° Fanfic inspirada na série Grey's Anatomy S09E04
totalmente reescrita, pq bem, quando deixei a primeira versão por essas bandas eu sabia que havia umas lacunas a serem preenchidas e foi isso que fiz x)
Originalmente ela pertencia a um desafio do grupo da família SasuNaru no face onde o tema era primeiro beijo e os itens sorteados eram: Acesso de raiva, kunai, coberto. Não sei se ainda é participante.
Enjoy~
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I saw him standing there.
Único.
O corpo humano é projetado para suportar perdas. E se adapta, assim não precisamos do que perdemos. Mas, às vezes, a perda é muito grave e o corpo não consegue suportar sozinho. É quando os cirurgiões entram.
Temos tanta esperança no começo das coisas. Parece que só existe um mundo a se conquistar… Não a se perder. Dizem que a incapacidade de aceitar a perda é uma forma de insanidade. Deve ser verdade. Mas, às vezes, é a única forma de nos mantermos vivos.
Grey's Anatomy - S08E05
— Hinata quer saber se você vai ser o padrinho do Kiba?
— Hm? - os olhos negros se ergueram, fitando a amiga a frente.
— Você me ouviu? - Sakura segurou o copo de café com mais força.
— Ouvi sim. - respondeu monótono.
— A é? E o que eu disse? - Sakura apoio o cotovelo na mesa e o rosto na mão, fitando o loiro.
Naruto abriu e fechou a boca, suspirando.
— Por Deus, Naruto! - Sakura bufou e se endireitou na cadeira. A rosada fechou os olhos e suspirou forte. Claramente irritada. — Hinata quer saber se você vai ser o padrinho do Kiba? - repetiu.
— Mas eles já vão se casar? - a expressão que esboçou era de pura surpresa.
— É claro, eles estão juntos há anos. Você deveria saber, Kiba é um de seus melhores amigos! - uma pequena ruga se formou ao redor dos olhos esverdeados. — Se você não quer, eu a aviso. - a rosada moveu o braço, fazendo um gesto para pegar o celular.
— O quê? - se exaltou. — Mas é claro que eu quero! - segurou o braço da mesma. — É que eu só fiquei surpreso. Não achei que seria tão cedo assim. - a mão livre tocou a bochecha, num gesto de vergonha. — E por que aquele cachorro não veio me perguntar diretamente? - franziu o cenho.
Sakura suspirou. — Ele acha que você tem problemas demais para se preocupar. Já que ser padrinho requer participar dos preparos.
— Mas que absurdo, eu quero sim! E eu não tenho problemas demais... - o loiro ergueu o copo e tomou um gole, abaixando os olhos.
— Em que mundo da lua você está? - a médica esticou a mão segurando a do loiro, chegando seu pulso.
— Eu 'tô bem. - recolheu o braço. — É só o trabalho.
— Só trabalho, é? - o olhar de desconfiada que lançou a Naruto deixou ele desconfortável. — Olha Naruto Uzumaki, é bom que não esteja mentindo para mim. - apontou o dedo indicador.
— Eu não estou! - disse em defesa. — É só que... Não é nada demais.
— Estou vendo. - destilou ironia, bebeu um gole do seu café, dando espaço para o loiro continuar. — Não quer mesmo falar sobre isso?
— Não é tão grave assim, Sakura.
— Ah claro. - debochou. — Para você não me chamar de Sakura-chan, não deve ser nada demais mesmo. - cruzou as pernas e bebeu um gole de seu café.
Naruto bufou e encolheu na cadeira.
— É que, - começou, desconfortável. — nada faz muito sentido desde que deixamos o exército. - disse. — Menma está ótimo, não é sobre isso! - proferiu, antes que Sakura o interrompe-se. — Desde o acidente Sasuke anda estranho, sabe. Quando a gente se alistou, eu sabia que coisas ruins iriam acontecer, todo dia que deitávamos a cabeça num travesseiro, ou numa pedra eu ficava agradecido por estar vivo. - as mão moviam o canudo no copo. - Ele não! Sasuke gostava de lá, da poeira, da tensão, da adrenalina, ele sempre foi assim. E agora ele age como se o fato de o corpo dele estar repleto de cicatrizes daquele dia não fosse nada demais. Ele acorda no meio da noite agitado, sente dores no braço esquerdo. Fica se esquivando quando eu tento tocá-lo. Até mesmo Menma percebeu que o pai dele está estranho, e eu não sei o que fazer. - respirou fundo, tomando fôlego.
Sakura tinha o olhar fixo no loiro. A rosada via claramente a tristeza nas olheiras abaixo das íris azuis tão sempre alegres.
— Escute bem, Naruto. - Sakura inclinou o tronco para frente e o Ex-Capitão se endireitou na cadeira. — Como médica, eu já vi muitos casos de Síndrome do Membro Fantasma fora e dentro do exército. - apontou para si. — Eu mesma já tive o desprazer de realizar esse procedimento. E todos eles, digo todos eles, por mais forte que fosse, tiveram sintomas horríveis. Sasuke não é diferente, ele pode ser o cubo de gelo que conhecemos e que você ama, mas ele ainda é humano. Sasuke perdeu um braço, Naruto. E para ele, obviamente foi mais que uma simples perda. Entretanto, uma coisa é certa, Sasuke sente dores como eu e você. É claro que ele não vai dizer o que sente logo de cara. Continue a empurrar essa situação com a barriga, nada vai mudar. Ele não vai dizer nada de mão beijada, é preciso pressioná-lo. Sasuke vai se fechar e fechar até ficar mais trancado que uma concha protegendo sua pérola. E eu digo isso à você, - apontou para o loiro. — porque você é o único que pode fazê-lo ter alguma reação e não, não estou jogando isso nas suas costas. - a rosada parou quando Naruto juntou as sobrancelhas. — Nos conhecemos há quase 29 anos, Naruto! Nós crescemos juntos, fizemos faculdade, nos alistamos e lutamos juntos. Entretanto, por mais que eu estivesse lá com vocês, Sasuke sempre tinha mais reação com você. Ele é um Uchiha e os Uchihas podem até não temer nada, mas ele é pai do seu filho e seu marido. Então faça sua parte. Do contrário eu vou lá bater nos dois! - sorriu.
Naruto abriu e fechou a boca, e murchou na cadeira. Ele não gostava dos socos da amiga. Sakura sempre teve uma mão pesada.
O loiro bebeu mais do achocolatado e lamentou.
X
Ele não vai dizer nada de mão beijada, é preciso pressioná-lo.
As palavras da rosadas ainda ecoava na sua cabeça. Então antes de girar a chave e abrir a porta do apartamento, Naruto expirou fundo segurando o ar por alguns segundos, girou a chave, e soltou.
— Estou em cas-
A frase foi interrompida quando viu o estado da sala de estar. O cômodo estava uma bagunça. Brinquedos espalhados pelo cômodo, toalhas, a TV ligada e caixas de pizzas por toda parte.
Naruto arregalou os olhos quando Kurama veio recebê-lo e o cão estava todo rabiscado de tinta.
— O que fizeram com você, bebê? - o Detetive se agachou, acariciando o pelo do husky pomerian. O cão resmungou e lambeu o rosto do dono. — Sasuke! Cheguei! - levantou, chamando o outro dono da casa.
Uma bancada separava a cozinha da sala de estar, Naruto fechou a porta e andou pelo cômodo, largando a bolsa e as chaves em cima do mármore.
— Cadê o Sasuke hein Kurama? - perguntou ao cão alaranjado. Como resposta Kurama balançou o rabo. — Sasuk-AAHH!
O loiro deu uma olhada pela sala, quando se virou o grito foi inevitável.
Sasuke ergueu as sobrancelhas, fazendo careta pelo barulho.
— Deus é pai não é padrasto! - colocou a mão no peito para se acalmar.
O Uchiha que estava atrás do balcão, ergueu a única sobrancelha visível.
— Assim você me mata de susto, aparecendo assim! - apontou para o rosto do moreno.
Sasuke revirou o olho.
— Achei que ia chegar mais tarde. - o moreno começou a mexer no balcão.
— Eu ia, mas a Sakura 'tava de plantão, aí eu voltei. - o loiro apoiou os braços na pedra de mármore. — Um furacão passou por aqui? - disse, se referindo a sala.
— Menma. Ele perguntou se poderia trazer alguns amiguinhos aqui, eu achei que era dois, não quase a sala toda. - as sobrancelhas estavam juntas.
Naruto sorriu e ficou feliz em saber que seu filho tinha feito amigos.
— E onde ele está agora?
— Minha mãe comprou alguns brinquedos para ele, então levou ele pra dormir lá.
— Tia Mikoto vai estragar ele. - riu.
— Mais do que ele já está, impossível.
O silêncio entrou pela janela aberta da cozinha e se instalou no local. Naruto não tirava os olhos do moreno, enquanto o mesmo tinha o rosto abaixado.
— Ne, acho que pre-
— Por que você não dá um banho no Kurama e depois me ajuda a arrumar a sala? - pela primeira vez desde que Naruto chegou, Sasuke fitou os olhos azuis do loiro.
Ele está fugindo da conversa, pensou o loiro.
Naruto suspirou e depois sorriu, disse um tudo bem e desencostou do balcão. Deu a volta e beijou o rosto do moreno.
Sasuke só parou o que fazia quando o loiro sumiu pelos corredores chamando Kurama. Sua mão direita tocou seu ombro esquerdo, os olhos negros se fecharam com força.
X
Quando o Detetive voltou para sala, Kurama o seguia, os pelos alaranjado seco e o rabo balançando de felicidade por se livrar da tinta grossa.
— Esse cachorro é pior que o Menma, não para quieto! - disse.
O loiro encontrou Sasuke de costa na sala, agachando para pegar objetos no chão, colocando em uma caixa transparente.
— Não é à toa que é seu cachorro. - disse, ainda de costas.
— Ei! Kurama é um bom garoto. Você é um bom garoto, é sim, um bom garoto. - Naruto se agachou passando a mão na barriga do cachorro que havia se deitado para receber o carinho do dono. — Agora vai 'pra fora, anda! - se ergueu, apontando para a sacada. Kurama abaixou as orelhas e resmungou, mas obedeceu ao dono.
O loiro colocou as mãos na cintura, esperando até Kurama se ajustar na almofada. Levantou o olhar, fitando as costas largas do companheiro.
— Sasuke.
— Hm.
— Nós precisamos conversar. - disse.
— Estamos conversando. - o moreno continuou de costa.
O ex-soldado coçou a nuca e bufou.
— Sasuke, olha 'pra mim. - deu um passo. — Nós temos que conversar.
O Uchiha o ignorou e continuou a pegar os objetos jogados.
— Nós conversamos depois. - disse.
Naruto apertou os olhos. Suas pernas se moveram, os passos pesados demonstravam sua falta de paciência. Ergueu a mão e agarrou o único braço do Uchiha, o virando para que o encarece.
Sasuke arregalou o olhar, descendo o olhar do rosto do loiro até a mão que agarrava seu braço com força.
— Me solta. - disse.
— Não. Nós precisamos conversar.
— Eu já disse que conversamos depois. - Sasuke puxou o braço, sem sucesso.
— E eu ouvi. Mas sempre é isso, nós conversamos depois e o depois nunca chega. - as íris azuis encaravam Sasuke com raiva, Naruto estava cansado.
— Me solta. - Sasuke deu um passo para trás.
— Não! - Naruto deu também, para frente.
— Naruto, me solta! - deu outro.
— Não!! - e outro.
— EU JÁ DISSE PARA ME SOLTAR! - deu mais um, sentindo seu calcanhar tocar a parede.
— E EU DISSE QUE NÃO! - Naruto deu um passo final, a mão livre agarrou o ombro do moreno e o jogou contra a parede.
Os dois estavam por um fio.
— Me larga.
— Não. - desafiou com o olhar. — Eu disse que iremos conversa e é isso que faremos.
Sasuke se recusava a olha-lo nos olhos e isso irritou mais ainda o loiro.
— Olha pra mim, Sasuke.
Ignorado.
— Sasuke, olha pra mim. - pediu.
Ignorado novamente.
— Amor... Olha pra mim...
Novamente não teve resposta.
Uma das mãos do loiro segurou o queixo do moreno, o virando para si. As sobrancelhas juntas, lábios crispados e olhos opacos. Naruto não sabia dizer o significado daquela expressão, ele sempre sabia o que Sasuke sentia, sempre. E o fato de não saber o que o homem que amava sentia era doloroso. E essa descoberta acendeu algo no loiro, fazendo o sangue subir, seu coração bombear mais rápido deixando seu peito dolorido.
— Naruto me solta. - a voz saiu esganiçada, como se estivesse com dificuldade de engolir algo, e de fato estava.
— Já disse que não! - Naruto se manteve firme, mesmo que por dentro já estivesse desmoronando.
Sasuke viu ali, naquelas belas orbes azuis que tanto amava o brilho que geralmente passava calor e segurança sumir, as sobrancelhas loiras franzir e os ombros caírem. Pena. O Uchiha sentiu seu sangue subir e o alvo de sua dor moveu-se e se instalou no homem a frente.
Ele odiava aquele olhar.
— Me. Solta. - seu corpo agora tremia tal como um vulcão em combustão preste a jorrar lava por todo lado, destruindo cada coisa boa que via pela frente.
— Sas… - Naruto por pouco deslizou, ele sabia o que fez e não fora sua intenção, seus olhar nunca mentia e por deveras vezes que quando ao aprontar, nunca olhava nos olhos das pessoas, era fácil ver através de si. Apesar de muitas vezes do loiro não se importar de Sasuke o decifrar sem muito esforço.
— Agora, Naruto. - Sasuke não pedia, ele mandava.
— Sas-
— AGORA! - seu rosto estava baixo, mas seus olhos encaravam o loiro.
Naruto arregalou o olhar e ele se viu de volta ao deserto, quando o moreno deixava de ser seu Sasuke. Ele não deixaria isso acontecer.
— Para tá legal? Para! Eu não aguento mais! Pare de ficar escondendo sua dor. Pare de tentar esconder que usa sua mão esquerda! Porra! Reaja! Grita comigo! Diz que me odeia! Diz que me culpa por tudo! MAS DIZ ALGUMA COISA!
— CHEGA!!
Naruto parou de gritar.
Os olhos negros em fúria.
— Não me olhe assim! Não se atreva a me olhar assim! - Sasuke segurou a camisa do loiro com força, seu semblante estava pesado e por alguns milésimos de segundos o loiro não queria ter insistido na conversa. — Você não sabe porra nenhuma do que está acontecendo! Você não sabe de nada, Naruto!
Azuis e negros se encaravam, ambos com tantas emoções borbulhando nas íris. Naruto sempre foi o mais expressivo dos três, suas emoções se espalhava por corpo, não poupando esforço em mostrar o que sentia.
Já Sasuke, era pelo rosto. As sobrancelhas juntas quando entediado, os lábios crispados quando irritado, o cenho franzido quando nervoso. Naruto sabia de todas essas reações, contudo, os olhos negros sempre mostraram cem por cento de tudo o que o Uchiha sentia, e por isso o loiro fitava seus olhos. Sasuke dizia tudo o que sentia pelo olhar. Não hoje.
— ME DESCULPE TÁ LEGAL! Me desculpe por não saber de nada! Você não me conta nada, nada! Fica usando essa maldita máscara Uchiha como se o problema fosse se resolver sozinho, mas eu tenho uma noticia pra você, ELE NÃO VAI!
— Eu não preciso da sua ajuda. Eu não preciso da sua autopiedade. EU NÃO PRECISO DE VOCÊ!
A qualquer momento, o cérebro tem 14 bilhões de neurônios sendo disparados a 450 milhas por hora¹. Nós não temos controle algum sobre a maioria deles. Quando temos um arrepio… calafrios. Quando ficamos excitados… adrenalina. O corpo naturalmente segue seus impulsos o que eu acho que é parte do motivo de ser tão difícil para nós controlarmos os nossos. Claro que às vezes a gente tem impulsos que preferiríamos não controlar e que, depois, a gente queria ter controlado.
Grey’s Anatomy - S09E12
— Isso não é verdade… - as palavras vacilaram por entre os lábios.
Dor.
A dor motiva o indivíduo a se retirar de situações prejudiciais, a proteger uma parte do corpo danificada enquanto cura e a evitar experiências semelhantes no futuro. A maioria dos casos de dor se resolve uma vez que o estímulo nocivo é removido e o corpo curado, mas pode persistir apesar da remoção do estímulo e cicatrização aparente do corpo. Às vezes, a dor surge na ausência de qualquer estímulo, dano ou doença detectável.
Naruto sentiu a dor daquelas palavras entrarem por seus ouvidos, tão fáceis como uma gota d’água deslizando sobre uma folha e tão, tão dura quanto uma colisão de carros em alta velocidade.
— Isso não é verdade… - a respiração do loiro ficará mais pesada, os ombros caíram ao perceber o peso do mundo.
Sasuke manteve a postura, seu cérebro ainda não havia processado o dano que causou.
— Me solta, Uzumaki. - Sasuke colocou a mão no peito do loiro para afastá-lo.
— Não.
— Naru-
— Eu disse não! - Naruto recolheu uma mão e segurou a de Sasuke em seu peito. — Eu não vou te soltar, eu fiz uma promessa de nunca te soltar e vou continuar te segurando quer você queira ou não! Ouviu Sasuke? Eu não vou te soltar. Então pare de agir como se precisasse carregar esse maldito mundo nas costas! Porra Sasuke eu tô aqui pra você, grite, berre. Deus se quer gritar, grite, mas fale comigo droga! Não fique agindo como se tudo tivesse bem, você não é um cubo de gelo, seu grande idiota! EU TÔ AQUI, SASUKE! AQUI! - sua mão segurou a do moreno com mais força em seu peito, o fazendo sentir as batidas incessantes de seu coração — Eu jurei naquele maldito altar que te protegeria. Eu sinto muito que você passe por isso, eu sinto muito que não possa tirar sua dor do nada. Eu queria poder fazer mais do que simplesmente ver você parado em uma maldito espelho se sentindo nada mais que um trapo velho!
Primeiro, as palavras entraram por seu ouvido, se instalaram em seu cérebro bem em cima do lobo frontal como um gancho lançado em uma baleia, puxando suas memórias para cima, deixando a memória bem clara nos olhos negros como a noite do Uchiha. Ele viu o espelho comprido e seu corpo refletido no vidro, o moreno estava apenas com uma calça do pijama e sem camisas, os curtos fios negros presos em uma rabo de cavalo, a franja atrás da orelha, mostrando a cicatriz vermelha que contornava todo a área onde deveria estar seu olho esquerdo, descendo pela lateral de sua bochecha e pescoço e ombro, contornando a parte externa do braço até o braço, as marcas que restou do acidente, suas costas também havia cicatrizes que iam até a cintura, mas o moreno não virou-se para encará-las. Ele não precisava disso.
O moreno não parecia enojado, nem evitava partes de seu corpo. Cada detalhe das linhas uniformes que ressalta sua pele pálida era encarada, assim como um par de olhos tão azuis quanto o mar Tenerife que o fitava pela porta do quarto semi aberta.
Sasuke suspirou fundo e fechou o olho reprimindo a dor súbita que alastrou por onde deveria estar seus dedos, subindo por seu pulso e agarrando onde estaria seu antebraço, a sensação envolveu seu membro e desceu com a gravidade ainda gravada em si, o moreno permanecia em pé e sabia que nada daquilo era real. O moreno respirou fundo mais uma vez, puxando todo o ar para seus pulmões, preste a ver seu reflexo novamente, o arpão formado pelas palavras do marido soltou de seu cérebro o puxando para realidade.
— Como você… - a mão no peito do loiro se fechou, puxando sua camisa, algo metálico e pequeno fora puxado junto, a plaqueta de identificação que todos os soldados usavam ainda permanecia pendurada no pescoço do loiro. Naruto não queria esquecer. — Me solta Naruto! - a frase pronunciada tantas vezes como ordem agora tremiam e soará imploração.
— Não. - o loiro se manteve firme, ele sabia que ter dito aquilo acionária algo no marido, mas era preciso, não?
— Me solta, me solta! - Sasuke tentou se soltar, agora usando forças que ele não tinha. — ME SOLTA AGORA, NARUTO! - gritou.
Naruto fechou a mão entre os dedos magros de Sasuke, ele não iria desistir, não dessa vez, não ia ver o homem que amava virar as costas e deixá-lo no escuro. Não dessa vez…
— Eu não vou deixar você dar as costas pra mim, Sasuke! Não vou deixar você carregar isso sozinho então divida comigo! Divida comigo droga, me diz onde dói, me implora para fazer parar, MAS NÃO VIRE AS COSTAS PRA MIM, EU NÃO ACEITO ISSO! EU SOU SEU MARIDO, SASUKE! SEU MELHOR AMIGO! - Naruto queria que as aquelas palavras tirassem seja lá o que que estivesse impedindo Sasuke de vê-lo. — FUI EU QUE DEI A ORDEM 'PRA VOCÊ ENTRAR NAQUELE LUGAR ESQUECIDO POR DEUS, ENTÃO ME CULPE! ME CULPE POR VOCÊ TER PERDIDO O BRAÇO, ME CULPE POR ODIAR ESSA VIDA! ME ODEIE, DROGA, ME ODEIE!
— EU TE ODEIO!
O ex-Capitão arregalou os olhos, chocado, e nem mesmo isso parou Sasuke.
— EU TE ODEIO! EU TE ODEIO! EU TE ODEIO! - Sasuke tinha os olhos apertados com força. Sua voz elevada, como nunca antes. — EU TE ODEIO! EU TE ODEIO!
As roupas que um soldado usa é para ajudar a apresentar uma imagem. As armas e o colete e uniformes, trabalhar todos juntos para indicar uma pessoa de autoridade, alguém que você pode confiar. Quando as roupas de sair, isso é uma história diferente. Estamos sensíveis, solitário, humano...²
Depois dos gritos, o silêncio se esgueirou entre os dois, as respirações descompassadas eram as únicas ouvidas… Sasuke sentiu como se todo aquele peso desnecessário saísse de seus ombros, ar entrava facilmente por seus pulmões arrancando as raízes de tudo que o machuca. Até, que um barulho tão familiar ao moreno entrou por seus ouvidos.
O barulho era de choro. E foi aí que Sasuke abriu os olhos, não demorando muito para se arregalaram.
Pode ser difícil para um soldado admitir, mas não há nenhuma vergonha em ser simplesmente humano. Para ele pode ser um alívio parar de se esconder, aceitar quem você realmente é. A autoconsciência pouco não faz mal a ninguém. Porque quando você sabe quem você é, é mais fácil saber o que você é, sobre o que você realmente precisa. ³
— Me perdoa... - as palavras se perdiam em meios aos soluços. As lágrimas caíam pesadas, o rosto tenso e expressão era a mesma de Menma quando se arrependia.
Naruto sabia que poderia segurar o mundo nos braços se isso significasse que sua família estaria bem, ele aguentaria tudo por Sasuke e moveria montanhas pelo sorriso do filho. Entretanto, ninguém disse que ele era blindado, porque não era, o loiro era tão humano quanto os vários soldados que se alistaram para o campo de batalha, era tão sensível quanto qualquer outro. Ele deixou Sasuke escorrer por seus dedos que antes o seguravam como âncora.
— Me perdoa, Sasuke... - os braços tremiam. — Me perdoa. - umas das mãos se soltaram de Sasuke, usando-a para cobrir o rosto. O choro se tornou alto e pesado.
Sasuke se viu livre.
Os apertos se desfizeram e as mãos se afastaram, no entanto a do moreno continuou ali, segurando a blusa de Naruto.
— Naruto... - os orbes negros se embaçaram com a água salgada. Ele mesmo não aguentava mais aquilo.
Naruto sempre se orgulhou do alto controle que tinha trabalho, ele sabia que teria que ser impassivo, não poderia fracassar nem hesitar ou isso custaria sua vida, ou pior, custaria a vida de alguém. Ele aprendera do pior jeito que a guerra custava caro, tirando seus pais de si, deixando um garoto de quinze anos aos cuidados do avô para lutarem pelo o que acreditava. E o loiro, por mais jovem que fosse compreendeu os pais, tanto que dez anos depois seguirá os mesmo passos.
“Você pode deixar a guerra, mas ela nunca deixará você.” Minha mãe sempre me dizia isso, eu só queria ter entendido antes. Naruto perdera os pais na guerra, e por mais que aquilo fosse motivo de traumas, o fato nunca o assombrou ou tirou seu sono.
Sasuke perdeu muito mais do que um braço no deserto, ele perdeu sua vontade de continuar. Aquela vontade que só se encontra nos sonhos, na esperança de viver mais e mais, na fé, nas pessoas, no amor, em Naruto.
Para o loiro não teria mais nada que pudesse ser arrancado de si, havia perdido seus pais e seu avô pouco tempo depois. Não sobrará nada para chamar de seu. E ele nunca estivera tão enganado. Tudo que conquistou começou no mesmo lugar que arrancou tudo de si, respeito dos colegas, um amor para proteger, um filho e uma razão para acordar. Nunca antes conquistara tanto como agora. E para ele foi trivial, afinal, o que mais poderia perder? Ele não ouviu sua consciência quando aquele envelope anunciando uma missão de patrulhamento chegou em suas mãos, muito menos hesitou quando enviou aquele que sabia ser o ideal para ela. Naruto designou Sasuke e uma tropa para a missão que duraria menos de um dia para ser realizada, sem hesitar. Afinal de contas era o Capitão e precisava tomar decisões e mesmo que seu coração dissesse que era perigoso, ignorou. Porque era sempre perigoso, sempre haveria riscos enormes a cometer, no fim das contas era guerra.
A mão esquerda largou a blusa do outro, mas não se afastou, erguendo a mesma, tocando a bochecha do loiro, que ainda tapava o rosto para inutilmente conter as lágrimas.
— Olhe para mim. - pediu Sasuke.
Ao contrário do outro, Naruto não relutou muito, as lágrimas e o soluço ainda se faziam tão presentes. O loiro tirou a mão e o fitou nos olhos.
Azuis e negros se encaravam.
Sasuke limpou as lágrimas do companheiro com o polegar.
O espaço que os separavam foi fechado com um passo dado pelo Uzumaki. As testas se tocaram e por ali ficaram.
Respirações calmas e sincronizadas, dedos se movendo em lentidão.
Minutos pareciam horas para os dois adultos que há muito tempo não tinha um momento assim. De paz em seus corações conturbados.
Naruto foi o primeiro a quebrar o contato, erguendo o rosto.
Os olhares se encaram depois da raiva e Sasuke nunca sentiu tanta falta do amor que elas geralmente costumavam expressar. O Uchiha abriu os lábios para proferir. Entretanto as do loiro foram mais rápidos, impedindo de Sasuke se manifestar.
O moreno se surpreendeu pela ação repentina, estranhando a primeiro toque e não tardou a sentir queimar. Tanta coisa acontecera que aquilo que Sasuke achou pensar viver sem, nunca fez tanta falta como agora.
Os olhos se fecharam e os lábios se moveram, o encontro das línguas foi tão bom, que Sasuke se agarrou ao loiro, passando o braço em volta do pescoço do mesmo. Naruto tocou sua cintura e a circundou, colando os corpos.
O beijo teve gosto de saudade, lágrimas e dor. E nunca foram tão bom quanto a muito tempo se lembravam. Estranho no começo mas familiar ao toque, era tudo tão saudoso quanto o primeiro beijo de ambos.
Naruto se moveu com afinco, empurrando Sasuke levemente até a parede, encostando as costas do moreno no concreto com amabilidade. Os dedos do ex-tenente subiam e se esconderam nas madeixas loiras, tentando agarrar Naruto como podia.
No momento em que o ar fez falta, findaram o ato, não custando muito a voltarem.
Uma. Duas. Três. Os corpos não se soltaram e os dois se perdiam nos lábios um do outro, não pretendendo se soltar tão cedo.
As mãos vagavam entre eles, e foi a muito custo que Sasuke tomou a iniciativa de se separarem. O gosto revivido em seus lábios foi a responsável para arrancar o que sobrara de sua armadura.
— Eu sinto muito. - Sasuke movia os dígitos na cabeleira do outro. — Me perdoa, Naruto. Eu sinto muito. - as lágrimas ameaçaram voltar a cair, os dedos alheios foram mais rápidos.
Até bons casamentos falham. Em um minuto você está pisando em terra firme, no outro minuto você não está. E sempre há duas versões. A sua, e a dele. Ambas versões começam do mesmo jeito. Ambas começam com duas pessoas se apaixonando. Você acha que é o que vai fazer acontecer. Então sempre é um choque. O momento em que você percebe que acabou. Em um minuto você está pisando em terra firme, no outro minuto você não está.
Os lábios se repuxaram e um leve sorriso de alívio e tocou a testa coberta pelos fios negros. Num leve selinho de cumplicidade mútua. Puxou Sasuke para uma abraço, o moreno escondeu o rosto em seu peito e os soluços começaram.
Você tem o que é preciso? Se o casamento tem problema, você pode resistir à tempestade? Quando o solo desmorona… E seu mundo entra em colapso… Talvez só precise ter fé. E acreditar que podem superar isso juntos. Talvez precise aguentar firme. E não importa o que aconteça… Não desista.
Grey's Anatomy - S08E01
X
Era tarde quando Sasuke acordou.
Seus olhos se abriram e seu corpo se arrepiou.
A janela do quarto estava aberta, o vento gélido passava por ela e balançava as cortinas que se moviam em uma dança sem coreografia, tocando o corpo desnudo de Sasuke com leveza, quase como um sussurro.
Seus pelos se arrepiaram pelo toque gélido, tentando se mexer em vão, o Uchiha ergueu o olhar para saber o que o prendia na mesma posição.
Ah, era Naruto.
Os braços fortes e gentis que o circulavam com tanto amor só podiam ser de Naruto.
Sasuke esqueceu o frio e analisou o rosto sereno do outro. A face tão máscula, tendo o privilégio de a ver se transformando nesses anos. A tão comuns riscas tatuadas em suas bochechas davam ao loiro o ar de exótico, mesmo que no começo havia achado totalmente ridícula. Quando conhecemos Menma ele disse que sabia que não seria adotado por causa das cicatrizes nas bochechas, a assistente logo nos contou a culpa era dos pais biológicos drogados, eu nunca achei que sentiria tanta raiva de desconhecidos, eu tentei convencê-lo de que aquilo não nos impediria, mas ele não se convenceu, era mais fácil convencer um batalhão do que uma criança. O dedo passeou pela tinta lentamente, vendo Naruto fungar adormecido. Ele se tornou sensível na área. Em uma das visitas a nossa casa Menma brincava com uma raposa que eu dei e logo depois Naruto chegou com papel filme grudado na cara, e as mesma marcas de Menma tatuadas nas bochechas. As linhas eram retas e negras pela tinta, ao contrário do filho que fora feita por um garfo de três dentes de macarrão quente. Quando Naruto mostrou o que havia feito, Menma começou a chorar na hora dizendo que ele havia ficado ridículo, mesmo que depois ele nunca havia tido mais vergonha das cicatrizes.
Naruto não media esforço para mover o mundo por aqueles que amava, eles não sabiam se conseguiriam a guarda do pequeno, e mesmo assim o loiro não se arrependeu.
“Mesmo que não conseguirmos nosso filho, saber que ele vai sorrir daqui pra frente valeu a pena as três horas de sessão.” os olhos azuis brilharam e Sasuke soube que nunca deixaria aquele homem ir por entre seus dedos.
Os dígitos deslizaram pelas têmporas fechadas, queria fitar os olhos azuis, mas não queria acordar o mesmo. Afastou os dedos e permaneceu apenas na vontade. Os fios loiros bagunçados não seguindo uma linha exata se alternavam entre o travesseiro e o rosto do mesmo. Sasuke ergueu a mão esquerda para arrumá-los, e quando os fios não se moveram, foi que ele se lembrou. A mão direita procurou a coberta que os cobria da cintura para baixo a puxando para cima, escondendo os corpos debaixo do tecido quente.
Os problemas não haviam se resolvido, mais cedo ou mais tarde ele teria que lidar com seus demônios.
Voltou a esconder o rosto no peito do loiro e fechou os olhos. Esperando o sono o envolver.
Tendo sua família ao seu lado, era suficiente.
O amor de Naruto era mais que suficiente.
Fim.
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Notas Finais:
¹ 450 milhas por hora = 724,2 km/h.
² e ³ O discurso original é esse: "As roupas que um cirurgião usa é ajudar a apresentar uma imagem. Os jalecos e crachás e uniformes, trabalhar todos juntos para indicar uma pessoa de autoridade, alguém que você pode confiar. Quando as roupas de saem, isso é uma história diferente. Estamos sensível, solitário, humano... Pode ser difícil para um cirurgião admitir, mas não há nenhuma vergonha em ser simplesmente humano. Para ele pode ser um alívio parar de se esconder, aceitar quem você realmente é. A autoconsciência pouco não faz mal a ninguém. Porque quando você sabe quem você é, é mais fácil saber o que você é, sobre o que você realmente precisa. " Grey's Anatomy S09E04
Eu só adaptei pra situação deles, mudando de cirurgião para soldado xD
Então, o que acharam? Por favor, digam que consegui arrancar lágrimas de vocês kkkkk ♥
Gracias por leer!
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