralelamente as pontas de seus dedos começavam a apresentar leves tremores.

As luzes passaram a piscar de maneira incessante, como se alguém estivesse ligando-as e desligando-as compulsivamente.

— E se eu não quiser?! — praticamente cuspiu a frase, enquanto algumas lâmpadas estouravam. Estilhaços de vidro caíam no chão conforme o vestiário escurecia. O zumbido praticamente explodia em seus ouvidos, causando-lhe uma dor de cabeça maior do que qualquer outra que já havia sentido. Por um momento, pôde sentir um pouco de sangue escorrendo por suas orelhas e sujando a gola de sua blusa.

Todos os chuveiros ligaram de uma vez só, assustando aos três que estavam ali. Porém, Jimin permaneceu impassível, como se não estivesse ciente do que estava acontecendo. A única coisa que conseguia sentir era o ódio crescente por Jungkook e tudo o que este havia feito consigo nos últimos anos.

Era a primeira vez que sentia-se tão irritado daquele jeito.

— É você que ‘tá fazendo isso? — Jimin não conseguiu sequer ouvir. O zumbido em seus ouvidos havia tornado-se maior do que qualquer som. Mesmo após ser empurrado contra o armário mais uma vez, não conseguiu processar realmente toda aquela situação. Era como se o seu cérebro tivesse simplesmente parado de funcionar — Responde!

E no exato instante em que Jungkook tentou empurrá-lo novamente, os quatro presentes testemunharam uma das cenas mais perturbadoras de suas vidas.

O braço do Jeon, apenas de encostar em Jimin, havia virado em um ângulo completamente anormal da maneira mais bruta e violenta possível.

Os minutos seguintes foram os mais confusos e acelerados de sua vida. A última coisa que lembrava de ter ouvido era o urro de dor vindo do Jeon, enquanto Namjoon e Yoongi gritavam para que fossem embora de lá.

Jimin sentia-se tonto; tudo ao seu redor parecia girar. Manchas negras surgiam em sua visão, em um claro sinal de que estava prestes a desmaiar. Uma estranha pressão parecia estar sendo feita sob seus pulmões, impedindo-o que respirasse propriamente e aumentando ainda mais a tontura que aos poucos parecia dominar todo o seu corpo, que tremia por inteiro e queimava como se estivesse em brasas. Se antes sentia ódio, agora a única coisa que conseguia sentir era desespero. Seria aquele o seu fim? Park Jimin realmente iria morrer em um vestiário de escola, sem nem ao menos saber o que estava acontecendo?

Não conseguia ouvir nada; o zumbido tomara conta de tudo, estando em uma frequência alta o suficiente para aumentar a quantidade de sangue que escorria por seus ouvidos.

Quando tudo parecia perdido, Jimin sentiu um par de mãos delicadas e suaves em seus ombros. A vista turva impedia que enxergasse o rosto da pessoa que aparentemente estava ajudando-o. Ela colocou o braço ao redor de sua cintura esguia, enquanto o braço de direito de Jimin já estava em seus ombros, deixando que o menor se apoiasse em seu corpo.

Em passos lentos e cuidadosos, o estranho ajudou Jimin, que no caminho para fora havia perdido os sentidos, a sair daquele vestiário.

Jimin abriu os olhos lentamente, mas logo fechou-os ao sentir uma pontada agoniante de dor em sua cabeça. Estava deitado em uma cama que poderia ser considerada relativamente confortável. Sob sua testa, havia uma toalha morna e úmida, a qual emanava um doce cheiro de ervas. O zumbido finalmente havia parado, dando espaço para o mais profundo silêncio o qual aquele quarto estava imerso.

Lembranças das últimas horas vieram à sua memória, fazendo com que se virasse na cama, ainda com os olhos fechados.

O que foi aquilo? — pensou, arrepiando-se ao lembrar do grito de Jungkook após seu braço ser completamente retirado do lugar — Eu… fiz aquilo?

Recordava-se de sentir uma raiva excruciante de Jungkook, e depois…

Céus, o que estava acontecendo com aquele vestiário?

De repente, ouviu leves passos sob o piso que pareciam aproximar-se de onde estava. E então, uma mão tão delicada quanto aqueles passos tocou suavemente o seu ombro. Quase que instantaneamente, Jimin reconheceu aquele toque; era idêntico ao da pessoa que havia lhe ajudado no vestiário.

— Já acordou? — a voz grave sussurrada bem próxima ao seu ouvido causou um leve arrepio em seu pescoço. Automaticamente, reconheceu dono daquela voz maravilhosa: Kim Taehyung.

Arriscou-se a abrir os olhos mais uma vez, sentindo um pouco menos de dor em sua cabeça. Logo, seus olhos encontraram-se com o olhar terno do Kim, que tocava gentilmente em seu ombro. Ele olhava-o de maneira preocupada e aflita, mas ainda assim conseguia manter seu ar de mistério e charme.

— Taehyung…? — proferiu o nome com um fio de voz devido ao cansaço. De certa forma, lhe era tranquilizante ver um rosto amigo após tudo o que havia acontecido. Entretanto, Jimin não podia deixar de ficar confuso ao vê-lo ali, em um quarto o qual nunca esteve antes, sem saber que horas ou em que dia estavam — O que você ‘tá fazendo aqui? Ou melhor… o que eu estou fazendo aqui?

O castanho respirou fundo, afagando ternamente os cabelos de Jimin, em um carinho reconfortante. Os toques, somados à forma como o olhava, fizeram com que seu rosto se tornasse quente e enrubescesse de leve. O efeito que Taehyung possuía nas pessoas era incrível. Apenas um olhar seus era capaz de desestabilizar até a mais impassível das pessoas.

— Você desmaiou depois do que aconteceu no vestiário… então eu te trouxe pra cá. — o Park arqueou as sobrancelhas, claramente querendo saber onde exatamente “cá” se localizava — Relaxa, é o meu quarto. Se você ficasse na escola, provavelmente o seu estado iria piorar.

Jimin olhou ao redor; era um quarto simples e pequeno, porém bonito. Os móveis todos rústicos ali presentes consistiam apenas em uma cama, um guarda-roupas e uma poltrona, enquanto as paredes pintadas de verde eram decoradas com pôsteres de bandas as quais Jimin não conseguiu reconhecer devido à miopia. Havia um par de óculos reserva em sua mochila, que estava encostada ao lado da poltrona, todavia não sabia se era uma boa hora para levantar e pegá-los.

— Você… viu o que aconteceu no vestiário? — engoliu em seco no exato momento em que a memória do braço de Jungkook sendo virado repassou em sua cabeça.

O semblante do maior alterou-se por um momento para um expressão levemente pensativa, como se estivesse procurando as palavras certas.

— Não exatamente… eu não cheguei a ver pessoalmente tudo o que aconteceu lá, mas… eu sei de tudo o que aconteceu. Eu sei sobre as luzes que começaram a piscar, os chuveiros que ligaram do nada, o braço do Jungkook que torceu só de encostar em você… — Jimin não pôde esconder seu choque. Namjoon e Yoongi haviam certificado-se de que não havia ninguém naquele vestiário, então como Taehyung poderia saber de tudo aquilo? — Você deve estar muito confuso, né?

Ele assentiu, sentando-se na cama e retirando a toalha de sua testa.

— Acredite em mim, esse provavelmente vai ser o dia mais estranho, confuso e improvável da sua vida. — Taehyung também sentou-se na cama, ficando perto de Jimin — Se você quiser entender o que aconteceu naquele vestiário, você vai precisar abandonar toda a sua noção do que é possível e o que não é. E provavelmente pensar como um lunático. Você… estaria disposto à isso?

O Park piscou várias vezes. O maior falava aquilo com tanta naturalidade que era simplesmente impossível de assimilar corretamente. Mas então, a cena do braço de Jungkook sendo torcido repassou mais uma vez em sua cabeça.

O que foi aquilo?

Apenas… o que foi aquilo?

— Sim. Eu estou.

Taehyung sorriu, logo em seguida colocando sua mão sob de Jimin, que praticamente desapareceu, levando em consideração a diferença de tamanho entre as duas. Como se estivesse tentando passar confiança para o menor, ele entrelaçou seus dedos longos aos curtos, apertando-os com leveza e confiança.

— Hoje de manhã você teve um sonho estranho, não é mesmo? — Jimin assentiu — Havia um homem que se apresentava como Cha Hakyeon e ao fim do sonho ele te beijou, né?

O Park arregalou os olhos.

Como Taehyung poderia saber daquilo?

— S-Sim… como voc-

— Eu tive o mesmo sonho há alguns anos atrás. — ele olhou para os dedos entrelaçados, como se estivesse se lembrando de algo — E quando você acordou… havia um zumbido em seus ouvidos.

Taehyung não havia perguntando. Ele havia afirmado. Como se tivesse certeza absoluta do que estava falando.

— E ele só parou depois do que aconteceu no vestiário. — Taehyung continuou afirmando, para o pavor de Jimin — E no vestiário… em algum momento os seus sentimentos ficaram completamente à flor da pele e o zumbido ficou ainda maior, até que seus ouvidos sangraram e as luzes começaram a piscar.

— Taehyung, você ‘tá me assustando. — Jimin olhou em seus olhos, observando a estranha calma a qual o Kim encontrava-se ao fala tudo aquilo com tanta naturalidade — Como você pode saber de tudo isso?

Os olhos de Taehyung fixaram-se nos do menor, fazendo com que o coração deste acelerasse. Era a primeira vez que alguém lhe olhava com tanta intensidade, e ao mesmo tempo com tanta calma e ternura.

Céus, Kim Taehyung era o ser humano mais bonito que Jimin já vira.

— Porque a mesma coisa aconteceu comigo há alguns anos atrás. — e então, o coração de Jimin parou — Eu não sei se você realmente vai acreditar em mim ou não, mas… essa é a verdade. Park Jimin, você tem habilidades especiais. Habilidades que nenhum ser humano qualquer poderia conseguir, nem com a mais avançada das tecnologias.

Jimin ficou em silêncio.

Aquilo só podia ser loucura.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — afastou-se de Taehyung, logo levantando-se da cama — Quer dizer… esse tipo de coisa não é possível… não tem como ser.

— Hey, você concordou em abandonar toda a sua noção do que é possível e o que não é, lembra? Afinal, que outra explicação haveria para tudo aquilo que aconteceu no vestiário? Você não acha que é coincidência demais o braço do Jungkook virar do nada justo em um momento em que ele estava prestes a te bater e você pensou em se defender?

O Park engoliu em seco.

A explicação menos lógica para o que havia acontecido era a mais lógica naquele momento.

— Então… eu tenho super-poderes, é isso?

— Basicamente. — Taehyung assentiu — Telecinese.

— E… você também tem?

— Poderes? Sim. Mas não telecinese. — Jimin arqueou as sobrancelhas — Eu vejo o futuro. Foi assim que eu descobri que você estaria no vestiário hoje de manhã e tudo aquilo iria acontecer; eu tive uma visão.

Agora as coisas estavam começando a fazer sentido.

Parcialmente.

— E existe algum motivo para que os tenhamos?

— Então né… — mais uma vez, Taehyung pareceu estar procurando as palavras certas — O Hakyeon, aquele homem que apareceu no seu sonho, vai te explicar exatamente o que… você é. Provavelmente essa noite. Eu acho que ele consegue falar melhor do que eu...

Jimin simplesmente não sabia como reagir. Era informação demais para o mesmo dia. Além de tudo, ninguém nunca havia preparado-o psicologicamente para receber a notícia de que simplesmente possuía poderes e que fora o culpado pela provável fratura de um braço. A sensação parecia ser a de que estava em um sonho, daqueles que não se dá pra acordar tão fácil. Era tudo surreal demais para ser verdade.

E então, toda a cena do vestiário repassou diante de seus olhos. O grito de Jungkook em agonia reverbeou novamente em seus ouvidos.

Jimin sentiu algumas lágrimas formando-se em seus olhos. Suas pernas fraquejaram, fazendo com que precisasse voltar a ficar sentado na cama.

Eu fiz aquilo… — suas mãos foram aos seus cabelos, apertando-os — Céus, eu fiz aquilo…

A culpa e o medo tomaram conta de seu coração, fazendo com que as pontas de seus dedos tremessem mais uma vez.

Por muito pouco… eu não matei o Jungkook e destruí o vestiário inteiro…. — fechou os olhos com força, tentando tirar o grito do Jeon de sua cabeça. As cenas no vestiário repetiam-se em uma espécie de looping, como se sua mente estivesse martirizando-o pelo que havia acontecido — Eu sou uma aberração.

Taehyung, percebendo a aflição que alastrava-se pelo corpo de Jimin, sentou-se ao seu lado na cama e voltou a segurar em sua mão, entrelaçando os dedos.

— Hey… o que foi? — perguntou, aproximando-se mais um pouco ao perceber que as luzes começavam a piscar — Jimin?

Jimin não parecia nada bem; estava começando a ficar pálido e tanto seus lábios quanto suas mãos tremiam. Mesmo que seus olhos estivessem fechados, Taehyung conseguia perceber a constante melancolia que lentamente dominava seu corpo. Era uma melancolia diferente da usual de Jimin quando chegava à escola. Parecia vezes pior.

— T-Taehyung… eu... — sua voz estava completamente destruída. Ao abrir os olhos, para que pudesse olhar para o Kim, as lágrimas escorreram completamente pelas bochechas cheinhas, fazendo com que o coração de Taehyung doesse. Não conseguia olhar para Jimin naquele estado tão abatido; era completamente diferente das vezes em que ficava mal após algo que Jungkook fizera. Parecia algo relativamente mais profundo. Era difícil olhar para Jimin daquele jeito. Sentia um grande instinto protetor quando o assunto era o Park; não suportava ver aquela coisinha fofa e inocente triste e para baixo — … e-eu…

Um nó formou-se em sua garganta. Aquilo acontecia sempre que começava a chorar ou quando alguém (como seus pais ou Taehyung) perguntava se estava tudo bem. Era simplesmente impossível de falar quando ficava daquele jeito.

Sem saber realmente o que fazer, Taehyung passou um de seus braços ao redor de Jimin, em um abraço de lado. Trouxe-o bem para perto, deixando que ele encostasse sua cabeça em seus ombros largos. Suas mãos continuavam entrelaçadas; o polegar do Kim esfregava de leve as costas da mão do menor, em um breve carinho.

Apesar de tudo, era óbvio que Jimin estava segurando-se para não soltar-se completamente.

— ‘Tá tudo bem, pode chorar… — encostou sua cabeça na do menor; a mão que estava em seu ombro foi para seus cabelos, afagando-os gentilmente — Você não precisa falar agora.

Com os olhos imersos em lágrimas que teimavam a cair, o olhar de Jimin encontrou-se com o de Taehyung. Naquele momento, foi a primeira vez em que o Park sentiu-se confortável para ser e mostrar quem realmente era; frágil e melancólico.

Então, as lágrimas finalmente desceram por seu rosto. Uma atrás da outra; grossas e quentes. Os soluços escapavam por sua garganta, fazendo com que vez ou outra se engasgasse. Chorava alto e apertava a mão de Taehyung, que dava leves selares em sua cabeça, tentando mantê-lo confortável.

— E-Eu sou um monstro… — fungou, deixando que os soluços interrompessem sua fala — Eu p-poderia ter matado o Jungkook… céus, eu quase matei uma pessoa!

A lâmpada do quarto começou a piscar com mais frequência, fazendo com que Taehyung abraçasse-o mais forte, de alguma forma tentando acalmá-lo.

— Jimin… você só perdeu o controle por um momento… — sussurrou em seu ouvido — Sabe… ‘tá tudo bem em se descontrolar um pouco as vezes. E… não tinha como saber que aquilo ia acontecer. Afinal, não é todo dia em que se acorda com poderes especiais, não é mesmo?

— Mas o que me impede de não perder o controle de novo? — a lâmpada piscou com mais força. Jimin podia sentir o zumbido voltando a soar em seus ouvidos. Era como se todos os sentimentos presos em seu coração durante anos estivessem se libertando de uma vez só — Eu sou uma bagunça, Taehyung! Eu não faço nada direito! Eu nem sei por que você está fazendo tudo isso por mim! Eu sou uma vergonha pra minha família, eu não tenho amigos, eu sou gordo e feio, eu não sou bom em nada… eu sou uma merda de pessoa!

Naquele momento, a lâmpada explodiu, deixando que vários cacos de vidro caíssem no chão em sons cortantes. O quarto agora estava levemente escuro; apenas a fraca luz do fim da tarde iluminava-o, ainda que parcialmente. Os soluços altos de Jimin ainda podiam ser ouvidos.

— Não diga isso… — sua voz mantinha-se calma e acolhedora. Por um momento, precisou soltar suas mãos para que pudesse acariciar uma das bochechas gordinhas do Park — Essa situação por si só já prova que você é uma pessoa simplesmente… maravilhosa.

— O que…? — Jimin arqueou as sobrancelhas, confuso.

— Mano, você ‘tá se sentindo culpado porque quase matou o cara que te inferniza todo dia! — Taehyung sorriu, apertando as bochechas fofas e úmidas devido às lágrimas — Qualquer pessoa que estivesse no seu lugar provavelmente se sentiria mal por não tê-lo matado. Você é coisinha mais fofa e preciosa que eu já vi, Park Jimin. Se eu pudesse, eu te colocaria em um potinho pra te proteger de todo o mal do mundo.

Jimin sentiu suas bochechas queimarem. Era a primeira vez que ouvia alguém lhe falar aquilo.

— E… não tenha medo de perder o controle. Se isso acontecer… — naquele momento, Taehyung olhou bem no fundo de seus olhos, fazendo-o enrubescer ainda mais — … eu vou estar aqui. Eu vou estar aqui pra te ajudar e… te manter são no meio de toda essa loucura que fomos envolvidos.

Taehyung abraçou-o, fazendo questão de mantê-lo perto. As lágrimas escorreram novamente por seu rosto, dessa vez expressando felicidade.

— O-Obrigado… obrigado, Taehyung…. — por fim, Jimin retribuiu o abraço, apertando o corpo do maior com força, como se fosse a coisa mais importante para si. Sentia-se mais calmo; o zumbido havia parado.

O Kim afagou seus cabelos ternamente, tentando mantê-lo calmo.

— E… se você quer saber de uma coisa… — sussurrou, ainda acariciando os cabelos loiros e macios — Eu acho o seu corpo uma gracinha.

— Do que você ‘tá falando? — Jimin afastou-se, um pouco sem graça — Eu sou gordo. Não tem como alguém achar isso bonito.

— Eu acho. — ele sorriu, bagunçando a cabeleira loira — Pra falar a verdade, eu te acho muito gostoso.

E foi naquele momento em que o Park sentiu sua alma sair de seu corpo.

Definitivamente nenhum ser humano em seu estado são havia lhe dito aquilo alguma vez.

Completamente corado, Jimin virou o rosto para o lado, sem saber o que fazer.

— O-Obrigado… eu acho…

Taehyung riu baixo, virando o rosto de Jimin para si.

— Eu te adoro.

O Park ficou alguns minutos em silêncio, mentalmente repetindo aquela frase em sua cabeça.

— Eu… também. — ainda estava atônito pela pseudo-confissão de Taehyung — Eu também te adoro.

O silêncio tomou conta do quarto. A única coisa que os dois faziam era trocar olhares ternos, porém confusos, principalmente da parte de Jimin, que realmente não sabia o que fazer naquela situação.

E antes que pudesse perceber, os lábios fartos do Park foram gentilmente tocados pelos de Taehyung, em um casto selinho, suficiente para arrepiar todo o seu corpo. Afinal, era o seu primeiro beijo.

Meu primeiro beijo foi com o menino mais bonito da escola.

Eu devo estar sonhando, puta merda.

Todavia, sua timidez fez com que se afastasse antes que Taehyung pudesse aprofundar o contato. Sua face parecia estar em chamas, enquanto seu coração batia completamente descompassado.

E, para a sua surpresa, Taehyung também estava corado.

— M-Me desculpe… eu não sei porque eu fiz isso… — ele falou, sem graça — Foi meio instintivo, e-eu… sei lá! Eu não sei o que deu em mim…

Jimin tocou os próprios lábios; era como se ainda pudesse sentir os lábios de Taehyung sobre os seus.

— ‘T-Tá tudo bem… — tentou olhar em seus olhos, mas era quase impossível. Estava constrangido e tímido demais para olhá-lo — … eu gostei…

Praticamente sussurrou, fazendo com que Taehyung não conseguisse ouvir.

— Vamos… comer alguma coisa. Você deve estar faminto. — ele tentou mudar de assunto, completamente sem graça. Era bem estranho ver Taehyung daquele jeito — D-Depois eu… te deixo em casa. Seus pais devem estar preocupados.

— Ah, claro. Vamos.

De todos os aniversários de sua vida, aquele de fato estava sendo o mais bizarro e aleatório.

29 de Junio de 2018 a las 19:35 0 Reporte Insertar Seguir historia
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