ronaldo-gomes1524093612 Ronaldo Gomes

Você colocaria em jogo a sua vida por algo que sempre quis ter? Literalmente qualquer coisa. Ter tanto dinheiro que sequer consegue contar os zeros em sua conta bancária ou quem sabe um amor que a consuma e de tão quente a transforme em cinzas todas as noites. Eu, madame Leona, posso te ajudar, peço que confie em minha magia e vamos poder ver até onde ela a levará. Agora, me conte, qual é o seu desejo?


Fantasía Épico Sólo para mayores de 18.

#magia #Cartomante #bruxaria #Desejos #Ambição #fantasia #ficção #kpop #música
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The lovers

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Algumas pessoas podem sonhar com um grande sucesso monetário. Outras desejam vingança por acontecimentos passados e torturantes que arruinaram suas vidas. Ainda há quem queira fama e a vida dos holofotes. Nicole Walters não é uma dessas pessoas. Tem apenas um sonho - simplório até por demais, se me permite dizer - ter um casamento tão perfeito quanto o de sua mãe foi. Apesar de nunca ter conhecido o pai, que morrera alguns meses anteriores ao seu nascimento, a moça sempre deleitara-se com belos casos e acasos de amor que sua mãe contava, relembrando dos tempos em que era jovem e apaixonada.

Muito esperançosa, a moça tenta de todas as formas encontrar um marido que esteja a altura de seu pai, desde aplicativos até encontros às escuras que nunca dão muito certo, mas havia um problema nisso tudo, afinal nada são sempre rosas e chocolates: justamente achar algum rapaz que queira algo.

Nicole é uma moça muito bonita, sem quaisquer dúvidas disso, dona de longas madeixas ruivas e brilhantes e de um par de olhos tão verdes e vivos que chocava a todos. Mas ela estava um tanto acima do peso. Alguns dez ou quinze quilos a mais. Talvez vinte ou vinte e cinco. Quem sabe trinta ou trinta e cinco...não gostava de contar, tinha vergonha. E isso obviamente atrapalhava seriamente sua autoestima já bastante ferida e agredida.

Sempre fora um tanto gordinha, desde criança. Sua mãe era uma cozinheira de mão cheia, mas tentava fazer de tudo para ajudar a menina a perder peso, entretanto nos últimos anos acabara por falecer devido complicações em uma cirurgia e a moça não conseguira mais continuar com as dietas de antes, afundando-se cada vez mais no conforto que a comida trazia para seu coração.

- Mas Nicole, você é maravilhosa - diziam suas amigas - pouco importa seu peso.

- Se não importa, então não arrumo um marido por quê? - respondia apenas.

- Ora, a vida não é assim! - diziam - alguém vai aparecer quando chegar a hora.

Mas qual seria o motivo de toda essa demora então? Seria a vida tentando bancar a engraçadinha provocando a pobre moça? Ou seria apenas uma maneira de testar sua paciência para ver se é mesmo merecedora de um casamento perfeito aos seus moldes como queria? Não sabia, e nem havia como saber para ser bem sincero. No entanto, há quem consiga descobrir alguma coisa sobre, ou pelo menos iluminar as ideias: uma cartomante.

Nunca fora alguém crente em superstições, muito longe disso, era até uma pessoa muito cética e incrédula. Mas não via motivos para não usar um pouco de esoterismo nesse caso tão sério que a perturbava a cabeça, o desespero era grande e aumentava cada vez mais, qualquer coisa que acalmasse a jovem era válida e muitíssimo bem vinda. Acabou por ir sozinha, sequer consultou suas amigas para saber o que pensavam sobre ou se alguma tinha o interesse em acompanhá-la. Achara melhor, estava absolutamente cansada de tanta repreensão. Nenhuma a entendia, era todas esbeltas e muito bem feitas de corpo com seios e quadris avantajados, mas com cinturinhas de Barbies. Como poderiam entender o sofrimento e a apreensão de uma pobre gordinha como Nicole dessa maneira?

Ao chegar, foi recebida por um forte cheiro de incenso de jasmin e o de um cházinho de ervas que a cartomante tomava. Era uma velhaca já, com alguns bons anos carregados nas costas. Tinha um rosto cansado e sofrido pelo tempo que já passara, seus olhos eram duas esmeraldas escuras que estavam por perder o brilho aos poucos, suas mãos trêmulas necessitavam de uma manicure com urgência e provavelmente não ia a um dentista há alguns bons séculos. Estava sentada numa cadeirinha bamba de madeira branca manchada de graxa ou alguma coisa escura, brincava com os fios de uma pena acinzentada e grande, quando notou a moça, sorriu com seus dentes amarelados e pediu-lhe para sentar.

- No que posso ajudar, querida? - perguntou com uma voz rouca e baixa - Eu já sei o motivo que lhe trouxe até aqui, mas preciso ouví-lo de sua boca.

- Pois bem, madame...

- Madame Leona, querida - diz ela.

- Isso, Leona - disse a jovem, nervosa - eu quero um marido, sabe? Mas não um qualquer! Quero um casamento maravilhoso.

- E quer minha ajuda para isso? Estou tão encalhada quanto a senhorita - disse a velha, soltando uma risada abafada.

- Não, não é isso - disse - gostaria que visse em suas cartas se há alguém especial que vai aparecer em minha vida em breve ou algo do tipo.

- Ora, eu posso fazer melhor que isso - disse a senhora acendendo um cigarro e tragando-o fortemente.

- Como o quê? - perguntou a menina curiosa.

- Quer um casamento perfeito? Posso consegui-lo para você. Só preciso que você esteja disposta a pagar por isso.

- Pagar? Mas é claro - disse ela pegando a bolsa e retirando sua carteira - dinheiro não é problema, apenas me diga seu valor.

- Dinheiro? Ho ho - sorriu - não, minha querida, dinheiro não paga o que vou fazer por você.

- Então o que paga? E como vai me ajudar?

- Preciso que você me diga seu desejo primeiro.

- Mas eu já disse - disse a moça, confusa.

- Repita, por favor - pediu, agarrando um livro todo empoeirado - preciso que você diga claramente o que quer.

- Eu quero um marido que seja bom para mim do mesmo jeito que meu pai foi para minha mãe e quero um casamento perfeito e muito feliz - respondeu a jovem.

- Está disposta a pagar qualquer coisa para que isso aconteça? - pergunta folheando o livro e parando em uma folha amarelada com escritas em vermelho.

- Qualquer coisa?

- Sim, seu pagamento vai ser algo aleatório - respondeu - não posso prever, desculpe.

- Bem, eu aceito - disse ela relutante - sim, eu aceito!

- Muito bem. Me dê sua mão um instante.

Rapidamente e quase que num vulto, a mulher retira uma adaga dourada de uma gaveta mofada próxima e faz um pequeno e grosseiro corte na palma da mão da moça que soltou um grito abafado.

- Deixe pingar sobre essa página e diga que está de acordo então.

Nicole fecha o punho em questão de segundos e permite que algumas gotas de seu sangue tinjam as páginas de rubro, pouco a pouco. O livro tinha algumas imagens e símbolos estranho, quase nenhuma escrita em todo o seu papel e as que haviam deveriam ser em latim ou alguma coisa relacionada. Madame Leona pede para que a moça diga que está de acordo com o contrato e em seguida ordena que repita algumas palavras que a velhaca lhe ditava.

- Ótimo, são 50 pratas - disse a velha.

- Mas achei que o pagamento não seria em dinheiro.

- O da magia não é mesmo, mas o do meu serviço é - exclamou a velhaca, irritada.

Assim que a jovem e a cartomante se despediram, Nicole começara a se arrepender. Teria a possibilidade de ter sofrido um golpe e gastado dinheiro a toa? Teria sido feita de boba? Será que a velha apenas se aproveitou da fragilidade da sua situação para arrancar seu dinheiro com a consulta e brincar com os sentimentos da menina. Ou será que poderia mesmo acontecer algo e ela havia acabado de se meter com bruxaria? Quem saberia dizer? Bem, de qualquer maneira, não há muito o que perder. Há?

Chegara exausta em casa, sem qualquer motivo específico aparente, tivera um dia tranquilo e dormira cedo, talvez fosse alguma reação atrasado ao cheiro do incendo ou do mofo que estavam impregnados em seus cabelos e a deixaram meio tonta. Mas em compensação, tivera um sono tão pesado e relaxante que até mesmo acordara atrasada para o trabalho. Desde que se formou, há alguns seis anos, trabalha em uma empresa de advocacia no centro de Londres. Como advogada? Não, não. Como secretária mesmo. Tinha medo do tribunal, era tudo muito assustador por lá. Arrepiava-se apenas de lembrar, o conforto atrás da tela do computador era muito mais do seu agrado. No entanto, ela era muito incentivada pelos colegas e até mesmo pelo seu chefe, Edward Blake, a deixar esse receio todo de lado e tentar. Obviamente que sem sucesso algum.

Assim que chegou no escritório, foi direto para sua mesa arrumar a papelada e atender alguns telefonemas que não acabavam nunca. Do outro lado do corredor vê sua melhor amiga, Anna, com uma expressão nada amigável falando ao telefone.

- Problemas? - pergunta Nicole.

- Meu cliente é um idiota - disse ela, desligando o celular - viu o novo advogado?

- Novo? - questionou Nicole - não me lembro de Edward comentar algo de contratar mais alguém.

- Jura? Que estranho - disse ela, franzindo a testa - bem, ele é um gato e é latino! Fora que é super gentil, me ajudou a carregar algumas folhas do processo e ainda abriu a porta para mim.

- Sem flertar no trabalho - disse Nicole rindo - além do mais, você tem namorado e flerte também é traição.

- Sim, capitã, não irei flertar - disse ela.

Edward sai de sua sala as gargalhadas e em seguida avista a moça, fazendo um sinal para que ela vá até ele. Junto do chefe, estava um rapaz muito alto e musculoso. Seus cabelos castanhos estavam totalmente desarrumado e era dono de um par de olhos verdes incrivelmente hipnotizantes. Trajava um terno preto com uma camisa cinza e, apesar da vestimenta, tinha um ar totalmente desleixado e despreocupado, o que acrescentava em muito a sua sensualidade latina.

- Nicole, esse é o nosso novo prodígio - disse Edward, sorrindo - Alex Espinoza.

- Muito prazer, serei sua secretária - disse a menina estendendo a sua mão que foi beijada suavemente pelo rapaz - qualquer dúvida venha até a minha sala.

- Com certeza virei para ver uma moça tão bela quanto a senhorita - disse ele sorrindo.

- Ah, o bom e velho charme latino - disse a menina - de onde você é?

- Colômbia - disse ele.

- Sem flertar no trabalho - gritou Anna de sua sala.

- Exatamente - concordou Edward dando uma gargalhada - Depois eu empresto meu quarto para os dois, mas agora vão trabalhar.

Alex foi várias vezes até a sala de Nicole para jogar conversa fora e mais tarde, naquele mesmo dia, convidou a jovem para jantar após o trabalho. Anna disse que provavelmente ele só estava querendo se enturmar, e que era óbvio que iria começar com Nicole considerando que ela é a secretária dele e seria interessante terem uma relação amigável logo de cara. Mas a moça achava que não, sempre há algo a mais. Se não houvesse, então por qual motivo ele teria curtido todas as suas fotos no Instagram? Até mesmo as marcadas? Ou então, por que a adicionou no facebook logo de cara e comentara em várias de suas publicações? Anna podia entender de seu próprio relacionamento, mas o mundo do flerte mudou muito e todos esses sinais claramente querem dizer algo.

Assim que o expediente acabou, Nicole correu ao banheiro para se ajeitar, afinal, sensualidade e boa aparência são sempre muito essenciais em um primeiro encontro. Tudo importa. A moça ajeita seus cabelos de uma maneira delicada e que ressalte seus olhos, e faz um retoque básico na pouca maquiagem que já havia passado mais cedo antes de sair de casa. Fora até seu carro para pegar seu blazer azul marinho que sempre deixava por lá para reuniões emergenciais ou ocasiões em que a elegância seja necessária. Fazia algum tempo que não saía com um homem, um bom tempo para ser bem verdadeira, estava muito nervosa e não sabia se a sua aparência estava ajudando a disfarçar isso ou e estava totalmente traindo-na.

Alex a levou em um restaurante familiar japonês relativamente perto do trabalho, ele andara pesquisando sobre seus gostos pessoais com Anna. O lugar era incrivelmente belo e bem arrumado, mesmo que muito simples tinha uma comida saborosa e muito caprichada. Mas acha mesmo que a moça ficara reparando muito na decoração ou na comida com um homem daqueles sorrindo na sua frente? Longe disso. Toda aquela sensualidade e carisma do rapaz eram praticamente de arrancar suspiros e detonar com o fôlego de qualquer uma que cruzasse os seus olhos.

- Você é solteira? - perguntou, enfim.

- Sim, eu sou - respondeu a moça - e você?

- Meu coração precisa de uma mulher forte para domá-lo - diz ele, sorrindo.

- E ela ainda não apareceu?

- Talvez tenha aparecido hoje - disse ele, fitando seus olhos - Ela usa uma franjinha, está absurdamente linda e ainda por cima trabalha no mesmo escritório de advocacia que eu, talvez você a conheça?

- Vagamente - respondeu a menina dando uma risada desajeitada e escandalosa.

Assim que a comida terminara e a conversa quase cessara devido o sono, Alex insistiu em trazer a moça até em casa que não estava em condições de dirigir. Foram conversando e rindo por todo o trajeto, se conhecendo melhor e fazendo fofoca sobre os outros funcionários e o papo só acabara porque chegaram na casa de Nicole.

- Foi um jantar adorável, minha querida - disse Alex, abrindo a porta para que Nicole saísse e beijando a mão da garota - você estava realmente deslumbrante.

- Gentileza sua - disse ela dando mais uma risada escandalosa - não me acha meio...é...cheinha?

- Meu amor - disse ele se aproximando - você é um anjo que caiu dos céus.

- Caí porque as nuvens não aguentaram meu peso? - pergunta ela rindo.

- Não seja tão maldosa consigo mesma - ele se aproximava ainda mais.

O nervosismo estava tomando conta de todo o seu ser, ele estava muito próximo, Nicole não era ingênua, sabia exatamente onde isso tudo daria e ela não beijava alguém há alguns anos. Ambas as respirações estavam tensas e seus batimentos formavam belas melodias em perfeita sincronia e harmonia, o contato visual era ininterrupto e o tempo a sua volta parecia simplesmente ter sido pausado.

Mais uma vez ele se aproximava.

- Não acho que podemos fazer isso - disse ela.

- Por que?

- Porque eu sou sua secretária - respondeu ela, desviando o olhar - e acabamos de nos conhecer. Não me parece certo.

- Tempo é algo que não devia ser perdido - disse ele.

E então se beijaram.

Uma explosão semelhante a fogos de artifícios acontecia em suas bocas nesse momento tão prazeroso, era uma bela e perfeita combinação de sentimentos e sensações. De alguma maneira, seus movimentos se combinavam e se completavam de um jeito totalmente harmônico. A língua do rapaz explorava todos os arredores da boca da moça. Seus ritmos eram idênticos e não havia pressa ou lerdeza. Tudo combinava. Suas respirações estavam tão tensas e falhas que o fôlego foi perdido nesse meio tempo interrompendo o beijo.

- Boa noite, madame - disse ele se despedindo enquanto Nicole tentava recuperar sua noção.

O primeiro de incontáveis outros beijos que vieram mais tarde, até que enfim, Nicole conseguia entender o que era o amor em si. O amor eram as borboletas em seu estômago que nunca paravam de voar freneticamente por todo o seu enterócito. Era o rosado nas bochechas e os arrepios e o fato de simplesmente não conseguir tirar a pessoa de sua cabeça em momento algum do dia e querer estar junto o tempo todo. O namoro durou alguns belos e apaixonados três longos anos e logo sua mão foi pedida em casamento. Tudo estava bom, tudo ia bem. Ele seria o marido perfeito e traria felicidade para sua esposa, disso Nicole tinha certeza.

Mas a cova fora cavada há muito tempo e dela não há escapatória.

Logo que os dois se casaram, as coisas repentinamente mudaram, aliás tudo mudou, a convivência diária saudável acabou se tornando em uma rotina insuportável e doentia que estragava todo e qualquer plano e humor. Alex passara a beber demais por frustrações em seu trabalho e por perceber que não tinha a vida que sempre sonhara em ter desde que saíra da Colômbia, seu alcoolismo o tornou um homem muito violento, incompreensível e agressivo ao extremo.

E na busca pelo amor,

encontrou a dor.

Nicole foi espancada.

E de novo.

E mais uma vez.

Até que as agressões tornaram-se comuns e faziam parte da rotina.

Eram como se houvessem data e horário marcados já.

A moça vivia cheia de hematomas e ferimentos que fingia tê-los feito por acidente, caindo da escada ou se cortando com a faca enquanto fazia o jantar. Tudo era motivo para que Alex brigasse ou implicasse, viviam em discussões bobas e desnecessárias que acabam em agressões por parte dele, a situação se repetia tantas vezes por dia que até que chegaram ao ponto em que sequer se falavam. Sequer se olhavam. Nicole estava realmente infeliz, acabara por largando seu emprego por estar ficando com vergonha de todas as perguntas sobre seus hematomas. Gostaria muito de descobrir o que acontecera nesse meio caminho. O que houve com o homem que fez com que ela se sentisse como uma princesa? Teria seu príncipe regredido e se transformado no ogro que a trancafiava em uma masmorra, impedindo-a de ver a luz do dia?

Teria tudo sido uma mentira?

Nicole precisava de ajuda, e com urgência. Então decide que o melhor a fazer é fazer uma segunda visita a madame Leona em busca de algumas simpatias ou alguma coisa do tipo que fizesse com que seu marido volta-se a ser o que era no começo da relação. Mesmo com os anos que se passaram, tudo continuava igual, desde a tenda até madame Leona que não mudara um fio de cabelo.

- O que a traz de volta, querida? - pergunta a velha fumando um charuto e brincando com a fumaça.

- Madame Leona, eu quero ajuda novamente - disse a menina - todos esses anos eu suspeitei que o Alex apareceu na minha vida por causa daquilo que a senhora fez.

- Certamente - disse a madame - minha magia é tiro e queda, não tem erro. Mas qual o problema?

- Meu marido tornou-se uma pessoa totalmente diferente daquela com a qual me casei. Ele está agressivo e bruto. Alguma coisa aconteceu? - pergunta a moça - Talvez a magia esteja perdendo a força, porque eu pedi um marido perfeito e isso está longe da perfeição.

- Ué, minha querida, você disse que esteva disposta a pagar qualquer coisa.

- Como assim?

- Esse foi seu pagamento - falou a velhaca retirando o charuto da boca e o colocando sobre mesa - Seu casamento foi maravilhoso nos primeiros anos, mas agora tornou-se o seu inferno na Terra.

- Meu pagamento foi esse? É isso? - indaga a garota confusa.

- A magia funciona da seguinte forma: Você pede algo e eu realizo. Mas para isso é necessário que você sacrifique algo, minha querida, seu sacrifício foi esse. Toda magia tem um preço.

- Mas eu não sabia!

- Eu te perguntei se estava disposta a pagar qualquer coisa por ele - disse a velha - se não estivesse, não deveria ter concordado.

- Tem como reverter isso?

- Não, querida. Infelizmente não.

- Então vou me divorciar! - exclamou a menina - Ou denunciá-lo. Não sou saco de pancada de ninguém. Eu não mereço isso, a senhora me sabotou.

- A magia não permitirá isso - disse ela - só tem uma maneira de acabar com tudo. Mas ela é meio radical, não acho que vá querer.

- E qual seria?

- Um de vocês tem que morrer - disse ela, tossindo.

- Morrer?

- Ele não consegue te bater se estiver morto, não é? - disse ela.

- Mas eu não conseguiria matar ele - disse a moça.

- Você me perguntou uma maneira de acabar com isso - disse ela devolvendo o charuto para sua boca e o tragando mais uma vez - esse é o único jeito.

- Não posso fazer outro pedido?

- Você acha que magia é o quê? O que está feito, está feito! - repreendeu a velhaca - Não pode ficar brincando com esse tipo de coisa. Um desejo por pessoa. É assim que a ordem natural de tudo funciona.

Nicole sai cambaleando pela porta, totalmente desorientada e sem chão para pisar. Enquanto voltava para sua casa pelo mesmo trajeto anterior, pensava no que poderia ser feito, e, por mais que tentasse, as palavras da cartomante não saiam de sua mente de forma alguma. Seria aquela a solução? Seria aquela a única solução?

"Um de vocês tem que morrer"

Teria ela que morrer então? Ou deveria ela matar Alex? Seria capas de se matar ou de matá-lo? Era tudo tão confuso e torturante, seus pensamentos martelavam sua cabeça e inibiam qualquer pensamento racional sobre o caso. É verdade que odiava o atual Alex e obviamente não era fã de apanhar diariamente, mas por dentro de toda aquela carapuça, ainda sentia o antigo Alex escondido em algum canto. Ela realmente precisava relaxar a cabeça e de tempo para respirar.

O único jeito.

Mas ele também era único e ela sabia disso.

Alex é um homem que fora moldado e esculpido para ela, alguém que a magia havia feito especialmente para Nicole, todas as suas idealizações românticas e desejos reunidos em uma só pessoa. No entanto, homem algum valia a tortura, isso é um fato. Mas como acabar com isso? Alex tinha um revólver guardado na gaveta do criado-mudo ao lado da cama, e como sempre, nesse horário ele estava dormindo no sofá ou bebendo em algum bar aleatório. Se havia um momento perfeito para pensar e agir, era esse. Subiu as escadas às pressas até o quarto. Lá estava a chave para sua liberdade. A moça agarra a estrutura metálica e gélida com as mãos um tanto trêmulas e fracas. Atirar não era um problema, aprendera a caçar com o avô quando pequena, mas atirar em um humano já era outra história, afinal, quem garantia o sucesso do tiro? Ela iria conseguir agarrar coragem para isso?

Ele não é muito diferente daqueles animais.

Nicole desce as escadas com cautela e calma, todo cuidado era pouco. Suas pernas tremelicavam e pareciam que estavam prestes a traí-la a qualquer segundo libertando seu equilíbrio já praticamente inexistente. A moça se aproxima do rapaz com o dedo no gatilho. Ele merecia morrer? Ou ela deveria ir? Fica alguns minutos observando o rapaz. O homem com o qual se casou, o mesmo que amou por todo esse tempo. Os lábios vermelhos como uma cereja que beijara inúmeras vezes. O peitoral no qual deitara todas as vezes que as situações ficavam complicadas e ela precisava de algum conforto. As mãos que seguraram as suas por todos esses anos. Tudo estava ali, tudo continuava o mesmo.

Apenas na aparência, claro.

Vamos, Nicole.

Ou você.

Ou ele.

Sabe disso.

Então por que está hesitando?

Nicole, existem momentos que não lhe permitem muito raciocínio, esse é um deles, apenas atire. Não perca uma oportunidade de ouro assim, tudo pode ficar pior amanhã. Aja por impulso pelo menos dessa vez, pense mais tarde se ainda quiser e se ousar, agora não é hora. Use esses seus quinze segundos de coragem e vá em frente, atire. Tudo pode ter um ponto final a partir de agora, só depende de você. A dor momentânea que ele vai sentir sequer se compara com a que você sentiu todos esses anos.

Atire.

Puxe o gatilho.

Liberte-se.

Tinja o chão de rubro.

Transforme o cheiro de bebida em algo mais metálico.

Converta sua dor em culpa.

Acabe com essa falsa aparência de casal perfeito.

Tudo vai melhorar.

Você vai ver.

Se não for ele,

Logo será você...

E de repente, a bala saiu e atingiu a cabeça de seu marido. O som feito pela arma ecoava por toda a casa e batia em seus ouvidos como se fosse a melodia mais dócil e bela do mundo. O sangue jorrava por todos os cantos, tingindo por completo o piso e formando uma obra de arte melhor que as de Picasso. A textura do revólver em suas mãos era macia como seda e causava-lhe uma sensação tão confortante que se assemelhava a um abraço de mãe. O gatilho era como um Deus e glorificado deveria ser, com toda uma nova religião e seguidores fiéis a ele. Que sensação incrível. Que obra de arte. Que espírito. Num curto período tudo estava tingido de vermelho, inclusive suas mãos, do chão até as paredes, das janelas até a pia.

Vermelho.

Que cor libertadora!

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20 de Abril de 2018 a las 00:00 0 Reporte Insertar Seguir historia
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