zephirat Andre Tornado

De repente, os sons de uma canção chegam a todo o lado. E chegam também a lugares inéditos… que lançam perguntas que não carecem de respostas.


Fanfiction Bandas/Cantantes Sólo para mayores de 18. © Esta história é de minha autoria, escrita de fã para fã. Linkin Park não me pertence.

#linkinpark #lost #Cancao #jasper #chester #Meteora
Cuento corto
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Capítulo Único


Estou a ouvir a minha voz outra vez…


Quero dizer, nunca deixei de a escutar. Perdi a capacidade de falar, de utilizar as minhas cordas vocais, mas, de alguma maneira, não me calaram. Havia sempre alguém, em algum lugar, que me dava novamente voz. Ou muitas pessoas em simultâneo. Havia dias mais sonoros do que outros, isso é normal, nem sempre estamos com a mesma disposição para fazermos as mesmas coisas. Não somos sempre felizes… ou tristes.


Calei-me a mim próprio. Devia ser castigado por essa maldade que fiz de ter desistido. Errei. Errei, acho que sim. E os erros costumam ser pagos. Acho que uma boa sentença seria nunca mais quererem saber da minha voz. Só que, pelos vistos, continuaram a gostar de mim e não gostaram que eu me tivesse calado. Foram recuperar a minha voz e levam a reproduzi-la vezes e vezes sem conta.


Dou por mim a abrir a boca – já não tenho boca, mas eu não sei explicar de maneira a que entendam o que tento fazer – dou por mim a imitar que abro a boca, movimento os lábios e é como se os sons que me chegam até mim saíssem do corpo que também já não existe.


É uma situação estranha… Já me habituei, passaram-se mais de cinco anos. O primeiro ano é sempre o mais difícil, avisaram-me, e custou-me muito perceber como funcionar neste mundo sem voltar a enlouquecer, mas continuo a achar certas coisas estranhas, por uma questão de inconformismo. Se baixo a guarda, vou diluir-me e não me apetece nada desaparecer quando ainda é divertido.


Não era nada divertido nesse início em que estava a adaptar-me, a tentar não desesperar com tanto choro e tanta lágrima e tanto cheiro de vela acesa. Mas também fui percebendo como divergir o que me incomodava, pois, na verdade, não me devia incomodar com nada, pois tinha deixado de existir…


Neguei a minha condição constantemente.


Vagueava inquieto entre dimensões, a tentar encontrar um ponto sossegado para me ancorar, até perceber que o meu esforço não me cansava, nem me iria esgotar; até compreender que as escolhas já não me pertenciam.


Tinha tomado aquela última decisão e pronto, fiquei privado, para a eternidade, de tomar outras decisões. Entregara, voluntariamente, tudo o que era meu e tudo o que era eu a instâncias superiores.


Sem corpo, sem boca, sem voz, não me cabia protestar ou tentar explicar a minha situação.


Admito que me irritei por ter sido precipitado e, de certo modo, leviano… mas já passou. Tudo passa, até neste lugar onde não existe tempo, nem espaço, nem nada de físico onde me possa segurar e não me distribuir através do universo. Deixei de me recriminar. Chega, Chester! Chega.


Acho que percebi que não valia a pena lutar ou protestar quando recebi uma companhia inesperada. Não é, Jasper? O cão do meu amigo Mike, que já não é bem um cão, é igual a mim, uma cintilação efémera numa folha de acetato que perpassa entre dobras finíssimas que não se conseguem medir ou capturar, solta um latido amigável. Aprendemos os dois a agir neste mundo enjoativamente monótono. Ficámos ao lado um do outro e vamo-nos apoiando, enquanto vigiamos o que vai acontecendo no outro lado. Morremos os dois… não foi, Jasper? Mas tu já eras velhote… Chegou a tua hora e só tiveste de fechar os olhos e aceitar. Já eu… Já eu, forcei-me a fechar os olhos.


Pensava que os cães tinham um paraíso próprio, longe do paraíso dos humanos, embora essa ideia também fosse um pouco idiota, pois temos direito a reencontrar os nossos queridos animais de estimação depois de nos finarmos. Por vezes, há bichos que nos marcam mais do que pessoas e que queremos muito reencontrar.


O paraíso deve ser, por definição, um sítio onde somos felizes, independentemente dos instrumentos que utilizemos para alcançar essa felicidade. Os animais estão incluídos. Acabei por fazer do Jasper do Mike um companheiro desta longa travessia pela eternidade. Sei que o Jasper não se importa, nem tampouco o Mike…


Estás a ouvir o mesmo do que eu, Jasper? Sim, sou eu que estou a cantar! Mas agora é uma canção nova… diferente… Estava guardada numa qualquer gravação antiga. Tem que ver com o aniversário do álbum Meteora, de certeza. Não me lembrava dessa canção… Estava perdida e acharam-na. Olha, gostei dessa! Não gostaste? Estava perdida e acharam-na.


Faço um esforço para me recordar, mas as minhas memórias estão todas baralhadas. Lembro-me de quando era uma criança e vejo-me, em miúdo, a pular e a berrar em cima de um palco. Com mais de trinta anos folheio revistas pornográficas às escondidas com os colegas da escola. Sou adulto antes de ser bebé, faço coisas imberbes depois de casar e coisas maduras a brincar no tapete da sala da minha mãe. Não há uma cronologia correta. Por isso, era mesmo um grande esforço saber que música era aquela e não vale a pena.


Fecho os olhos inexistentes para me concentrar melhor e desisto, passado pouco tempo. Sorrio para o cão que se posta ao lado das minhas pernas invisíveis.


Não interessa, pois não? Basta que estejam a escutar outra vez a minha voz…


A emoção chega-me em pequenas gotas quentes. Recolho-as e guardo-as todas, apanhando-as como se fossem bolhas de sabão. Saltito como um menino e tenho aquela comichão dentro do peito que significa que vai brotar uma gargalhada.


As palavras da canção não me fazem impressão, como fizeram quando as cantei pela primeira vez, naquele dia, no estúdio de gravação.



I’m lost in these memories

Living behind my own illusion

Lost all my dignity

Living inside my own confusion.



Por outro lado, as palavras são uma descrição quase exata da minha condição atual. Estou perdido dentro de memórias, a viver por detrás da minha própria ilusão, a dignidade perdida, a viver dentro da minha própria confusão. A viver? Isso é irónico…


Mas eu não estou confuso. Deixei de me sentir mal a partir do momento em que…


Agora, estou a rir-me. Sinto-me bem. Estranhamento bem.


Porque estão a cantar outra vez comigo. Porque estou a ouvir novamente a minha voz!

17 de Febrero de 2023 a las 19:10 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

Conoce al autor

Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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